Pesquisar este blog

sexta-feira, 28 de abril de 2017

Resenha Cinema: Guardiões da Galáxia: Volume 2


Em 2014 a Marvel deu seu mais audacioso passo enquanto estúdio cinematográfico ao lançar um longa metragem que, ao contrário de seus antecessores, não tinha um nome amplamente reconhecido pelo grande público nem fora alardeado por Hulk, Thor ou Homem-de-Ferro em uma das famosas cenas pós-créditos dos filmes anteriores.
Os Guardiões da Galáxia eram um super grupo obscuro que existia desde os anos sessenta nos quadrinhos sempre composto por personagens de segunda linha que a maioria dos leitores ignorava e cuja escalação mudava com alguma frequência.
Ainda assim, o filme se tornou um inesperado sucesso de público e crítica, fazendo uma robusta bilheteria de mais de setecentos milhões de dólares e colecionando elogios ao mostrar a formação de uma equipe de párias e criminosos espaciais que se uniam pela força das circunstâncias para enfrentar a ameaça de Ronan, o Acusador, e salvar a galáxia.
Funcionou que foi uma beleza.
Adultos e crianças se se afeiçoaram a desconhecidos como o Senhor das Estrelas, Gamora, Drax, o Destruidor, Groot e Rocket Racoon.
Um elenco bem balanceado com Chris Pratt, Zoe Saldaña, Dave Bautista, um econômico trabalho de voz de Vin Diesel e a acertadíssima dublagem de Bradley Cooper, espertíssima direção de James Gunn e um roteiro bem amarradinho de Nicole Perlman construíram um filme de origem tão gostável que ficou fácil até perdoar o vilão raso vivido por Lee Pace e o desfecho com o duelo de danças que causa urticária nos fãs da DC até hoje.
Três anos se passaram desde o sucesso de Guardiões da Galáxia, a equipe retornou para mais uma aventura estelar recheada de boa música e piadas, e eu, nerd que sou, estava lá ontem pra conferir a estréia do longa.
Guardiões da Galáxia: Volume 2 começa alguns meses após o primeiro filme.
A equipe, renomada após derrotar Ronan, vive como um grupo de heróis de aluguel estelares, prestando serviços a seres poderosos que podem pagar o preço certo, como os Soberanos, criaturas douradas de físico perfeito e intelecto avançado que precisam de proteção para as poderosas baterias que alimentam seu império, ameaçadas por um predador interdimensional.
As coisas se complicam quando Rocket resolve roubar algumas dessas baterias que a equipe deveria proteger, causando a ira da imperatriz Ayesha (a lindíssima Elizabeth Debicky, conseguindo se destacar mesmo sem grande tempo em cena ou background) que contrata os Ravagers, a equipe de Yondu Udanta (Michael Rooker), para capturá-los.
Perseguidos pelos Ravagers e pela armada remota dos Soberanos, os Guardiões já tem o suficiente em seu prato, mas eis que surge Ego (Kurt Russell).
Ego é o pai biológico do Senhor das Estrelas, o homem espacial de quem a mãe de Peter Quill falava. Ele é um Celestial, uma entidade de imenso poder, capaz de gerar todo um planeta e habita-lo ao seu bel-prazer, e ele quer a oportunidade de finalmente se conectar com seu filho meio-terráqueo.
Com tudo isso ocorrendo ao mesmo tempo, e com a Milano de Peter tendo sido avariada em combate com os Soberanos, a equipe precisa se separar, e enquanto Peter, Gamora e Drax viajam com Ego, Rocket e Groot ficam encarregados de consertar a Milano e manter guarda sobre Nebulosa (Karen Gillan), a irmã de Gamora, que está sob poder dos Guardiões, mas com tanta gente no encalço da equipe, será que eles conseguirão se reunir novamente?
Guardiões da Galáxia: Volume 2 não é um filme tão redondinho e bem estruturado quanto o primeiro longa da equipe. Ele tem alguns problemas de ritmo e vários novos personagens para apresentar além de aprofundar os veteranos, heróis a quem a audiência já conhece e de quem espera um determinado tipo de comportamento, então tome piadas de Drax e sua falta de traquejo social, o flerte desajeitado entre Peter e Gamora, o jeitão rabugento e nocivo de Rocket e a fofura quase opressiva de baby Groot.
A grande surpresa é que nada disso atrapalha o cerne do longa, uma história sobre amor familiar embrulhada num colorido amontoado de aliens de visual esquisito, piadas, cenas de ação divertidíssimas e uma trilha sonora que é quase um personagem.
Muito dos problemas de ritmo do longa advém do fato de a equipe se separar durante o segundo ato, ainda assim, isso gera espaço para que os personagens cresçam, e novos laços se formem ou sejam fortalecidos.
Se personagens novos como Ayesha e Taserface (Chris Sullivan) têm pouco tempo em cena, e por consequência, pouco desenvolvimento, e outros, como o Stakar Ogord de Sylvester Stallone fazem pouco mais que uma breve figuração (apenas a Mantis de Pom Klementieff ganha mais espaço pra brilhar), em compensação os veteranos são aprofundados com gosto.
Gamora e Nebulosa têm sua difícil relação bem explicada e fortalecida, Rocket e seus problemas de confiança ganham uma luz, aprendemos mais sobre o passado de Drax e sua família assassinada e até Yondu ganha seus momentos sob o holofote, enquanto que a relação entre Peter Quill e Ego é a mola propulsora de toda a trama, conforme o Celestial pode, de muitas maneiras, tomar o lugar da família substituta que o terráqueo encontrou nos Guardiões da Galáxia.
O longa de James Gunn se sustenta com tranquilidade no terreno seguro da Marvel, a leveza, as boas piadas e as cenas de ação (Rocket contra os Ravagers e a fuga da prisão são facilmente as melhores do filme), e ganha corpo graças à grande química compartilhada pelo elenco. É em seu desfecho, porém, que Guardiões da Galáxia: Volume 2 dá um passo adiante, com um encerramento emocional e verdadeiramente tocante, onde toda a relação familiar construída ao longo dos dois filmes culmina com uma sequência que provavelmente é a mais emocionante em um longa da Marvel Studios desde a Fase 1.
Guardiões da Galáxia: Volume 2 naturalmente perdeu um pouco do impacto do primeiro longa, e esbarra em alguns problemas de desenvolvimento ao separar seu grupo e evoluir com linhas narrativas paralelas, mas continua sendo um dos pontos altos da Marvel enquanto estúdio e certamente é uma das franquias com mais potencial da Casa das Ideias no cinema, e a segunda incursão de Drax, Gamora, Groot, Rocket e Peter à telona certamente vale uma visita ao cineplex mais próximo.
Quando for, por sinal, tenha certeza de estar bem acomodado para ver todas as cenas pós-créditos do longa.
São cinco.

"-O que ele disse?
-Ele disse 'Bem vindo à zorra dos Guardiões da Galáxia', só que ele não usou 'zorra'."

quinta-feira, 27 de abril de 2017

Quando as Pessoas Viam com os Olhos


Olhe a imagem acima.
O que é que destoa nesta foto?
Provavelmente a senhorinha com o óculos de armação lilás apoiada no alambrado, em um evento que, francamente, ignoro por completo.
Não sei se foi show, parada, lançamento de foguete, comício ou pronunciamento. Recebi a mensagem pelo whatsapp, e, de imediato, me dei conta do que ela significava.
Aquela senhora de cabelos encanecidos é a única pessoa na imagem que observa o acontecimento, seja qual for, com seus próprios olhos, e não pela tela do smartphone.
A veterana, pequenina em meio à multidão, é quem tem os mais amplos horizontes, e não se restringe à visão de cinco polegadas.
A velhinha de sorriso tranquilo em meio à animação efusiva que a cerca, enxerga a imagem toda, com todas as suas cores, porque é do tempo em que nós olhávamos com nossos próprios olhos, porque o testemunho era mais importante que o registro.
A memória em detrimento do arquivo.
Ela é de um tempo em que as pessoas olhavam para ver, e não pra contar aos outros que tinham visto. De um tempo em que compartilhar tinha uma definição totalmente diferente, e muito mais significativa. De um tempo em que o mundo não cabia no bolso, mas no coração e no cérebro, que era muito mais potente que o processador que faz possível o computador portátil perenemente nas mãos das pessoas.
Porque tu talvez não acredite, mas houve uma época em que compartilhar significava, de fato, fazer coisas junto com outras pessoas, ou então sentar e conversar a respeito, e não meramente fazer o upload de um afetado arquivo digital em uma rede social qualquer e se mostrar pra um amontoado de estranhos para quem tu não significa nada, e que não significam nada pra ti.
Porque, em algum momento, as pessoas passaram a se preocupar apenas com status e aparência, e, por serem demasiado rasas e pequenas e obtusas, chegaram à conclusão de que não existiam se não estivessem sempre em contato com outrem, e nós formamos gerações cada vez mais bitoladas nessa forma torta de levar a vida, contabilizando seus sucessos e fracassos pela quantidade de likes e curtidas que suas publicações inócuas atraem na rede social da vez.
A foto ali de cima é testemunho dessa nossa nova tendência.
A única pessoa que vê o horizonte completo, sem amarras, limitações ou as tarjas de um vídeo mal-gravado na vertical, como os antolhos de um cavalo, é a velhinha de óculos lilases.
E seu sorriso contido, talvez seja um misto de assumida superioridade, temperada com um quê de tristeza.

terça-feira, 25 de abril de 2017

Sabor Amargo


Estavam sentados no sofá da casa dela.
Na verdade, ele estava sentado, ela estava deitada, com as pernas jogadas sobre a mesinha de centro. Ele a havia ajudado a instalar a smart TV que ela comprara. Ele havia acabado de testar os serviços "go" e "play" da TV a cabo no aparelho, e anunciou, orgulhoso, que "a porra toda tá 'funciando', dona.".
Ela riu agradecendo, e disse que se ele estivesse usando um macacão cinza e um boné, ela até daria pra ele, mesmo não tendo esse fetiche de dar pro encanador ou pro instalador, mas por tradição, mesmo. Não vira muitos filmes pornôs na vida, mas vira o suficiente pra saber como as coisas funcionavam.
Ele riu concordando e se levantou, parando em pé ao lado do sofá, num gesto que indicava que ele queria ir embora.
Ela fez uma careta:
-Ai, senta aí, Ned. Tu não vai morrer se esperar eu descansar as pernas uns minutinhos...
-Descansar as pernas do quê, guria? A gente veio de táxi e eu carreguei a TV pra ti o tempo todo...
-Mas eu cansei! - Ela protestou. -Em quantas lojas a gente foi?
-Três. - Ele respondeu. -E eram todas na mesma quadra, uma do lado da outra...
Ela não protestou mais, só bateu com a mão no sofá.
Ele sentou e ela entregou o controle remoto pra ele, que zapeou brevemente, e então colocou na Globonews e largou o aparelho.
-Tu consegue te lembrar da primeira vez em que sentiu atração física por outra pessoa? A primeira? Aquele divisor de águas onde tu olhou uma pessoa e não pensou "que bonita", mas sim, "que tesão", ou então nem sequer teve tempo de pensar, apenas sentiu o tesão e ainda precisou filtrar aquilo por algum tempo, já que o tesão era uma sensação era nova? - Ele perguntou, mas então deteve-se e inquiriu:
-... Aliás, é o tesão ou a tesão?
-Acho que é "o". - Ela disse.
-Eu, também. Mas já ouvi dos dois jeitos. - Ele continuou.
-É, mas tá errado. É substantivo masculino. Certo. - Ela sentenciou.
Ele concordou com um ruído.
-Tu dizia... - Ela encorajou, esticando os dedos dos pés.
-Ah, sim. Bom, e aí? Tu lembra?
-Da primeira vez que senti tesão? Não. Não lembro nem da última. - Ela disse, fazendo uma expressão de tristeza.
Riram.
Ela suspirou e perguntou:
-E tu? Lembra?
-Eu lembro. - Ele confessou. -Eu devia ter uns onze ou doze anos. Tava na praia. Tinha ido com minha avó, meu tio e uma prima, que não era a filha desse meu tio. Ela estava de perna quebrada...
-Sério, Ned? - Ela o interrompeu -Tesão pela prima de perna quebrada? - Recriminou.
-Não... - Ele disse, afastando a ideia com a mão. -Não... quer dizer... Bom... Eu senti tesão pelas minhas primas, claro, mas isso foi mais tarde. Elas não foram o primeiro tesão que eu senti... De qualquer forma, eu estava na praia, e um dia de tarde fui sozinho tomar banho de mar-
-Porque, na praia, tu não pode passar nenhum dia sem ir tomar banho de mar... - Ela interrompeu.
-Exato. - Ele confirmou. -Eu estava na beira do mar ali, tomando meu banho e fingindo que era o Homem-Aranha lutando contra o Homem-Hídrico e, de repente, surgiu um pessoal... Era um bocado de gente, e pareciam ter saído de um ônibus que estacionou junto à praia. E esse pessoal todo saiu do ônibus e foi pro mar. Eu não sei de onde eles vinham, a maioria deles nem usava roupa de banho, eles simplesmente foram entrando no mar com as roupas que vestiam, e uma dessas pessoas era uma moça. - Ele disse, se ajeitando no sofá.
-Era ela? - Perguntou a loira na outra ponta, esticando os pés por cima dele pra ficarem cara a cara.
-Sim. - Ele confirmou. -Ela tava usando uma camiseta branca e um short de brim bege. Era negra, muito negra, a tez bem escura, e tinha o cabelo cortado bem curtinho. E o corpo dela... Bom, se não era o corpo mais bonito que eu vi ao vivo, certamente pega top-3... Ela era escultural, e quando ela entrou no mar, a camiseta branca ficou transparente, e ela não estava usando sutiã, então ela ficava puxando o tecido colado na pele pra não marcar, mas era impossível. A mulher era um feixe de músculos tonificados, nada de volume em excesso, nada faltando, ela era linda, linda, linda. E eu fiquei ali parado, olhando pra ela de um jeito que, provavelmente não era natural, eu devia estar fazendo alguma cara de tarado-mirim, como um Willem Dafoe de onze anos de idade, e ela olhou pra mim e abriu um sorrisão antes de mergulhar numa onda. - Ele disse, coçando o cabelo que se desgrenhava escapulindo do elástico.
-E eu me lembro que fiquei olhando quando ela foi embora... - Ele continuou -Puxando a camiseta com as duas mãos. E as costas dela... A bunda... Tudo tava marcado no tecido molhado. E eu fiquei... Sabe, eu não tinha noção de sexo... Eu não tinha, mesmo. Já tinha visto umas Playboys... Assistia ao programa Cocktail com o Miele no SBT pra ver as mulheres com pouca roupa, mas era muito mais um lance de curiosidade, e tinha aquele afastamento, tanto as garotas tim-tim-
-"Garotas tim-tim"? - Ela interrompeu.
-É. - Ele respondeu. -Eram as ajudantes de palco do Miele no Cocktail. Aquele era um grande programa... Mas enfim, tanto elas quanto as playmates da Playboy eram um lance artificial, as gurias estavam se mostrando de uma maneira propositadamente erótica, eu via a Playboy e o Cocktail pra, deliberadamente, ver mulher pelada, naquela vez, na praia, foi uma coisa totalmente diferente...
-Porque foi espontâneo? - Ela perguntou.
-Exato! - Ele concordou. -Foi espontâneo. Aquela guria só queria tomar um banho de mar. Estava não sei há quanto tempo num ônibus, e resolveu entrar de roupa e tudo na água. O erotismo daquela situação ficou inteiramente por minha conta. Pela primeira vez na vida eu senti atração física por uma mulher de maneira espontânea, sem a inocência de uma coleguinha do ensino fundamental ou o artificialismo de uma revista masculina, ou um programa de strip-tease...
-E tu teve ciência disso na hora? Foi pá-pum, "primeira vez que eu quero comer uma mulher"? - Ela quis saber.
-Não... - Ele respondeu. -Até porque, naquele momento, eu nem queria comer ela. Só fiquei admirado. Admiradíssimo. Só mais tarde eu saquei o que era. Anos mais tarde. - Frisou.
-Eu queria ter isso... - Ela disse, vaga, após alguns segundos de silêncio.
-O quê? - Ele perguntou.
-Essa noção de momento que tu tem. Essa memória. Eu sou incapaz de me lembrar das coisas com essa riqueza de detalhes. Tu tá aí, me narrando uma lembrança dos teus onze, doze anos, e tu te lembra da circunstância, do que tu estava fazendo, da roupa que a guria usava... Tu tem tudo isso no teu HD. Talvez por isso tu consiga ter essa compreensão do momento em que tal coisa acontece. A primeira vez que tu sentiu atração por uma mulher, a primeira vez que tu te apaixonou, a primeira vez em que tu te sentiu um adulto... Tudo isso.
-A primeira vez em que eu usei a expressão "Tá ligado"... - Ele acrescentou.
Ela riu.
Ele continuou:
-Eu me lembro de todas essas informações e momentos, mas sabe, isso nem sempre é uma coisa boa. Tem muito lance que eu gostaria de esquecer. Das pequenas vergonhas às grandes dores... E tá tudo lá, irremediavelmente armazenado no meio da cultura inútil e dos momentos cálidos.
Ela olhou pra ele e sorriu.
Ele continuou:
-E, diga-se de passagem, tem uma porrada de momentos cálidos que, hoje em dia, me trazem mais dor do que conforto.
Pegou a mão dela e continuou:
-Então não faça pouco da tua falta de memória, alemoa. Ela te permite a faculdade de aproveitar o momento de maneiras que eu sou incapaz. - Concluiu sério, para então se endireitar no sofá e prestar atenção ao noticiário.
Ela o fitou por alguns instantes enquanto ele olhava a Leilane Neubarth apresentando o "edição das seis", e então inquiriu:
-Mas sabe o que me intriga dessa história toda?
Ele virou, sobrancelhas erguidas:
-O que?
-Se eu estou naquele top-3... - Ela respondeu, séria.
Ele sorriu, voltou a olhar pra TV e falou, meio de canto:
-Talvez top-10. - Disse. -Talvez...
Ela fez cara de ofendida e o chutou com a sola do pé e ele começou a rir de novo.
Talvez, mais tarde, ele fosse lembrar daquele momento como um dos seus momentos cálidos.
Um daqueles raros que jamais teriam um sabor amargo.

segunda-feira, 24 de abril de 2017

Resenha DVD: Anjos da Noite: Guerras de Sangue


À certa altura da sessão de DVD na madrugada à que me reservei durante o feriadão, fui assaltado por um pensamento aterrador conforme assistia Anjos da Noite: Guerras de Sangue, quinto filme da franquia de lobisomens versus vampiros iniciada no longínquo ano de 2003 por Len Wiseman e Kate Beckinsale:
Será que é assim que não-fãs de quadrinhos se sentem ao assistir um filme de super-herói?
Porque ainda nas primeiras sequências do filme, eu me peguei lutando contra a sensação de déjà vu conforme Selene (Kate Beckinsale), com sua roupa de Mulher-Gato, andava de moto tiroteando com lobisomens vestidos como proletários leste-europeus em sequências de ação que tentavam ser excitantes mas falhavam miseravelmente na execução.
Eu ainda não entendo como Anjos da Noite chegou ao quinto filme. A maior bilheteria da série são modestos 160 milhões de dólares para o quarto filme, Anjos da Noite: O Despertar, turbinado pelo lançamento em 3D, e o único filme da franquia que é vagamente assistível é o terceiro, Anjos da Noite: A Rebelião, que não tem Beckinsale, e é uma prequência contando o início da guerra entre lobisomens e vampiros desde a insurgência liderada por Lucian (Michael Sheen) contra o ancião Viktor (Bill Nighy), um filme que, ao contrário de todos os outros longas da franquia, é contado pelo ponto de vista dos lobisomens (ou "lycans"), e tinha uma pegada muito mais direcionada para um barbarismo roots do que o fetichismo de látex preto e peles pálidas dos filmes co-irmãos, ainda assim, A Rebelião era a pior bilheteria da franquia (o bocão de Rhona Mitra provavelmente não foi páreo pras formas harmoniosas de Beckinsale embrulhada em spandex), e o retorno de Selene em O Despertar foi o maior sucesso comercial da série, de modo que, de alguma forma, a Sony resolveu continuar com a franquia.
Anjos da Noite: Guerras de Sangue começa com um breve lembrete de tudo o que aconteceu com Selene nos filmes anteriores, uma montagem onde a própria personagem narra os acontecimentos desde que seu caminho como a mais formidável mercadora da morte dos clãs vampíricos se cruzou com o de Michael, um humano híbrido de lobisomem, por quem se apaixonou e teve uma filha, Eve, a primeira híbrida de vampiro e lobisomem puro-sangue, perdida para sempre para ser protegida de ambas as espécies.
Após matar os líderes dos vampiros e dos lobisomens, Selene se tornou uma proscrita, caçada pelas duas facções, em constante movimento para evitar a captura, e sem saber o paradeiro da filha.
As coisas mudam, porém, quando a ambiciosa anciã do clã oriental Semira (A bonitona Lara Pulver, a Irene Adler de Sherlock), percebe que a única forma de se proteger dos lycans e de seu novo líder, Marius (Tobias Menzies, o Edmure Tully de Game of Thrones), é oferecer anistia a Selene, e fazê-la treinar mercadores da morte novatos para os combates vindouros.
Para convencer o conselho do clã oriental, ela conta com a ajuda do ancião Thomas (outro egresso de GoT, o Tywin Lannister Charles Dance).
Com a ajuda de David (Theo James), Selene precisa retornar à guerra secular entre vampiros e lobisomens, mas desta vez, com uma chance real de encerrar o conflito, uma tarefa que pode lhe custar sua vida.
Anjos da Noite já merece um quinhão de desprezo por ter mexido em toda a mitologia vampírica conhecida (as fraquezas e forças de vampiros e lobisomens não fazem nenhum sentido e nem são muito claras), outro tanto de ódio por ter conseguido a proeza de transformar uma premissa que rendeu horas de diversão para RPGistas do sistema Storyteller em uma série de filmes sonolentos e bobos que rivaliza com a saga Crepúsculo no que tange ao desserviço que presta aos sanguessugas e aos licantropos.
Anjos da Noite: Guerras de Sangue tem todos os defeitos da série, as cenas de ação que se dividem entre a edição surtada estilo Tony Scott e cenas em slow motion à moda Zack Snyder são chatas e repetitivas, a fotografia, toda em preto e azul é tão soturna que eu só posso imaginar a bagunça que seja ver esse filme em 3D, e o que se passa por diálogos no roteiro de Kyle Ward e Cory Goodman é um festival de exposição constrangedor entre uma lutinha mal coreografada e a próxima.
A direção de Anna Foerster é tão morta quanto a de qualquer um dos filmes anteriores (excetuo A Rebelião. Mantenho que é um filme algo assistível), deixando claro que a diretora não trouxe nada de seu para a empreitada, e o elenco, por vezes, parece constrangido em dizer as falas, exceto por Theo James, que vomita toda a breguice clichê de seu personagem com uma canastrice que seria comovente se não fosse tão irritante.
O único ponto positivo de Guerras de Sangue é que o longa teve a pior bilheteria dos cinco filmes, modestíssimos 81 milhões de dólares, e essa bilheteria tão gelada quanto os cenários sem-vergonhas do clã vampírico do Norte, cheio de vampiros loiros vestidos de branco, talvez faça com que o estúdio perceba que, a exemplo de Selene, a franquia Anjos da Noite já viveu demais.

"-Não há começo. Não há fim. Há apenas... Transformar-se."

sábado, 15 de abril de 2017

Resenha DVD: Animais Noturnos


Semana passada, num tópico de cinema na rede social que eu frequento, um colega perguntou se alguém havia assistido esse Animais Noturnos, e se era bom. Eu respondi que só havia ouvido elogios, mas não havia assistido ao longa.
Fiquei coçando a cabeça tentando lembrar porque eu havia perdido Animais Noturnos no cinema, e tenho a impressão de que o longa pode ter tido uma passagem ligeira pelas telonas em alguma época amontoada de estreias sucessivas. Eu não creio que fosse simplesmente deixar passar um longa estrelado por Amy Adams, Jake Gyllenhaal e Michael Shannon, provavelmente três dos melhores atores em atividade no cinemão Hollywoodiano, mesmo não sendo um fã ardoroso de Direito de Amar, o primeiro filme do fashionista/cineasta Tom Ford, responsável pela adaptação do livro Tony & Susan, de Austin Wright, e pela direção do filme.
Na sexta-feira modorrenta do feriado, resolvi remediar a situação.
Animais Noturnos nos apresenta Susan Morrow (Amy Adams). Bonita e rica, Susan vive uma vida de privilégios na alta sociedade de Los Angeles, gerenciando uma grande galeria de arte na cidade, frequentando belas festas, organizando vernissages e exposições. Susan mora em uma enorme casa, tem secretários pessoais e criadagem, tudo, aparentemente bancado por seu marido Hutton (Armie Hammer, que simplesmente não consegue disfarçar a cara de quem nasceu em berço de ouro). A despeito da opulência de sua vida, Susan parece bastante miserável. Ela não é feliz no casamento, seu marido parece incapaz de suportá-la, e tão entediado que nem se esforça para esconder isso e suas traições.
O casal também passa por problemas financeiros, embora eu tenha a impressão de que, para pessoas tão ricas quanto Hutton e Susan, a expressão tenha um significado bastante diferente do que tem para o resto de nós.
Em meio à sua rotina de sofrimento burguês, Susan é surpreendida por uma encomenda: Um pacote contendo o manuscrito de um romance escrito por seu ex-marido, Edward Sheffield.
Receber a encomenda às vésperas de um final de semana que planejava passar com Hutton, que a escanteia sem grande cerimônia, faz com que Susan mergulhe de cabeça na leitura do livro, que narra a história de Tony Hastings e sua família.
Aqui, a narrativa do longa se desmembra, e acompanhamos Tony (Jake Gyllenhaal), sua esposa Laura (Isla Fisher) e a filha do casal India (Ellie Bamber), uma família de classe média que, durante uma viagem pelo oeste do Texas se envolve em um encontro desastroso com um trio de marginais liderados por Ray Marcus (Aaron Taylor-Johnson, vencedor do Globo de Ouro com a atuação).
Numa das mais tenebrosas sequências de horror de que eu sou capaz de me lembrar no cinema recente, emulando com maestria o mais palpável terror e tensão num suspense tão desconfortável que quase obriga o espectador a olhar pra fora da tela, nós vemos as coisas irem de mal a pior, culminando em uma horrível tragédia de embrulhar o estômago da audiência e de Susan, que segue lendo o romance, que lhe foi dedicado.
Claramente afetada pela leitura, Susan começa a relembrar do passado, e novamente a narrativa se bifurca (à essas alturas, se trifurca) e acompanhamos o passado, vinte anos atrás, quando Susan reencontrou o amigo de infância Edward Sheffield (também Gyllenhaal) em Nova York, e os dois engataram um romance que, a despeito dos alertas da mãe da moça (ponta de Laura Linney), culminou em casamento e, obviamente, divórcio).
Daí pra frente, as três linhas continuam em paralelo e seguimos a história de Tony, cuja tragédia pessoal ganha novos ares conforme, com a ajuda do policial Bobby Andes (Michael Shannon, simplesmente brilhante), ele tenta encontrar justiça, ao mesmo tempo em que Susan, sendo assombrada pelo manuscrito de Edward no presente, revisita as memórias de seu passado ao lado do homem cuja sensibilidade a atraiu em primeiro lugar mas que no final foi o que a afastou para os braços do macho-alfa-provedor Hutton, conforme avalia sua vida.
É muito difícil ficar indiferente a Animais Noturnos.
Tanto que é difícil decidir, após as pouco menos de duas horas de filme, se vimos uma genial obra cinematográfica, ou um exercício pedante de estilo vazio.
Talvez porque, muito do que Ford coloca na tela pareça choque pelo choque, como a sequência de créditos iniciais, com as cheerleaders morbidamente obesas dançando nuas, ou a sequência em que Susan comparece à uma reunião em sua galeria e interage com a colega vivida por Jena Malone, mas outro tanto seja tão bem executado, como a sequência de pesadelo na estrada, ou as interações entre Tony e Andes.
Dessa forma, o filme caminha sobre o fio da navalha, até a última cena, que é um daqueles finais abertos pra fazer o pessoal discutir o que terá acontecido, e por quê, sempre mantendo-se interessante.
É difícil medir o quanto disso é graças ao elenco, já que Gyllenhaal e Adams estão ótimos como habitual, com Taylor-Johnson surpreendentemente bem e Shannon simplesmente arregaça na sua interpretação do enigmático Bobby Andes (Ainda há participações de Michael Sheen, Karl Glusman e Andrea Riseborough), mas no plano maior isso não chega a importar, é o conjunto da obra que conta, e o saldo de Animais Noturnos é bastante positivo.
O longa de Tom Ford funciona, pode não ter sido o melhor filme de 2016, mas a despeito de pequenos tropeços, é um programaço.
Vale demais a locação.

"Quando você ama alguém é preciso cuidar disso, você pode nunca mais ter isso outra vez."

sexta-feira, 14 de abril de 2017

O Teaser de Star Wars: Os Últimos Jedi


E no meio da tarde, conforme prometido, a Disney divulgou na Star Wars Celebration o primeiro teaser de Star Wars: Episódio VIII - Os Últimos Jedi.
Na breve prévia, que segue à risca o modelo do primeiro teaser de O Despertar da Força, não vemos praticamente nenhuma novidade, exceto flashes do treinamento de Rey por Luke, algumas novas espaçonaves e breves vislumbres do que parece ser um ataque à Resistência.
Confira:



Dirigido por Ryan Johnson, e com os retornos de Daisy Ridley, Jon Boyega, Adam Driver, Oscar Isaac, Mark Hammil, Carrie Fisher além das adições de Laura Dern, Benício Del Toro, entre outros, o oitavo episódio da saga espacial estréia em dezembro.

quarta-feira, 12 de abril de 2017

Resenha DVD: Jack Reacher - Sem Retorno


Em 2012 Tom Cruise estrelou a primeira adaptação de um livro da longeva série do personagem Jack Reacher, criado pelo escritor Lee Child. Eu me lembro de ter achado engraçado que Reacher, que na literatura é um gigante loiro de quase dois metros de altura, fosse retratado pelo nanico Tom Cruise nos cinemas. Também lembro de ter achado o personagem terrivelmente antipático, mas divertido com sua pinta de herói fodão oitentista, sem lenço nem documento, um andarilho vivendo em movimento em um exercício de anonimato que se tornou um vício superado apenas pelo magnetismo da violência...
Jack Reacher - O Último Tiro foi um sucesso moderado de bilheteria e crítica, tendo sido recebido como uma boa fita de ação e rendendo 218 milhões de dólares para um orçamento de 60 milhões, modesto em tempos onde qualquer bobagem custa mais de 100 milhões de dólares...
Com um lucro interessante, um personagem que aparentemente podia encontrar seu lugar nas afeições da audiência e fonte para uma porrada de filmes (a série literária conta com 14 volumes) até que demorou para Jack Reacher voltar à telona, em meados de outubro do ano passado.
Em sua nova aventura, Jack ajuda a major Susan Turner (Cobie Smulders) a desmantelar um esquema de tráfico humano. Depois disso, os dois começam a conversar socialmente por telefone e, de repente, Jack chega a Washington para convidar a major para jantar.
Para sua surpresa, porém, a Turner foi removida do comando, e colocada sob custódia. Ela está presa acusada de espionagem, relata o novo comandante da base, coronel Sam Morgan (Holt McCallany).
Jack, como era de se esperar, não engole a acusação, e imediatamente começa uma investigação própria, levando-o a crer que Turner foi incriminada em uma conspiração que envolve a empresa de segurança privada Parasource e oficiais corruptos do exército dos EUA.
Como se isso já não fosse suficiente, Jack também descobre que está sendo processado por uma mulher que alega ter uma filha com ele, a jovem Samantha (Danika Yarosh), uma menina de quinze anos que cresceu em lares adotivos enquanto sua mãe, uma prostituta viciada em drogas, entrava e saía da prisão.
Inadvertidamente puxada para o meio da confusão, Samantha se junta a Reacher e Turner enquanto eles fogem das autoridades e tentam descobrir o que está por trás das acusações contra a major antes que seja tarde demais.
A premissa não chega a ser das coisas mais importantes em um filme de Jack Reacher. Claro, precisa ser suficientemente intrincada para que, quando Jack decifre todo o quebra-cabeças ele pareça muito mais esperto que todo mundo, mas o realmente importante nesse tipo de filme é que a ação seja convincente, com boas cenas de perseguição e lutas cascudas como as do primeiro longa.
E aqui começam os problemas de Jack Reacher - Sem Retorno, o diretor do longa, Edward Zwick, egresso de filmes interessantíssimos como Diamantes de Sangue e O Último Samurai entrou no lugar de Christopher McQuarrie, diretor do primeiro longa )que emigrou para a franquia Missão: Impossível) e junto com seu co-roteiristas Richard Wenck e Michael Hersovitz transformou Sem Retorno em uma jornada mais emocional para Jack Reacher, o que é uma coisa boa. Não há nada de errado em expandir os horizontes de um filme de ação, tornar seus personagens mais multifacetados e profundos, tudo isso é ótimo, mas a verdade é que, ao fazer isso, Zwick desviou bastante do que haviam sido os grandes acertos de O Último Tiro, que era uma divertida caricatura, com um vilão que parecia saído de um James Bond de baixo orçamento, uma frase de efeitos a cada quinze minutos e lutas muito bacanas.
Sem Retorno também tem lutas e tiroteios, mas a verdade é que o diretor parece não ter jeito com o estilão urbano e cru de pancadaria que o personagem central pede.
Em compensação Zwick realmente dirige seus atores. Smulders e Yarosh se.esforçam em.cada cena, e Cruise tem sua melhor atuação desde O Último Samurai, mostrando Reacher lutando contra a sua natureza de brucutu para encontrar uma forma de se comunicar com Samantha, que, afinal de contas, pode ser sua filha.
O problema é que o roteiro não se aprofunda tanto quanto os atores e toda essa atuação parece forçada quando ocorre em meio à correria das perseguições de um vilão com cara (e casaco preto longo) de fugitivo de longa de ação europeu de baixo orçamento, chamado apenas de "The Hunter", o personagem é vivido por Patrick Heusinger e consegue a proeza de ser pior do que o casca-grossa interpretado por Jai Courtney em O Último Tiro, e pelos capangas da Parasource chefiada pelo general Harkness (Robert Kneper) que, obviamente, não dá pra largada com o deliciosamente brega Zec Cheloviec de Werner Herzog.
Jack Reacher - Sem Retorno tem diversas boas ideias, do anacronismo do personagem que transpira herói de ação oitentista à piada recorrente dos dois soldados casca-grossa sendo incapazes de controlar uma adolescente passando pela major Turner sendo uma versão feminina de Jack e à óbvia divisão do protagonista quanto à paternidade, o longa é, a exemplo do inferno, cheio de boas intenções, elas apenas não foram desenvolvidas a contento.
Ainda assim, o longa preenche tranquilamente uma tarde chuvosa de domingo, e diverte sem ofender.

"-Quem diabos é você?
-O cara com que você não contava."

terça-feira, 11 de abril de 2017

Resenha Série: Punho de Ferro Temporada 1 Episódio 13: Dragon Plays With Fire


Atenção, pode haver spoilers!
O final da temporada de Punho de Ferro começa com Harold, todo pimpão, chegando à sede das empresas Rand como se jamais tivesse morrido e passado treze anos recluso.
Harold, livre do jugo do Tentáculo e tendo colocado Danny na mira do DEA, tem o caminho aberto para seu retorno triunfal ao mundo dos vivos.
Enquanto isso, Danny se vê em um verdadeiro pepino, procurado por ter usado a Rand para traficar heroína (incrível como o DEA monta rapidamente um caso baseado em meia dúzia de arquivos incriminatórios contra um cara que passou os últimos quinze anos desaparecido e em alguns dias transforma sua empresa em uma operação internacional de drogas), ele precisa fugir e se esconder levando consigo Colleen. Sendo procurado pela justiça, a única forma de descobrir o que ocorreu de fato, é contatando sua advogada, e com a ajuda de Claire, Jeri Hogarth é contatada deixando claro para Danny que ele tem três opções:
Voltar a K'un-Lun, se entregar e aguardar o julgamento, que pode levar até um ano para acontecer, ou provar sua inocência recuperando os dados de Gao.
Isso leva Danny e Colleen de volta ao complexo de Bakuto, agora deserto, exceto pela prisioneira. Gao continua mexendo com a cabeça de Danny com extrema facilidade (na verdade, todo mundo mexe com a cabeça de Danny com extrema facilidade), e conta a Danny que foi Harold o responsável pela morte de seus pais.
O que, para os espectadores não era nenhuma surpresa, cai como uma bomba atômica sobre Danny, que tem dificuldade para acreditar que o Harold tramou a morte de seu melhor amigo e sua família. Danny também descobre que a única cópia dos arquivos está no tablet que ele entregou a Harold, e não tarda para que ele, Colleen e Claire percebam que a única pessoa que pode ajudá-los é Ward, que não parece satisfeito em ter seu pai psicopata pairando sobre ele e Joy, que segue tendo dificuldades para acreditar que Harold se tornou uma criatura perigosa após a ressurreição oferecida pelo Tentáculo.
Com o seu futuro e o legado de sua família em jogo, Danny não tem alternativa, exceto arriscar tudo em um confronto definitivo com Harold, mas mesmo se puder matá-lo, será que, ao fazê-lo, o Imortal Punho de Ferro não estará abrindo mão de sua alma?
Dragon Plays With Fire é um episódio consideravelmente melhor do que os anteriores vinham sendo. Mais ágil e enxuto, o décimo terceiro capítulo da temporada engrena da metade pro fim, amarrando todas as pontas soltas e se não foi, nem de longe, um season finale fodelão como fora o da segunda temporada de Demolidor, também não foi pior do que os de Jessica Jones e Luke Cage.
Após assistir à primeira temporada de Punho de Ferro, eu francamente não consigo entender todo o ódio que a série gerou entre a crítica e alguns fãs. O programa obviamente tem problemas narrativos, mas eles não são, nem de longe, graves a ponto de justificar tanto desdém.
Danny Rand, o protagonista, por vezes é irritante, mas assistimos treze episódios de Jessica Jones, e ela só não era irritante nos flashbacks.
O Punho de Ferro volta e meia é menos interessante do que Colleen Wing, mas assistimos Luke Cage, e Misty Knight por vezes salvava a série enquanto Jessica Jones seria "inassistível" sem Trish Walker e Kilgrave.
O confronto final entre Danny e Harold foi broxante, mas mais broxante do que o confronto final entre Luke Cage e Cascavel?
Punho de Ferro esteve muito, muito longe de ser perfeita, e até mesmo sua desgastada premissa do magnata retornando de uma localidade exótica com novos e letais conhecimentos a exemplo de Arrow, Batman e Homem-de-Ferro pode fazer alguns torcerem o nariz, ainda assim, me parece que o grande "defeito" de Punho de Ferro foi não ser protagonizado por um deficiente, uma mulher ou um negro, fosse esse o caso, eu tenho certeza de que mesmo os mais rocambolescos trâmites com cara de folhetim na primeira temporada teriam sido relevados.
A primeira temporada da série solo do último Defensor teve altos e baixos, episódios genuinamente interessantes e empolgantes, mas uma série de episódios arrastados e com cara de filler, de fato, foram um grande percalço, no geral, porém, eu gostei do resultado, e tenho certeza de que a série e o personagem ainda têm lenha pra queimar, mas não.
Não pode nem mesmo ser comparada a Demolidor.
Igualzinho às demais séries co-irmãs.

"-Me disseram que o Punho de Ferro era uma arma poderosa. Uma chama para destruir nossos inimigos. Mas eu acho que poderia ser algo mais... Uma luz para aqueles presos na escuridão."

segunda-feira, 10 de abril de 2017

Resenha Série: Punho de Ferro temporada 1 episódio 12: Bar the Big Boss


Atenção! Pode haver spoilers!
Após um par de episódios meio escanteado, Ward voltou a ganhar espaço nesse penúltimo episódio da temporada. Lutando contra a armação de Harold e o envenenamento pela heroína sintética de Gao, ele recebe a visita de Bakuto, e uma proposta boa demais pra recusar:
Liberdade das maquinações de Harold, segurança para sua irmã, e o controle das empresas Rand em troca de uma relação mais salutar com o novo Tentáculo e de ajuda para capturar Danny.
Mas Ward não tarda a descobrir que essa ala "light" do Tentáculo, é tão impaciente quanto benevolente, e Bakuto não está disposto a sentar e esperar que Ward entregue o Punho de Ferro, e tampouco a perdoar que seu dinheiro seja tomado por Joy e Harold sem um corretivo.
Enquanto isso, Danny se vê entre Colleen e Davos, o nativo de K'un-Lun querendo destruir o complexo de Bakuto com todos os iniciados do Tentáculo dentro, e Colleen relutando em fazê-lo porque seus alunos estarão lá.
Mas o trio não tem muito tempo para discutir antes de serem atraídos para uma armadilha de Bakuto, que usa os Meachums, a única família que restou a Danny, e seu permanente calcanhar de aquiles.
Após capturar Danny, Bakuto revela que ele trabalha com outra pessoa dentro do Tentáculo, e que essa pessoa (o personagem de Sigourney Waver em Os Defensores, talvez?) pretende usar o Punho de Ferro para mudar o mundo.
Bakuto não contava, porém, com Davos e Colleen, que surgem para resgatar Danny que, no último momento consegue acessar novamente o poder do Punho de Ferro, levando a uma boa cena de luta no corredor (mais uma. Com essa já são cinco lutas em corredores em cinco temporadas de Marvel/Netflix), e a um confronto definitivo de Colleen com seu sensei no Central Park, onde Davos e Danny também vão às vias de fato quando o herdeiro das empresas Rand finalmente decide que o poder do Punho de Ferro não pertence apenas a K'un-Lun.
O penúltimo episódio de Punho de Ferro deu uma corrida para acertar o tabuleiro para o season finale. Algumas coisas soaram terrivelmente convenientes, como Danny subitamente readquirir seu poder quando a trama desesperadamente precisava disso, e outras já parecem meramente forçadas. Será que Colleen não percebeu que seus alunos foram convertidos por Bakuto e possivelmente estão além de salvação? Ela própria não matou uma de suas alunas no episódio anterior para poder escapar do complexo?
Se Danny parece distraído demais com a situação toda para perceber que Harold não é um cara legal, será que a essas alturas Joy já não teve informações suficientes pra perceber que aquele cadáver ambulante age tão claramente como um vilão que se tivesse bigodes andaria os torcendo por aí?
As coisas deram uma tremenda desandada na reta final de Punho de Ferro, mas algumas boas cenas de luta e personagens coadjuvantes interessantes (Colleen, apesar dos problemas, ainda é minha favorita, a exemplo de Misty Knight em Luke Cage e Trish Walker em Jessica Jones, mas Ward melhorou ao longo dos episódios mesmo com um arco tenebrosamente bagunçado) mantém a cabeça da série fora d'água.
Uma hora para o final da primeira temporada e podermos dar um veredicto definitivo sobre o último Defensor.

"Eu sou Danny Rand. E eu sou o Punho de Ferro."

O Primeiro teaser de Thor: Ragnarok

A Marvel divulgou nessa madrugada a primeira prévia de Thor: Ragnarok, embalada por Led Zeppelin.
Ao som de Immigrant Song nós vemos a lindona Cate Blanchett encarnando a deusa nórdica da morte Hela, Thor sendo levado pela Valkíria à arena do Grão-Mestre, e flashes de Heimdall, de Skurge e Hulk em modo gladiador. Confira:



Dirigido por Taika Waititi, Thor: Ragnarok estréia em novembro, o longa tem os retornos de Chris Hemsworth, Tom Hiddleston, Idris Elba, e Anthony Hopkins, além das novidades Cate Blanchett, Tessa Thompson, Jeff Goldblum e Karl Urban,  Mark Ruffalo e Benedict Cumberbatch também estão no filme.

sexta-feira, 7 de abril de 2017

Resenha Série: Punho de Ferro Temporada 1 Episódio 11: Lead Horse Back To Stable


O décimo episódio de Punho de Ferro dera a impressão de que após um tombo de qualidade violento que culminou com o péssimo The Mistress of All Agonies, estava disposto a tentar recuperar o ritmo.
Black Tiger Steals Heart era um episódio bem abaixo dos pontos altos da série, nominalmente, os capítulos cinco, seis e sete, mas certamente não era a perda de tempo que fora o capítulo nove. A promessa de melhora e reencontro do ritmo, porém, foi soterrada pelo festival de falatório vazio que é este Lead Horse Back to Stable.
Danny, apunhalado por Bakuto, e incapaz de acessar o poder do Punho de Ferro precisa da ajuda de Claire, a costuradora oficial da Marvel/Netflix, o que leva a uma longa conversa entre o herói e a enfermeira noturna, que acredita firmemente que Danny voltou a Nova York por uma razão, porque o que ele precisa não estava em K'un-Lun, mas sim, na grande maçã. Uma crença que Davos não compartilha.
O quase irmão de Danny em K'un-Lun lutou anos para suprimir a inveja que sentiu por ter sido Danny, e não ele a obter o poder do Punho de Ferro. Davos precisou engolir seu orgulho e se posicionar ao lado do amigo a despeito das próprias aspirações, e se dispôs a fazê-lo, de modo que a deserção de Danny foi um golpe duplo para ele aceitar. Davos se viu traído como nativo de K'un-Lun, despida de seu principal protetor, e como amigo de Danny, que se foi sem sequer dizer adeus.
Enquanto isso, Colleen vive seu dia de Geni conforme leva fora de todos os lados (Por alguma razão as pessoas não gostam de agentes secretos do Tentáculo.), Danny, Davos e Claire a esculhambam por pertencer à organização criminosa, enquanto Bakuto e seus colegas a mantém sob observação severa por ter ajudado Danny a fugir.
A postura de seus "irmãos" é o grande indicativo que Colleen tem para perceber que a facção do Tentáculo à qual serve não é tão benevolente quanto seu sensei a fez crer.
E enquanto Harold trama para usar Danny para matar Bakuto e destruir o Tentáculo (devolvendo-lhe sua liberdade no processo), Joy começa a questionar as decisões de seu pai egresso dos mortos, cujos rompantes de ira se tornam mais frequentes e as inclinações homicidas mais evidentes.
No final das contas, Lead Horse Back to Stable foi uma sessão de terapia de pouco menos de um hora, onde Colleen foi confrontada pela real natureza da organização que a acolheu, e a renegou, enquanto Danny fez o mesmo ao renegar K'un-Lun em nome de seus sentimentos pela Filha do Dragão.
Os bons pontos do episódio foram a sequência de Colleen sendo levada à presença de Bakuto, fazendo referência aos rituais do Tentáculo que vimos em Demolidor, que terminou em uma sequência de luta honesta, e os flashbacks mostrando Danny em K'un-Lun usando os paramentos da ordem da Mãe Garça, com o verde e amarelo do uniforme do herói nos quadrinhos. Falando em flashbacks, não dá pra não notar que o orçamento da série é mais enxuto do que poderia. Eu realmente gostaria de ver Shou Lao na série, e as praças gloriosas da cidade de K'un-Lun, mas todo o treino e as provas de Rand em seu período no Himalaia são contados, ou mostrados através de cenas claramente econômicas.
De qualquer forma, com dois episódios na agulha, a primeira temporada de Punho de Ferro se encaminha para o fim com saldo negativo, mas ainda há tempo, e esperança de melhora.

"-Eu serei seu braço-direito. Ficarei ao seu lado na passagem. Protetores de K'un-Lun.
-Não é o que eu pensava...
-Não é o que nenhum de nós pensava. Mas é seu dever, agora. E o enfrentaremos juntos."

Resenha Série: Punho de Ferro Temporada 1 Episódio 10: Black Tiger Steals Heart


Atenção! Spoilers do décimo episódio!
O nono episódio de Punho de Ferro havia prestado um tremendo desserviço ao que a série havia conquistado até ali.
Toda a evolução da trama e dos personagens foi enterrada por uma série de más decisões que se estenderam durante todo o The Mistress of All Agonies, que foi, sem sombra de dúvida, o pior episódio da série. Os problemas do nono capítulo foram tantos que reverberam por boa parte de Black Tiger Steals Heart, esse décimo episódio, onde Danny acorda em uma propriedade com cara de campus universitário em Nova York, local onde, ele descobre depois, Bakuto acolhe jovens em situações de risco, e lhes dá educação e alimento em um ambiente acolhedor e seguro enquanto os ensina os caminhos das artes marciais.
Bakuto, por sinal, está louco para que Rand entre no empreendimento. O sensei/diretor dessa "Escola Bakuto para Jovens Ninjas" é um aficionado por todas as formas de conhecimento de artes marciais, entre elas, o legendário poder do Punho de Ferro, do qual ele tomou conhecimento através de uma fita chinesa da década de quarenta (Aliás, orgasmo nerd pra fita, que mostra um Punho de Ferro mascarado descendo a porrada no exército chinês).
Bakuto afirma ser capaz de completar o treinamento de Danny e ajudá-lo a alcançar a integralidade de seu potencial.
Danny não ter um treinamento completo faz sentido. Explicaria porque eu tenho a impressão de que se ele enfrentasse o Demolidor ele levaria uma surra violenta, e porque ele não sabia que era capaz de usar seu Punho de Ferro para curar.
Assim como a falta que Danny sente de uma figura paterna (aparentemente Lei Kung não era muito paternal...) é a única explicação para sua confiança cega em Harold Meachum, a quem Gao já havia se referido como uma maçã podre.
Em quem Danny aparentemente não confia muito é em Bakuto. E, conforme os leitores de gibis já sabiam, Colleen confirma que sim, seu sensei é membro do Tentáculo.
Mas a jovem também informa a Danny que há duas correntes distintas na organização criminosa, uma ruim, que se desviou do caminho, e outra boa, que segue a verdadeira filosofia do Tentáculo original, e que Danny sofreu uma lavagem cerebral em K'un-Lun que o cegou para a verdade dos fatos.
Danny fica justificavelmente puto da vida, a guria por quem ele se apaixonou omitiu dele o fato de ser membro da organização que ele foi treinado para destruir. Não tão justificável é a mudança de lado de Colleen, que tem Bakuto como seu sensei, o santuário como seu lar e os demais discípulos como sua família, mas ainda assim, resolve ajudar Danny, que ela conhece há alguns dias e que, segundo sua crença, sofreu lavagem cerebral pra não gostar do Tentáculo, a escapar quando a coisa toda descamba para a pancadaria.
A pancadaria, diga-se de passagem, é o ponto alto do episódio, em especial a luta entre Danny e Bakuto no centro de vigilância, e a luta nos portões do santuário, quando Davos, grande ladrão de cena do episódio, se junta a Danny para ajudá-lo em sua fuga (me permitam abrir mais um parêntese aqui, alguém imagina o banho de sangue se Stick entrasse naquele lugar?).
Enquanto isso, os Ward seguem com seu rocambole folhetinesco, agora que Joy descobriu que Harold está vivo e bem, menos preocupado com a saúde e bebendo de manhã cedo e com preocupantes oscilações de humor ela começa a mostrar sinais de preocupação, imagine, então, se ela ficasse sabendo da natureza da visita de seu pai a Lawrence, cabeça do conselho diretivo da Rand, e sua ideia para pavimentar o caminho dos Ward de volta ao comando da empresa?
Black Tiger Steals Heart certamente não foi um mau episódio, e poderia ter sido melhor se não fossem os ecos do capítulo anterior, mas ao menos a série parece estar tentando recobrar o ritmo que alcançara antes. Entrando em sua reta final, seria muito bom se isso acontecesse o quanto antes.

"-Uau, você é o pior Punho de Ferro da história!"

quinta-feira, 6 de abril de 2017

Resenha Série: Punho de Ferro Temporada 1 Episódio 9: The Mistress of All Agonies


Atenção! Há spoilers.
Punho de Ferro havia dado uma escorregada violenta em The Blessing of Many Fractures, e o final do episódio não chegava a acenar com uma grande mudança de panorama na sequência. As coisas se confirmaram conforme uma série de eventos estranhos se enfileiraram nesse capítulo, e estranhos no mau sentido.
Pra começar, Harold, que a exemplo de Boca de Algodão em Luke Cage, morreu no sétimo episódio. Ao contrário do personagem de Mahersala Ali, porém, o senhor Meachum se ergueu do pântano onde Ward o havia desovado, e, como se seu cérebro estivesse reiniciando, cambaleia por Nova York reaprendendo a falar e pensar numa sequência quase risível se não fossem os esforços de David Wenham para levar a coisa toda a sério.
De volta ao lar, Harold reencontra seu pretendo assassino, Ward, e o perdoa pela "travessura". Ao menos é o que ele diz.
Por falar em dizer coisas, madame Gao, aprisionada por Danny no dojo de Colleen (será que não havia um lugar menos desprotegido para manter sua pretensa refém?
Pretensa porque, ainda que esteja amarrada à uma cadeira, é a velha quem parece estar controlando a situação, tira do sarro das perguntas de Danny e das drogas de Claire, se gabando de suportar interrogatórios desde o século XVII enquanto vai empilhando minhocas na cabeça do Punho de Ferro.
E quando Ward se reúne com os carniceiros para descobrir a verdadeira natureza da ressurreição de seu pai, é finalmente punido por Harold, que ainda tem tempo de oferecer um jantar festivo ao seu secretário particular (que não acaba bem) e revelar à Joy que ainda está vivo!
E quando os jogos mentais de Gao já estavam colocando Danny e companhia em parafuso, o ferimento sem importância de Colleen, fruto de sua luta na China no episódio anterior, se mostra mais problemático do que parecia, já que os capangas de Gao usam armas envenenadas, um problema e tanto já que Danny e Claire precisam saber qual é o veneno para poder tratar Colleen, e a única esperança da jovem pode ser o ressurgimento de Bakuto.
Se tudo isso é pouco, ainda tivemos a apresentação de Davos (Sacha Dawan), o amigo de infância de Danny em K'un-Lun, que surge em Nova York com propósitos ainda nebulosos.
The Mistress of All Agonies provavelmente foi o pior episódio de Punho de Ferro. Com momentos de vergonha alheia entrecortados por longos períodos de mero aborrecimento o nono capítulo seguiu o tropeço do oitavo se estabacando violentamente no chão.
A série não se tornou perda total por um mau episódio, mas eu fico curioso pra saber como a produção vai fazer para, nos próximos quatro capítulos, reencontrar a excelência de seus melhores momentos.

"-Você está prestes a enfrentar algo para o qual não está preparado.
-Algo mais assustador que um dragão em uma caverna?
-Sim."

terça-feira, 4 de abril de 2017

Resenha Série: Punho de Ferro Temporada 1 Episódio 8: The Blessing of Many Fractures


Cuidado! Há spoilers!
Punho de Ferro vinha de uma ótima sequência de grandes episódios que haviam tirado a má impressão do início arrastado e com mais cara de novelão do que de programa de super-herói, infelizmente, o oitavo capítulo deu um passo atrás em diversos aspectos.
The Blessing of Many Fractures teve viagens de avião, planos, tramas, armações e Ward nas raias da loucura após ter esfaqueado Harold até a morte e jogado seu defunto no pântano no último episódio.
Por clichê que suas alucinações sejam, não se pode negar que o personagem de Tom Pelphrey vem sendo o único capaz de rivalizar com Colleen Wing conforme a série anda, nada mal para um personagem que era parte do tripé mais xarope da série desde o início.
Enquanto Ward desesperadamente tenta se afastar do feudo Rand/Ward, Joy parece estar disposta a lutar até o último round pelo seu lugar na mesa do conselho diretor da empresa, disposta, inclusive, a usar chantagem contra a junta diretora (créditos para Jessica Jones, mencionada por Joy como fonte das fotos comprometedoras).
Enquanto os Meachum chafurdam na intriga corporativa, Danny, Colleen e Claire (sério... O que a Claire foi fazer na China com Colleen e Danny? Absolutamente despropositada a participação da enfermeira no capítulo.).
Lá, Danny está obcecado em descobrir (ou confirmar) a participação de Gao na morte de seus pais.
A invasão do Punho de Ferro e de Colleen ao armazém do Tentáculo leva a pelo menos uma boa luta do herói contra outro personagem egresso das HQs, o drunken master Zhou Cheng (Lewis Tan).
Zhou Cheng é apresentado como a face oposta de Danny Rand, com sua disposição pétrea na defesa da porta que guarda como protetor jurado do Tentáculo. Infelizmente, o personagem não tem muito tempo em cena, e praticamente se restringe à sua boa (e rápida) cena de luta e à sugestão de personalidade esboçada nos poucos minutos que permanece em cena, um bem-vindo respiro de ação em um episódio arrastado e com mais cara de sessão de terapia do que de sequência do ótimo Felling Tree With Roots.
Além de todos os problemas narrativos de The Blessing of Many Fractures, o mais problemático do episódio foi o desserviço que prestou ao protagonista. Após acenar com um crescimento genuíno do personagem, apresentado com toda a justiça, como um ingênuo heróico, que ia, aos poucos aprendendo sobre os trâmites do mundo fora de K'un-Lun. O problema é que após acenar com a evolução do personagem, pra lá do meio da temporada, a série o puxa de volta à condição de bobo manipulável, mais teimoso do que obstinado, desesperado pra dar o próximo passo sem ter pensado no caminho.
Apesar de todos esses problemas, porém, o que Punho de Ferro mostrou até aqui não chega a ser terrível, e certamente não é pior do que os piores momentos de Jessica Jones e Punho de Ferro, duas séries que, mesmo com problemas semelhantes, foram cobertas de elogios pela crítica especializada.
Faltando cinco episódios para o final, Punho de Ferro deu uma escorregada e quebrou o bom ritmo que mantinha já havia quatro capítulos.
Esperemos pra ver o que vem por aí.

"-O que seu mestre pensaria se visse você bebendo assim?
-Oh, ele insiste nisso... Veja, alguns perseguem o dragão. Eu mantenho o meu sedado. Coisas ruins acontecem se eu não faço isso."

Resenha Cinema: Fragmentado


Lá se vão... O quê? Quinze anos desde Sinais, que, pra mim, foi o último filme de M. Night Shyamalan que valia a pena ir ver no cinema. De lá pra cá, houveram tropeços como Fim dos Tempos e A Vila, bombas de proporções bíblicas como Depois da Terra, e filmes mornos como O Último Mestre do Ar e A Visita, numa série de trabalhos que foram minando a credibilidade de Shyamalan, que surgiu com o arrasa-quarteirão O Sexto Sentido, e seguiu com o espetacular Corpo Fechado dando pinta de que seria o novo Alfred Hitchcock, uma promessa que, à certa altura, pareceu ter subido à cabeça do cineasta, que declarou guerra aos críticos e pareceu se ver como o salvador criativo da sétima arte (cof, A Dama na Água, cof, cof).
Shyamalan se tornou uma caricatura do cineasta que surgira em 1999, e seus projetos, de um tempo pra cá, deixaram de despertar interesse ou antecipação. Quando muito curiosidade mórbida.
Tanto que quando eu vi no cinema o trailer de Fragmentado, ano passado, meu interesse diminuiu quando apareceu ao perceber que o filme era de M. Night Shyamalan. É provável que eu tivesse esperado o longa sair em vídeo se a crítica não estivesse sendo tão positiva com split (e pensar que houve um tempo em que Shyamalan foi o diretor que eu mais vi no cinema).
Foi ontem que eu resolvi adiar Ghost in the Shell e encarar o thriller em nome dos velhos tempos.
Fragmentado mostra três jovens colegas de escola, as estudantes do ensino médio Claire e Marcia (Haley Lu Richardson e Jessica Sula), duas gurias normais, bonitas e tagarelas, e a tímida e retraída Casey (Anya Taylor-Joy), convidada meio que por pena de Claire para sua festa de aniversário num shopping da Philadelphia. Após a festa, as três ganhariam uma carona do pai de Claire pra casa, mas, antes que se deem conta do que está acontecendo, um estranho assume o volante do automóvel, e as droga.
Acordando-se sem saber quanto tempo depois em um quarto improvisado em um porão, as três adolescentes descobrem que foram aprisionadas por um homem com óbvios problemas psicológicos, que se apresenta hora como um sujeito de comportamento obsessivo com limpeza e organização, hora como uma senhora de disposições severas, hora como um menino de nove anos que adora Kanye West...
Conforme a audiência descobre com o desenrolar do longa, esse homem é Kevin (James McAvoy), portador de transtorno dissociativo de identidade, ou, múltiplas personalidades.
Nada menos do que vinte e três personalidades distintas habitam o corpo de Kevin, nos conta sua terapeuta, a doutora Fletcher (interpretada de maneira elegante e calorosa por Betty Buckley).
O rapaz parecia ter sua incomum situação sob controle, mas aparentemente um episódio recente reavivou seus traumas de infância, e criou uma situação onde as facetas mais sombrias de Kevin puderam sair à luz, e enquanto Claire, Marcia e especialmente Casey tentam entender a situação em que se encontram e descobrir uma forma de escapar de seu cativeiro, a doutora Fletcher começa a pensar que algo de terrível pode acontecer quando uma nova e tenebrosa personalidade de Kevin passa a espreitar das trevas.
Fragmentado é provavelmente o mais tenso filme de M. Night Shyamalan desde sempre.
É bom ver o diretor, que em seus melhores momentos desfilava um domínio sobre jogo de câmera digno de mestre, voltar à boa forma de seus primeiros trabalhos em um longa enxuto, com ritmo acertado e que jamais enche linguiça.
Não há cena sobrando em Fragmentado, nada parece fora de lugar ou excessivo. O primeiro e o segundo atos do filme são tudo o que se pode desejar de um suspense, com o tabuleiro bem armado e os peões em movimento para fazer a trama andar. O arranjo de tais peças é tão bem acabado que os pequenos exageros do terceiro ato são absolutamente perdoáveis, especialmente quando a câmera de Shyamalan se junta à trilha sonora de West Dylan Thordson para aquelas sequências de assistir na ponta da cadeira tentando equilibrar o Isordil embaixo da língua enquanto rói as unhas.
Usando breves flashbacks para equilibrar o filme e nos dar insights do passado de Casey (uma subtrama de embrulhar o estômago), e contando com atuações acima da média de Anya Taylor-Joy e Betty Buckley e um show de rock de McAvoy, demonstrando com gosto todo o seu repertório de esquisitices, mostrando inacreditáveis distorções de identidade em um único suspiro, e retratando tanto o temperamento explosivo de um homicida quanto a fragilidade de um jovem traumatizado, Shyamalan faz um dos melhores thrillers dos últimos tempos sem apelar para nenhuma reviravolta sinistra de última hora, e mostra que, quando o ego não sobe à cabeça, ele ainda pode ensaiar para ser o herdeiro cinematográfico de Alfred Hitchcok apenas com talento e criatividade.
Assista no cinema. Shyamalan finalmente voltou a valer o preço de um ingresso, e o fez em grande estilo.
A propósito, quando for assistir, tenha certeza de ficar até a última cena do longa de fato. Na pior das hipóteses, é um easter egg divertido.

"Os alquebrados são os mais evoluídos!"

sábado, 1 de abril de 2017

Resenha Série: Punho de Ferro Temporada 1 Episódio 7: Felling Tree With Roots


O sétimo episódio de Punho de Ferro, Felling Tree With Roots manteve o crescente nível de qualidade e tensão da série desde o quarto capitulo.
O episódio já começa.com Harold recebendo uma desagradável visita do Tentáculo, o arrancando da câmara hiperbárica onde dorme para puni-lo por sua traição ou por sua estupidez. A chegada fortuita de Danny à cobertura serve para desencadear mais uma.boa cena de luta.
Danny não consegue tirar da cabeça a revelação de Gao de que ela conheceu Wendall Rand, e negociado com ele, mas encontra consolo na companhia de Colleen, que finalmente baixa a guarda e torna a relação dos dois, finalmente, romântica, enquanto Ward, cada vez mais enxovalhado e pronto pra largar tudo e desaparecer de Nova York, é obrigado a confrontar a total extensão da loucura de Harold, enquanto Joy precisa lidar com toda a extensão da decência de Danny que está resoluto em fechar a fábrica que pode estar envenenando os vizinhos. Uma decisão que pode custar caro a todos os envolvidos.
E após receber uma perturbadora de Gao, o Punho de Ferro encontra um andar secreto na sede da Rand, o décimo-terceiro piso, onde ficam os escritórios do Tentáculo!
De fato Gao não estava brincando quando diz que está na empresa há muito mais tempo que Danny.
O décimo-terceiro andar, no entanto, é apenas a ponta do iceberg, usando um pouco de persuasão, Rand coloca as mãos em informações detalhadas da forma como o Tentáculo utiliza a Rand para contrabando, além da localização do químico Radovan.
De posse dessa informação, Danny recruta Colleen e os Carrascos para uma batida no laboratório da organização criminosa.
Não bastasse tudo isso, ainda há tempo para Joy ser surpreendida por uma decisão inesperada da junta de diretores, para Colleen receber uma visita de seu amigo Bakuto (quem leu os quadrinhos do Punho de Ferro tem uma boa noção de quem é Bakuto, interpretado por Ramon Rodriguez), para Danny descobrir que Gao fugiu pra China e para um inesperado homicídio!
Com tanta coisa rolando, chega a ser surpreendente que Felling Tree With Roots seja um episódio bem equilibrado como é. Ultrapassando a metade da série, Punho de Ferro aumenta o peso das apostas, e acrescenta bem-vindas doses de tensão e senso de urgência à mistura.

"-É uma força singular, usada para proteger K'un-Lun. É passada de geração em geração, e é dada a um aluno do monastério para usá-la.
-E por que você foi escolhido?
-Eu não fui escolhido. Eu a mereci.