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quarta-feira, 12 de abril de 2017

Resenha DVD: Jack Reacher - Sem Retorno


Em 2012 Tom Cruise estrelou a primeira adaptação de um livro da longeva série do personagem Jack Reacher, criado pelo escritor Lee Child. Eu me lembro de ter achado engraçado que Reacher, que na literatura é um gigante loiro de quase dois metros de altura, fosse retratado pelo nanico Tom Cruise nos cinemas. Também lembro de ter achado o personagem terrivelmente antipático, mas divertido com sua pinta de herói fodão oitentista, sem lenço nem documento, um andarilho vivendo em movimento em um exercício de anonimato que se tornou um vício superado apenas pelo magnetismo da violência...
Jack Reacher - O Último Tiro foi um sucesso moderado de bilheteria e crítica, tendo sido recebido como uma boa fita de ação e rendendo 218 milhões de dólares para um orçamento de 60 milhões, modesto em tempos onde qualquer bobagem custa mais de 100 milhões de dólares...
Com um lucro interessante, um personagem que aparentemente podia encontrar seu lugar nas afeições da audiência e fonte para uma porrada de filmes (a série literária conta com 14 volumes) até que demorou para Jack Reacher voltar à telona, em meados de outubro do ano passado.
Em sua nova aventura, Jack ajuda a major Susan Turner (Cobie Smulders) a desmantelar um esquema de tráfico humano. Depois disso, os dois começam a conversar socialmente por telefone e, de repente, Jack chega a Washington para convidar a major para jantar.
Para sua surpresa, porém, a Turner foi removida do comando, e colocada sob custódia. Ela está presa acusada de espionagem, relata o novo comandante da base, coronel Sam Morgan (Holt McCallany).
Jack, como era de se esperar, não engole a acusação, e imediatamente começa uma investigação própria, levando-o a crer que Turner foi incriminada em uma conspiração que envolve a empresa de segurança privada Parasource e oficiais corruptos do exército dos EUA.
Como se isso já não fosse suficiente, Jack também descobre que está sendo processado por uma mulher que alega ter uma filha com ele, a jovem Samantha (Danika Yarosh), uma menina de quinze anos que cresceu em lares adotivos enquanto sua mãe, uma prostituta viciada em drogas, entrava e saía da prisão.
Inadvertidamente puxada para o meio da confusão, Samantha se junta a Reacher e Turner enquanto eles fogem das autoridades e tentam descobrir o que está por trás das acusações contra a major antes que seja tarde demais.
A premissa não chega a ser das coisas mais importantes em um filme de Jack Reacher. Claro, precisa ser suficientemente intrincada para que, quando Jack decifre todo o quebra-cabeças ele pareça muito mais esperto que todo mundo, mas o realmente importante nesse tipo de filme é que a ação seja convincente, com boas cenas de perseguição e lutas cascudas como as do primeiro longa.
E aqui começam os problemas de Jack Reacher - Sem Retorno, o diretor do longa, Edward Zwick, egresso de filmes interessantíssimos como Diamantes de Sangue e O Último Samurai entrou no lugar de Christopher McQuarrie, diretor do primeiro longa )que emigrou para a franquia Missão: Impossível) e junto com seu co-roteiristas Richard Wenck e Michael Hersovitz transformou Sem Retorno em uma jornada mais emocional para Jack Reacher, o que é uma coisa boa. Não há nada de errado em expandir os horizontes de um filme de ação, tornar seus personagens mais multifacetados e profundos, tudo isso é ótimo, mas a verdade é que, ao fazer isso, Zwick desviou bastante do que haviam sido os grandes acertos de O Último Tiro, que era uma divertida caricatura, com um vilão que parecia saído de um James Bond de baixo orçamento, uma frase de efeitos a cada quinze minutos e lutas muito bacanas.
Sem Retorno também tem lutas e tiroteios, mas a verdade é que o diretor parece não ter jeito com o estilão urbano e cru de pancadaria que o personagem central pede.
Em compensação Zwick realmente dirige seus atores. Smulders e Yarosh se.esforçam em.cada cena, e Cruise tem sua melhor atuação desde O Último Samurai, mostrando Reacher lutando contra a sua natureza de brucutu para encontrar uma forma de se comunicar com Samantha, que, afinal de contas, pode ser sua filha.
O problema é que o roteiro não se aprofunda tanto quanto os atores e toda essa atuação parece forçada quando ocorre em meio à correria das perseguições de um vilão com cara (e casaco preto longo) de fugitivo de longa de ação europeu de baixo orçamento, chamado apenas de "The Hunter", o personagem é vivido por Patrick Heusinger e consegue a proeza de ser pior do que o casca-grossa interpretado por Jai Courtney em O Último Tiro, e pelos capangas da Parasource chefiada pelo general Harkness (Robert Kneper) que, obviamente, não dá pra largada com o deliciosamente brega Zec Cheloviec de Werner Herzog.
Jack Reacher - Sem Retorno tem diversas boas ideias, do anacronismo do personagem que transpira herói de ação oitentista à piada recorrente dos dois soldados casca-grossa sendo incapazes de controlar uma adolescente passando pela major Turner sendo uma versão feminina de Jack e à óbvia divisão do protagonista quanto à paternidade, o longa é, a exemplo do inferno, cheio de boas intenções, elas apenas não foram desenvolvidas a contento.
Ainda assim, o longa preenche tranquilamente uma tarde chuvosa de domingo, e diverte sem ofender.

"-Quem diabos é você?
-O cara com que você não contava."

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