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segunda-feira, 24 de abril de 2017

Resenha DVD: Anjos da Noite: Guerras de Sangue


À certa altura da sessão de DVD na madrugada à que me reservei durante o feriadão, fui assaltado por um pensamento aterrador conforme assistia Anjos da Noite: Guerras de Sangue, quinto filme da franquia de lobisomens versus vampiros iniciada no longínquo ano de 2003 por Len Wiseman e Kate Beckinsale:
Será que é assim que não-fãs de quadrinhos se sentem ao assistir um filme de super-herói?
Porque ainda nas primeiras sequências do filme, eu me peguei lutando contra a sensação de déjà vu conforme Selene (Kate Beckinsale), com sua roupa de Mulher-Gato, andava de moto tiroteando com lobisomens vestidos como proletários leste-europeus em sequências de ação que tentavam ser excitantes mas falhavam miseravelmente na execução.
Eu ainda não entendo como Anjos da Noite chegou ao quinto filme. A maior bilheteria da série são modestos 160 milhões de dólares para o quarto filme, Anjos da Noite: O Despertar, turbinado pelo lançamento em 3D, e o único filme da franquia que é vagamente assistível é o terceiro, Anjos da Noite: A Rebelião, que não tem Beckinsale, e é uma prequência contando o início da guerra entre lobisomens e vampiros desde a insurgência liderada por Lucian (Michael Sheen) contra o ancião Viktor (Bill Nighy), um filme que, ao contrário de todos os outros longas da franquia, é contado pelo ponto de vista dos lobisomens (ou "lycans"), e tinha uma pegada muito mais direcionada para um barbarismo roots do que o fetichismo de látex preto e peles pálidas dos filmes co-irmãos, ainda assim, A Rebelião era a pior bilheteria da franquia (o bocão de Rhona Mitra provavelmente não foi páreo pras formas harmoniosas de Beckinsale embrulhada em spandex), e o retorno de Selene em O Despertar foi o maior sucesso comercial da série, de modo que, de alguma forma, a Sony resolveu continuar com a franquia.
Anjos da Noite: Guerras de Sangue começa com um breve lembrete de tudo o que aconteceu com Selene nos filmes anteriores, uma montagem onde a própria personagem narra os acontecimentos desde que seu caminho como a mais formidável mercadora da morte dos clãs vampíricos se cruzou com o de Michael, um humano híbrido de lobisomem, por quem se apaixonou e teve uma filha, Eve, a primeira híbrida de vampiro e lobisomem puro-sangue, perdida para sempre para ser protegida de ambas as espécies.
Após matar os líderes dos vampiros e dos lobisomens, Selene se tornou uma proscrita, caçada pelas duas facções, em constante movimento para evitar a captura, e sem saber o paradeiro da filha.
As coisas mudam, porém, quando a ambiciosa anciã do clã oriental Semira (A bonitona Lara Pulver, a Irene Adler de Sherlock), percebe que a única forma de se proteger dos lycans e de seu novo líder, Marius (Tobias Menzies, o Edmure Tully de Game of Thrones), é oferecer anistia a Selene, e fazê-la treinar mercadores da morte novatos para os combates vindouros.
Para convencer o conselho do clã oriental, ela conta com a ajuda do ancião Thomas (outro egresso de GoT, o Tywin Lannister Charles Dance).
Com a ajuda de David (Theo James), Selene precisa retornar à guerra secular entre vampiros e lobisomens, mas desta vez, com uma chance real de encerrar o conflito, uma tarefa que pode lhe custar sua vida.
Anjos da Noite já merece um quinhão de desprezo por ter mexido em toda a mitologia vampírica conhecida (as fraquezas e forças de vampiros e lobisomens não fazem nenhum sentido e nem são muito claras), outro tanto de ódio por ter conseguido a proeza de transformar uma premissa que rendeu horas de diversão para RPGistas do sistema Storyteller em uma série de filmes sonolentos e bobos que rivaliza com a saga Crepúsculo no que tange ao desserviço que presta aos sanguessugas e aos licantropos.
Anjos da Noite: Guerras de Sangue tem todos os defeitos da série, as cenas de ação que se dividem entre a edição surtada estilo Tony Scott e cenas em slow motion à moda Zack Snyder são chatas e repetitivas, a fotografia, toda em preto e azul é tão soturna que eu só posso imaginar a bagunça que seja ver esse filme em 3D, e o que se passa por diálogos no roteiro de Kyle Ward e Cory Goodman é um festival de exposição constrangedor entre uma lutinha mal coreografada e a próxima.
A direção de Anna Foerster é tão morta quanto a de qualquer um dos filmes anteriores (excetuo A Rebelião. Mantenho que é um filme algo assistível), deixando claro que a diretora não trouxe nada de seu para a empreitada, e o elenco, por vezes, parece constrangido em dizer as falas, exceto por Theo James, que vomita toda a breguice clichê de seu personagem com uma canastrice que seria comovente se não fosse tão irritante.
O único ponto positivo de Guerras de Sangue é que o longa teve a pior bilheteria dos cinco filmes, modestíssimos 81 milhões de dólares, e essa bilheteria tão gelada quanto os cenários sem-vergonhas do clã vampírico do Norte, cheio de vampiros loiros vestidos de branco, talvez faça com que o estúdio perceba que, a exemplo de Selene, a franquia Anjos da Noite já viveu demais.

"-Não há começo. Não há fim. Há apenas... Transformar-se."

2 comentários:

  1. Adorei a resenha, obrigado! Que linda é Kate Beckinsale, eu a vi em Anjos da Noite - Guerras de Sangue, estava radiante e espetacular, recomendo que a vejam . É uma historia cativante que nos mantêm presos no sofá. Eu adorei.

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  2. Apesar de toda a sua precariedade na execução, o quinto filme da série, Anjos da Noite: Guerras de Sangue, é muito divertido do ponto de vista da mudança de eixo de protagonismo: o que surgiu em 2003 como um fetiche masculino, vestir Kate Beckinsale de vinil para ser uma Trinity do cinema de horror, agora se torna acima de tudo uma demonstração cômica do ocaso do patriarcado. O filme conta com muita ação e uma boa dose de violência. O título fala em Guerra de Sangue e a produção não economiza em sangue esguichando por todos os lados. O visual, como de costume, é bem sóbrio, mantando o estilo de figurino e maquiagem dos anteriores. A única diferença é a presença de um clã nórdico, que acaba trazendo um estilo especial.

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