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sexta-feira, 29 de março de 2019

O Peso da Semana


Sétimo levantamento...
O cotovelo grita.
Oitavo levantamento...
O cotovelo berra.
Nono levantamento...
O cotovelo avisa que está se demitindo.
Ele resolve escutar.
Larga os halteres sobre a tábua próxima e massageia a articulação.
Limpa o suor da testa, o cheiro de eucalipto enche-lhe as narinas. Se é da pomada anti-inflamatória ou do spray analgésico, ele não sabe.
Chega perto do espelho. Faz uma careta.
Está velho...
Os fios brancos na barba começaram a se espalhar para o bigode. Ele se pergunta quão branco estaria seu cabelo se estivesse curto...
Espicha os braços em frente ao corpo procurando sinal de inchaço no cotovelo. Não encontra nenhum.
Olha outra vez pra própria cara. Balança a cabeça.
"Tá ficando velho, magrão... Velho e gordo."
Saca o celular do bolso.
Navega por uma pasta de fotos.
Sorri.
O que foi que ela viu nele?
Testa o cotovelo.
Ainda dói.
Pensa nela. Agarra os halteres e recomeça...
Um... Dois... Três... Quatro...
A semana estava acabando. O cotovelo teria sábado e domingo pra repensar a demissão.

quarta-feira, 27 de março de 2019

Tudo de Bom



Como sempre acontecia quando usava fones de ouvido, caminhava a passos rápidos pela orla do Guaíba alheio a todos os sons que o cercavam. Era final de tarde ele repetia o seu ritual diário com devoção de monge, não porque fosse devoto, mas por uma habilidade quase sobre-humana de transformar qualquer coisa em hábito.
Quando ouviu o som abafado que lembrava seu nome, ignorou nas duas primeiras vezes. Foi atentar a que se tratava apenas quando da terceira vez, quando o ruído foi mais alto, mais próximo e acompanhado de um puxão na base de sua camiseta.
Virou-se tirando o fone intra auricular do ouvido e encarando a pessoa que gritava por ele. A figura esbaforida que assomava era familiar.
Os cabelos castanhos escorridos com os olhos muito azuis e as bochechas rosadas, naquele momento carmim, eram a efígie de sua ex-vizinha Monique.
Adorável bicho-grilo, Monique era aquelas vizinhas que eram amigas do condomínio inteiro, ainda que, eventualmente, fizesse queixas à boca-pequena no pé do ouvido do síndico.
Uma gordinha bonita, de quadris, coxas e seios fartos tinha um sorriso perene encravado no rosto de feições delicadas.
Adorava conversar e tinha um quê de mentalista, sempre tentando adivinhar o estado de espírito do interlocutor e oferecendo conselhos e receitas, totalmente naturais, para quaisquer aflições que pudessem estar atormentando quem quer que fosse.
Sempre fora tremendamente amigável com ele quando moravam no mesmo prédio, sendo amigável e divertida.
Com o largo sorriso aberto o cumprimentou:
-Criatura, como tu emagreceu. Fiquei na dúvida se era tu. Reconheci pela mochila. Como tu está?
-Tudo bem... Tudo bem, mesmo... - Ele disse, enfatizando desnecessariamente.
Ela notou. Fez uma careta de quem ouviu uma piada em potencial e está esperando a punch line.
-Tá... E....? - Inquiriu, alongando o "e?". Mas ele deu de ombros, ainda sorrindo:
-E nada... Tudo bem. ... Mesmo.
De novo a ênfase exagerada e desnecessária. Quase como ser parado por um policial e dizer "não tem nada no porta-mala".
Ela o encarou fechando um olho:
-Tudo bem, mesmo?
Ele riu:
-É... Olha... Tem uns probleminhas aí, mas... Nada que não se resolva e... E eu tô... Acho que... Feliz.
-Feliz? - Ela perguntou. Parecia incrédula.
Ele franziu o cenho com cara de confuso. Teria alcançado um grau de amargura tão elevado que quando se dizia feliz as pessoas o olhavam como se, em algum lugar, houvesse um médico com uma seringa e um prontuário com nome dele fazendo uma busca?
-É. Tô... - Pensou olhando pra cima rapidamente. -Sim. Tô feliz. - Afirmou, estufando o peito.
-Entendi... - Entendeu, ela. -E... E os probleminhas?
-Olha... São coisas com as quais eu vou ter que lidar... Mas é do jogo. E eu não tenho nem o que pensar a respeito. Eu resolvo. - Explicou, vago, mas decidido.
-Que bom... - Ela disse, balançando a cabeça positivamente.
Ele sorriu sem dizer nada. Ela sorriu de volta. Disse:
-Olha... Eu sei que tu não acredita nessas coisas, mas quando eu tô muito embananada, têm umas coisas que me dão paz de espírito pra encarar momentos difíceis...
-Sei... - Ele disse, sem realmente saber.
-Faz o seguinte - Ela continuou -Quando chegar em casa, corta umas rodelas de limão galego, esse verde, normal, e deixa debaixo da cama...
-Eu gosto de limão. - Ele admitiu balançando a cabeça positivamente enquanto pensava nas formigas embaixo de sua cama se realmente chegasse a fazer aquilo.
-É muito bom. - Ela recomendou. -Mas melhor, mesmo, é tu pegar uma panelinha, e queimar umas folhas de louro. É bom pra paz interior. Pra chamar vitória. Tudo de bom, louro.
Ele agradeceu. Ela o abraçou e desejou "tudo de bom". Caminhou alguns passos e reforçou:
-Não esquece: Louro!
Ele acenou e quando retomava sua marcha pra casa falou baixinho:
-É... Olha... Eu prefiro morena...

O Horror, O Horror


Quando eu era criança eu sofria de paralisia do sono.
Eu acordava e continuava tendo alucinações visuais e mesmo táteis que persistiam após eu ter despertado do sono, o que geralmente fazia eu enxergar e eventualmente sentir o mundo fora de proporção. Os episódios não eram comuns, mas davam-se com alguma regularidade.
Geralmente tais ocorrências forçavam minha mãe a saltar da cama e me levar ao banheiro para molhar meu rosto e me acalmar do pranto soluçante em que eu entrava quando esses episódios ocorriam...
Nessa infância, com sete, oito anos, o medo desses episódios de paralisia do sono era, sem sombra de dúvida, o meu maior temor.
Antes disso, meu problema era com o encerramento das transmissões da RBS TV. A afiliada da Globo no Rio Grande do Sul.
Veja, quando eu era bem pequeno, as redes de TV não operavam vinte e quatro horas por dia exceto de sexta para sábado e de sábado para domingo. De domingo a quinta-feira, a TV encerrava suas operações por volta de uma ou duas da manhã, se não me falha a memória, e então havia uma vinheta mostrando o logo da emissora viajando por paisagens tipicamente gaúchas, como cidades da serra e pontos de interesse de Porto Alegre ao som da abertura 30 de Also Spach Zarathustra, de Richard Strauss, o tema de 2001: Uma Odisseia no Espaço.
Não me pergunte por que, mas aquela música me apavorava a ponto de eu enfiar minha cabeça no travesseiro e chorar de pânico quando acontecia de eu ficar acordado até tarde o bastante para ouvi-la.
Com oito, nove, dez anos de idade, meu grande pânico era a insônia.
Eu virava noites consecutivas sem dormir na casa de minha avó, com quem morei brevemente.
Cheguei a ler seis livros da série Vaga-Lume (O Rapto do Garoto de Ouro, No Ninho dos Gaviões, Na Barreira do Inferno, Bem Vindos ao Rio, A Maldição do Tesouro do Faraó e Doze Horas de Terror)e O Exorcista na mesma semana por não conseguir dormir... Conforme se aproximava a hora de deitar eu ia me enchendo de pânico, mas isso foi apenas até minha avó me dar licença para dormir apenas quando eu tivesse sono, e ficar zanzando pelo apartamento madrugada adentro inclusive com liberdade para alugar filmes e usar o vídeo-cassete de madrugada (o que me levou a ver, por exemplo, filmes de Dirty Harry nas madrugadas insones na casa da dona Tereza).
Não me lembro qual foi meu grande medo entre os onze e os treze anos...
Quase me atrevi a falar em bullying, mas a verdade é que, quem cresceu nos anos 80/90 vendo filmes e lendo gibis como eu, acreditava que o bullying era parte da vida de qualquer protagonista. Sim, eu fui marginalizado por ser nerd (antes de nerd ser sequer uma palavra que se usasse em português, igualzinho a bullying), por ser pobre, por ser péssimo em esportes e por ser gorducho, mas a verdade é que nada disso me traumatizou, e eu jamais deixei de querer ir à escola por conta dos atos dos valentões (chamávamos eles de repetentes, porque eram sempre sujeitos que estavam há dois ou três anos na mesma série sendo muito maiores do que aqueles que estavam no lugar certo. Sabe, antes das aprovações automáticas, esse fenômeno que é tanto uma iniciativa anti-evasão escolar quanto uma fábrica de analfabetos funcionais).
Depois disso, na adolescência, meu medo eram problemas familiares...
Houve um momento muito, muito complicado entre meus quatorze e dezesseis anos, em casa... Eram episódios constantes que me enchiam de terror, e com os quais eu precisei conviver em silêncio até alcançar um certo grau de maturidade, o que só ocorreria, de fato, quando eu já tinha dezessete ou dezoito anos...
Provavelmente a atmosfera de tensão que precedia esses rompantes domésticos era a coisa que mais me assustava em uma época em que eu trocava socos na rua como quem vai à padaria, e que, por sorte, não moldou minha personalidade e meu caráter de uma forma negativa...
Ou ao menos é assim que eu vejo as coisas.
Depois de adulto, meu maior pavor foi ser incapaz de proteger as pessoas que amo.
Tu já assistiu Animais Noturnos? Lembra da parte em que Jake Gyllenhaal e Isla Fisher são parados na estrada por Aaron Taylor-Johnson e seus asseclas?
Aquela seria uma sequência de pesadelo pra mim entre os vinte e os vinte e cinco anos... O tipo de situação que sequer assistir me embrulharia o estômago, e na qual me imaginar, transformaria minhas pernas em gelatina.
Felizmente, ou infelizmente, acabei vivenciando um episódio semelhante certa feita, e, consegui reagir bem à situação, o que me ajudou a exorcizar aquele pavor todo.
Depois dos vinte e cinco, confesso que comecei a desenvolver algum tipo de ataraxia ao menos no que tange ao medo.
Eu convivi muito bem com qualquer situação tensa da vida real, de estar perdido no ermo (duas vezes), me engasgar com comida sozinho, ser atacado por um animal feroz ou tentativas de assalto... Como não acredito no sobrenatural, jamais tive qualquer problema nessa esfera...
E foi apenas já com meus trinta e tantos anos que redescobri o medo.
Foi quando fui confrontado com a ideia de, inadvertidamente, estar causando mal à uma pessoa amada.
A perspectiva de ser um agente malfazejo na vida de quem eu amo foi, provavelmente, o maior pavor que eu já havia sentido na vida. Pior do que passar uma noite inteira sofrendo de paralisia do sono, ouvindo a abertura 30 de Zarathustra enquanto um bêbado destruía minha casa aos berros...
Foi um ponto onde eu realmente pesei minhas decisões e me esforcei pra ser um ser humano tão decente quanto possível e tentar colocar o bem estar da minha amada antes da minha satisfação pessoal.
E, ao contrário dos outros temores de minha vida, esse foi um que jamais superei, e com o qual pude apenas aprender a conviver e, posso dizer de cátedra, não é fácil. É como morar em uma kitchenette com dezoito bodes... É algo com o qual é possível se acostumar, mas que jamais será sequer remotamente confortável.
Agora, com quase quarenta e aparência de Joaquin Phoenix em Você Nunca Esteve Realmente Aqui, descobri um novo medo.
Não... Ainda não é do proctologista, da próstata ou das coronárias...
É o medo de tu enjoar de mim.
É o medo de te cansar com minhas inseguranças, de te ver de saco cheio de acalentar um macambúzio sorumbático e cheio de melindres que é tudo nessa vida, menos fácil de conviver.
É o pavor de te enfadar com meus arrependimentos e culpas que, como tudo que se relaciona contigo, torna-se excessivo, amplificado e superlativo como são meu amor por ti...
É o pânico de te enfastiar com meu amor desmedido... De não saber onde parar. De não conseguir conter meu ímpeto de me despedir de ti e dali a uma hora te perguntar como tu está...
O temor de tentando te trazer pra perto, te afastar...
O receio de tu pensar que estou te impondo minha presença e te sufocar ao tentar compensar pela ausência...
O horror, o horror de não te ter comigo.

terça-feira, 26 de março de 2019

Resenha Série: Deuses Americanos: Temporada 2, episódio 3: Muninn


Deuses Americanos vinha claudicante nos dois primeiros episódios da nova temporada.
A série começou seu segundo ano se arrastando como Shadow após escapar do desastre de trem no começo desse terceiro capítulo. Manquitolando a esmo pela tela de nossos televisores enquanto nos perguntávamos se, eventualmente, a falta de Fuller e Green seria superada e a série conseguiria melhorar.
Muninn não supera a falta dos showrunners originais nem com toda a boa vontade de Valhalla, mas mostra que Deuses Americanos pode, sim melhorar muito mesmo na ausência dos dois, e, melhor ainda, a série não precisa de pirotecnia ou grandes invenções narrativas para melhorar, ela apenas dá um objetivo aos protagonistas e cerca essa busca principal com missões menores (ou "side quests" pra quem joga RPG) que fazem a trama andar com um ritmo decente ao invés de claudicar.
Conforme eu disse ali em cima, Shadow escapou do desastre de trem que encerrou o capítulo anterior, e recebe a missão de chegar a Cairo, Illinois, para se encontrar com os egípcios por seus próprios métodos.
É bacana, pra variar, voltar a ver Shadow mostrar um pouco de sua personalidade de antes da prisão, da traição/morte de Laura e de ser chupado pra dentro desse mundo de deuses e assombrações. A exemplo do que ocorrera em Git Gone na primeira temporada, vê-lo de sorriso aberto, carismático e falando macio como um autêntico golpista é muito, muito divertido, ainda que seja breve, já que seu encontro com Sam Blackcrow (Devery Jacobs), indígena de bissexual (ou não-binária, nem sei qual é o termo correto à essa altura...) com quem o protagonista pega uma carona até Cairo.
Outro ponto bacana do segmento de Shadow é a forma como ele está aberto à possibilidade de Sam ser algum tipo de divindade (Eu francamente achei que ela pudesse ser a forma humana de um dos corvos de Odin, tanto por seu sobrenome quanto pelo título do episódio) e imediatamente começa a perguntar nesse sentido.
Não é de se surpreender. Desde sua saída da penitenciária Shadow já viu coisas que o fizeram mudar sua forma de enxergar a realidade, e uma deusa-búfalo indígena dirigindo uma caminhonete imunda não seria, nem de longe, a coisa mais estranha que Shadow, torturado num vagão de trem por um associado dos Novos Deuses sendo salvo pela forma zumbificada de sua falecida esposa vira nas últimas horas...
Falando na falecida, Laura é recolhida e remendada por Sr. Quarta-Feira (com a ajuda do Sr. Íbis Demore Barnes) e Mad Sweeney, e convencida pelo chefe de seu viúvo a partir com ele em uma missão que pode ajudá-la a manter a integridade de sua carcaça por mais um tempo.
Eles irão, juntos, ao encontro de Argos (Christian Lloyd), o deus da visão, que após um pacto com os Novos Deuses se tornou o "padroeiro" dos drones, câmeras de vigilância e sistemas de monitoramento.
Sr. Quarta-Feira planeja punir Argos por seu jogo duplo, e para isso, resolve usar as habilidades de Laura.
Há que se exaltar Emily Browning. Até o momento, qualquer parceria que a inclua se torna instantaneamente a melhor da série.
Se ela e Mad Sweeney vinham carregando a série nos dois capítulos anteriores, em Muninn é a viagem e os constantes diálogos dela com Quarta-Feira que são o ponto alto do capítulo.
É especialmente divertido porque Laura tem os dois pés atrás com o velho deus, e em momento algum parece disposta a abrir a guarda para a fala mansa e as declarações enigmáticas de seu interlocutor, a necessidade dela em conseguir algumas respostas diretas meio que espelha as da audiência, e mesmo que ela não necessariamente as consiga, o duelo de vontades entre ela e Quarta-Feira é muito divertido, e, provavelmente, uma das razões para o velho deus querer vê-la bem longe.
Ainda há a ida de Salim e do Jinn em busca da lança de Odin, em posse de Iktomi (Julian Richings), deus-aranha do povo Dakota, que gerencia uma casa de strip-tease e trafica maconha, as hilárias desventuras de Sweeney quando apartado de sua moeda da sorte, e o lado dos Novos Deuses na contenda, com Sr. Mundo enviando Technical Boy e a Nova Mídia (Kahyun Kim) para fazer uma visita a Argos ao mesmo tempo em que Quarta-Feira.
Aqui cabe um parêntese de que a unidade dos Novos Deuses não parece muito sólida.
Technical Boy parece ter uma agenda própria, independente de Mundo.
Se é bacana ver que Tech Boy pode ser mais do que um chofer para Mundo. Com a saída de Gillian Anderson da série, Mídia perdeu todo o seu encanto, e, também, a posição de superior do personagem de Bruce Langley que obviamente não nutre pela Nova Versão o respeito frágil que tinha pela original, o que pode mexer na dinâmica dos antagonistas.
Seja como for, Muninn deu uma mostra de como Deuses Americanos pode encontrar seu caminho nessa versão pós-Fuller/Green, resta torcer para que a série mantenha essa toada, ou idealmente melhore, nos cinco capítulos vindouros.

"A vantagem do amor à primeira vista é que ele dispensa uma segunda olhada."

segunda-feira, 25 de março de 2019

Rapidinhas do Capita


Sábado foi dia do ateu.
Ninguém me parabenizou. Provavelmente foi porque ninguém sabia/lembrou do dia.
Eu mesmo esqueci, apesar de ter me programado pra escrever a respeito, acabei ocupado e passou em branco o vinte e três de março.
É possível que mesmo lembrando a maioria das pessoas não tivessem dito "feliz dia do ateu" pra mim, nem pra nenhum ateu de seu convívio.
Ateísmo segue sendo mal-visto na nossa sociedade amplamente religiosa, majoritariamente cristã em qualquer uma de suas denominações.
Dos evangélicos raiz que terminam todas as frases com "glória a Deus" aos pseudo-católicos que não vão na igreja desde o batizado do afilhado que já está com vinte e seis anos, os ateus não gozam de bom trânsito entre religiosos.
Tenho uma tia que flutua entre religiões desde que sou capaz de lembrar, e ela volta e meia me pergunta se eu não tenho medo do inferno. O engraçado é que ela meio que escolheu um Deus, a sua interpretação pessoal do Javé cristão, e não tem medo do hades grego, do hell nórdico, ou o umbral espírita, ela corre o risco de ir pra todos os mesmos infernos que eu, menos um (e olhe lá), e ri condescendente quando eu pergunto se ela não tem medo de todos os infernos que está ignorando...
Seja como for, meu feliz dia do ateu atrasado a todos os incréus por aí. Seja aqueles que acreditam que Deus não existe, seja aqueles que não acreditam que Deus existe (há uma grande diferença...), um abraço a todos aqueles que se recusam a acreditar sem provas ou evidências, que não aceitam falácias, e que abraçam a moralidade por acreditar no bem comum, e não por esperar recompensas ou temer castigo.

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Acordou pensando nela...
Escovou os dentes pensando nela...
Andou pro trabalho pensando nela...
Em estar de mãos dadas andando no sol morno de outono de mãos dadas com ela...
Durante a manhã, suspirou pensando nela...
Comeu, bebeu e estudou pensando nela...
Em ser uma pessoa mais completa para dividir a vida com ela...
Quando sentiu os braços arderem na academia, pensou nela...
"Quero ter braços fortes para enroscar nela..."
Correu de volta pra casa pensando nela...
Em não parecer um tio pançudo em fotos do lado dela...
Foi ao mercado pensando nela...
No que levaria quando fosse fazer compras com ela...
Tomou banho pensando nela...
Nos dois dividindo o chuveiro... Na pele nua dela...
Jantou pensando nela...
Assistiu TV pensando nela...
Leu pensando nela...
Jogou videogame pensando nela...
Deitou pensando nela...
"Estou obcecado?", indagou-se?
Levantou-se, cueca e regata. Andou até a estante.
Abriu o dicionário.
O... Oásis...Obelisco... Obrigar... Observar... Obsessão.
Leu o verbete. Sorriu. Guardou novamente o dicionário e tornou a deitar-se.
Lia-se sob obsessão, em sua sexta definição: Ideia fixa e absurda que irrompe na consciência e nela se instala.
Seu amor por ela nada tinha de absurdo.
Era perfeitamente coerente e arrazoado.
Fechou os olhos e adormeceu tranquilo.
Pensando nela.

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Minha sobrinha, vestida de princesa Tianna, cantarolava o Baby Shark e o Livre Estou.
Tudo bem, meninas pequenas precisam de tempo para ser meninas pequenas...
Mas por que não expandir os horizontes...?
Sabre de luz em punho, clipe da luta entre Rey e Kylo Ren em O Despertar da Força (Tu sabe, antes de Star Wars morrer) no Youtube, e uma lição à moda de Liam Neeson em Cruzada...
"Os Italianos chamam de 'La Poste di Falcone', nunca use uma guarda baixa".


Não há motivo, já nos ensinaram Leia Organa e Diana de Temiscyra, para uma princesa não ser capaz de chutar umas bundas.

sexta-feira, 22 de março de 2019

Muito Pra Sempre


Deitados no quarto... Altas da madrugada de sábado pra domingo. Haviam chegado, tomado banho, e ido pra cama com seus respectivos pijamas... O dela composto de blusinha de alcinha com rendinha e um shortinho, ambos decorados com bolinhas... Tudo no diminutivo que era demanda tanto do tamanho das peças quanto da delicadeza de quem as envergava, ele de cueca boxer Zorba de algodão e regata da Hering, também de algodão, composição simples e confortável como apenas vovôs teriam coragem de usar na frente do amor de sua vida.
Parcialmente cobertos na noite outonal, ela virou pra ele de repente, de olhos bem abertos, fazendo-o sorrir automaticamente e inclinar-se sobre ela para beijá-la.
Quando descolou os lábios dos dela, ela continuava fazendo a careta, o que o fez ir de sorriso a riso:
-Que é isso, meu anjo?
Ela, muito séria, respondeu:
-Tu acha que a gente é um casal maneiro?
-Eu acho... Acho a gente um casal muito, muito maneiro... - Ele respondeu, francamente, de cenho franzido.
Achava, de fato. Conhecia muitos casais, chegara a fazer parte de alguns. Nenhum remotamente maneiro como eram ela e ele.
Mas ela não parecia convencida...
-Mesmo esses casais legais da ficção? - Arriscou.
Ele apertou os olhos como se fizesse esforço pra pensar, gradativamente amainou as feições até responder:
-Sim... Mesmo esses.
Ela fez uma cara impaciente que ele achava linda porque parecia um ato, como se ela não estivesse realmente impaciente, mas quisesse causar essa impressão:
-Ah, tá... - Disse como quem não se convenceu. -Mais que Romeu e Julieta?
-Amadores... - Ele suspirou com pouco caso. -Dois nutellas. Inventam aquela putaria de forjar pacto suicida, e quando dá desencontro resolvem se matar de verdade? Francamente, muito juvenis. Deviam só ter fugido e ido viver como plebeus em algum recôndito da Itália, em uma semana tinham se separado e voltado pra casa dos pais.
-Mia e Sebastian? - Ela arriscou.
-Que se perdem nas próprias carreiras e negligenciam um ao outro...? - Ele perguntou fazendo uma cara de desdém que beirava o asco. -Nós certamente somos melhores que eles.
-Sam e Molly? - Ela inquiriu, sorrindo, enquanto abraçava o braço dele, espichado ao longo do corpo.
-Quem são Sam e Molly? - Ele perguntou, fazendo uma careta.
-Do Ghost... - Ela acudiu.
-Eca... O cara tá morto e não para de encher o saco, parece o Leônidas naquele filme das cartas fúnebres... E ela ainda é ceramista! Não, mesmo. Nós. - Sentenciou.
-Tristão e Isolda? - Quis saber, ela.
-O Tristão não casa com outra mulher, mesmo apaixonado pela Isolda? - Ele perguntou de volta.
-Casa... A Isolda das Mãos Brancas... - Ela respondeu.
-E não morre ferido esperando a Isolda certa? - Ele quis saber.
-Morre. A Isolda das mão branca mente que a outra Isolda não vem... - Contou ela.
-Bundão. Eu jamais duvidaria que tu ia vir. - Ele declarou a beijando. E concluiu:
-Nós.
Ela soltou o braço dele e se apoiou no cotovelo:
-Joel e Clementine...?
-Eles não resolvem se esquecer mutuamente?
-A gente também já tentou... - Ela disse, franca.
-Não através de lesão cerebral... - Ele retorquiu. -A gente.
-Zack e Paula? - Ela perguntou.
Ele precisou de uma fração de segundo pra lembrar quem eram.
-Eu meio que gosto do Zack e da Paula... - Disse, lembrando-se de, quando criança, ser apaixonado pela Debra Winger. Cantarolou:
-Love lift us up where we belo-o-ong... Mas não... O Zack é escroto com a Paula várias vezes... A gente, claro.
-Bonnie e Clyde? - Ela jogou, sem perguntar diretamente.
-Não eram dois caipiras assassinos e ladrões? - Ele respondeu.
-Quando tu coloca dessa forma... - Ela disse, quase que retirando a pergunta, para então disparar:
-Céline e Jesse?
-Se tu imagina que daqui nove anos a gente vá ser um casal amargurado como eles estão em Antes da Meia-Noite, me avisa agora pra eu ir me preparando... - Ele riu.
Ela fez uma careta de quem entendeu... ergueu bem as sobrancelhas e abriu a boca antes de realmente falar:
-Peter e Mary Jane?
Ele olhou pra ela com os olhos estreitados. Era claro que ela estava sacando as armas grandes, agora.
-Cinema ou quadrinhos... - Ele começou, mas deteve-se -Quer saber, não importa. A gente é melhor que eles em qualquer mídia. Eu não apostava nosso amor com o diabo e a Mary Jane dos filmes é a maior piranha enquanto o Peter é um autista. A gente, sem nem a menor sombra de dúvidas.
Ela se aproximou bem dele, como se empunhasse o nulificador definitivo:
-Leia... E... Han...?
Foi a vez de ele se apoiar no cotovelo, e devolver-lhe o olhar desafiador enquanto respondia:
-Há quatro anos atrás eu diria "tão... Bons... Quanto...", agora que a gente sabe que eles não se amavam o suficiente pra suportar outra guerra e um filho emo, eu te digo sem medo de errar que a gente dá uma surra de pau mole neles...
-De pau mole, ET? - Ela perguntou, rindo com cara de escandalizada.
-Desculpa... - Ele enrubesceu. -Eu me empolguei... Uma rufa de laço. Uma sova violenta... Enfim, a gente dá de dez neles, também. Mala suerte, Han e Leia. A Disney ferrou o amor de vocês... Nhé.
-Rick e Ilsa? - Ela tentou.
-Eu definitivamente não teria a decência e a abnegação de te colocar num avião com o Victor... Entre nós e a resistência, eu escolho nós, então... Nós. - Disse, a beijando e deitando de volta.
-Peter e Gwen? - Ela perguntou. Uma expressão de superioridade tomando-lhe o rosto, certa da vitória como se tivesse pego a carta do Terrax no Super Trunfo da Marvel.
-Dos Espetacular...? - Ele perguntou, titubeando.
-É. - Ela respondeu.
-Aí é golpe baixo... - Ele apelou.
-Arrá... - Ela celebrou baixinho.
-OK... Tu quer que eu admita que eles são tão maneiros quanto a gente...?
-No mínimo. - Ela disse.
-Eles até poderiam ser - Ele concedeu -Se ele não tivesse deixado ela morrer...
-Ele não "deixou", ele só não conseguiu salvar ela...
-Verdade, mea culpa - Ele admitiu. -Ainda assim, ela morta, e ele deprimido. Lamento, morena. É a gente. Sempre foi e sempre será. - Sentenciou.
-Sempre? - Ela quis saber.
-Enquanto tu quiser, pelo menos...
-Eu vou querer até que nossos ossos estejam quebradiços demais pra arriscar contato. - Ela respondeu, sorrindo.
Se beijaram.
Ainda tinham muito pra sempre pela frente.



quinta-feira, 21 de março de 2019

Resenha Filme: Aquaman


Eu francamente não sei bem por que eu não fui ver Aquaman no cinema no ano passado. Sou, afinal de contas, um admirador de Homem de Aço, adorei Mulher-Maravilha, fui uma das oito pessoas que gostou de Liga da Justiça e acredito firmemente que, em algum lugar de Batman v Superman: A Origem da Justiça há um grande filme sepultado por Lex Luthor, Apocalypse e Zack Snyder, que não entendia os personagens que retratou. De modo que, exceto por causa da minha fadiga declarada para com o público mal-criado dos cinemas, e as salas exibidoras com seus horários dublados, eu não sou capaz de pensar em uma boa razão para não ter ido ver o filme, então, assim que o aluguel digital foi disponibilizado na Google Playstore, lá fui eu dar uma conferida na aventura do rei dos mares da DC Comics em sua encarnação mais recente...
Novamente encarnado por Jason Momoa, responsável por dar vida ao personagem em Liga da Justiça (e em um breve relance em Batman v Superman) e dirigido por James Wan, australiano egresso do cinema de horror com Jogos Mortais, Invocação do Mal e Sobrenatural no currículo, além de Velozes & Furiosos 7, Aquaman funciona como uma história de origem, ainda que reconheça os eventos de Liga da Justiça, mencionados brevemente em uma cena no início do longa.
Com a narração do protagonista, nós tomamos conhecimento de como seu pai, o faroleiro Tom Curry (Temuera Morrison, o Django Fett em pessoa), numa noite de tempestade, encontrou nos recifes junto à sua casa a rainha Atlanna (Nicole Kidman), uma refugiada atlante tentando escapar de um casamento arranjado.
Ferida, Atlanna foi acolhida por Tom, e, eventualmente, os dois se apaixonaram e tiveram um filho, Arthur, que ainda pequeno foi abandonado por sua mãe, tendo em vista que sua partida de Atlântida continuava não tendo sido perdoada por seu pretendente, e seguiria atraindo represálias do oceano colocando Tom e o bebê em risco.
Arthur cresceu sem mãe, mas não alheio à sua herança atlante.
Sob a tutela secreta de Vulko (Willem Dafoe) ele aprendeu sobre suas origens e habilidades, treinando para alcançar o máximo de suas capacidades híbridas até crescer para se tornar um dos meta-humanos mais poderosos do mundo, e um guardião secreto dos mares auxiliando os indefesos.
Com gosto por piadinhas e doses industriais de cerveja, Arthur é um andarilho sem ligações com o mundo da superfície além de seu pai, e sem nenhum interesse em estreitar seus laços para com o oceano após saber que sua mãe fora sentenciada à morte por ter-lhe dado à luz.
As coisas mudam de figura quando o meio-irmão de Arthur, Orm (Patrick Wilson, gritando pra caramba), convence o rei Nereus (Dolph Lundgren) a apoiá-lo em sua pretensão de declarar guerra ao mundo da superfície.
Após anos vendo o mar ser transformado em depósito de lixo dos terrestres, Orm decidiu que é hora de dar um basta. Ele planeja unir todos os reis dos sete mares à sua causa e realizar um ataque definitivo ao mundo da superfície, e a única forma de impedir a guerra é encontrando um novo postulante ao trono que seja capaz de desafiá-lo.
É onde entra Mera (Amber Heard, lindona), que vai ao encontro de Arthur para convencê-lo a tomar parte no plano bolado por ela e Vulko, encontrar o tridente perdido do rei Atlan (Graham McTavish) e tomar o trono de Orm para garantir a paz, um objetivo que só poderá ser alcançado embarcando em uma jornada que mudará a visão que Arthur tem do mundo submarino em uma busca, não apenas por uma relíquia perdida da antiga Atlântida, mas também por sua própria identidade e seu papel como a ponte entre dois mundos.
Conforme eu suspeitava, não há nada para não se gostar em Aquaman.
O longa escrito por David Leslie Johnson McGoldrick (sim, isso tudo é uma pessoa só), Will Beall, Geoff Johns e o próprio James Wan acerta na pinta ao abrir mão de qualquer resquício do pseudo-realismo sombrio dos longas iniciais do DCUE, e abraça um senso aventuresco de diversão descompromissada como, estranhamente, há muito tempo eu não via em um longa de super-herói.
É um filme onde a vencedora do Oscar Nicole Kidman aparece comendo um peixe dourado durante a introdução que grita Splah: Uma Sereia em Minha Vida até começar a lutar com soldados que parecem fugitivos de Power Rangers, onde a trilha sonora de um duelo pelo trono de Atlântida é tocada ao vivo por um polvo gigante batucando oito tambores ao mesmo tempo, onde uma fenda cercada por criaturas lovecraftianas guarda uma passagem para o mar secreto no centro da Terra onde existem dinossauros, onde exércitos de criaturas que parecem o Sr. Sirigueijo do Bob Esponja se digladiam com soldados atlantes montados em tubarões de armadura enquanto um kraken (na verdade um Karathen, pra ser preciso) dublado por Julie Andrews manda tudo pro inferno ao fundo, cinemão não fica muito melhor do que isso...
As atuações variam em qualidade, mas são todas comprometidas. Mesmo Dolph Lundgren, que passa o filme inteiro fazendo uma carranca de quem vai dizer "Se morrer, morreu" a qualquer momento parece estar dando seu máximo e se divertindo ao fazê-lo. Patrick Wilson berra adoidado entre um discurso malvado e o próximo enquanto Nicole Kidman interpreta como se estivesse vivendo a protagonista de uma tragédia grega. Temuera Morrison e Willem Dafoe são discretos mas corretos, Yahya Abdul-Mateen II interpreta o Arraia Negra com vontade, e se garante na parte dramática enquanto Amber Heard interpreta uma princesa briguenta e cheia de recursos que deixaria Leia Organa orgulhosa e Jason Momoa ancora o filme encontrando o equilíbrio certinho para o personagem-título como um sujeito charmoso e boa-pinta que é meio otário de vez em quando mas ao mesmo tempo deixa escapar uma fragilidade oculta que mantém a audiência interessada.
O filme é um pouco mais longo do que o necessário, com suas quase duas horas e meia, e em boa parte do tempo desenvolve sua trama através de exposição e cenas de ação, geralmente usando uma explosão súbita como transição entre as duas coisas. As sequências de ação são boas, a melhor, sem sombra de dúvida transcorre na Sicília, quando o Arraia Negra, que tem um visual espetacular, ataca Arthur e Mera com uma tropa de elite atlante. Os efeitos visuais seguram a peteca, especialmente quando mostram coisas que nós jamais vimos, como cardumes infinitos de derivados de Dagon (a influência de Lovrecraft no visual das criaturas marinhas é tão flagrante que um dos livros na mesa de Tom Curry no farol é o clássico O Horror de Dunwich) perseguindo os heróis, ou uma batalha que parece Star Wars dentro de um aquário, mas fica fajuto quando tenta emular o mundo real. Os rejuvenescimentos digitais de Morrison, Kidman e Dafoe deixa todo mundo com cara de boneco de cera, e o exterior do farol onde Arthur cresceu é tão flagrantemente um chroma key que chega a ser irritante, nada que tire o brilho dos acertos do longa, porém.
Aquaman é um filme divertido, honesto e repleto de coração, que se esforça para mostrar uma história de amadurecimento de seu protagonista e mudá-lo com sua jornada, e por mais que sua história pareça algo inchada com as suas múltiplas linhas narrativas que parecem tentar incluir todas as histórias do personagem em um único filme, consegue ser uma sessão divertidíssima de cinemão-pipoca em sua melhor forma.
Certamente irá pra minha estante.

"-Reis lutam apenas por suas nações. Você luta por todo o mundo."

quarta-feira, 20 de março de 2019

O Trailer da Terceira Temporada de Stranger Things

A Netflix lançou o trailer da terceira temporada de Stranger Things, série que eu achei apenas OK, no início e que agora é meio que o que me mantém assinando Netflix junto com Better Call Saul.
A prévia mostra Onze mais integrada ao grupo de amigos, e a ambientação no verão de 1985 enchendo o ar com néon e cortes de cabelo esquisitos:



Incrível como Steve se tornou o meu personagem preferido junto com Jim Hopper...
O novo ano da série idealizada pelos irmãos Duffer terá os retornos do elenco principal, encabeçado por Millie Bobby Brown, Finn Wolfhard, Winona Ryder e David Harbour, mais as adições de Maya Hawke, Jake Busey e Cary Elwes será disponibilizado no catálogo do serviço se streaming em 4 de julho.

Resenha Série: Deuses Americanos: Temporada 2, episódio 2: The Beguiling Man


Após um primeiro episódio OK, com alguns bons momentos, uma semana se passou e o segundo capítulo da nova temporada de Deuses Americanos chegou ao Amazon Prime Video para deixar claro que, ao menos até aqui, a série parece ser incapaz de ir além do OK, com algumas exceções.
Após a abdução de Shadow e a morte de Zorya no capítulo anterior, nós descobrimos que o guarda-costas de Quarta-Feira foi aprisionado por um associado de Sr. Mundo, o Sr. Cidade (Dean Winters).
Submetido a torturas e interrogatórios, Shadow relembra sua juventude, da chegada da França para Nova York ao lado de sua mãe, de como aprendeu a se virar no bairro de Bushwick, no Brooklyn, e de como sua mãe adoeceu e finalmente o deixou.
Enquanto Shadow come o pão que os novos deuses amassaram, Quarta-Feira promete vingança ao Czernobog, e separa seus peões para os preparativos da guerra que se anuncia.
Ele envia o Mad Sweeney e Laura numa tentativa de resgatar Shadow, o Jinn e Salim em busca de uma lança, e pede que Mama-Ji tente trocar seu turno na lanchonete para poder tomar parte das batalhas que se avizinham, enquanto ele próprio sai para um passeio com Sr. Nancy.
Enquanto isso, Sr. Mundo tenta coagir Bilquis a tomar partido em seu lado da guerra, e Technical Boy vai em busca de Media, que aparentemente não se recuperou do cagaço na revelação de Odin no season finale passado.
Aparentemente a nova temporada de Deuses Americanos irá se ocupar de dividir os seguidores de Quarta-Feira em grupos menores com missões próprias nesses próximos episódios. Eu francamente não sei como reagir a isso em um primeiro momento.
As dinâmicas entre Shadow e Quarta-Feira e entre Sweeney e Laura foram a alma da primeira temporada, e a mera expressão de Salim ao entrar no side-car da moto do Jinn nos faz antever uma nova dinâmica interessante surgindo para o programa. A questão é que eu não sei o quanto dessas dinâmicas de personagens serão mantidas no nível da última temporada na ausência de Fuller e Green.
Os personagens seguem interessantes, e o elenco é excelente. Se Ian McShane passou esses últimos dois capítulos meio escanteado, Orlando Jones consegue arrancar risadas apenas com sua expressão corporal, e Pablo Schreiber e Emily Browning são o coração e a alma da série nesses dois capítulos. A química entre os dois é inegável, e se eles seguem se bicando o tempo todo, a relação da dupla evoluiu de maneira que eles já não parecem mais dois estranhos se odiando mutuamente, mas irmãos implicando um com o outro, não por acaso o segmento onde os dois partiram no resgate de Shadow foi, de longe, a melhor coisa do episódio, com larguíssima folga sobre tudo o mais.
Nesse "tudo o mais" inclua-se os desnecessariamente longos flashbacks do passado de Shadow.
Se a tentativa era mostrar como o protagonista é um homem sem pátria, OK, eu consigo compreender isso, assim como a sugestão de que Quarta-Feira esteve presente no hospital quando a mãe de Shadow foi diagnosticada com uma doença terminal e que possa ser até mesmo o pai sumido de Shadow a respeito de quem sua mãe (Olunike Adeliyi) não fala.
Ainda assim, as sequências com o herói pregado na geringonça de tortura maneira de Sr. Cidade incharam o episódio, e soaram sempre demasiado arrastadas.
Seguimos sendo capazes de ver a tentativa da série de emular o estilo dos antigos showrunners com os jorros de sangue excessivos nas cenas de luta ou nos ângulos de câmera inventivos, mas, embora esse ainda não seja um juízo definitivo, eu não sei se não seria melhor tocar o barco e abraçar um estilo diferente mas que parecesse menos uma imitação.
O que foi dito a respeito de House on the Rock segue valendo para The Beguiling Man, não há nada de ruim no episódio. Há algumas coisas muito boas, e ainda assim, falta algo.
Por hora, Sweeney e Laura me mantém ligado semanalmente.
Vamos esperar pra ver como as coisas seguem...

"-Se ficar no meu caminho, os deuses vão estar planejando o seu funeral.
-Acho que eles já estão, amor. Acho que eles ja estão..."

terça-feira, 19 de março de 2019

Apaixonado, Mesmo


Era domingo de noite. Estavam aconchegados um no outro entre sentados e recostados no sofá da sala engajados no que era uma das atividades mais secretas de seu rol de interesses variados.
Quando não estavam lendo livros, assistindo noticiários ou filmes dos mais variados gêneros e origens, assistiam avidamente ao Masterchef.
E não podia ser a versão original, do Gordon Ramsey.
Ah, não.
Precisava ser o nacional. Apresentado pela Ana Paula Padrão, com o Jacquin, a Carosella e o Fogaça. Era uma daqueles coisas que ele jamais imaginou que ela gostasse, e que ela jamais imaginou que ele gostasse, mas que os dois adoravam porque... Porque... Francamente, não dá pra saber por que. Aqueles dois não faziam lá muito sentido de tanto que faziam sentido juntos.
Enfim, era domingo, e eles assistiam Masterchef juntos. Ela, cheirando divinamente escorada contra o peito dele, que a segurava junto de si com um dos braços enquanto tinha o outro pousado sobre o encosto do sofá, se remexeu jogando os pés delicados ao chão assim que começou o intervalo:
-Me solta um pouco... - Disse.
-Por que? - Ele perguntou, fingindo desinteresse, enquanto a segurava um pouco mais forme.
-Pra eu ir no banheiro... - Ela riu.
-OK... - Ele assentiu sem soltá-la ou sequer afrouxar a pegada. -Mas isso vai te custar.
-O que? - Ela perguntou, sorrindo enquanto voltava o olhar pra ele.
-Um beijin - Ele começou, mas deteve-se. -... Não... Um beijão. - Sentenciou.
Ela se inclinou e o beijou.
O beijo deles era bom demais. Credo, que baita beijo...
Se beijaram e enquanto se beijavam ele tocou de leve o rosto dela, e sua mão deslizou-lhe até o pescoço, e então à cintura, por onde ele a puxou para perto o suficiente para envolvê-la com os dois braços enquanto se beijavam. Ela tinha uma das mãos no peito dele, a outra em sua bochecha barbada, e ele era capaz de sentir o coração dela batendo dentro do peito quando seus corpos se colavam como estavam agora.
Após longos segundos, ele descolou os lábios dele dos dela, a olhou com um sorriso e declarou-se:
-Eu te amo.
Ela sorriu que sabia, e levantou para ir ao banheiro.
Quando voltou, ele estava deitado em uma posição diferente, ocupando o sofá inteiro. Ela parou diante dele e disse:
-Me dá um cantinho...
-Por que? - Ele perguntou, fingindo desinteresse enquanto olhava a TV com descaso.
-Pra eu sentar... - Ela disse, com um sorriso impaciente querendo se formar.
-OK... - Ele assentiu. -Mas isso vai te custar.
Ela sorriu um sorriso aberto de vez.
Aquele imbecil era completamente apaixonado por ela, mesmo.

sexta-feira, 15 de março de 2019

O Suficiente


Eu estive pensando...
Estive pensando na tua pele.
Eu não beijei a tua pele o suficiente.
Tu podes achar que sim.
Que tivemos nossa cota de beijos.
Considerando-se tudo.
Mas eu não beijei teus ombros, o bastante.
Ah, os teus ombros...
Tuas mãos. Teus joelhos e teus pés.
Não os beijei que chegasse.
Eu não beijei teus braços o suficiente.
Nem antebraços.
Quantas vezes eu beijei teu pulso?
Certamente não foi o bastante.
Tuas canelas eu provavelmente não beijei.
Tuas panturrilhas vez e outra.
Quantas vezes eu beijei tua cintura?
Tua região ilíaca? A tua lombar?
Se é que beijei.
Eu provavelmente não beijei tua barriga
Tuas costelas e escápulas
Não o bastante.
Pouco beijei tua nuca.
A parte interna das tuas coxas
E a externa.
Pouco beijei teus tornozelos.
Teus dedos. A palma das tuas mãos.
Beijei pouco tuas orelhas.
E atrás delas.
Beijei pouco o teu cabelo.
A ponta do teu nariz. Tuas pálpebras e teu queixo.
Beijei pouco teu rosto.
Teus seios e teu púbis.
E não foi por estar ocupado beijando teus lábios.
Foi porque de mim pra ti
Não existem beijos em quantidade suficiente.

quinta-feira, 14 de março de 2019

O segundo trailer de Vingadores: Ultimato

Saiu hoje a segunda prévia de Vingadores: Ultimato.
O trailer mostra uma bela edição de cenas dos filmes solo de Homem de Ferro, Capitão América e Thor, antes de colocar o que sobrou dos maiores heróis da Terra em uma missão para tentar restaurar o universo pós-Thanos, custe o que custar.
Assista e não fique arrepiado, I double dare you:



Novamente dirigido por Joe e Anthony Russo, escrito por Christopher Markus e Stephen McFeely (que merecem muito mais crédito do que lhes é dado),  estrelado por todo mundo que não virou pó em Guerra Infinita, o longa chega às telonas em 25 de abril para encerrar a Fase 3 do MCU com a proverbial chave de ouro.
Haja unha até lá.

quarta-feira, 13 de março de 2019

Resenha Série: Deuses Americanos: Temporada 2, episódio 1: House on the Rock


Praticamente um ano e meio após o oitavo e último capítulo de sua brilhante primeira temporada, Deuses Americanos retornou a seus fiéis trazendo na bagagem uma dose de drama em seus bastidores que supera com folgas o drama de seus oito episódios originais.
Após perder seus showrunners (Bryan Fuller e Michael Green) por diferenças com relação ao orçamento da temporada, duas atrizes de seu elenco (Gillian Anderson e Kristin Chenoweth) e suscitar rumores a respeito de desavenças no set, atrasos nas filmagens e até mesmo sobre o novo showrunner, Jesse Alexander ter se transformado em uma rainha da Inglaterra durante o desenvolvimento do novo ano, Deuses Americanos retornou com esse House on the Rock para tentar nos levar de volta ao fascinante mundo engendrado por Neil Gaiman em seu romance e traduzido tão espertamente para a telinha por Fuller e Green em 2017.
Após a revelação de Odin e Ostara no final da primeira temporada, Quarta-Feira e Shadow retomam sua viagem para Winsconsin onde haverá a reunião para o qual os dois vêm se preparando desde The Bone Orchard.
Agora acompanhados por Laura (Emily Browning) e Mad Sweeney (Pablo Schreiber), eles chegam a um dos locais de poder dos Estados Unidos onde são aguardados pelo Sr. Nancy (Orlando Jones), o Djinn (Mousa Kraish), o Czernobog (Peter Stormare), Zorya Vechernyaya (Cloris Leachman) e Bilquis (Yetide Badaki) e mais Salim (Omid Abtahi), e a inédita Mama-Ji (Sakina Jaffrey, de House of Cards) para que Quarta-Feira tente convencer os velhos deuses a travar uma guerra contra os novos.
Entretanto Sr. Mundo (Crispin Glover não gostou nem um pouco da coça que levou em Come to Jesus, e prepara uma retaliação à altura.
É flagrante a ausência dos showrunners originais nesse debute da nova temporada.
Não me entenda mal, não há absolutamente nada de ruim ou ofensivo em House on the Rock, a começar pela excelente ambientação, a química que se formou entre algumas dessas duplas (Sweeney e Laura ofuscam Shadow e Quarta-Feira no quesito, ao menos nesse primeiro capítulo), e o peso de alguns dos atores em cena. Ian McShane segue brilhante em sua interpretação, e Ricky Whittle empresta a Shadow Moon um senso de maravilhamento e surpresa absolutamente cativante, enquanto Orlando Jones crava os dentes com força em Sr. Nancy, roubando todas as cenas em que têm ao menos uma fala, e Yetide Bataki tem uma presença magnética e absolutamente sexual mesmo sem nenhuma cena de sexo em sua operação como agente dupla a serviço de Sr. Mundo.
O antagonista da vez, por sinal, é um pouco decepcionante. Eu estava ansioso para ver mais do personagem interpretado por Crispin Glover, mas ao menos nesse primeiro episódio ele faz pouco além de retorcer os bigodes e disparar monólogos vilanescos, ainda assim, têm mais o que fazer do que Technical Boy (Bruce Langley), relegado à posição de chofer resmungão no episódio.
Há uma sensação de que Deuses Americanos perdeu um pouco de sua ambição no debute da nova temporada, apesar de algumas boas sacadas visuais (eu gostei do visual dos velhos deuses nos "bastidores" da mente de Quarta-Feira) o texto repleto de sugestões veladas e solilóquios rebuscados que não dizem nada (do qual Sweeney e Laura escapam com louvor graças a uma atitude desdenhosa frente às maquinações do deus caolho) sugere uma freada na audácia do primeiro ano, mas foram apenas os primeiros cinquenta e três minutos da nova temporada, que usou muito de seu tempo restabelecendo as relações do espectador com esses personagens após a extensa ausência de mais de dezoito meses, justificando um pouco da negligência do roteiro, amainada pelo comprometimento do elenco para com seus personagens.
A guerra que Odin tenta engendrar parece estar bem distante, o que é bom. Talvez, com mais tempo, a segunda temporada de Deuses Americanos possa melhorar seu ritmo, e recuperar na audiência o senso de encantamento que Ricky Whittle vende com tanta galhardia em cena.
Oremos.

"-Você é um péssimo homem bom..."

terça-feira, 12 de março de 2019

Feliz Aniversário, Internet


Hoje, a internet completa 30 anos...
Apesar de já existir desde a década de sessenta, a internet enquanto rede que conectava computadores ao redor do mundo tinha acesso restrito.
Foi em meados de 1988 que a rede tornou-se acessível a todas as pessoas com um computador pessoal, uma linha telefônica e paciência pra cacete.
Hoje as pessoas chafurdam na internet na rua, usando o potencial extraordinário da informação instantânea na ponta dos dedos para publicar fotos do prato de comida no Facebook ou curtir a foto da filha da celebridade no Instagram com as fuçasenterradas nos smartphones.
Hoje a vida acontece mais na internet do que na rua. As pessoas se tornaram incapazes de se desconectar, pois não há vida sem compartilhamento... Se tu não puder contar que fez, é a mesma coisa que não fazer...
Tim Barnes Lee, o visionário por trás da popularização da rede, criou o Walking Dead da vida real, mesmo com a melhor das intenções.
A maneira mais fácil de conhecer o valor de uma pessoa é dando-lhe poder. Com todo o conhecimento do mundo ao alcance da mão, a imensa maioria da humanidade falhou no teste, conforme terraplanistas e criacionistas da Terra jovem atestam.
Eu, um apaixonado por papel e tinta, que vejo todas as inovações tecnológicas com os dois pés atrás, que não tenho nenhuma rede social e que hoje em dia nem mesmo tenho um computador em casa, teria todas as razões do mundo para nutrir, ao menos, contido desprezo pela internet.
Mas a internet é a ferramenta.
Se eu matar meu vizinho a marteladas, a família dele não pode odiar o martelo.
A ferramenta é o que fazemos dela, e nada mais. Prova disso é que ao mesmo tempo em que há quem navegue pela internet e colha viés de confirmação para suas certezas tortas, semeiam mentiras, espalham ódio e demonstram tudo o que têm de mais baixo, alguns de nós encontram perfeição em uma embalagem surpreendentemente pequena, linda, e com um cheiro divino...
Feliz aniversário, internet.
Obrigado.

Resenha Cinema: Capitã Marvel


Deixe-me começar dizendo que eu odeio a Capitã Marvel da versão Mais Alto, Mais Longe, Mais Rápido. Eu realmente a odeio.
Pra mim, foi um daqueles raros momentos em que um personagem secundário da Marvel ganha a ribalta e é piorado ao invés de melhorado. A personagem se tornou uma sargentão desprovida de qualquer senso de humor ou de qualquer resquício do que seria uma personalidade sequer remotamente atraente, de modo que, quando alardearam que Capitã Marvel seria a primeira personagem feminina do universo Marvel a ganhar seu próprio filme no MCU (uma cusparada na cara da Viúva Negra, que vem sendo uma autêntica carregadora de piano nos filmes dos outros desde Homem de Ferro 2), eu me peguei reticente com a ideia exatamente por odiar a personagem.
Quando Brie Larson foi anunciada no papel principal, eu já havia adotado ao menos outras duas atrizes aventadas no papel como minhas favoritas (no caso, Charlize Theron e Katheryn Winnick), os nomes dos co-diretores Anna Boden e Adam Fleck, também não diziam nada já que nos filmes do MCU, apenas Taika Wititi, o demitido James Gunn e os Russo são capazes de colocar alguma coisa de pessoal em seus trabalhos.
A atenção à qual qualquer filme hoje em dia é submetido nas redes sociais também não ajudou Capitã Marvel a ser algo pelo qual eu estivesse particularmente ansioso. De um lado trolls ultrajados por haver uma mulher num papel de destaque num estilo de filme dominado por fortões, de outro o panfleto erguido pela turma do politicamente correto, alguns turbinados por declarações de Brie Larson, a escolhida para interpretar a heroína, que entrou em modo LucasFilm e antagonizou a base de fãs antes mesmo do lançamento do filme, me fizeram pensar que, talvez, Capitã Marvel fosse ser o primeiro filme do MCU que eu não veria no cinema.
Porque por mais que eu seja partidário de igualdade de oportunidades de direitos para todos, independente de raça, gênero ou credo, eu francamente não me sinto a vontade quando a mensagem que um filme deseja transmitir se torna mais importante que a história que ele quer contar, e, antes que me acusem de ser preconceituoso, machista ou misógino, eu recomendo que leiam minha resenha de Mulher-Maravilha...
Mas, ainda assim, resolvi ir.
Passada a estréia e o primeiro final de semana, aproveitei a oportunidade e peguei uma sessão pouco movimentada do longa para ver o que o MCU iria fazer para equilibrar uma das criações mais insuportáveis da editora de modo a carregar um filme nas costas.
O longa nos apresenta Vers (Larson) totalmente adaptada à cultura Kree, vivendo em Hala, mundo capital do império. Sob a tutela de Yon-Rogg (Jude Law) ela treina para se tornar uma guerreira da força de elite chamada Star Force que é um dos principais trunfos do império Kree em sua longeva guerra contra a raça de metamorfos reptilianos Skrulls.
Vers é constantemente assombrada por flashes de um passado do qual não consegue se lembrar, de uma vida que viveu antes de se tornar uma "nobre heroína guerreira" a serviço do império Kree, mas a privação de sono não a impede de se dedicar com extremo afinco ao treinamento e a seu dever para com a Inteligência Suprema, a I.A. que comanda o império alienígena e que tem uma forma diferente para cada uma das pessoas que a veem, para Vers, a doutora Wendy Lawson (Annette Bening), uma figura de seu passado nebuloso.
Após uma operação de extração da Star Force dar errado, a protagonista acaba sendo capturada pelos Skrulls e interrogada por Talos (Ben Mendelsohn, que à essa altura já deve pegar scripts e pensar em qual papel de vilão estão lhe oferecendo), um comandante inimigo particularmente interessado nas memórias de Vers e em algo oculto no planeta C-53, a nossa Terra.
Escapando com facilidade de seu cativeiro, Vers chega à Terra onde começa a investigar qual o objetivo dos Skrulls no planeta, ao mesmo tempo em que persegue pistas que a ajudem a desvelar seu passado terráqueo contando com a ajuda do agente da SHIELD Nick Fury (Samuel L. Jackson).
Conforme havia acontecido comigo em Pantera Negra, um filme que eu achei surpreendentemente menos autoral do que eu supunha, Capitã Marvel é um panfleto muito mais discreto dos que os trolls da internet poderiam antecipar.
Não me entenda errado, há toda uma mensagem de girl power (Oh, céus, não deixem Briel Larson ler a palavra "girl" ou ela fará um discurso a respeito) extremamente clara. Do passado de Carol Danvers na Força Aérea, ouvindo piadinhas sobre sua incapacidade de pilotar em combate, à insistência de todo mundo em dizer que ela é emocional demais (não é. a personagem é estoica até demais), passando por "Just a Girl" do No Doubt tocando a pleno volume na sequência de ação derradeira do filme, Capitã Marvel é tão preocupado com sua mensagem quanto poderia ser antes de se tornar excessivo (para uma pessoa normal. Anormais de plantão podem achar o filme "feminista demais" apenas por ter uma mulher no papel central), e, ainda assim, é um filme da Marvel antes de qualquer coisa.
Dos efeitos visuais competentes à trilha sonora absolutamente esquecível ao humor que permeia o filme do começo ao fim e o clímax morno, a fórmula Marvel se faz evidente durante as duas horas e quatro minutos de filme, e, no que tange à maneira do Marvel Studios de fazer cinema, Capitã Marvel é um filme de origem mediano igual a qualquer outro do estúdio.
O talento de Brie Larson é subutilizado, a oscarizada atriz está ali fazendo o papel de uma heroína com pouquíssima personalidade além de uma eventual observação espertinha e que jamais permanece no chão, o que, sejamos francos, o Homem de Ferro e o Capitão América já faziam muito melhor há uma década, sua amizade com Maria Rambeau (Lashana Lynch), sua ex-companheira de Força Aérea é OK e tem seus bons momentos, mas é com Samuel L. Jackson que a atriz realmente compartilha a grande química do filme. O modelo buddy cop da relação de ambos é muito bem sacado e divertido.
Todo o restante do elenco de apoio faz pouco mais que figuração de luxo. Jude Law tem algum espaço com Yon-Rogg, mas Djimon Honsou, Lee Pace e o restante da Star Force pouco têm a fazer no filme além de apanhar, mesmo Annette Bening fica pouco tempo em cena. Melhor sorte tem Mendelsohn, Talos, o Skrull que, por alguma razão tem sotaque australiano, é o grande ladrão de cenas do filme, roubando cada frame em que aparece, seja caracterizado, seja com sua própria cara.
O roteiro de cartilha ainda guarda algumas reviravoltas (que não pegam de surpresa nenhum leitor de quadrinhos e nem qualquer pessoa que tenha acompanhado os trailers do filme com atenção), e tem seus momentos, garantindo duas horas de diversão satisfatórios para o público em geral, obrigatório para os fãs do MCU.
Há duas cenas pró-créditos.

"-Você já era a pessoa mais poderosa que eu conheci antes de disparar fogo pelas mãos."

Dias Sombrios


Acordou de manhã ouvindo o toque lúgubre de seu despertador. Não era um toque de alvorada, sob hipótese alguma. Era uma marcha fúnebre, quiçá Il Silencio, de Nino Rosso... O toque melancólico o embalou para fora da cama, onde jazia nu como um recém nascido, pálido feito um cadáver.
Cambaleou pelo apartamento escuro, até o banheiro. Lavou a boca pegajosa, escovou os dentes e vestiu uma calça, sem roupa de baixo.
Encheu uma das mãos com água, e passou dentre os olhos até o topo da cabeça.
Ainda nas trevas, andou até a sala, abriu a veneziana e olhou pela janela. Percebeu o céu escuro e carregado, prenunciando a tormenta que avizinhava-se.
Foi tomado de frio.
Andou encarangado por dentro de casa até alcançar o guarda-roupa. Todas as peças eram negras. Camisetas, calças, camisas, casacos...
Sem muito o que fazer em termos de escolha, apanhou uma camiseta e um casaco pretos dos cabides, e um par de meias negras da gaveta designada. Uma vez vestido caminhou até a área de serviço, onde deparou-se com um varal preenchido unicamente por roupas negras, e agachou-se para pegar um dos três pares de sapatos pretos que jaziam no chão.
Calçou-os nos pés e saiu pela porta.
As luzes do corredor do prédio não se acenderam à sua passagem, e na rua, o tempo carregado e a luz esmaecida faziam até mesmo as cores da vegetação das praças parecer morta.
Ele caminhou segurando o casaco fechado e pensando porque sentia tamanho desconforto com a temperatura?
Geralmente era um amante de dias como aquele...
Perdido em pensamentos sequer se deu conta de que o tráfego e os transeuntes que o cercavam não faziam nenhum ruído.
Chegou ao trabalho, sentou-se no escritório.
Esquecera-se de ligar as luzes? Por que estava tudo tão escuro?
Sentado na penumbra, entregando-se à melancolia, foi de súbito assaltado por uma lembrança... Uma lembrança cálida e ligeira, que o fez sacar do bolso interno do casaco o telefone celular.
Ali, mexeu com dedos lépidos na tela até o display de sete polegadas exibir, em toda a sua glória, a efígie da dona de suas afeições.
Os cabelos, olhos e sobrancelhas, o nariz o queixo e o sorriso... Ah, o sorriso... Sempre ele... O efeito foi quase imediato.
As cores, sons e luzes do dia ressurgiram e se reafirmaram, um calor agradável partiu de seu peito espalhando-se por seus braços, pernas e rosto, e um sorriso nasceu em sua cara barbada de maneira espontânea e irrefreável.
Entendeu tudo, claro e cristalino como uma manhã de começo de primavera...
Ela era a música de seu concerto. A luz de seus dias. O farol de suas noites. Ela era o calor em seu peito. O azul e o vermelho.
E na ausência dela, nada disso existia.
Os dias vindouros seriam duros.

sexta-feira, 8 de março de 2019

Única Esperança


Eu não sei onde ficam os limites entre o grande gesto romântico e a esquisitice excessiva que deixa a pessoa amada desconfortável. Aliás, eu não sei quando eu transformo a pessoa amada no "alvo de minhas afeições". Que alvo é algo que se quer atingir, geralmente com um tiro, flechada, faca, ou, no caso, um gesto desmedido, ainda que sincero, e o resultado é afastar a quem tu querias aproximar.
E eu não digo, categoricamente, que seja esse o caso. Mesmo que eu seja a criatura mais desconfiada da criação, eu não sou o dono da verdade, e meu pessimismo é tão flagrante que eu mesmo me pego duvidando das primeiras impressões que tenho das coisas. Aliás, deve ser um alarme de alguma espécie quando se é tão pessimista que até tu mesmo acha demais... Seja como for, eu não sei onde fica o limite entre mandar um cobertor de surpresa e tatuagens combinando... O que é de menos, o que é na medida e o que é demais?
Eu não sei, entre fazer back up de todas as fotos que tu me mandas em todos os meus dispositivos, sentir tua falta do dia todo, e mentir a respeito de te desejar boa sorte na busca por emprego (porque eu não consigo desejar que haja mais nenhum obstáculo entre tu e eu), onde as coisas ultrapassam a barreira do razoável e se tornam insensatas.
Porque, apesar de eu te amar há tanto tempo, eu continuo descobrindo, todos os dias, uma coisa nova a respeito da extensão do meu amor por ti.
E o mais assustador é que ele só aumenta. Ainda não houve dia em que eu tenha pensado aliviado que, "Ah, hoje ela fez essa coisa chata e eu amo ela um pouquinho menos"... Ou "Hoje ela não fez ou disse nada adorável, então eu continuo apenas tão apaixonado quanto ontem...".
Não. Todo o dia é mais que no anterior.
A cada hora.
A cada minuto.
Dos segundos, por enquanto, eu acho que estou livre...
Não. Alarme falso.
Te amo mais do que amava nos segundos que levei pra escrever isso.
E continuo sem saber ao certo de que forma limitar o que transborda do meu peito, negativo ou positivo, na forma de gestos...
E a única pessoa com quem eu posso contar pra me ajudar, é tu.
Me ajuda, amor da minha vida. Tu é minha única esperança.

segunda-feira, 4 de março de 2019

Até Dói


Sabe que a vida toda eu escutei essas hipérboles a respeito de se apaixonar.
Sobre como muda o sabor da comida, o som das canções e a cor dos dias e isso sempre me pareceu um tremendo exagero, a maneira pela qual os poetas tentavam traduzir o efeito de se querer tão bem a alguém e ser querido de volta, que amor não correspondido, vamos deixar perfeitamente claro, não é a mesma coisa, tampouco gera as mesmas sensações.
Uma das figuras de linguagem mais excessivas que eu vi e li serem repetidas até quase esgotar o clichê era o “eu te amo tanto que até dói”, e variações desse tema.
Nunca me entrou na cabeça.
Como assim, amar alguém dói?
OK, amor platônico, amor unilateral, esses eu entendo que possam causar desconforto que faça pensar em dor… Certo, mas aí não seria o amor que causaria a dor, mas a falta de réplica.
Se entregar sem receber aceno em troca, dói. Amar, não.
A questão é que eu pouco sabia de amar antes de ti.
Eu era um teórico da coisa.
Quando muito um estagiário.
É tu quem me fez e faz aprender mais a respeito.
Hoje eu sei o que é o “Eu te amo tanto que dói”. Porque quando eu lembro de ti, eu me ilumino, como eu não acreditava que pessoas fizessem ao lembrar de quem amam. Qualquer momento que eu passo contigo, seja como for, é a melhor hora do meu dia. Ouvir a tua voz me inebria. Pensar no teu perfume, me excita. Te ver me acalenta.
A tua presença ou mesmo a sugestão da tua presença, provando a modéstia das minhas aspirações, são o que há de melhor pra mim. O que há de mais real, tátil e benfazejo.
E a perspectiva de não ter nada isso, me dói na boca do estômago. Fisicamente como eu não achava que o amor pudesse doer.
Mais uma coisa que eu aprendo sobre amor contigo.
Sempre contigo.
E eu não sou muitas coisas nessa vida. Credo, eu não sou nada. Mas eu sempre estou disposto, ávido, até, por aprender mais. Talvez seja minha maior, senão minha única virtude. Eu gosto, realmente gosto, de aprender, e sendo assim, só posso te pedir:
Continua me ensinando?
Pra sempre?