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sexta-feira, 22 de março de 2019

Muito Pra Sempre


Deitados no quarto... Altas da madrugada de sábado pra domingo. Haviam chegado, tomado banho, e ido pra cama com seus respectivos pijamas... O dela composto de blusinha de alcinha com rendinha e um shortinho, ambos decorados com bolinhas... Tudo no diminutivo que era demanda tanto do tamanho das peças quanto da delicadeza de quem as envergava, ele de cueca boxer Zorba de algodão e regata da Hering, também de algodão, composição simples e confortável como apenas vovôs teriam coragem de usar na frente do amor de sua vida.
Parcialmente cobertos na noite outonal, ela virou pra ele de repente, de olhos bem abertos, fazendo-o sorrir automaticamente e inclinar-se sobre ela para beijá-la.
Quando descolou os lábios dos dela, ela continuava fazendo a careta, o que o fez ir de sorriso a riso:
-Que é isso, meu anjo?
Ela, muito séria, respondeu:
-Tu acha que a gente é um casal maneiro?
-Eu acho... Acho a gente um casal muito, muito maneiro... - Ele respondeu, francamente, de cenho franzido.
Achava, de fato. Conhecia muitos casais, chegara a fazer parte de alguns. Nenhum remotamente maneiro como eram ela e ele.
Mas ela não parecia convencida...
-Mesmo esses casais legais da ficção? - Arriscou.
Ele apertou os olhos como se fizesse esforço pra pensar, gradativamente amainou as feições até responder:
-Sim... Mesmo esses.
Ela fez uma cara impaciente que ele achava linda porque parecia um ato, como se ela não estivesse realmente impaciente, mas quisesse causar essa impressão:
-Ah, tá... - Disse como quem não se convenceu. -Mais que Romeu e Julieta?
-Amadores... - Ele suspirou com pouco caso. -Dois nutellas. Inventam aquela putaria de forjar pacto suicida, e quando dá desencontro resolvem se matar de verdade? Francamente, muito juvenis. Deviam só ter fugido e ido viver como plebeus em algum recôndito da Itália, em uma semana tinham se separado e voltado pra casa dos pais.
-Mia e Sebastian? - Ela arriscou.
-Que se perdem nas próprias carreiras e negligenciam um ao outro...? - Ele perguntou fazendo uma cara de desdém que beirava o asco. -Nós certamente somos melhores que eles.
-Sam e Molly? - Ela inquiriu, sorrindo, enquanto abraçava o braço dele, espichado ao longo do corpo.
-Quem são Sam e Molly? - Ele perguntou, fazendo uma careta.
-Do Ghost... - Ela acudiu.
-Eca... O cara tá morto e não para de encher o saco, parece o Leônidas naquele filme das cartas fúnebres... E ela ainda é ceramista! Não, mesmo. Nós. - Sentenciou.
-Tristão e Isolda? - Quis saber, ela.
-O Tristão não casa com outra mulher, mesmo apaixonado pela Isolda? - Ele perguntou de volta.
-Casa... A Isolda das Mãos Brancas... - Ela respondeu.
-E não morre ferido esperando a Isolda certa? - Ele quis saber.
-Morre. A Isolda das mão branca mente que a outra Isolda não vem... - Contou ela.
-Bundão. Eu jamais duvidaria que tu ia vir. - Ele declarou a beijando. E concluiu:
-Nós.
Ela soltou o braço dele e se apoiou no cotovelo:
-Joel e Clementine...?
-Eles não resolvem se esquecer mutuamente?
-A gente também já tentou... - Ela disse, franca.
-Não através de lesão cerebral... - Ele retorquiu. -A gente.
-Zack e Paula? - Ela perguntou.
Ele precisou de uma fração de segundo pra lembrar quem eram.
-Eu meio que gosto do Zack e da Paula... - Disse, lembrando-se de, quando criança, ser apaixonado pela Debra Winger. Cantarolou:
-Love lift us up where we belo-o-ong... Mas não... O Zack é escroto com a Paula várias vezes... A gente, claro.
-Bonnie e Clyde? - Ela jogou, sem perguntar diretamente.
-Não eram dois caipiras assassinos e ladrões? - Ele respondeu.
-Quando tu coloca dessa forma... - Ela disse, quase que retirando a pergunta, para então disparar:
-Céline e Jesse?
-Se tu imagina que daqui nove anos a gente vá ser um casal amargurado como eles estão em Antes da Meia-Noite, me avisa agora pra eu ir me preparando... - Ele riu.
Ela fez uma careta de quem entendeu... ergueu bem as sobrancelhas e abriu a boca antes de realmente falar:
-Peter e Mary Jane?
Ele olhou pra ela com os olhos estreitados. Era claro que ela estava sacando as armas grandes, agora.
-Cinema ou quadrinhos... - Ele começou, mas deteve-se -Quer saber, não importa. A gente é melhor que eles em qualquer mídia. Eu não apostava nosso amor com o diabo e a Mary Jane dos filmes é a maior piranha enquanto o Peter é um autista. A gente, sem nem a menor sombra de dúvidas.
Ela se aproximou bem dele, como se empunhasse o nulificador definitivo:
-Leia... E... Han...?
Foi a vez de ele se apoiar no cotovelo, e devolver-lhe o olhar desafiador enquanto respondia:
-Há quatro anos atrás eu diria "tão... Bons... Quanto...", agora que a gente sabe que eles não se amavam o suficiente pra suportar outra guerra e um filho emo, eu te digo sem medo de errar que a gente dá uma surra de pau mole neles...
-De pau mole, ET? - Ela perguntou, rindo com cara de escandalizada.
-Desculpa... - Ele enrubesceu. -Eu me empolguei... Uma rufa de laço. Uma sova violenta... Enfim, a gente dá de dez neles, também. Mala suerte, Han e Leia. A Disney ferrou o amor de vocês... Nhé.
-Rick e Ilsa? - Ela tentou.
-Eu definitivamente não teria a decência e a abnegação de te colocar num avião com o Victor... Entre nós e a resistência, eu escolho nós, então... Nós. - Disse, a beijando e deitando de volta.
-Peter e Gwen? - Ela perguntou. Uma expressão de superioridade tomando-lhe o rosto, certa da vitória como se tivesse pego a carta do Terrax no Super Trunfo da Marvel.
-Dos Espetacular...? - Ele perguntou, titubeando.
-É. - Ela respondeu.
-Aí é golpe baixo... - Ele apelou.
-Arrá... - Ela celebrou baixinho.
-OK... Tu quer que eu admita que eles são tão maneiros quanto a gente...?
-No mínimo. - Ela disse.
-Eles até poderiam ser - Ele concedeu -Se ele não tivesse deixado ela morrer...
-Ele não "deixou", ele só não conseguiu salvar ela...
-Verdade, mea culpa - Ele admitiu. -Ainda assim, ela morta, e ele deprimido. Lamento, morena. É a gente. Sempre foi e sempre será. - Sentenciou.
-Sempre? - Ela quis saber.
-Enquanto tu quiser, pelo menos...
-Eu vou querer até que nossos ossos estejam quebradiços demais pra arriscar contato. - Ela respondeu, sorrindo.
Se beijaram.
Ainda tinham muito pra sempre pela frente.



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