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quinta-feira, 28 de fevereiro de 2019

O Novo trailer de X-Men: Fênix Negra

Talvez a maior incógnita do futuro próximo dos filmes baseados em quadrinhos, X-Men: Fênix Negra ganhou um novo trailer nessa madrugada.
A prévia do longa que vem sofrendo por conta do acordo entre Disney e Fox, e que já passou por adiamentos e regravações mostra Jean Grey (a lindona Sophie Turner) lidando com a entidade de poder imensurável Fênix Negra que começa a tomar o controle de suas ações colocando os X-Men e, aparentemente o mundo, em risco.
Confira:



O longa, primeiro da franquia dirigido pelo produtor/roteirista de longa data Simon Kinberg, traz de volta todos os velhos conhecidos de Primeira Classe, Dias de Um Futuro Esquecido e Apocalipse, mais Jessica Chastain e promete adaptar o arco de mesmo título criado por Chris Claremont e John Byrne nos quadrinhos de uma maneira mais honrosa do que a aberração de X-Men: O Confronto Final.
O longa deve estrear em Junho desse ano, se não for adiado uma terceira vez.

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2019

Medo


Envelhecer não é uma tarefa fácil. Tem se tornado mais difícil depois dos trinta e cinco, especialmente para quem não é particularmente preocupado com a própria saúde.
Ano após ano tudo se complica. Coisas pesadas se tornam mais pesadas. Distâncias se tornam mais longas. E memórias se acumulam de modo que fica mais difícil organizá-las... O corpo humano tem prazo de validade e eu sinto que já passei da metade do meu. Eu adoraria dizer que o processo de trocar vigor e aparência por sabedoria vale a pena. E eu deveria.
Nunca fui particularmente vigoroso e nem remotamente bonito, o grande problema é que não vejo grande vantagem em ficar mais sábio. Não nos dias de hoje.
Houve um tempo em que saber mais que os outros era um recurso.
Pessoas eram veneráveis por seu conhecimento, procuradas por sua experiência e referências por sua capacidade de orientação.
Isso acabou.
A tecnologia realizou metade do serviço ao colocar conhecimento instantâneo na mão de todas as pessoas com um smartphone, e aparentemente todas as pessoas têm um smartphone. Se tu perguntar algo a alguém, a pessoa simplesmente repete a pergunta ao SO do seu celular e recebe a resposta. Não há necessidade de se aprofundar em pesquisas de nenhuma espécie, não há necessidade de ir à uma biblioteca e catar meia dúzia de livros passando os olhos no mínimo pelo índice de todos eles à procura da resposta ou de fragmentos que depois deveriam ser sintetizados na resposta.
Hoje tu podes ter um resumo de três minutos e dezesseis segundos da Primeira Guerra Mundial no Youtube, e ele é apenas três minutos e um segundo mais longo do que o período de atenção das novas gerações, tu podes pedir à CIRI que te diga o que é uma catacrese, um ditongo ou uma perífrase, tu podes receber uma aula de física de Neil DeGrasse Tyson enquanto vai ao banheiro, não vai entender nada, mas pode.
Não há mais necessidade de saber nada, exceto como manipular um teclado virtual. A outra metade do serviço foi feita por pais e mães tão ausentes quanto culpados. Que não estavam presentes para acompanhar o crescimento dos filhos ou dar-lhes limites, de modo que eles cresceram sem nenhum.
Seja como for, eu me perdi em pensamentos, algo que pessoas velhas fazem, enquanto reclamava da juventude, outra coisa que pessoas velhas fazem.
Em suma, eu me sinto velho.
Eu me sinto velho, sinto todas as desvantagens de estar envelhecendo e nenhuma das vantagens. Eu não me sinto mais sábio, mais respeitável, ou fiquei mais rico. Eu apenas me sinto mais cansado, mais no limiar de abrir mão de coisas, mais propenso a perder gente que eu amo...
Ninguém irá me procurar por minha sapiência. Ninguém tentará beber da fonte do meu conhecimento. Eu não me tornarei venerável. Apenas velho.
A única coisa com alguma chance de permanecer, é o amor daqueles a quem eu tocar. E mesmo para isso não há garantia.
Talvez o mundo mude. Talvez eu mude. Talvez as pessoas mudem. Talvez tu mude.
E essa é possivelmente a perspectiva mais assustadora.
Que amanhã ou depois tu olhe ao redor e pense melhor. Tenha uma epifania. Um momento de iluminação e mude de opinião. "Talvez não seja ele.". E eu não sei se sou capaz de te contradizer... De te convencer que sim. Sou eu! Porque pra mim sempre foi e é tu...
Sempre será tu. Só tu...
Enfim... Perdoe as divagações de um velho. Acho que só vislumbrei minha mortalidade e tive medo da única coisa que me assusta, a possibilidade de te perder.
Imagina quando eu fizer quarenta. Ou sessenta e cinco? Setenta? Oitenta...?
Pensa bem em onde tu estás amarrando o teu pônei.

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2019

Careta


Leovegildo entrou na academia como fazia todos os dias naquele mesmo horário. Cumprimentou Ivana, a morena bonita da recepção, Azevedo, o instrutor solícito que tratava todos os alunos por "capitão" ou "professor", e todas as alunas por "coração", dirigiu-se ao vestiário e trocou sua calça por uma bermuda. O resto da roupa, tênis, camiseta e meias, eram os mesmos que usara no trabalho até minutos antes. Protegeu os pulsos com munhequeiras, e dirigiu-se ao segundo andar da academia onde realizava a imensa maioria, senão a totalidade, de sua modesta rotina de treino. Ao estacar diante do primeiro aparelho do dia, um estalo mental.
Fazia noventa dias desde a última mudança na sua carga de treino. E já estava há um mês realizando dez repetições com a carga.
Era o momento de aumentar, sensivelmente, a quantidade de peso de seus exercícios.
Ele começara a fazer supino alguns anos antes com dezesseis quilos. Hoje, fazia com setenta. E era o momento de aumentar em, ao menos, quatro quilos aquela carga, então, pôs-se a catar anilhas que fossem todas iguais entre si, uma tarefa que demandava tempo em uma academia que lembrava o ginásio Mighty Mickey's de Rocky: Um Lutador, mas após cerca de cinco minutos peregrinando pelo andar superior, conseguiu encontrar as grandes bolachas de ferro que, não apenas tivessem o mesmo peso declarado, mas que fossem iguais, absolutamente iguais, entre si. Era uma neurose da qual ele não era capaz de se livrar. Leovegildo não se considerava um orgulhoso portador de TOC, como algumas pessoas faziam entre risos na internet, mas aquela pequena extravagância ele não conseguia deixar de lado.
As anilhas precisavam ser todas iguais.
Enfim, ele aplicou os pesos no aparelho de supino, deitou-se na tábua devidamente forrada com sua toalha, e pôs-se a realizar as quatro séries de oito repetições sentindo, com algum prazer, a dificuldade da nova carga.
Enquanto fazia o segundo exercício da rotina, terminando o último levantamento com alguma dificuldade e rilhando os dentes enquanto deixava escapar um grunhido baixo, anteviu que, na manhã seguinte, provavelmente sentiria dores musculares.
A perspectiva não era totalmente desagradável.
A verdade é que Leovegildo gostava daquela dor específica. A que os músculos extenuados causavam. Lembrava-se de uma vez, após uma travessia de cânion, acordar na segunda-feira incapaz de sentar na cama por conta das dores abdominais... E lembrava-se de ter rido enquanto tombava de costas de volta pra cama. Era, talvez, a certeza do dever cumprido... Leovegildo achava que exercícios que não causavam algum tipo de desconforto durante ou após a sua execução não eram exercícios bem-feitos.
Após concluir as três séries de exercícios para os peitorais, e as duas séries de exercícios para os ombros, era hora do carro chefe: Os exercícios para os braços.
Leovegildo entrara para a academia em um momento em que pesava quase cento e trinta quilos. Em três anos, emagrecera dezessete quilos fora a banha que trocara por massa muscular, que, se não chegava a ser um prodígio, era alguma coisa, mas além de deixar de ser um saco de banha suado, Leovegildo começara a se exercitar por ciúmes.
A moça por quem Leovegildo era apaixonado era uma admiradora de braços masculinos. Certa feita, ela tecera comentários elogiosos a respeito dos brações de Channing Tatum, o que fizera com que: A) Leovegildo passasse a detestar Channing Tatum, e B) Leo quisesse ter algum tipo de músculos, quaisquer músculos, em seus braços de linguiça.
Os resultados eram lentos e longe dos mais encorajadores, mas Leovegildo não era de desistir, além de ter uma capacidade quase sobre-humana de transformar tudo em hábito, de modo que ele perseverava dia após dia na esperança de, em algum momento, ter uns brações para mostrar para a sua amada quando se encontrassem.
Vinha fazendo seus exercícios de bíceps com halteres de quatorze quilos. Não era muito, mas ele recordava da vergonha que sentia no começo, quando realizava suas séries com miseráveis pesinhos de vovó de quatro quilos cada. Como era dia de aumentar os pesos, e não havia, na academia, halteres de quinze quilos, foi forçado a apanhar grandes peças de dezesseis quilos cada. Já ao remover os aparelhos do suporte sentiu a diferença do salto de tamanho. "Tudo bem", pensou. Havia sido a mesma coisa quando saltara dos pesos de dez para os de doze, e dos de doze para os de quatorze, de modo que seriam alguns dias de desconforto até a coisa virar hábito.
Sem grandes dramas.
Posicionou-se em frente ao espelho, afastou as pernas, flexionou levemente os joelhos, e começou a levantar os halteres enquanto fazia uma contagem mental das repetições. Deveriam ser quatro séries de oito levantamentos, e, por Deus, já no quinto Leovegildo bufava sentindo o suor verter-lhe da testa ensopando as sobrancelhas e escorrendo pela ponta do nariz.
Não era nenhuma tortura, na verdade, a liberação de endorfina era quase imediata, e aquele tipo de esforço era sempre aprazível para ele. Olhou para o espelho para garantir que a sua postura estava correta, e que não estava usando em demasia partes do corpo que não fossem os músculos-alvo do exercício parra fazer o levantamento quando olhou, casualmente, para a própria cara.
Percebeu que fazia uma careta de esforço que era algo entre o aterrador e o hilário. Sua boca estava contorcida, seus lábios retraídos por cima dos dentes, o nariz franzido, os olhos semi-cerrados e as sobrancelhas em posição de tristeza enquanto todos os tendões de seu pescoço estavam contraídos.
Num primeiro momento Leovegildo achou graça, chegou a rir enquanto largava os halteres num banco próximo antes de dar início à segunda série de repetições. E foi aí que um pensamento aterrador o assaltou:
Seria aquela a sua cara de sexo?
Porque Leovegildo sabia que havia uma relação entre caras de esforço e caras de sexo, já que ambas as atividades demandavam empenho físico e que ao fazer grandes azáfamas não era incomum que o rosto simplesmente se contorcesse em uma careta de, bem, esforço...
Ficou imaginando se essa era a cara que ela via durante os momentos íntimos dos dois, uma careta distorcida, quase cômica, enquanto ele a via tão linda quanto em qualquer outro momento do dia, ora com os olhos semi-cerrados e os lábios entreabertos suspirando, ora com uma expressão tênue de angústia como quem não pode esperar mais, ora, sorrindo abertamente o sorriso mais lindo e doce do mundo...
Imaginou que era bem possível que fosse aquele o caso, já que ilustraria perfeitamente a relação dos dois. Ela linda, terna, cheirosa e centrada com serenidade de samurai, ele feio, bagunçado, suando feito uma puta na igreja e desgrenhado como um criacionista da Terra jovem. A única dúvida que ficava era: O que ela havia visto nele?
Fosse o que fosse, era melhor não pensar demais a respeito, concluiu Leovegildo. A vida oferecia poucas dádivas, e uma tão preciosa quanto ela, era melhor não tentar racionalizar demais.
Apanhou os halteres e começou a segunda série. Dessa vez tentando manter a cara tão reta quanto possível.

terça-feira, 19 de fevereiro de 2019

Escrivaninha, Super Lua, Videogame e Meu Lar


Minha escrivaninha apinhada de tralha me faz lembrar de ti
Talvez porque parte da tranqueira seja de coisas que nos unem
Afinidades que temos, cordão invisível, como tu quiseres chamar
Ou porque um deles é um par, e só fica completo se tu estiver aqui

A super lua, 14% maior, 30% mais brilhante, me lembra de ti
Porque olhar a lua é seara dos apaixonados, dos sonhadores
E ainda que eu geralmente seja um sujeito frio e pé-no-chão
Eu não consigo evitar de ser perdidamente apaixonado por ti

That's The Way It Is em Red Dead Redemption 2 me lembra de ti
Talvez seja porque tu ama o primeiro jogo tanto quanto eu
Ou porque tu me disse que Dead Man's Gun te faz pensar em mim
Seja pelo que for, quando os acordes começaram, eu quase te vi

O caminho de volta pra casa no fim do dia também me faz lembrar
Talvez porque nos imagino andando de mãos dadas pela orla
Indo comer churros numa noite de segunda, por que, não?
Ou deve ser porque tu é o lar pro qual eu sempre quis voltar

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2019

Manhãs Seguintes


-Bom dia.
-Lindo. Adorável. Idílico. Solarengo
-Verdade... Fresquinho, hoje. Ventinho bom, e o céu-
-Límpido...
-...É... Sim. Nenhuma nuvenzinha. Como te passou? Tá com cara de feliz... Parece-
-Ledo? Locupletas-me com lisonja.
-Tá bem... De onde saiu essa...
-Logorreia?
-Que?
-Lampejo de lesta loquacidade...?
-Peraí... Deixa eu ver no Google...
-Ligeiro.
-Calma... lampejo, eu sei... "les... ta"... Tá, é. 'Locua"... Não... "Lo-qua-ci-da"... Isso aí, mesmo. De onde saiu?
-Ah, afetuoso amigo. Amor, apenas.
-Ah... Tá nessas, então?
-Apaixonado. Amando.
-Bacana... É recente?
-Amor antigo. Anterior à amizade aqui alojada.
-Aqui aloja...? Ah. Entre nós. Tá. Entendi.
-Assombrosa argúcia.
-Peraí... Ar... Gú... Argúcia. Ah, obrigado. Mas então... Tá namorando?
-Ainda apartados.
-Por que?
-Abusei. Antes alienei a amada.
-Putz... Mas tu já gostava dela?
-Indubitavelmente.
-Mas então por que vocês se afastaram? Foi ela ou tu?
-Incumbi-me integralmente. Inextricavelmente imputo-me.
-O que tu tinha na cabeça?
-Idiota. Inseguro. Intransigente. Incauto...
-E se encontraram de novo? E ela ainda tá na tua? Por que?
-Indulgência intrínseca?
-De certo... E o que mudou? Pra ti, quer dizer?
-Inferência intensa. Inexequível. Indelével.
-Pô, que bacana, cara. Sério. Fico feliz por ti. E por ela, também, eu acho. Ela parece uma guria-
-Intrépida. Idônea. Impetuosa...
-Ela é tudo isso?
-Sim. Some-se sagaz, serena, solícita, singular...
-E uma guria assim ia gostar de ti?
-Sinceramente surpreende-me.
-A mim, também. E vocês vão ficar juntos?
-Sim. Sem sequer suave suspicácia.
-Nossa, tu nem pensou duas vezes pra responder...
-Seria sandice.
-E o que tu vai fazer enquanto não ficam?
-Suportar sofregamente saudade.
-Então... Tu é apaixonadão por ela, mesmo?
-Sou. Sempre serei. Sempre...

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2019

Resenha Série: O Justiceiro, temporada 2, episódio 13: The Whirlwind


Atenção! Há spoilers abaixo!
A segunda temporada de O Justiceiro chegou ao seu final (infelizmente é provável que a série tenha se encerrado), e, a despeito de algumas decisões questionáveis por parte da equipe de roteiristas do produtor Steven Lightfoot, o programa encerrou sua história de maneira satisfatória, o que, considerando tudo, já foi mais do que eu achei que seria possível após o festival de baderna dos capítulos mais recentes.
O capítulo final abre com Billy Russo e Madani resolvendo as suas desavenças de maneira violenta após a queda de Krista Dumont do terceiro andar (alerta de spoiler, ela não morreu.), numa retomada de rancores que não acaba bem para o Retalho.
Russo, por sinal, foi solenemente empurrado para o banco de trás do season finale após ter dominado boa parte da temporada com sua quase comovente humanidade.
Após o seu encontro com Madani, Russo vaga baleado de porta em porta comendo o pão que o diabo amassou e sendo severamente punido por todos os crimes que cometeu, inclusive aqueles dos quais não se lembra.
O desfecho da linha narrativa de Billy é abrupto e anti-climático, uma decisão compreensível já que outro grande confronto mano a mano entre Bill e Frank seria um replay de Memento Mori. Além disso, o final de Billy traça um novo paralelo entre ele e o Justiceiro ao simplesmente admitir que, na vida desses homens, não há final feliz, ou paz possíveis. Apenas lutar até uma morte sem sentido.
Falando em lutar, numa decisão discutível, toda a conclusão da série se revolve ao redor dos Schultz. O casal de evangelistas bunda-moles haviam sido tratados como uma nota de rodapé ao longo de toda a temporada, mas nos dois últimos capítulos da série, eles simplesmente se tornaram o foco de toda a ação. Isso se deve, provavelmente, tanto ao fato de que a confusão de Amy precisava ser resolvida, quanto porque a linha narrativa de Billy Russo havia sido esculhambada pelo plano de "destruir o Justiceiro psicologicamente". Uma subtrama absolutamente despropositada e que se mostrou mera encheção de linguiça pra justificar Frank sob custódia por um episódio e apenas isso.
O lado positivo dessa virada foi que John Pilgrim finalmente recebeu o espaço que merecia para mostrar que é um adversário mais do que à altura de Frank Castle.
As duas excelentes cenas de ação artilhadas pelos dois estão entre os pontos mais altos da série em suas duas temporadas nesse quesito, primeiro o monstruoso tiroteio no hotel, e depois a briga de pancadas diante do trailer. Mais bacana do que a possibilidade de ver esses dois homens ferozes em oposição, foi ver que a série se preocupou em dar a Josh Stewart o espaço para ser mais do que apenas um vilão físico.
Ainda que o background do personagem tenha sido mostrado de forma por vezes desajeitada no breve tempo de tela que ele teve, eu fiquei feliz com o final que a série lhe deu, e teria ficado ainda mais feliz se o personagem tivesse recebido mais espaço e desenvolvimento ao longo da temporada.
O que também vale para os Schultz.
Simplesmente colocá-los como o ponto focal da história nos dois últimos capítulos foi uma estratégia duvidosa. Por mais que nós saibamos que eles são os mandantes por trás de toda a linha narrativa de Amy, quando Frank finalmente encontra Anderson e Eliza não existe senso de resolução porque os dois sempre estiveram tão apartados da ação que é difícil pensar neles como os antagonistas da série.
Melhor ajambrado no final foi a relação entre Frank e Amy.
Amy foi outra personagem nova que sofreu por falta de desenvolvimento, e permaneceu sendo eclipsada por Curtis e Billy ao longo dos treze capítulos, especialmente porque surgiu para ocupar os sapatos do Micro de Ebon Moss-Bachrach, um personagem que havia casado maravilhosamente bem com Frank na primeira temporada.
Não ajudou o fato de Giorgia Whigham jamais ter convencido como adolescente, o que prejudicou a pegada da personagem como uma filha substituta para Frank, mas devo admitir que a química entre os dois melhorou bastante ao longo da segunda metade da temporada, e a despedida dos dois no final do episódio foi, de fato, tocante, carregando o peso de todos os perrengues pelos quais ambos passaram juntos.
Madani... Bem, digamos que é difícil acreditar que alguém tão miseravelmente incompetente quanto Madani fosse terminar a temporada tendo sido promovida. O final ideal para a personagem teria sido a morte pelas mãos de Billy Russo, mas acho que é proibido sequer cogitar matar uma "mulher forte e esperta", como a mesma se definiu no capítulo anterior, mesmo que ela não seja nenhuma das duas coisas. Se há um alento no iminente cancelamento do programa é não precisar mais suportar Dinah Madani.
O ponto mais alto de The Whirlwind, porém, foi a forma como nos despedimos de Frank Castle.
O personagem que havia terminado a primeira temporada fazendo terapia em grupo, no que foi um final compreensível para os eventos do ano 1 encerra a segunda temporada em uma nota absolutamente distinta.
Frank Castle aceita que viver uma vida normal está fora de seu alcance, essa possibilidade morreu com Maria e as crianças. Eu cheguei a almejar um final onde Frank retornaria às cercanias de Detroit e reencontraria Beth e Rex e retomaria sua vida como um homem de família, mas esse não seria um desfecho honesto para com o seu arco. Frank disse à certa altura da temporada "deixe-me ser o que eu tenho que ser", e o final dessa temporada nos mostra Castle abraçando com gosto a sua vocação. Ele é um filho da guerra. Ele nasceu para o combate e sua chance de abrir mão disso lhe foi tirada.
Quando nos despedimos de Frank, possivelmente de maneira definitiva, ele surge em toda a sua glória, com o sobretudo preto e a caveira branca no peito assumindo para si o posto de carrasco do crime numa guerra à qual dedicará sua vida.
Por mais que a segunda temporada de O Justiceiro tenha claudicado após o desnecessário plot twist do capítulo 10, The Whirlwind conseguiu encerrar de maneira honesta, fechando os arcos de todos os personagens de maneira, no mínimo satisfatória, e, no caso de seu protagonista, mais do que isso.
Se essa foi nossa despedida derradeira de Frank Castle, então a série acertou em cheio no último aceno.

"-Você tá brincando, né? Ele é o Justiceiro. Ele vai arrancar a sua espinha pela garganta."

terça-feira, 12 de fevereiro de 2019

Resenha Série: O Justiceiro, temporada 2, episódio 12: Collision Course


Atenção! Spoilers abaixo.
Collision Course retoma a ação exatamente de onde havíamos deixado em The Abyss, Mahoney, justificadamente de saco cheio do comportamento de Madani que estava pronta pra fugir com um assassino procurado, enfiou Frank em uma ambulância e estava levando o Justiceiro para a sua delegacia em Hell's Kitchen quando a dupla foi interceptada por outro jogador que também ligou o foda-se. John Pilgrim.
Decidido a cumprir sua missão, o matador dos Schultz deixa bem claro que não está pra brincadeira e toca o horror no vigilante e no policial e, não fosse pela chegada providencial de Madani, provavelmente teria eliminado os dois ali mesmo, após derrubá-los de um viaduto.
Após conseguir escapar da ambulância capotada e tirar Mahoney de lá antes que o veículo explodisse, Frank resolve tirar vantagem do seu uniforme de tira e prestar uma visita ao pivô de toda a confusão envolvendo Pilgrim: O senador David Schultz.
Enquanto Frank planeja seu movimento para salvar Amy definitivamente, nós acompanhamos tanto os preparativos de Billy Russo para tocar sua vida ao lado de Krista.
Aqui cabe notar que, a despeito de todas as coisas terríveis que nós vimos o Retalho fazer ao longo das duas temporadas de O Justiceiro, o retrato do personagem composto por Ben Barnes e os roteiristas da série é tão humano que à essa altura eu tô meio que torcendo para que ele fuja com a psiquiatra e viva feliz pra sempre em uma praia levando turistas pra pescar em águas profundas ou algo que o valha.
A punição que Frank tinha em mente no carrossel, que Russo tivesse que olhar a própria face retalhada pelo resto de seus dias, aconteceu. O trauma existe, Billy se remói por ter feito algo medonho de que não sem lembra. Deixa o cara fugir com a maluca e viver tão feliz quanto o possível...
Mas esse não seria um fim moral, então Madani desenvolve um cérebro que ainda não havia usado ao longo dos últimos vinte e cinco episódios e vai atrás da doutora Dumont. O resultado é uma sequência tensa o suficiente onde, inicialmente, as duas fazem um pequeno jogo de gato e rato para, em seguida, saírem na porrada (novamente, Madani é a pior policial do mundo, já que a briga dela contra uma médica é bastante equilibrada...) e termina mal para a doutora Dumont que literalmente mata no peito seu maior temor.
Vale ressaltar duas coisas com relação a esse segmento: Primeiro que Krista Dumont jamais foi desenvolvida o suficiente para que a audiência ligasse pra ela. Todo o seu arco de personagem foi uma sucessão de clichês e obviedades e não fosse seu envolvimento com Billy, ela provavelmente seria ainda mais rasa com seu medo de altura e paixão por "pássaros feridos". Segundo a cena de sua queda (e provável morte) é risível.
O efeito em slow motion com ela abanando os braços e fazendo careta... Faltou ao diretor do episódio Stephen Kay, umas aulas com John McTiernan, um "vamos te soltar no três" e soltar no dois como o diretor de Duro de Matar fez com Allan Rickman. Talvez assim a despedida de Floriana Lima não fosse carregada de comédia involuntária.
Quem recebeu um espaço merecido, porém tardio, foi Josh Stewart. Finalmente estamos vendo quem é John Pilgrim. O sujeito é quase um exterminador do futuro, absolutamente amoral, movido apenas por sua missão. A cena onde ele ameaça interrogar Curtis mostra um sujeito que não é intrinsecamente mau, mas tem mijo gelado escorrendo nas veias, eu realmente temi pela vida de Curt quando os dois saíram na porrada, e desde já fico ansioso pelo inevitável quebra entre Frank e John, que promete ser a briga mais parelha do Justiceiro em todos os tempos.
Uma certeza que permanece inegável no entanto é que o showrunner Steven Lightfoot sentou na graxa na hora de equilibrar os dois núcleos de antagonistas da história. A necessidade de ter Amy como uma âncora emocional para Frank forçou na série todo um grupo de personagens que jamais receberam o desenvolvimento necessário para ser mais do que meros recursos narrativos.
Eu continuo não ligando para os Schultz. Eu provavelmente não ligaria para John Pilgrim se Josh Stewart não tivesse tirado leite de pedra e entregado uma interpretação visceral de um homem em busca de redenção num espaço que não deve encher dois episódios. Eu não ligo para Krista Dumont e eu não ligo para Amy além do fato de que ela é importante para Frank... Tudo isso deixa dolorosamente claro que faltou roteiro para a segunda temporada de O Justiceiro, e com o tabuleiro armado para a culminação dos rancores no final da temporada (e provavelmente da série), não temos a impressão de que todas as linhas narrativas irão convergir e tudo terminará nos moldes do brilhante final de Demolidor.
Resta torcer para que os escritores tirem coelho da cartola e ofereçam, ao menos, um final satisfatório.
O Justiceiro de Bernthal certamente merece.

"É, faça o que tiver que fazer..."

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2019

Domingos


Jamais gostara de domingos.
Era um desgosto justificado. Plausível. Calculado.
Era um desgosto na prática. Domingo era o dia em que o final de semana chegava ao seu estertor.
Era o fim do fim de semana, o prenúncio da segunda-feira e de mais uma semana de cansativas agruras.
Era um dia modorrento, que parecia ser escolhido pela existência para ser aborrecido e chato.
Nada era bom no domingo, da programação da TV ao clima na rua.
Não dava pra gostar de domingos.
Certo?
Era o que ele pensava.
Até que ela surgiu em sua vida.
Ele trabalhava de segunda a sábado.
O único dia em que podia acordar com ela sem precisar sair correndo, era aos domingos.
Nos domingos despertavam juntos de manhã e ficavam na cama, conversando e rindo.
enroscavam-se aos beijos, se mostravam bobagens no Youtube ou liam lado a lado de dedos entrelaçados.
Vez que outra ela se deitava de bruços para olhar algo no computador, e ele se aproximava feito um tubarão:
Silencioso e à traição, para beijá-la nas solas dos pés delicados, nas panturrilhas, atrás dos joelhos, coxas e bunda por sobre o pijama.
Ela se encolhia, ria e reclamava da barba espetada lhe arranhando a pele delicada.
Ele a escalava rindo e a beijava no pescoço, fazendo cócegas.
Ela ria e perguntava que horas almoçariam.
Ele respondia que havia tempo.
Por ele passaria os domingos deitado com ela.
Transformaria a cama que partilhavam em sua própria Fortaleza da Solidão.
Em um cárcere voluntário de onde não sairia nem sequer para o banho de sol.
Seriam como dois dragões veneráveis em um covil, protegendo o tesouro do amor que partilhavam sem abrir mão de uma única peça.
Tudo de que precisava era o ar que respirava, e o amor que sentia por ela.
De repente, domingo era o melhor dia da semana.
O mais perfeito e repleto.
Seu dia favorito.

Resenha Série: O Justiceiro, temporada 2, episódio 11: The Abyss


The Abyss, décimo primeiro episódio da segunda temporada de O Justiceiro correu basicamente como se poderia esperar após os eventos de The Dark Hearts of Men... Na verdade, correu exatamente como se poderia esperar, com Frank sendo mantido sob custódia policial no hospital após ter surtado ao acreditar ter baleado três mulheres inocentes, alheio ao fato de que foi tudo um plano de Billy Russo e Krista Dumont após a psiquiatra ter conversado com Madani e descoberto o "ponto de pressão" de seu inimigo.
Filler até a raiz da alma, The Abyss não é tão incompetente quanto seu antecessor, em grande parte, por conta da participação especial de Deborah Ann Woll, que surge para acrescentar um pouco de boniteza à série como Karen Page.
Conforme era de se esperar, Karen e Madani se unem para ajudar a desvelar a tramoia de Billy, enquanto Amy surge para salvar a vida de Frank.
Sim, salvar, pois a localização do protagonista é pública e notória, e os Schultz colocaram o preço da cabeça do Justiceiro em cinco milhões de dólares.
Novamente o lance da recompensa colocando um alvo gigante nas costas de Frank é uma boa sacada. Adiciona um bom senso de urgência à trama, sem sombra de dúvidas. Muito menos inspirada é a porcaria do plano de Billy e Krista, que está desde o incício a uma análise forense de ser desmantelado.
Aliás, essa facilidade para desmascarar a armação do senhor e senhora Retalho é um dos pontos mais baixos do capítulo, quiçá da temporada. Porque, a despeito da execução claudicante, é possível entender porque os escritores tentaram uma manobra besta dessa.
Eles queria mostrar Billy atingindo um ponto central da psique de Frank. Queriam o Retalho numa posição de superioridade, com Frank aparentemente derrotado, e pronto pra se reerguer pra reta final da temporada. OK, é compreensível.
O problema é que o roteiro trata o trauma todo de maneira leviana. Num instante, Frank está pronto para morrer porque matou inocentes. No seguinte, é como se nada tivesse acontecido e ele está pronto pra fugir da polícia e retomar sua caçada humana como se nada tivesse acontecido.
Quando o próprio roteiro não parece se levar suficientemente a sério, não há talento de Jon Bernthal que dê jeito, e a coisa toda simplesmente degringola.
Conforme eu disse ali em cima, quem salva toda essa linha narrativa é Deborah Ann-Woll. Sua Karen Page é alguém capaz de sentir empatia por Frank Castle de uma maneira que Madani, Curtis ou Amy não sabem.
A forma como ela entende o peso do passado de Frank e suas decisões assassinas é particularmente compreensível tanto porque sabemos que a loirona matou David Wesley, quanto porque a investigadora também perdeu familiares (conforme vimos na terceira temporada de Demolidor), isso sem contar a óbvia química entre Woll e Bernthal, que sempre partilham uma honestidade desarmadora em cena. Explorar o relacionamento entre Karen e Frank é uma das melhores sacadas desse universo compartilhado moribundo, e quisera eu que mais vezes os crossovers entre personagens de séries distintas fossem tão bem sacados quanto esse.
Outra coisa bem sacada é o plano de fuga que Frank e suas gurias bolam, e é sempre bom ver o Justiceiro com a polícia em seu encalço. Falando em polícia, sobra espaço até para o detetive Mahoney obter uma rara vitória sobre o Justiceiro e Madani, que vinham saracoteando na cabeça do pobre policial que literalmente comeu o pão de o diabo amassou em Demolidor, vamos torcer para que o curso de ação bem louco escolhido por ele não acabe com a morte do único tira honesto e competente da Nova York da Marvel/Netflix.
Pelo lado dos vilões, houve espaço para Billy Russo se abrir com Krista e transparecer que pode realmente estar interessado em seguir sua vida ao lado da psiquiatra, mantendo-o como um dos mais humanos antagonistas de uma adaptação de super-herói; E, para John Pilgrim descobrir que sua escapadela regada a uísque, cocaína e boquetes teve um preço mais alto do que ele poderia supor...
Apesar de melhorar, e muito, com relação ao capítulo anterior, The Abyss ainda não retomou o bom ritmo que a temporada vinha tendo até seu nono episódio.
Uma coisa que segue destoando são os Schultz. Todas as cenas envolvendo o casal de evangelistas e John Pilgrim poderiam ter ido cortadas e a trama da temporada seguiria basicamente a mesma. Com dois capítulos pela frente, as tramas paralelas de Billy Russo e dos Schultz seguem desconexas, e é de se imaginar se elas se encontrarão em algum momento, ou se permanecerão separadas até o desfecho do capítulo treze...

"-Você pode escolher amar de novo. Outra pessoa ao invés de outra guerra.
-Eu não quero."

Resenha Série: O Justiceiro, temporada 2, episódio 10: The Dark Hearts of Men


Atenção! Spoilers do episódio abaixo.
Provavelmente o grande escorregão da segunda temporada de O Justiceiro, The Dark Hearts of Men tem tantos problemas de ritmo que eles ofuscam suas qualidades e boas intenções.
Após salvar Amy dela mesma, Frank e Curtis descobriram o paradeiro de Billy, o armazém em Queens onde o Retalho e seus rapazes relaxam após suas operações escusas.
Sabendo dos hábitos da gangue, os dois ex-fuzileiros planejam uma tocaia para invadir o "Valhalla" quando os veteranos estiverem bêbados demais pra reagir, tocar o terror em todo mundo e eliminar Billy de uma vez por todas.
É um plano simples o suficiente, mas, para fazê-lo encher os quarenta e sete minutos do episódio, os roteiristas resolveram intercalar a operação de Curt e Frank com uma longa conversa entre Krista e Madani.
Uma looooooooooooooooooooooonga conversa que se presta apenas à função de exposição, e, pior, exposição de coisas que todos nós já sabemos. Ou à essa altura do campeonato alguém tinha alguma dúvida de que o caso da doutora Dumont com Billy iria colocá-la em oposição aos mocinhos? Ou alguém ainda não tinha se dado conta de que a série deixa muito claro que Frank e Billy são muito mais semelhantes do que gostariam de admitir? Porque, basicamente, é disso que se trata o longo diálogo entre as duas. Pra piorar, o texto da psiquiatra é tão pobremente escrito que eu estava esperando que a qualquer momento ela começasse a torcer os bigodes ou colocasse o dedo mínimo junto ao lábio.
Além disso, o episódio ocorre em duas linhas cronológicas distintas, com o segmento de Frank e Curtis ocorrendo vinte e quatro horas depois do de Madani e Krista, um floreio absolutamente inútil e com a maior cara de filler, embalando um plot twist que não surpreende ninguém e que é, francamente, meio desonesto para com o que vinhamos vendo de Frank nessa temporada e na anterior.
O estratagema orquestrado por Billy e Krista, de fazer com que Frank pense ter matado três prostitutas inocentes tentando pegar Billy é risível. O Frank Castle de Jon Bernthal pode não ser a máquina assassina dos quadrinhos, mas ele é um ex-fuzileiro naval com horas e horas de combate em seu cartel, um vigilante calejado e um homem que já se aceitou como "o cara que mata".
É por causa de coisas como essa que fica difícil acreditar que Frank entraria em parafuso por ter matado acidentalmente três inocentes.
O esperado seria que ele as considerasse dano colateral e as colocasse na conta de Russo e seguisse com sua caçada, e não que tivesse um colapso nervoso...
Seja como for, o filler foi lançado, e os eventos de The Dark Hearts of Men certamente levarão a algum tipo de período de Frank na prisão ou algo que o valha por um par de episódios deixando claro que o formato com dez capítulos deveria ser a regra da Marvel/Netflix (exceto pra segunda temporada de Demolidor, que dividida em duas tramas justificou perfeitamente seu número de episódios).
O ponto alto do episódio foi que pudemos ver o que nos havia sido sonegado em Flustercluck, e o arranca-rabo entre Pilgrim e seus ex-amigos neo-nazistas.
A sequência de luta é excelente, de uma brutalidade visceral, e carregada de um indigesto cardápio de golpes baixos, facadas, garrafadas e murros com soco-inglês deixando bem claro que o camarada com pinta de pastor não é alguém com quem tu deva mexer na rua.
Infelizmente, Pilgrim também é vítima do roteiro, e após sua apoteótica cena de ação e a dolorosa sequência onde ele tenta se remendar é seguida por um momento de retomada de velhos hábitos que é simplesmente abrupta demais pra ser comprada, servindo, muito mais, como outra exposição do roteiro, para traçar o paralelo entre John e Frank.
É uma pena que O Justiceiro tenha escorregado tão feio na sua reta final. O negócio é torcer para que os escritores reencontrem o caminho nos três episódios restantes e garantam que o Justiceiro tenha um final honroso.

"-Desculpe perguntar, mas como Castle é diferente de Billy? Se não somos julgados por nossas ações, como somos julgados?"

sábado, 9 de fevereiro de 2019

Coragem


Eu não tenho medo.
De nada.
Uma vez, aos cinco anos, minha tia-avó, minha avó, minha mãe e minha tia se uniram para me pregar um susto.
Foi na antiga casa da praia do Quintão. Minha tia-avó de cobriu com um lençol branco, e sentou-se no muro lateral da casa.
Ela ficaria lá, e minha tia me atrairia até os fundos da casa para que, ao passar pela "aparição", eu levasse um susto.
Provavelmente uma psicóloga ou um pedagogo horrorizaria-se com o sadismo das brincadeiras das mulheres da minha família, mas era, provavelmente 1986, e não havia tanta celeuma com bullying como há hoje, de modo que essa não seria a última brincadeira do gênero a qual eu seria exposto na infância.
O ponto é que eu passei reto pela assombração. A lateral da casa era parcamente iluminada e eu simplesmente não vi a figura embrulhada junto ao muro.
Minha mãe e avó precisaram me chamar a atenção e apontar o vulto para que eu visse, e quando o fiz, corri em sua direção e apliquei uma torrente de pontapés nas canelas da pobre tia Marlene, que deu um grito desvencilhando-se do lençol e xingando todo mundo enquanto voltava pra casa massageando o ponto do meu vicioso ataque.
Eu não tenho medo de fantasmas...
Lobisomens, poltergeists, crianças de olhos pretos ou demônios.
Não tenho medo de alienígenas...
Grays, chupa-cabras, altos ou reptilianos.
Não tenho medo de escuro. Não tenho medo de ladrão. Não tenho medo dos illuminati, do efeito Mandela, de C'thulhu ou do Trump...
Não tenho medo do grande colisor de hádrons, da bomba atômica, do Estados Islâmico ou da Ursal. Não tenho medo da professora de matemática. Não tenho medo de apanhar. Não tenho medo de dizer a verdade. Não tenho medo de admitir que errei. Não tenho medo de dentista.
Eu não tenho medo de nada.
Exceto das noites em que tu não aparece.
Essas são a epítome do vazio. A síntese da solidão. A canção da tristeza.
Eu tenho medo de quando tu não está aqui.
Tua presença me deixa forte. Teu amor me dá coragem.
Contigo do meu lado eu volto a ter a galhardia dos meus cinco anos e todas as ameaças se transformam na tia Marlene oculta sob o lençol branco.
Eu não tenho medo de nada.
Quando tu está comigo.

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2019

Resenha Série: O Justiceiro, temporada 2, episódio 9: Flustercluck


Cuidado com aquilo que tu desejas, diz o alerta, pois tu podes conseguir.
Eu não concordo com esse ditado, não em geral, mas devo dizer que, em se tratando da série do Justiceiro, especificamente esse episódio "Flustercluck" (traduzido como Recompensa, e aí eu justifico, de novo, meus motivos para usar os títulos em inglês dos episódios desde a primeira temporada de Jessica Jones) faz sentido.
Porque na resenha do episódios anterior, My Brother's Keeper, eu reclamei, novamente, da falta de espaço dado aos Schultz e John Pilgrim, e, tendo sido agraciado com alguns vislumbres de ambos no nono capítulo, estou me questionando se eu sequer queria esses personagens na série à essa altura.
O episódio começa com um vislumbre dos negócios de Billy Russo indo de vento em popa. Seus rapazes compraram a ideia de iniciar um tipo de sindicato de veteranos criminosos e eles estão tocando o horror em traficantes e quadrilheiros e conseguindo um bom dinheiro enquanto Billy volta a se sentir um homem que pertence a alguma coisa novamente, além de readquirir o status e a fortuna que perdeu.
Enquanto isso, Frank, Curtis e Madani parecem ter chegado a um acordo sobre o que fazer com Russo, e a ideia é encontrá-lo e neutralizá-lo, uma proposta simples, mas complicada de realizar, especialmente após Anderson Schultz colocar uma recompensa pela captura de Frank e Amy nas ruas, garantindo que cada bandido com uma arma na cidade saia no encalço do Justiceiro e de sua protegida.
Se Anderson Schultz adicionou uma esperta dose de tensão e drama no episódio com o esquema da recompensa, não é menos verdade que a coisa toda teve cara de coito interrompido quando a ação foi cortada para nos levar de volta a um momento entre ele e o filho David, que, sabemos agora, é o pivô de toda a linha narrativa de Amy na temporada.
A cena entre Corbin Bernsen e Todd Alan Crain deixou dolorosamente claro que depois de nove horas de série, provavelmente ninguém dá a menor bola pra esses evangélicos bilionários com pretensões de escalada política e o filho viado deles.
Colocá-los na ribalta à essa altura do campeonato é um tiro no pé porque nos afasta das linhas narrativas mais interessantes que a série tem pra oferecer, nominalmente, Frank e Billy.
Até mesmo John Pilgrim, que vinha sendo injusta e solenemente escanteado voltou a ter um pouco de espaço, incluindo novas revelações sobre seu passado pré-Schultz mas, de novo, coito interrompido. No momento em que parecia que veríamos quem John Pilgrim realmente é na hora da porradaria, um corte nada sutil só pra deixar a audiência no pendura.
Menos mal que Frank segue entregando a ação que a série demanda, seja em sua sangrenta investigação sobre o paradeiro de Billy, seja em um tiroteio com alguns caçadores de recompensa lerdos no gatilho, seja na boa sequência do resgate de Amy.
Amy, aliás, talvez seja a única nova personagem que melhorou no decorrer da série. Ela foi de pentelha descartável a âncora da humanidade de Frank Castle.
Mais do que isso, a própria demonstra uma humanidade que, no começo da série, simplesmente inexistia. Seu retrato, tanto da pirralha que não aguenta mais ser deixada de lado, quanto da menina apavorada com a iminente perda de sua humanidade, se não chegam a ser tocantes, são honestos.
Falando em honestidade, a cena entre Billy e Madani é possivelmente a justificativa da presença da agente na segunda temporada.
A conversa entre os dois é, provavelmente, o ponto mais alto da personagem, superando por muito o discurso no grupo de Curtis alguns capítulos atrás. E Ben Barnes segue sendo um dos pivôs da série. Aqui nós vemos Billy Russo ser vítima e algoz na mesma medida. Ele sabe que fez coisas horríveis, têm dificuldade em absorver o que fez, e ainda assim, se vê como uma vítima e com direito a ultraje.
Billy Russo, ao longo de duas temporadas se perfila a Kilgrave como o segundo melhor vilão da Marvel/Netflix, superado apenas pelo arrasa-quarteirão que é Vincent D'Onofrio como Wilson Fisk. Até mesmo o romance dele com Krista Dumont, por mais clichê que seja, parece ser capaz de tornar a psiquiatra uma peça mais interessante no tabuleiro da série por mera associação.
Quanto a Schultz, até o momento sua única contribuição para a série é mandar gente atrás de Frank e Amy, o que, na melhor das hipóteses, gera boas cenas de ação e algum senso de urgência para os episódios, fora isso, é difícil não imaginar que as ideias para duas temporadas tenham sido amalgamadas no que deve ser o último suspiro do Justiceiro na Netflix, isso explicaria porque temos duas linhas narrativas tão distintas correndo em paralelo sem jamais se encontrarem.
Faltando quatro episódio para o fim da temporada, a única coisa que faz com que a série não seja unicamente a respeito de Frank e Billy é a relação de Amy com Castle.

"-Eu não sou quem morre, garota. Eu sou o que mata."


quinta-feira, 7 de fevereiro de 2019

...


A verdade nua e crua é que nós nos magoamos. Assim mesmo. Nós magoamos um ao outro. Nós nos ferimos mutuamente, fosse de maneira intencional, ou não.
Eu sei que, vez e outra tu me feriu de propósito. Não se preocupa. Eu não guardo mágoa (mentira, guardo, sim.), porque sei que, se formos pesar as coisas, eu provavelmente te magoei muito mais de maneira acidental, ou, por vezes, incidental, do que tu me magoaste de propósito. E eu entendo a urgência em devolver um pouco de dor. Estive na penitenciária, não, espera, estive no ensino fundamental em escola pública, o que é mais ou menos a mesma coisa, e sei como funciona a necessidade de retribuição.
O ponto é que nós tentamos e por A ou por B não deu certo.
Acontece.
Muitas vezes é do jogo. Tentativa e erro, método científico, empirismo e o caralho. Ao menos não podem acusar nenhum de nós dois de covardia (mentira, podem, sim.).
Porque a despeito das mazelas, nós tentamos. Tu, provavelmente, tentaste mais do que eu, e isso, sejamos justos, te deu a prerrogativa de ser cruel de vez em quando, vá lá. Eu não acho que tenha sido cruel contigo, porque se além de incompetente eu também fosse cruel, seria o caso de questionar tua sanidade ou inteligência, mas enfim, talvez tu tenhas uma opinião distinta no assunto, eu não usei teus sapatos (mentira, usei, sim. Mas não desse jeito...) pra saber.
E se houveram desencontros, paúras, falta de timming e piadas ruins, também houve amor.
Não houve?
Eu acho que houve.
Sei que houve.
E isso é uma coisa que, eu sei, acima de qualquer sombra de dúvida razoável (foda-se, jurado 8), não houve mais de uma parte, ou outra. Foi parelho, mesmo que eu demonstrasse muito melhor que tu (mentira, era o contrário.).
Seja como for, por haver tanto amor, e era um bocado, nós tentamos, e, sendo pelo que tenha sido, não importa mais, saímos ambos esfolados do período que passamos juntos.
Tu deve ter cicatrizes. Eu certamente sei que tenho. Ninguém passa incólume pelo tanto que a gente passou, tão intenso, tão rápido, e ainda assim, tão destrutivo como só o amor que não dá certo sabe ser.
E depois de todos esses desencontros... De toda essa dor... De todo o medo e mágoa...
O que se diria de alguém que estivesse sequer cogitando a possibilidade de incorrer em nova tentativa depois de tanto tempo? Isso, provavelmente, é aquilo a que se refere o adágio sobre esmurrar a ponta da faca. Ou a citação de Einstein (se é que é mesmo de Einstein...) a respeito de tentar a mesma coisa esperando resultados diferentes, não é?
Por certo que é.
Tu sabe... Eu sei... E ninguém que fosse minimamente sábio ou minimamente precavido iria sequer cogitar a possibilidade de uma nova presepada de proporções emocionais bíblicas porque, francamente, os riscos são, na melhor das hipóteses, tão grandes quanto as recompensas e essa é uma matemática extremamente arriscada de praticar, basta considerar tudo aquilo de que tu estaria abrindo mão.
Então...
Então fodam-se os sábios e os precavidos. É tu. Somos nós. E contigo eu topo qualquer parada. Sejamos como Han Solo com as chances e azar é do goleiro.
Tô dentro. Te disse isso lá atrás e hoje vale tanto quanto então, e vai continuar valendo "até que nossos ossos estejam quebradiços demais pra arriscar contato".

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2019

Resenha Série: O Justiceiro, temporada 2, episódio 8: My Brother's Keeper


Atenção, spoilers leves abaixo:
A despeito do abrupto final de One Bad Day, que acabou exatamente quando a pancadaria estava começando, My Brother's Keeper ao menos retoma exatamente de onde a coisa toda havia parado no capítulo anterior terminara, com Billy e Frank finalmente se reencontrando após os eventos do Carrossel, com Russo finalmente entendendo que todos os suplícios de seu passado recente são obra de Castle, porém, ainda sem nenhuma lembrança de ter tomado parte nos assassinatos de Maria e as crianças.
A ação escala rápido, deixando claro que Frank não planejou sua ação tão bem quanto Russo e seus rapazes, e quando a polícia de Nova York se envolve, a lambança é total e irreversível, com Frank na mira do detetive Mahoney, que chega bem perto de prender o Justiceiro de novo, o que teria acontecido sem o auxílio de Curtis.
Aliás, pobre Curtis.
Em poucos episódios ele já perdeu a namorada, se viu na mira de uma arma e agora ainda se tornou cúmplice de um criminoso procurado. Ao menos ele teve chance de entrar na ação...
E enquanto Billy tenta entender porque o seu melhor amigo o desfigurou e quase matou, Frank precisa fazer as pazes com o fato de que Billy realmente não faz nenhuma ideia de que tomou parte na morte de sua esposa e filhos, e cada um faz isso à sua maneira.
Russo volta para a casa da doutora Dumont e extravasa seus demônios enquanto Frank, decidindo-se a matar Billy na próxima oportunidade, começa uma caçada humana que o leva a expôr seu pior lado.
É legal ver que o produtor Steve Lightfoot e os roteiristas da série não têm pudores em mostrar o Justiceiro como um homem perturbado, ás vezes, nas raias da vilania. Em um mundo que, ao menos teoricamente, é habitado por heróis como o Demolidor, o Homem-Aranha, o Capitão América, não faria sentido glorificar alguém que é, em suma, um assassino matando criminosos. Frank não pode ser mostrado como alguém excessivamente nobre ou heroico, algo que chegou a acontecer nos primeiros episódios da temporada, e nem deve se tornar tão desprezível para a audiência quanto os bandidos que executa, é um equilíbrio difícil de encontrar, mas Lightfoot e companhia conseguem fazer isso.
Nesse episódio tivemos o pior de Frank, fosse com a forma como ele espanca viciosamente Jake, fosse com sua violenta reprimenda a Amy por "atacá-lo" ao chegar no esconderijo, mas também vimos seu lado mais humano e frágil, seja na maneira como ele não conseguiu atirar em Billy ao se dar conta da amnésia de seu ex-irmão-de-armas, fosse na maneira como ele cambaleia até os túmulos de sua esposa e filhos no final do episódio.
Falando em humano e frágil, Ben Barnes segue roubando o show com sua interpretação do Retalho.
A ideia de que ele não consegue compreender por que Frank fez o que fez com ele oferece uma dimensão totalmente nova à dinâmica dos personagens, e ainda que Billy tenha tido, nesse episódio, alguns de seus momentos mais frios e desequilibrados na temporada, e quiçá na série, ele segue sendo, sob diversos aspectos, um personagem com o qual podemos simpatizar mesmo quando chega mais perto de abraçar a psicopatia de sua contraparte dos gibis.
O ponto baixo da série (além de Madani) segue sendo a completa falta de profundidade dos personagens novos. Os breves vislumbres que tivemos do passado de Amy de pouco serviram, não fosse a sugestão de uma relação pai/filha entre ela e Frank, e a personagem continuaria sendo pouco mais que um acessório da trama. A mesma coisa vale para John Pilgrim, que é solenemente ignorado nesse episódio, e até aqui recebeu, também algumas breves sugestões de suas motivações e foi isso, ou os Schultz, que mal aparecem, ainda que sejam os catalisadores dos eventos que começaram a trama da série. A eles junta-se a doutora Dumont. A personagem começou parecendo uma víbora manipuladora com intenções pérfidas, o que seria um clichê, mas logo tornou-se a médica traumatizada que se vê no paciente por quem se apaixona (o que é um clichê ainda maior), e no momento ela é a personagem de Schrödinger, pois pode ser tanto uma coisa quanto a outra, mas a verdade é que como ela não foi bem desenvolvida, ninguém liga.
Com tanto desserviço aos novos personagens e um Billy Russo eventualmente chegando a ser mais interessante que o protagonista, fica a dúvida se realmente precisávamos dos Schultz na temporada, vejamos como os cinco episódios restantes nos responderão esse questionamento.

"-Ás vezes, alguém como Castle é o mais perto da justiça que chegamos."

terça-feira, 5 de fevereiro de 2019

Resenha Série: O Justiceiro, temporada 2, episódio 7: One Bad Day


Ora veja... Dessa vez levou apenas sete episódios para o protagonista usar seu uniforme numa temporada Marvel/Netflix. Isso dá à O Justiceiro a medalha de prata nesse quesito, atrás apenas da (excelente, isso mesmo, excelente!) segunda temporada de Demolidor, que abraçou os quadrinhos com o gosto que nenhuma outra série co-irmã teve colhões pra fazer.
Mas divago...
One Bad Day é o capítulo que faz a transição entre a primeira e a segunda metade da temporada de O Justiceiro, e a abertura do episódio, com Madani relembrando o seu interrogatório após os eventos do carrossel no season finale do primeiro ano é apenas a ponta do iceberg de uma boa porção de tempo dedicado à agente da Segurança Nacional tentando fazer as pazes com seu passado.
Madani segue sendo uma mala, uma agente incompetente em seu ofício (ela tem um retrato de John Pilgrim em seu celular e ainda assim não consegue encontrá-lo) e indecisa em suas intenções já que, ela trouxe Frank para Nova York para que ele matasse Billy, e de repente tem uma crise de consciência quando o assassino que ela recrutou parece disposto a fazer o que sempre faz... O tanto de tempo que temos com Madani tentando chegar a termos com seus sentimentos ()me leva a crer que os produtores e roteiristas da série ligam pra personagem muito, mas muuuuuito mais do que a audiência. O fato de a série se encarregar de construir uma fã para ela é meio embaraçoso, especialmente porque a perita inventada com o único intuito de puxar o saco da chefe é uma completa idiota.
Enquanto Madani enche o saco uma barbaridade, Billy Russo vai reencontrando seu lugar no mundo tanto comendo sua terapeuta (numa cena que mostra sexo casual virando quase casamento em tempo recorde...) quanto transformando sua gangue de veteranos arruaceiros em uma quadrilha criminosa de respeito com direito a ensaio e estabelecimento de liderança.
Enquanto isso, Frank e Curtis empreendem uma caçada pelo ex-colega que passa pela brutal tortura de um dos comparsas de Billy, e culmina com o reencontro do Justiceiro e Retalho.
Apesar do tempo excessivo para trabalhar os sentimentos de Madani, One Bad Day é outro episódio de O Justiceiro que se alimenta particularmente bem da finíssima linha traçada entre Frank e Billy. Os escritores e produtores da série acertam a mão ao eventualmente mostrarem o protagonista como uma máquina assassina desprovida de sentimentos, e o antagonista como um ser-humano alquebrado tentando se reencontrar.
One Bad Day é um desses episódios onde é mais fácil simpatizar com Billy, que tenta desajeitadamente criar laços de amizade e meio que se apaixona, do que por Frank que com Frank que tortura friamente um viciado que teve o azar de ser abordado por Russo em um bar.
Ao não se furtar tanto de mostrar a faceta mais sombria de seu protagonista tanto quanto de explorar o lado mais humano de seu vilão, O Justiceiro meio que compensa pelo excesso de Madani, o final do capítulo, que prometia um bom retorno à ação de tiroteios, porém, tem a maior cara de coito interrompido, já que, quando a cena se encaminha para o seu clímax, o episódio acaba... Talvez, se não tivessem passado tanto tempo com as lembranças que Madani tem de dar pro Retalho no chuveiro, desse pra ter, ao menos, um cliffhanger ao invés de simplesmente parar o episódio no meio de uma perseguição automobilística.
Seja como for, a despeito dos graves problemas de ritmo de um episódio mal-distribuído, o final do capítulo chega com a promessa de que o conflito entre Billy e Frank vai escalar rapidamente agora que o Retalho sabe a origem de seus pesadelos com caveiras. Resta torcer para que, no futuro, os episódios de O Justiceiro foquem menos em seus coadjuvantes mais xaropes, e mais no que realmente move a série, no caso a oposição entre a moralidade distorcida de Frank Castle, e a humanidade quase comovente de Billy Russo.


"-Guerra? Escute o que está dizendo. Não estamos em um país estrangeiro com estranhos atirando em você. Estamos em casa. É diferente. Tem que ser diferente.
-É mesmo? Diga isso pra minha esposa e filhos."

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2019

Resenha Série: O Justiceiro, temporada 2, episódio 6: Nakazat


Nakazat (palavra em russo para "punição") é um episódio de meio de temporada autêntico para O Justiceiro enquanto série.
O capítulo centra fogo na batalha de Frank e Amy para lançar alguma luz nos motivos que os Schultz têm para querer eliminar a guria, deixando Madani, Billy Russo e os demais personagens meio que no banco de trás.
Mais do que mostrar à audiência os motivos pelos quais os evangelistas inescrupulosos querem a cabeça cheia de cabelo de Amy numa bandeja, algo que os roteiristas certamente não tiveram pressa em explicar, Nakazat serviu para colocar Frank Castle sob o holofote de novo, e para explorar um pouco do protagonista além de sua capacidade de causar dano, desde o começo do episódio, que abre com uma sequência emblemática para o nosso anti-herói.
Veja... Frank Castle vinha conseguindo se manter à tona da persona homicida do Justiceiro há um bom tempo. Sim, Frank ainda era um sujeito com habilidades assassinas acima da média e um problema sério para controlar seu ódio, porém, ele parecia pronto para deixar o colete com a caveira para trás, e levar uma vida normal mesmo que fosse um dia de cada vez conforme parecia ser o caso lá em Roadhouse Blues quando ele desistiu de seguir viagem para ficar mais um dia com Beth e Rex.
E sim, Frank tem uma formidável contagem de corpos desde o começo da temporada, entretanto é necessário lembrar que, por mais que ele tem se enfiado por livre e espontânea vontade nese bolo, todo mundo que morreu, estava tentando matar Frank, ou Amy (ou ambos...), o que constitui legítima defesa.
A questão é que, conforme Frank se aprofunda em sua investigação para ajudar Amy e é gradualmente mais exposto ao que a sociedade tem de pior, o ex-fuzileiro paulatinamente expõe o que ele próprio tem de pior.
A cena que começa com um tom quase cômico, explorando a nova e melhorada química entre Jon Bernthal e Giorgia Whigham, com Frank e Amy alugando o laboratório fotográfico de um homem obviamente habituado à exploração sexual de menores, não tarda a fazer uma curva acentuada para a escuridão conforme o Justiceiro cede a seus impulsos e, após espancar o sujeito, está prestes a matá-lo.
Esse é o Justiceiro dos quadrinhos em sua forma mais pura. Um homem que o trauma transformou em um psicopata e por quem é difícil torcer mesmo que nós tenhamos algum prazer em ver um bandido ser exemplarmente punido. O Justiceiro de Jon Bernthal vinha sendo uma versão muito mais empática do personagem, alguém com quem a audiência era capaz de se relacionar mesmo com os eventuais arroubos de fúria. Esse Justiceiro mais domesticado vai dando mais e mais sinais de vida tanto na forma como ele sistematicamente poupa a vida de bandidos nos mais variados graus de escória quanto na relação paternal que ele começa a formar com Amy.
Eu ainda acho que a personagem é uma substituição pobre para o Micro de Ebon Mlss-Bachrach, entretanto nesse episódio, Amy tem alguns de seus melhores momentos ao despertar o melhor de Castle, seus instintos paternais, e colocá-los em clara oposição ao vigilante assassino.
Enquanto Frank e Amy fazia sua investigação e se conectavam, Billy Russo recria a os laços de irmandade dos tempos dos fuzileiros navais na forma de uma gangue. Ben Barnes continua sendo um dos pontos altos de O Justiceiro nessa segunda temporada, e ele tem cumprido um arco de personagem particularmente interessante com sua jornada de redescoberta.
Madani segue sendo muito chata em sua (justificável) dificuldade para lidar com os traumas do passado e Curtis meio que é a melhor pessoa na série até aqui (junto com Mahoney).
Em sua metade, a segunda temporada de o Justiceiro finalmente nos mostrou as motivações dos vilões de maneira meio morna e que foi facilmente eclipsada tanto pelo desenvolvimento da relação de Frank e Amy, quanto da jornada de Billy Russo, John Pilgrim foi solenemente subutilizado, me levando a pensar se O Justiceiro não poderia ter se valido do expediente de arcos separados nesse segundo ano a exemplo de Demolidor, ainda assim, o programa solo de Frank Castle segue acima da média das adaptações de quadrinhos para a TV.

"-Pode me chamar de antiquado. Eu não trabalho com russos..."

sábado, 2 de fevereiro de 2019

Rapidinhas do Capita


-E se... E se for tudo um elaborado estratagema de vingança?
-Ganhar de volta a tua confiança... Reencontrar o caminho até o teu coração... Armar acampamento... Tomar posse... E então dinamitar tudo?
-Sabe? Num desses momentos de triunfo definitivo ela vai estar gargalhando em meio aos escombros e chamas do que outrora foram teus sentimentos?
O que é que tu vai fazer?
-hã... Provavelmente ser uma pilha de escombros e chamas, porque, francamente, se for um estratagema de vingança, funcionou.

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O Roberto acordou no quarto branco de um hospital sentindo dores em todo o corpo e sem nem sequer a mais remota ideia de como fora parar naquele leito.
Quando o médico apareceu para examina-lo e ele perguntou o que havia acontecido, o médico devolveu outra pergunta, querendo saber do que Roberto lembrava.
A verdade é que Roberto não lembrava de quase nada. Lembrava-se de ter acordado em casa na... Sexta-feira? Ele achava.
O bom doutor disse que os exames neurológicos estavam bons, mas que essa amnésia de um dia inteiro preocupava. Roberto concordou e reforçou seu questionamento, para ouvir, incrédulo a narrativa a respeito de uma briga.
-Uma briga? - Perguntou sem entender.
-Sim. - Confirmou o plantonista. Contando na sequência a história de como Roberto entrara em uma altercação com um sujeito no bar onde estava, os dois chegaram às vias de fato, e, sem que Roberto tivesse notado, outros dois sujeitos, provavelmente amigos do adversário de Roberto, juntaram-se à contenda, e agrediram-no covardemente, causando o dano que ali estava.
Não fazia sentido para Roberto.
Ele podia não lembrar do que ocorrera no dia anterior, mas sabia quem era. Não era sujeito de brigar em bares... Mal era de frequentar bares. Lembrava-se de haver uma conversa sobre celebrar o aniversário de um colega naquela sexta. Mas por que brigaria com um desconhecido?
-Uma moça. - Lhe diria, mais tarde, o amigo aniversariante, durante uma visita.
-Eu briguei por causa de uma moça? -Roberto seguia incrédulo. Não tinha namorada. Estava solteiro há meses. Porque diabos engajaria-se em uma troca de pancadas com um desconhecido por causa de mulher?
O aniversariante não sabia. A coisa toda ocorrera em um breve período de tempo com Roberto no balcão do bar, afastado dos demais. Mas no bar, enquanto a segurança aguardava a chegada da polícia para os agressores e da ambulância para Roberto, parecia que ele tomara as dores de uma jovem que fora assediada por um homem no balcão do bar, chamando a atenção do inconveniente, o que levou a uma discussão e eventualmente à luta.
Seguia não fazendo nenhum sentido.
Roberto era um homem centrado. Não era de se deixar levar pelo momento. E tinha um senso de auto-preservação totalmente funcional, jamais começara uma briga em sua vida. Tomava cuidado para atravessar a rua sempre na faixa de pedestre, se achava que ia esfriar levava um casaquinho e se fosse pego desprevenido pela chuva, tomava um Cebion ao chegar em casa...
Não era de seu feitio se envolver em pugilato com alguém em nome de uma mulher que sequer conhecia.
Havia algo faltando.
A peça que permanecia fora do quebra-cabeça apresentou-se no segundo dia de Roberto no hospital, quando uma jovem delicada de cabelos negros, feições adoráveis e pernas de parar o trânsito adentrou o quarto apresentando-se como Lídia, e trazendo flores como forma de agradecimento.
-Agradecimento...? - Roberto não entendeu.
Lídia era o pivô do desentendimento que terminara com Roberto hospitalizado com uma concussão, uma lesão no pulso e duas costelas quebradas.
Enquanto Lídia falava, tudo fazia sentido para Roberto. Vendo os lábios dela se moverem, o sorriso largo iluminar-lhe o rosto, as mais pequenas gesticulando discretamente, ele entendeu tudo.
Por alguém como Lídia, mesmo o mais sensato dos homens era capaz de abrir mão de qualquer coisa. Até do senso de auto-preservação.

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Com ela em sua vida não existia parnasianismo. Não havia arte pela arte. Narrativa pela narrativa... Toda a prosa queria ser verso e todo o verso queria ser de amor.
Ela não lhe cabia somente no coração, na mente, na alma. Escorria-lhe pelos olhos, pema língua e pelas mãos, entranhando-se em tudo o que ele fazia.

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2019

Resenha Série: O Justiceiro, temporada 2, episódio 5: One Eyed Jack


O Justiceiro voltou pra Nova York, ok, mas a verdade é que, no que tange ao episódio anterior, Frank Castle parecia bem mais interessado em ficar na surdina no apartamento da Madani do que em propriamente caçar Billy Russo.
É compreensível.
Após descobrir que Billy está sofrendo de amnésia e não tem qualquer memória dos eventos da primeira temporada, Frank se sente seguro o bastante para centrar suas atenções nos problemas de Amy, a quem o episódio parece tentar dar um pouco mais de profundidade. Já não era sem tempo, diga-se de passagem. A personagem ainda parece, vez que outra, uma tremenda pentelha, mas algumas cenas de episódios recentes, como a empatia que ela nutriu pelo delegado Ogden, o medo que a fez se esconder embaixo da cama para dormir e a cena que abre o episódio, com ela fazendo truques de cartas com Frank ajudam a personagem a ganhar um pouco da simpatia da audiência (ao menos a minha...), e se nada disso funcionasse, ao menos a nova dinâmica entre Frank e Amy dá alguma leveza a uma série que, na ausência do Micro de Ebon Moss-Bachrach, havia abandonado qualquer resquício de humor.
Outro personagem que ganha, novamente, um vislumbre mais aprofundado é John Pilgrim.
O matador recebe mais uma dose de drama familiar com sua esposa moribunda, de manipulação do casal Schultz e até uma breve sessão de auto-flagelação (ele aparentemente não gostava mesmo daquelas tatuagens...) deixando claro que apesar de seu conjunto de habilidades muito particular, Pilgrim realmente tenta expiar um passado sombrio, mas está na mãos de Anderson e Eliza Schultz.
O casal, por sinal, precisa urgentemente de um pouco de contexto.
Apesar de serem uma das espinhas dorsais da narrativa, essa estranha criatura com duas espinhas dorsais, os Schultz continuam não tendo qualquer tipo de dimensão ou motivação. Nós sequer sabemos o que eles fazem. Tudo o que é sugerido é que eles são um tipo de congregação religiosa, mas não sabemos se eles estão mais pra uma versão evangélica de L. Ron Hubbard ou pra Jim Jones, e, ainda que todos nós possamos experimentar uma saudável dose de aversão pelas práticas habituais de evangelistas de qualquer espécie é difícil comprar aquele casal de velhos como os grandes vilões da trama sem ao menos sabermos o que é que eles fazem de tão ruim além de disseminar superstição e obscurantismo e mandar matar gente.
Falando em gente que devia morrer, Madani apareceu invadindo o grupo de apoio de Curtis, e, por mais que eu continue odiando essa personagem, palmas para Amber Rose-Reva, que entrega sua melhor cena em dezoito episódios com seu discurso durante a sessão dos ex-soldados. A cena em questão, além de dar à atriz algo pra fazer além de parecer confusa e irritada como um Mark Walhberg de saias também mostrou como a personagem mudou da primeira temporada pra cá. Madani está sendo movida unicamente por seus traumas e desejo de vingança, exatamente como Frank estava quando o conhecemos em Demolidor. O mais curioso é que à essa altura, Frank já seguiu seu caminho além desse momento, e parece estar agindo como age por tédio e vocação, e eu devo dizer que, enquanto alguém que jamais gostou particularmente do Justiceiro nos quadrinhos, essa é uma versão de Frank Castle que, pra mim, é muito mais interessante do que o sociopata eternamente vingativo dos gibis.
Falando em sociopatas, é difícil dizer pra onde Billy Russo vai em termos de história de onde ele está, bebendo com outro soldado em um bar... Mas eu devo dizer que Ben Barnes faz um baita trabalho em sua interpretação do vilão, tornando-o tão humano que é difícil não sentir uma ponta de paz ao vê-lo sossegado socializando em um boteco ao invés de sofrendo os efeitos do estresse pós-traumático da merecida surra que ele levou de Frank no final da última temporada.
Seja como for, a temporada não chegou nem à metade, e não é nem um pouco prematuro afirmar que os novos contatos de Billy não vão levar a nada de bom.
Fechando o capítulo, Frank decide investigar os contatos de Amy, e, entra em cena o Turk Barrett de Rob Morgan, o fio que une esse universo moribundo (Turk definitivamente deveria ter aparecido comprando armas do Abutre em Volta ao Lar...). Sendo usado como peão por Frank, Turk acaba se tornando o catalisador de mais uma excelente sequência de ação, com Frank enfrentando uma patota de fisiculturistas russos numa épica luta em uma academia de musculação. De novo, não há nada em O Justiceiro que chegue perto do garbo das cenas de luta de Demolidor, mas a crueza das pancadarias que envolvem Frank Castle limpa o chão com quase tudo mais que existe na TV em termos de adaptações de quadrinhos e séries de ação em geral.
Apesar de ter dado uma tropeçada em termos de ritmo ali pela metade, One Eyed Jack terminou bem graças a esse desfecho. Vamos torcer para que, nos episódios vindouros, as tentativas de aprofundar os novos personagens sejam mantidas e o ritmo recuperado.

"-Quem pagou pelas fotos?
-Se eu disser eles me matam.
-Imagina o que eu vou fazer contigo..."