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sábado, 9 de fevereiro de 2019

Coragem


Eu não tenho medo.
De nada.
Uma vez, aos cinco anos, minha tia-avó, minha avó, minha mãe e minha tia se uniram para me pregar um susto.
Foi na antiga casa da praia do Quintão. Minha tia-avó de cobriu com um lençol branco, e sentou-se no muro lateral da casa.
Ela ficaria lá, e minha tia me atrairia até os fundos da casa para que, ao passar pela "aparição", eu levasse um susto.
Provavelmente uma psicóloga ou um pedagogo horrorizaria-se com o sadismo das brincadeiras das mulheres da minha família, mas era, provavelmente 1986, e não havia tanta celeuma com bullying como há hoje, de modo que essa não seria a última brincadeira do gênero a qual eu seria exposto na infância.
O ponto é que eu passei reto pela assombração. A lateral da casa era parcamente iluminada e eu simplesmente não vi a figura embrulhada junto ao muro.
Minha mãe e avó precisaram me chamar a atenção e apontar o vulto para que eu visse, e quando o fiz, corri em sua direção e apliquei uma torrente de pontapés nas canelas da pobre tia Marlene, que deu um grito desvencilhando-se do lençol e xingando todo mundo enquanto voltava pra casa massageando o ponto do meu vicioso ataque.
Eu não tenho medo de fantasmas...
Lobisomens, poltergeists, crianças de olhos pretos ou demônios.
Não tenho medo de alienígenas...
Grays, chupa-cabras, altos ou reptilianos.
Não tenho medo de escuro. Não tenho medo de ladrão. Não tenho medo dos illuminati, do efeito Mandela, de C'thulhu ou do Trump...
Não tenho medo do grande colisor de hádrons, da bomba atômica, do Estados Islâmico ou da Ursal. Não tenho medo da professora de matemática. Não tenho medo de apanhar. Não tenho medo de dizer a verdade. Não tenho medo de admitir que errei. Não tenho medo de dentista.
Eu não tenho medo de nada.
Exceto das noites em que tu não aparece.
Essas são a epítome do vazio. A síntese da solidão. A canção da tristeza.
Eu tenho medo de quando tu não está aqui.
Tua presença me deixa forte. Teu amor me dá coragem.
Contigo do meu lado eu volto a ter a galhardia dos meus cinco anos e todas as ameaças se transformam na tia Marlene oculta sob o lençol branco.
Eu não tenho medo de nada.
Quando tu está comigo.

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