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segunda-feira, 25 de fevereiro de 2019

Medo


Envelhecer não é uma tarefa fácil. Tem se tornado mais difícil depois dos trinta e cinco, especialmente para quem não é particularmente preocupado com a própria saúde.
Ano após ano tudo se complica. Coisas pesadas se tornam mais pesadas. Distâncias se tornam mais longas. E memórias se acumulam de modo que fica mais difícil organizá-las... O corpo humano tem prazo de validade e eu sinto que já passei da metade do meu. Eu adoraria dizer que o processo de trocar vigor e aparência por sabedoria vale a pena. E eu deveria.
Nunca fui particularmente vigoroso e nem remotamente bonito, o grande problema é que não vejo grande vantagem em ficar mais sábio. Não nos dias de hoje.
Houve um tempo em que saber mais que os outros era um recurso.
Pessoas eram veneráveis por seu conhecimento, procuradas por sua experiência e referências por sua capacidade de orientação.
Isso acabou.
A tecnologia realizou metade do serviço ao colocar conhecimento instantâneo na mão de todas as pessoas com um smartphone, e aparentemente todas as pessoas têm um smartphone. Se tu perguntar algo a alguém, a pessoa simplesmente repete a pergunta ao SO do seu celular e recebe a resposta. Não há necessidade de se aprofundar em pesquisas de nenhuma espécie, não há necessidade de ir à uma biblioteca e catar meia dúzia de livros passando os olhos no mínimo pelo índice de todos eles à procura da resposta ou de fragmentos que depois deveriam ser sintetizados na resposta.
Hoje tu podes ter um resumo de três minutos e dezesseis segundos da Primeira Guerra Mundial no Youtube, e ele é apenas três minutos e um segundo mais longo do que o período de atenção das novas gerações, tu podes pedir à CIRI que te diga o que é uma catacrese, um ditongo ou uma perífrase, tu podes receber uma aula de física de Neil DeGrasse Tyson enquanto vai ao banheiro, não vai entender nada, mas pode.
Não há mais necessidade de saber nada, exceto como manipular um teclado virtual. A outra metade do serviço foi feita por pais e mães tão ausentes quanto culpados. Que não estavam presentes para acompanhar o crescimento dos filhos ou dar-lhes limites, de modo que eles cresceram sem nenhum.
Seja como for, eu me perdi em pensamentos, algo que pessoas velhas fazem, enquanto reclamava da juventude, outra coisa que pessoas velhas fazem.
Em suma, eu me sinto velho.
Eu me sinto velho, sinto todas as desvantagens de estar envelhecendo e nenhuma das vantagens. Eu não me sinto mais sábio, mais respeitável, ou fiquei mais rico. Eu apenas me sinto mais cansado, mais no limiar de abrir mão de coisas, mais propenso a perder gente que eu amo...
Ninguém irá me procurar por minha sapiência. Ninguém tentará beber da fonte do meu conhecimento. Eu não me tornarei venerável. Apenas velho.
A única coisa com alguma chance de permanecer, é o amor daqueles a quem eu tocar. E mesmo para isso não há garantia.
Talvez o mundo mude. Talvez eu mude. Talvez as pessoas mudem. Talvez tu mude.
E essa é possivelmente a perspectiva mais assustadora.
Que amanhã ou depois tu olhe ao redor e pense melhor. Tenha uma epifania. Um momento de iluminação e mude de opinião. "Talvez não seja ele.". E eu não sei se sou capaz de te contradizer... De te convencer que sim. Sou eu! Porque pra mim sempre foi e é tu...
Sempre será tu. Só tu...
Enfim... Perdoe as divagações de um velho. Acho que só vislumbrei minha mortalidade e tive medo da única coisa que me assusta, a possibilidade de te perder.
Imagina quando eu fizer quarenta. Ou sessenta e cinco? Setenta? Oitenta...?
Pensa bem em onde tu estás amarrando o teu pônei.

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