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sexta-feira, 5 de outubro de 2018

Festa da Democracia II


Eu sempre gostei de eleições. Sempre gostei de ter a oportunidade de assumir a responsabilidade e tentar escolher tanto governantes com boa capacidade administrativa para assumir o timão da respectiva divisão administrativa quanto representantes para defender meus interesses ou melhor, agendas com as quais eu concorde, nas arenas devidas.
É fato, eu juro.
Mesmo tendo sérias restrições quanto à política em geral, e a diversos políticos em particular, eu acho que não existe nada pior do que me abster e deixar a escolha para outrem. Eu acredito na importância de ter uma voz nas decisões, e sabendo que o sufrágio universal é um direito pelo qual muitas pessoas lutaram e pelo qual ainda hoje muitas pessoas anseiam, eu simplesmente não sou capaz de deixar de ir à urna e votar em alguém.
O segundo turno das últimas eleições municipais de Porto Alegre foi a primeira vez em que invalidei um voto. Nenhum dos dois candidatos parecia alguém que fosse representar meus interesses ou que tivesse a capacidade administrativa para melhorar a cidade, de modo que, pela primeira vez na minha vida, eu fui à urna e não votei.
Não recordo se votei branco, ou nulo, mas lembro que tinha ido até a minha seção eleitoral muito tranquilo com a ideia de não votar. As propostas de nenhum dos dois me pareciam boas. Nenhum deles me inspirou confiança. Nenhum deles parecia sequer diferente do outro além de variações do mesmo tema. Nenhum merecia meu voto.
Mas ao sair detrás do biombo, eu me senti, francamente, covarde.
Fiquei com um gosto amargo na boca ao não tomar uma decisão tão importante. E fiquei me remoendo, pensando se não deveria ter pesquisado mais a fundo. Se não deveria ter feito mais do que apenas assistir aos debates e à propaganda eleitoral gratuita.
Me decidi a jamais voltar a anular um voto.
Com a aproximação do pleito desse ano, eu resolvi fazer o que não havia feito nas eleições municipais de Porto Alegre dois anos atrás, e me inteirar o máximo possível de todas as ideias de todos os disputantes. Assisti horas de palestras e entrevistas de todos os candidatos, de seus futuros ministros e de seus vices. Li planos de governo na internet e assisti a mesas redondas sobre política em toda a parte. Me obriguei a consumir conteúdo do mais amplo espectro político e fui da Piauí ao Mamãe Falei, sabendo que, como disse Gandalf, nem os muito sábios conseguem ver todos os lados, mas me esforçando para tentar ao menos conhecê-los.
É difícil, quase impossível abandonar suas convicções, e não nutrir antipatia quase instantânea por um lado ou outro, mas eu me esforcei. Fiz testes em sites que prometiam mostrar quais candidatos tinham as ideias mais próximas das minhas e descobri que, para presidente, por exemplo, os mais parecidos eram Alckmin e Boulos (!) separados por meros dois por cento, o que me levou a perceber que, ou aquele teste e aquele site não fazem nenhum sentido, ou minhas ideias não fazem nenhum sentido.
Pesquisei cada denúncia feita contra os candidatos e cada denúncia feita pelos candidatos. Li pacientemente as conversas no grupo de amigos do Whats-app que discutem política como quem discute futebol me esforçando pra não escarnecer de ninguém e nem passar a nutrir desdém por nenhuma das pessoas com quem convivo de alguma forma desde os treze anos de idade e hoje, faltando dois dias para a eleição, devo dizer que me sentindo melhor informado e municiado de tanto embasamento quanto possível, escolhi candidatos para todas as vagas em jogo. E sabendo que, ao menos na eleição nacional, o candidato que eu escolhi não vai chegar ao segundo turno, e que não, não é (ugh) Boulos nem (ZzZzZ) Alckmin, e nem um dos dois extremos do espectro ideológico que ponteiam as pesquisas o que tornará minha decisão no eventual pleito do dia vinte e um consideravelmente mais árdua.
Eu entendo o ultraje e o asco que os dois principais candidatos da eleição causam. De um lado temos o possível fantoche de um líder de quadrilha presidiário, de outro um tacanho do baixo-clero que a despeito do discurso foi corrupto com o menor quinhão da administração pública federal.
De um lado autoritarismo se passando por laissez-faire, de outro populismo embrulhado em welfare state, ambos potencialmente corruptos e nenhum dos dois com propostas claras de soluções para os problemas do país.
Em três semanas podemos estar entre a cruz e a caldeirinha, a menos que, por um milagre, uma terceira via consiga um improvável lugar no segundo turno. Seja como for, é importante estar preparado para tomar uma decisão que, idealmente, não seja baseada apenas em rejeição. É importante pesquisar propostas, ver quais são factíveis, e jamais esquecer como funciona o sistema presidencialista de coalizão de nosso país, tendo em mente que o nosso legislativo deve permanecer basicamente igual após o pleito de depois de amanhã.
Leve tudo isso em conta. Pese todas essas variáveis, e lembre-se de que a única forma de participar do processo eletivo pior do que invalidar o voto, talvez seja tomando uma decisão baseada mera e unicamente em raiva.

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