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segunda-feira, 22 de outubro de 2018

Resenha DVD: Han Solo: Uma História Star Wars


Han Solo: Uma História Star Wars é o filme errado na hora errada.
Não havia a menor chance de o desnecessário longa de origem do salafrário mais charmoso daquela galáxia bem, bem distante ser uma unanimidade, nem que ele fosse muito, muito bom.
Ser lançado na esteira do odioso Os Últimos Jedi, quando a base de fãs comprou uma briga visceral contra o impiedoso império da Disney e sua mão de ferro ao redor da garganta de uma das franquias mais amadas de todos os tempos era quase certeza de tragédia do ponto de vista financeiro.
Se o Episódio VIII não tivesse sido um pontapé na cara dos fãs de Star Wars, se o longa de Rian Johnson não tivesse confundido "subverter expectativa" com tratar a audiência de maneira desonesta e desdenhosa, e então, Han Solo: Uma História Star Wars poderia ser algo como uma lua de mel. Aquele momento pós-casamento onde os componentes de um casal acham tudo o que sua cara-metade faz lindo. Tivesse Os Últimos Jedi sido um grande filme e cumprido a promessa de O Despertar da Força (que foi apenas isso, uma promessa, e pior, uma promessa não cumprida) e então a audiência teria ido ao cinema, assistido Han Solo ignorado as falhas do longa e aproveitado suas qualidades mesmo sendo a história de Star Wars que ninguém estava particularmente interessado em ver.
Porque não há nada de inerentemente ruim em Han Solo: Uma História Star Wars, mesmo com toda a baderna por trás das câmeras que, à certa altura, fez parecer que o filme havia sido amaldiçoado pelos fãs ultrajados com o longa anterior.
O longa dirigido meio pelos promissores Chris Miller e Phil Lord e meio pelo ótimo Ron Howard é uma matiné absolutamente inofensiva que até tem um ou outro momento bacana mas que, pecado dos pecados, é absolutamente inofensiva. Ser inofensivo é um crime imperdoável quando se retrata o personagem imortalizado por Harrison Ford (e "mortalizado" pela Disney), o único sujeito que representava algum perigo no lado do bem na trilogia Star Wars original.
O longa começa com o jovem Han (Elden Ehreinrich) vivendo em Corellia, um planeta que é meio que Detroit pra Star Wars, um amontoado de fábricas construindo espaçonaves e sindicatos do crime aplicando golpes.
Han trabalha para Lady Proxima, uma mafiosa local que explora mão de obra escrava, mas o jovem sonha em comprar uma espaçonave e escapulir do planeta levando consigo sua amada Qi'ra (Emilia Clarke, sem muito o que fazer além de ser adorável).
Quando a tentativa do casal de fugir de Corellia juntos dá terrivelmente errado, ele se vê nas fileiras do Império galáctico tentando se tornar um piloto mas relegado à função de bucha de canhão na infantaria imperial lutando guerras sem-sentido por todos os cantos da galáxia.
Han vê uma oportunidade de mudar sua sorte ao conhecer o fora-da-lei Tobias Beckett (Woody Harrelson), que comanda uma gangue de ladrões formada por Val (Thandie Newton) e Rio (voz de Jon Favreau) e que opera nos quatro cantos da galáxia.
Esse engenhoso grupo de bandidos logo se torna a chance de Han para deixar o Império pra trás, se tornar, de fato, um piloto, comprar uma espaçonave e retornar a Corellia para reencontrar Qi'ra, mas antes de fazer tudo isso, o jovem fora-da-lei se verá em uma aventura que irá definir sua vida ao cruzar seu caminho com o de rostos conhecidos dos fãs de Star Wars como Chewbacca (Joonas Suotamo) e Lando Calrissian (Donald Glover), e caras novas como a pirata Enfys Nest (Erin Kellyman), o dróide L3-37 (Phoebe Waller-Bridge) e o chefão criminoso Dryden Vos (Paul Bettany).
Han Solo é um filme regular.
Ele se apóia fortemente no fan service numa clara tentativa de tirar o gosto ruim que grande parte da audiência ainda sente após Os Últimos Jedi. O longa é sempre leve e descompromissado e durante sua metragem de duas horas e quinze minutos brinca de ser filme de soldado, de caubói e de astronauta ao mesmo tempo enquanto mostra todas aquelas coisas obrigatórias de Han Solo que todo mundo já sabia que haviam acontecido, como o encontro com Chewie, a aposta pela Millenium Falcon em uma partida de Sabbac, a volta de Kessel em menos de doze parsec... E outras pras quais ninguém ligava, como a origem do blaster de Han ou de seus dados de retrovisor...
Elden Ehreinreich não é, nem de longe, o horror que pintaram antes do lançamento do filme.
Em nenhum momento sua atuação me pareceu ofensiva, embora fique bem claro que, primeiro, ele não é Harrison Ford, não importa quantos sorrisos tortos ele exiba, e, segundo, ele também não é Ewan McGregor, que conseguiu apanhar um personagem consagrado no imaginário popular de gerações e fazer justiça à sua voz e trejeitos ao mesmo tempo em que tomava o personagem pra si deixando claro para cada fã que aquele não era o Obi-Wan de Alec Guinness, mas que iria se tornar ele.
Ehrenreich é um protagonista OK, puro e gentil demais para nos convencer que dali alguns anos teria se tornado o sujeito calejado que conhecemos em Uma Nova Esperança, mas de forma alguma estraga o filme.
Woody Harrelson não rouba cenas com a galhardia habitual, e na verdade, não vai muito além de emprestar sua cara para Tobias Beckett. Emilia Clarke é uma graça, e eu não consigo não sentir vontade de enchê-la de beijos depois de Como Eu Era Antes de Você, mas a verdade é que sua personagem não é das mais bem escritas, e a atriz é excessivamente doce para nos convencer que seja capaz de fazer algumas das coisas que faz no final do filme. Paul Bettany, coitado, entrou no elenco aos 45 do segundo tempo para substituir o ator que originalmente interpretaria o vilão criado em CGI para o longa, e, levando isso em consideração, podemos perdoar o ator por ter feito o vilão mais sem-graça de Star Wars desde Orson Krennick. O dróide L3-37 de Phoebe Waller-Bridge é meio bobo com seu engajamento pela causa da liberdade dróide, e vai permanecer à sombra de R2-D2, C3-PO e de K-2SO, que seguem sendo os melhores dróides de Star Wars com folgas. Donald Glover, por sua vez, manda bem demais. Tudo o que eu disse que Ewan Mcgregor fez com Obi-Wan Kenobi, ele faz com Lando Calrissian. Os trejeitos, a voz... Esse ainda não é o Lando de Billy Dee Willians, mas nós acreditamos que poderia, facilmente, se tornar ele.
Com um elenco OK, direção meia-bomba de três cineastas diferentes, roteiro OK de Jonathan e Lawrence Kasdan contando uma história OK e bons efeitos visuais, Han Solo: Uma História Star Wars é um filme nota cinco com alguns momentos que se sobressaem (a partida de Sabbac do final do filme é ótima)e outros que nos fazem entortar a cara (Han "falando" Wookie é de amargar), mas no geral é uma experiência satisfatória como um sanduíche de mortadela é uma refeição satisfatória, e isso é uma pena.
Han Solo em particular e Star Wars em geral, sempre foi um banquete. Mesmo quando era indigesto como em A Ameaça Fantasma. É um pouco triste pensar que essa qualidade morna, de não empolgar e nem ofender, talvez seja o equilíbrio da Força do qual Jake Skywalker, o personagem interpretado por Mark Hamill em Os Últimos Jedi tenha falado a respeito.

"-Eu te odeio.
-Eu sei."

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