Pesquisar este blog

segunda-feira, 29 de janeiro de 2018

Resenha DVD: It: A Coisa


Eu entrei na locadora no sábado pensando, francamente, em alugar Mãe!, de Darren Aronofski, e tentar descobrir se o filme fora, de fato, injustiçado com suas indicações à Framboesa de Ouro desse ano. Entretanto, ao me deparar com a cara do palhaço Pennywise na caixa de It: A Coisa, acabei cedendo à poderosa campanha de marketing do filme, e alugando a nova adaptação da obra de Stephen King.
Eu não sou, já disse mil vezes, afeito ao cinema de horror por N razões... Desde a má qualidade dos filmes até o fato de eu não acreditar no sobrenatural, o que me impede de temer.
O horror de filmes de horror não me assusta, de modo que assistir longas do gênero geralmente é uma experiência estéril, pra mim. Eu vejo filmes como Invocação do Mal ou O Exorcista provavelmente da mesma maneira que um crítico de cinema de verdade assistiria qualquer filme: Observando, pormenorizando e avaliando o filme, sem ser arrebatado pela história.
Em suma: Eu não sou audiência de filmes de terror.
O ponto aqui é que ontem, após assistir às duas horas e quinze minutos de It: A Coisa, eu percebi que o longa do diretor argentino Andy Muschietti, o mesmo de Mama, não é, de fato, um terror. Claro, há gore, alguns sustos e, por Odin, um palhaço-demônio no filme, mas essas coisas não são a força motriz por trás de It.
Nem de longe.
Na cidade de Derry, no estado do Maine, crianças desaparecem com estranha frequência sem deixar rastros, todas vítimas do palhaço Pennywise (Bill Skarsgård), uma criatura que vive secretamente nos esgotos da cidade e se alimenta de crianças.
Um dos desaparecidos é o pequeno Georgie Denbrough (Jackson Robert Scott), que se tornou uma refeição de Pennywise em meados de 1988, quando, numa tarde chuvosa, brincava na sarjeta com um barquinho feito por seu irmão mais velho, Bill (Jaeden Lieberher, de Um Santo Vizinho), que jamais superou o trauma da perda do irmão.
Um ano após a tragédia, Bill passa a maior parte de seu tempo com os amigos Eddie (Jack Dylan Grazer), um jovem hipocondríaco com uma mãe super-protetora, Stanley (Wyatt Oleff), filho do rabino local que não consegue atingir as expectativas do pai, e Rich (Finn Wolfhard, de Stranger Things), o boca-suja que não encontra nenhuma situação onde lhe falte uma piadinha ou comentário grosseiro (é o Teddy Duchamp do grupo...).
A eles, juntam-se Ben (Jeremy Ray Taylor), gordinho novo na cidade e fã de New Kids On The Block, Beverly (Sophia Lillis), menina com pai abusivo e fama de vadia que é alvo das afeições de Ben, e Mike (Chosen Jacobs), órfão negro e pobre que trabalha no abatedouro local com o avô.
É durante as férias do verão de 1989 que esse grupo de pré-adolescentes conhecido como O Clube dos Perdedores, se vê frente à frente com o medo encarnado quando são forçados a encarar Pennywise e seus próprios pavores.
Conforme eu disse antes, o terror de It: A Coisa, é bem farofa.
Há os tradicionais "jump scares", onde alguma coisa aparece de repente junto com a trilha sonora pra fazer a audiência pular (o que talvez funcione com adolescentes no cinema, mas é inócuo pra marmanjões acomodados no sofá de casa), o gore de membros decepados, leprosos mutilados e rios de sangue jorrando de um ralo de pia, e mesmo um palhaço desfigurando-se conforme sua boca se abre mais e mais revelando todos os dentes pontiagudos do mundo...
Essa parte de It é bastante aborrecida, como é a praxe de filmes do gênero que optam por mostrar ao invés de sugerir.
Por sorte, o que de fato move o remake, é o elenco infantil repleto de talento cujas ótimas interações imediatamente trazem à mente uma das melhores adaptações de King para o cinema, o excelente Conta Comigo.
A amizade da molecada é o que faz It funcionar, oferecendo-lhe muito mais cara de filme de aventura do que horror, e é o que mantém a audiência interessada, ainda que falte desenvolvimento à maioria deles.
À exceção de Bill, cuja tragédia familiar meio que move a trama, os demais, na melhor das hipóteses, têm seus backgrounds jogados na tela rapidamente, como Beverly e Mike, vagamente sugeridos, como Eddie e Stanley, ou solenemente ignorados, mesmo, casos de Rich e Ben.
Por mais que isso seja um incômodo, haja vista que os moleques são muito mais interessantes que o palhaço-monstro, parece uma decisão calculada, uma vez que os personagens mais carismáticos são justamente os menos desenvolvidos, oferecendo algum equilíbrio na hora de o espectador escolher seus favoritos.
Há boas sacadas na direção de Muschietti e na edição de Jason Ballantine, mas a verdade é que, enquanto filme de terror, It: A Coisa naufraga. A despeito dos esforços de Bill Skarsgård na pele de Pennywise, que faz careta, se sacoleja e anda todo torto de um lado pro outro, não existe nada que genuinamente amedronte no roteiro de Gary Dauberman, Chase Palmer e Cary Fukunaga. Palhaços dentuços mordendo fora o braço de um gurizinho, ou figuras macabras escapulindo de quadros são coisas bem bobinhas, mas a alegoria de deixar a infância pra trás encarando os próprios medos na forma de um palhaço-demônio, é simpática, tem apelo e faz It funcionar a despeito de um terceiro ato que se alonga além do necessário e apresenta situações redundantes.
Eu não entendo todo o incenso que o longa recebeu da crítica especializada, mas certamente sei reconhecer uma sessão divertida de cinema, e isso, It: A Coisa, certamente oferece.
Pode locar sem medo.

"-Bem-vindo ao Clube dos Perdedores, cuzão."

Um comentário: