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quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

É O Preço...


A prostituta estava sentada, nua, numa poltrona próxima da cama na peça que fazia as vezes de quarto e de sala no acanhado apartamento onde ela trabalhava. Trazia na mão um pedaço de papel higiênico amassado que usara para limpar as partes íntimas do excesso de lubrificante à base d'água que usara durante o coito.
Otávio saiu do banheiro e cobriu, com injustificada timidez, a própria nudez enquanto andou a passos miúdos até a cadeira que se tornara o cabide de suas roupas durante o ato. Se vestiu incomodado com a presença da profissional de alcova que o observava enquanto se abanava, afastando a perna direita até equilibrá-la sobre o braço da poltrona onde sentava recebendo entre as pernas o ar fresco emanado pelo split sem pudor algum. Respirou fundo enquanto jogava a cabeça coberta de cabelos loiros pra trás e espiava o céu por entre os tacos de uma das folhas da veneziana que cerrava a janela do apartamento, mantendo-o na penumbra.
Perguntou:
-Tá com cara de chuva, né? Tá nublado na rua?
Otávio vestindo as cuecas, falou quase automaticamente sobre o tempo. Sim, estava nublado na rua, mas não, não tinha cara de chuva devido ao vento forte que já expulsara as nuvens antes por duas vezes durante a manhã.
Otávio se perguntou, intimamente, se a prostituta não teria saído de casa ou ao menos aberto as janelas durante o dia. Teria estado ali, na penumbra, nua e lânguida durante o dia todo? Fora, afinal, como lhe abrira a porta quando ele chegara, cerca de uma hora antes. Usando apenas uma calcinha negra e sapatos de salto alto, exibindo o corpo magro e ágil com volume excedente apenas em todos os lugares certos.
Lhe oferecera o chuveiro para que ele lavasse o suor do corpo antes do sexo, e quando ele saiu da ducha fria que tomara, ela estava sobre a cama, mexendo os pés deitada de bruços mostrando que o dinheiro de Otávio seria bem gasto se ele quisesse apenas estampa, mas ergueu-se assim que o viu, entrando nu no recinto, e se pôs a fazer o que era seu ganha-pão. Algumas alegorias de alcova, umas bastante elaboradas, outras muito simples. Otávio aproveitou-as a todas, sentiu particular prazer ao tê-la, alta e suada sobre si, com os longos cabelos loiros a dançar-lhe na face enquanto se contorcia ao seu redor com os seios fartos colados ao seu peito que também vertia suor, e quando ela jogou para fora da cama os travesseiros, e se posicionou para recebê-lo em si erguendo os tornozelos até seus ombros.
Passaram quase uma hora assim, passando de uma modalidade à outra, e, ao terminarem, ela correu ao banheiro para cuspir e lavar a boca, e voltou rindo enquanto mexia no botão do aparelho de ar-condicionado, e disse, enquanto a sala se enchia de ar frio:
-Baita foda.
Imediatamente Otávio se sentiu vazio. Evitou, para si mesmo, a piada de que ao menos seu escroto estava, de fato vazio. Sentiu-se subitamente envergonhado. Recolheu os dois preservativos que haviam sido usados durante a contenda íntima e perguntou se podia tomar mais uma ducha, ao que a mulher assentiu com um sorriso enquanto ligava o televisor.
Otávio se perguntou quantas vezes ela já devia ter feito aquilo apenas naquele dia. Com quantos sujeitos abjetos, quiçá mais abjetos do que ele próprio, pois considerava, sim, abjetos homens que pagavam por sexo, e era justamente o que estava fazendo.
Contorceu o rosto enquanto vestia as calças com as costas ainda molhadas do segundo banho e já se molhando de suor.
A prostituta, que ao menos na lista da internet chamava-se Stéphanie, o que Otávio sabia ser apenas um cognome, devia, em seus documentos, chamar-se Imaculada, Creusa, Gerusa ou alguma outra coisa brochante, o olhou com interesse:
-Porque essa cara, amor? Não tava bom? Tu parecia que tinha gostado quando se acabou na minha boquinha, amor.
Otávio era polido. Não tinha problemas em ser educado ao falar com as pessoas. Mas o "amor" no final da frase quase o agredia.
-Nada. Uns problemas, só. - Respondeu simulando um sorriso pouco elaborado enquanto vestia a camiseta.
Sentou-se numa das quatro cadeiras que cercavam uma mesa pequena onde deixara seus pertences, e vestiu as meias e calçou os tênis. Apanhou seu telefone, as chaves e guardou-os no bolso. Pediu emprestado um pente à "Stéphanie", que sorriu e lhe passou um pente fino que devia se adequar perfeitamente bem aos cabelos loiros e sedosos dela, mas que quase escalpelaram Otávio e seus espessos cabelos encaracolados, mesmo molhados do banho ligeiro.
Por fim, apanhou a carteira, e sacou os cem reais que haviam sido acordados com a meretriz, e estendeu a nota para ela, que a apanhou com um sorriso. Enquanto Otávio se aproximava da porta, agradecendo e pedindo licença como lhe era inato, Stéphanie o tocou de leve no ombro e disse enquanto girava a chave na porta:
-Não fica assim, viu, gato? De uma forma ou de outra, a gente sempre paga por sexo.
Otávio a olhou com gravidade por alguns instantes, absorvendo o que ela dissera e vendo que, sob certo prisma, era verdade. Balançou a cabeça aquiescendo, e deu um passo para sair do apartamento. Virava as costas para ir embora quando tornou para ela novamente. Precisava perguntar, já que Stéphanie se julgava tão sabida:
-E por amor?
Ela sorriu triste, bonita que era, com os cabelos loiros bem finos a cair-lhe sobre os olhos repletos de rímel:
-Também... Só que muito mais caro.

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