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segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Resenha Cinema: Cloud Atlas - A Viagem


Os irmãos Wachowski (outrora Larry e Andy, hoje Lana e Andy) estavam rotulados como gênios de um único trabalho. Seu Matrix, que se tornou clássico instantâneo assim que Keanu Reeves vestiu seu sobretudo preto e se desviou de balas pela primeira vez rendeu livros, games, teorias malucas, uma revolução tecnológica que mudou a forma de filmar cenas de ação, e duas continuações que de OK não passavam.
Eles não desistiram, contudo. Dispostos a provar que tinham mais a oferecer do que aquele final imbecil de Matrix Revolutions os Wachowski acertaram a mão ao escrever e produzir a adaptação da graphic novel V de Vingança, em 2005, e em 2008 dirigiram um Speed Racer que tinha tudo o que o anime tinha, mas foi vilipendiado pela crítica e pelo público, que talvez esperasse outra revolução cinematográfica regada a filosofia, kung fu e sado masoquismo...
Seja como for, os irmãos Wachowski meio que se recolheram depois de Speed Racer, e retornaram às telonas na companhia de Tom Tykwer, diretor alemão responsável por Trama Internacional, Perfume - A História de Um Assassino, e Corra, Lola, Corra para transformar em filme o romance de David Mitchel, Cloud Atlas, que muitas pessoas, inclusive o próprio autor, consideravam infilmável.
Cloud Atlas (que aqui no Brasil se chama A Viagem, nome tão preguiçoso e reducionista que que eu não vou nem me dar ao trabalho de chamar de imbecil quem escolhe os títulos em português dos filmes...) conta seis histórias interligadas que se estendem por centenas, quiçá milhares de anos, mostrando como as ações de cada um dos personagens reverberam ao longo dos séculos influenciando suas vidas e a daqueles a seu redor.
As histórias diversas se estendem de 1849, quando o jovem advogado Adam Ewing (Jim Sturgess) se envolve na luta de um escravo por liberdade a um futuro pós-apocalíptico em 2321 onde Zachry (Tom Hanks) recebe a visita da presciente Meronym (Halle Berry), que precisa de um guia para chegar a um local considerado assombrado.
Além dessas histórias dispostas em extremos, há um romance homossexual proibido entre os personagens de Ben Wishaw e James D'arcy, que toma lugar na grã bretanha em 1936, uma investigação jornalística em São Francisco, em 1973, uma revolta de velhinhos tentando escapar de uma casa de repouso no Reino Unido em 2012 que é protagonizada por Jim Broadbent, e uma tentativa de revolução engendrada por um relutante clone (Doona Bae) na Neo Seul do ano de 2144.
Há, como se pode ver, ótimos atores em cena, Tom Hanks mantém uma boa média em suas atuações, Jim Broadbent rouba a cena e Halle Berry é gatíssima demais pra ser questionada. Susan Sarandon faz quase uma ponta, e Hugh Grant, de vilão, é algo que vale a pena assistir pela estranheza. Menos estranho aos papéis malvados é Hugo Weaving, particularmente brilhante como a enfermeira malvada Noakes. Ben Wishaw está bem, assim como Jim Sturgess. James D'arcy é irregular de um segmento ao outro, e Keith David faz a mesma cara de durão de sempre, Doona Bae está bem quando pode ser oriental, nos seus outros papéis ela fica esquisita demais pra gente perceber sua atuação, e David Giasy aparece muito pouco mas vai muito bem no papel de Autua.
A despeito do elenco, entre dramas de época, filmes de suspense, ficções científicas futurísticas e pós-apocalípticas e comédias britânicas, digamos que algumas coisas se salvam, mas não tudo.
Provavelmente é impossível filmar tantas histórias tão diferentes entre si sem haver alguma irregularidade de um segmento para o outro, mas a verdade é que os segmentos de A Viagem são muito irregulares. Embora se veja o esmero da produção, que faz bonito no tocante às reconstituições de época e á criação dos dois futuros presentes no filme, um longa ambicioso como A Viagem precisava de mais do que apenas isso. As idas e vindas alucinadas pelo tempo acabam impedindo tanto a conexão da audiência com os personagens que à certa altura das quase três horas de projeção, eu já estava com a bunda quadrada e louco pra que todos os personagens ( muitas vezes interpretados por atores com máscaras de maquiagem ás vezes convincentes, em outras constrangedoras) morressem logo e eu pudesse ver o desfecho do filme e ir pra casa, o que não seria um bom sinal pra nenhum filme, e tragédia absoluta pra um longa que se imaginava uma sinfonia sobre a alma humana.
O "maior filme independente de todos os tempos" acabou parecendo um barulhento exercício de megalomania e pretensão dos irmãos Wachowski e de Tom Tykwer, tão equivocado em sua grandiloquência e escala, que a melhor história das seis contadas no longa, é justamente a singela comédia inglesa estrelada por velhinhos com Hugo Weaving interpretando uma enfermeira malvada.

"Do ventre ao túmulo, nossas vidas não nos pertencem..."

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