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quinta-feira, 27 de agosto de 2015

Resenha DVD: Cake - Uma Razão Para Viver


Mais um daqueles casos que não se pode compreender no cinema brasileiro, de filmes que têm um título perfeitamente traduzível e incluso na trama, mas as distribuidoras preferem colocar um subtítulo duvidoso, Cake - Uma Razão Para Viver (Ou apenas Bolo, e há um bolo com papel importante no filme...) é uma dessas dramédias Indies às quais nos habituamos nos últimos quinze anos, onde atores rotulados como comediantes podem tentar mostrar que sabem mais do que o cinemão hollywoodiano em geral os permite.
Acho que todos nos lembramos da boa atuação de um comedido Steve Carell em Pequena Miss Sunshine, o primeiro exemplo a me vir à cabeça, talvez porque Carell continuou fazendo papéis menos espalhafatosos e óbvios em dramédias indies nos anos seguintes e com bastante sucesso, obrigado, que o digam o muito bacana O Verão da Minha Vida e o excelente Procura-se Um Amigo Para o Fim do Mundo.
Outra egressa da comédia rasgada que já havia descoberto as benesses do cinema independente havia sido Jennifer Aniston, a eterna Rachel de Friends, que estivera no ótimo Por Um Sentido na Vida, mas depois desandou a fazer comédia romântica em cima de comédia romântica, chegando ao fundo do poço de trabalhar como par de Adam Sandler naquele papel infeliz que sempre fica reservado nas comédias do ator à uma atriz que fazia sucesso na TV.
Mas a ex-senhora Ross Geller deve ter caído em si, ou tido um momento de lucidez, e encontrou esse Cake.
E, mais importante do que isso, encontrou a personagem principal, Claire Bennett.
Claire nos é apresentada em um grupo de apoio para pessoas que sofrem de dores crônicas. Nessa primeira sequência, a coordenadora do grupo, Annette (Felicity Huffman), realiza um exercício para ajudar as participantes a lidarem com o recente suicídio de uma de suas colegas, Nina (A gracinha Anna Kendrick), o que desencadeia um violento acesso de sarcasmo de Claire, e culmina com Annette e as demais membros do grupo, sugerindo que ela procure por um novo grupo, mais compatível com sua personalidade.
Claire é um repelente de gente.
Advogada recém divorciada e ainda com coisas do ex-marido Jason (Chris Messina) em casa, Claire sofre de violentas dores após um acidente que também a deixou coberta de cicatrizes.
Grosseira, amarga, inapropriada, sarcástica, mandona e cheia de manias, Claire é viciada em analgésicos, os quais eventualmente manipula e mente para conseguir, resmunga incessantemente durante a hidro terapia, e seus únicos laços de contato real são com o jardineiro Arturo, com quem eventualmente faz sexo, e com a empregada mexicana Silvana (A ótima Adriana Barraza).
Conforme seu vício em pílulas aumenta, e sua modesta lista de "amigos" míngua, Claire passa a ficar obcecada pelo suicídio de Nina, chegando a visitar o local de onde Nina saltou (um alto viaduto de rodovia), e alucinar com visitas do fantasma da jovem sugerindo-lhe que siga o mesmo caminho.
Claire acaba descobrindo o endereço de Nina, passando a partilhar um laço com o viúvo Roy (Sam Worthington), e o filho do casal, tudo para evitar confrontar sua própria tragédia pessoal.
Por mais que Cake seja um filme terrivelmente formulaico, inautêntico em seu desenrolar, é incrível o trabalho de Jennifer Aniston no papel principal.
A atriz encontra um equilíbrio em sua atuação que vai muito além da maquiagem (as cicatrizes falsas) ou da falta dela (cara lavada o tempo todo, cabelo oleoso e sem penteado), além do andar rígido, ou dos eventuais gemidos de dor, tudo muito bem executado, fazendo com que cada passo e movimento da personagem pareça uma tarefa árdua. Aniston cria um olhar vazio, uma expressão de alguém em visível e inegável desespero por alívio.
Não só ela, mas também Adriana Barraza. A atriz mexicana empresta ternura e doçura à Silvana, mas também humanidade, com direito até a arroubos de frustração, e chega a ser uma pena que ela não tenha mais espaço na tela.
Aliás, o que talvez seja o grande problema de Cake, é justamente a chegada de Roy e do filho dele e Nina à vida de Claire (ou a chegada dela à vida deles, no caso.), a relação dela com o viúvo é desnecessária, e empalidece um bocado na comparação. Mais desnecessárias ainda, são as constantes aparições do fantasma de Nina, listando os prós e contras do suicídio.
Olhando Cake no conjunto, é fácil entender porque o filme não fez grande alarde entre a crítica especializada, mas é difícil entender porque Aniston não foi um pouco mais laureada pela sua excepcional performance, e se tornou, ao menos pra mim, a grande injustiçada do Oscar por não ter sido ao menos indicada.

"Me conte uma história em que tudo acaba bem pra bruxa malvada..."

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