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segunda-feira, 10 de julho de 2017

Resenha DVD: Triplo X: Reativado


Eu sou capaz de apreciar a razão pela qual a Sony resolveu bancar o retorno de Vin Diesel à franquia Triplo X quase doze anos após o lançamento do filme anterior, xXx: Estado de Emergência, uma sequência do longa original estrelado por Diesel em 2002 com Ice Cube no papel principal, já que Diesel havia saltado fora do projeto.
Eu suponho que os executivos da Sony, desesperados por uma franquia que fizesse lucro aos borbotões, assumiu que um retorno triunfal do astro de ação careca ao protagonismo da série poderia ter um efeito bilionário semelhante ao causado por ele na série Velozes & Furiosos.
Quer dizer... Faz sentido, não?
De uma maneira bastante rasa, na superfície do nosso cérebro de lagarto, nós podemos entender como um executivo de Hollywood chegaria à essa conclusão. Velozes & Furiosos, afinal de contas, está longe de ser um grande filme. Está longe de ser uma franquia repleta de filmes bons. Os melhores, de divertidos não passam, e os piores são ruins de uma forma quase inocente de tão honesta. Mas são máquinas de grana, especialmente após a trágica morte de Paul Walker dar um boost melancólico a série de corridas de carro que começou copiando descaradamente a trama de Caçadores de Emoção. Em suma, conforme atestam Velozes & Furiosos e Transformers, um filme não precisa ser bom pra fazer dinheiro. Nós cansamos de ver bombas se tornarem sucessos bilionários, e os nove zeros parecem ser o número mágico perseguido por todos os estúdios, então, por que não tentar ressuscitar a franquia Triplo X e faturar um bilhão com um filme ruim?
Eu passei longe de xXx: Reativado quando o longa estreou aqui em janeiro. Óbvio que ver Diesel com quase 50 anos posando de atleta de esportes extremos enquanto arranca suspiros de todas as gatinhas era coisa pra home vídeo e olhe lá.
Foi no sábado que, sem muitas opções na locadora, resolvi encarar o longa do brucutu nerd, e, posso dizer que, por mais que Triplo X: Reativado não tenha passado longe do bilhão, sendo, inclusive, um fracasso de bilheteria doméstica apesar da boa carreira internacional, a Sony certamente sucedeu em fazer um filme de ação ruim.
O longa começa com Augustus Gibbons (Samuel L. Jackson, veterano da série), tentando recrutar Nilmar para o programa Triplo X. O encontro da dupla é interrompido pela queda de um satélite que, nós descobrimos, foi utilizado como uma arma, sendo, literalmente, jogado do céu na cabeça do espião.
Isso foi possível graças à uma engenhoca chamada de Caixa de Pandora. Um dispositivo de vigilância criado pela NSA que, por alguma razão, pode ser utilizado para derrubar satélites, o potencial destrutivo da arma é absurdo, já que há mais de trinta mil satélites em órbita ao redor da Terra. O aparelho é roubado por um grupo de agentes multinacionais incrivelmente extremos liderados por Xiang (Donnie Yen, de Rogue One), e composto por Serena (a modelo e atriz indiana Deepika Padukone), Talon (o astro de cinema tailandês Tony Jaa) e Hawk (o campeão dos pesos médios do UFC Michael Bisping), que passam por cima da CIA e da NSA como se não fossem nada.
O sumiço da Caixa de Pandora obriga a agente Jane Marke (Toni Collette), sucessora de Gibbons a procurar alguém capaz de transitar no submundo e realizar prodígios tão absurdos quanto os ladrões, e o único homem capaz de fazê-lo foi dado como morto há mais de dez anos.
Mas Xander Cage (Vin Diesel) não morreu.
O ex-Triplo X forjou a própria morte, e hoje passa seus dias usando suas insanas habilidades nos esportes radicais para levar TV via satélite aos pobres da América do Sul (é sério). Após comer a guria mais gostosa da região e sentir que seu trabalho estava terminado, Cage está pesquisando seu próximo quando é abordado por Marke.
Inicialmente reticente em retornar à vida de agente secreto, Cage muda de ideia ao saber da morte de Gibbons, e reassume seu posto, sendo reativado.
Usando sua rede de contatos, Cage monta uma equipe tão insanamente extrema como a de Xiang, composta pela atiradora de elite Adele (a gatinha Ruby Rose), o motorista Tennyson Torch (o Sandor Clegane Rory McCann) e o... Pegador...? DJ...? Eu não sei ao certo o que Nicks, personagem de Kris Wu faz, já que sua habilidade principal, de acordo com o cartão que o apresenta, é ser "divertido de ter por perto".
Enfim, esse grupo de personagens extremos terá que perseguir o outro grupo de personagens extremos para tentar recuperar a Caixa de Pandora, vendo-se envolvidos em uma conspiração que alcança os mais altos escalões das agências de inteligência dos EUA.
Sim, conforme eu disse ali no começo, é muito ruim.
O roteiro de F. Scott Frazier poderia ter sido escrito com giz de cera em um guardanapo no bar após dez minutos de bebedeira, e a direção de D. J. Caruso (de Controle Absoluto e Eu Sou Número Quatro) é vergonhosamente genérica, beirando a má vontade, a trilha sonora inexiste, e as atuações são algo entre canhestras (Vin Diesel posando de galã com a sua cara de tiozão da venda) e constrangidas (Toni Collette, tentando manter uma expressão séria enquanto vomita o texto expositivo que cabe à sua personagem). Nem mesmo as cenas de ação, que poderiam ser um fator diferencial para um longa da estirpe acertam, com CGI meia-boca e proezas acrobáticas mornas que ignoram as leis da física. O que se salva são as breves cenas de luta de Donnie Yen, a cara de marrenta de Ruby Rose atirando nos caçadores de leões e Nina Dobrev interpretando aquela proverbial nerd-gostosa-demais-pra-ser-real de maneira simpática.
O longa tenta mostrar que é maneiro da forma mais começo dos anos 2000 possível com resultados algo embaraçosos, como o casação de peles, o ménage à sept ou as piadinhas infames que todo mundo arrota em um momento ou outro.
Eu, francamente, não creio que haja uma audiência capaz de assistir xXx: Reativado e pensar que é bom, nem mesmo o fã-clube de Vin Diesel deve gostar de ver o astro pagando mico fingindo que anda de skate, e, apesar de tudo isso, o longa ainda mostra participações especiais em seu clímax, e se encerra acenando descaradamente com a possibilidade de uma sequência que, sejamos francos, o próprio Diesel já tinha sacado que não funcionaria quando se negou a fazer xXx 2 lá em 2005.
Se estiver muito curioso, espere passar na Temperatura Máxima da Globo em alguns anos, talvez, num domingo de tarde, seja um programa menos indigesto.

"-Bem, quem é você?
-Eu sou Triplo X."

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