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quarta-feira, 6 de dezembro de 2017

Resenha DVD: Atômica


Quando o trailer de Atômica caiu na internet alguns meses atrás eu realmente fiquei com vontade de ver o filme. Não apenas por parecer um James Bond de saias, ou acenar com uma sequência de sexo lésbico entre a protagonista Charlize Theron e Sofia Boutella, ou mesmo por ser um longa de David Leitch, co-diretor de De Volta ao Jogo, que prometia pancadaria de fundamento no longa metragem, mas por todos esses fatores combinados ao talento de Charlize Theron que, depois do festival de canastrice de Velozes & Furiosos 8, precisava de algo para se redimir...
Não consegui assistir ao filme no cinema. Ando preguiçoso com cinema esse ano. E desapontado... Mas peguei o filme pelo pé assim que ele chegou à locadora nessa semana, e o assisti ontem.
Atômica narra a história de Lorraine Broughton (Theron) uma espiã do MI-6 britânico que, às vésperas da queda do muro de Berlim, é incumbida de viajar à Alemanha para investigar o assassinato de um colega e recuperar arquivos confidenciais com uma lista de nomes de agentes duplos.
Para tanto, ela entrará na Alemanha sob o disfarce da representante legal da família do agente falecido tentando recuperar o cadáver. Usando a rede de contatos do agente David Percival (James McAvoy), chefe da estação britânica em Berlim, ela vai mergulhar de cabeça em uma intrincada trama de enganação e espionagem durante os estertores da Guerra Fria, onde ela precisará usar toda a extensão de seu vasto rol de habilidades para, mais do que cumprir sua missão, sobreviver à ela, em um arriscado jogo onde as únicas opções são vencer ou morrer...
É justo dizer que, se Atômica se chamasse "Atômico", e fosse exatamente o mesmo filme, mas estrelado por um homem... E não necessariamente um mau ator, mas por um sujeito de razoáveis habilidades dramáticas, tal qual um Chris Evans ou Charlie Hunnam, provavelmente seria um lançamento direto pra DVD para o qual ninguém ligaria.
Muito da graça de Atômica vem do fato de termos uma loira bonita e de aparência delicada caindo na porrada e fazendo proezas físicas como saltar de uma sacada usando uma mangueira de jardim como corda de segurança, ou saindo no braço com meia-dúzia de policiais alemães em um apartamento... Se tivéssemos um sujeito boa-pinta com físico de action hero no papel, não teria nem metade do impacto.
Especialmente porque Atômica não chega a ser um primor em sua trama algo genérica. O roteiro de Kurt Johnstad, baseado no gibi de Antony Johnston e Sam Hart é uma correta história de espionagem durante a Guerra Fria que, vez que outra, escorrega na hiper-exposição e chega a dar a impressão de se achar mais esperto do que realmente é, fato que podemos relevar pelo voto de confiança que Leitch e Johnstad dão à audiência ao suprimir praticamente qualquer informação a respeito de Lorraine além de um breve resumo de seus conjunto de habilidades e um breve flashback onde revela-se que ela teve um envolvimento com o agente cuja morte catalisa a história.
Com um intérprete menos hábil no papel central, o longa poderia ser um daqueles filmes que passam de tarde no Telecine Action; por sorte, a estrela é Charlize Theron, que transpira talento.
A protagonista pega a falta de background da personagem e usa isso para torná-la genuinamente misteriosa. Ao invés de vazia, ela se torna ensimesmada.
Ela tem um olhar de mormaço, um quê de diva enfarada, que torna seus prodígios físicos convincentes. Quando Lorraine ri da expressão "superiores" durante o interrogatório pós-missão, nós concordamos com ela. Os burocratas engravatados do outro lado da mesa não são seus superiores. Lorraine anda o tempo todo preparada para ser atacada tanto por ser espiã quanto por ser uma mulher. Sua "poker face" é sua primeira linha de defesa antes de pontapés, murros, tiros e facadas, e porque sua poker face é convincente, também são suas sequências de ação.
E elas são ótimas. As lutas são encenadas com garra pela sul-africana, e em nenhum momento ela parece super-humana ao enfrentar marmanjos com o dobro de seu tamanho. Ela se arrebenta inteira, e precisa usar técnica e surpresa para subjugar seus antagonistas, quando isso não funciona, as lutas se tornam mais complicadas para Lorraine e ela apanha um bocado, precisando improvisar para sobreviver em sequências de ação ao melhor estilo The Raid, filmadas com galhardia por Leitch, por vezes em tomadas sem cortes visíveis onde a câmera persegue os lutadores pelo cenário.
Somando-se ao talento dramático de Theron e à mão privilegiada de Leitch pra pancadaria, há uma fotografia bem sacada de Jonathan Sela, que deixa tudo meio cinzento a maior parte do tempo, contrastando com neons vermelhos e azuis estrategicamente posicionados nas decorações do filme, e uma trilha sonora com tudo a que uma ambientação oitentista tem direito.
No elenco há Toby Jones, James Faulkner, Sofia Boutella, Til Schweiger, Bill Skarsgård, Eddie Marsan e John Goodman, mas não tem pra ninguém:
Charlize Theron desfila majestosa por cada cena memorável do filme, e o carrega em suas costas delicadas durante pouco menos de duas horas oferecendo ao que seria um filme esquecível a chance de se tornar um bom programa.
Vale a locação.

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