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segunda-feira, 11 de dezembro de 2017

Resenha DVD: Em Ritmo de Fuga


Eu tenho, e já admiti, uma implicância inexplicável com musicais. Uma aversão à ideia em si, que não necessariamente se traduz em aversão aos exemplares que eu me arrisco a, de fato, assistir... Mesmo filmes como La La Land, que me causava urticária à sua simples menção à época em que era só do que se falava nas conversas sobre cinema, são espetáculos que, no momento certo, sob a devida atmosfera, se tornam passatempos dos quais eu sou capaz de usufruir e torno-me incapaz de odiar após conferir, ainda que me dispusesse a fazê-lo com grande entusiasmo, antes.
Li muito pouco sobre Em Rito de Fuga antes do lançamento do filme, mas uma das coisas que li, sobre o longa ser baseado em um videoclipe dirigido por Edgar Wright, o gênio por trás da trilogia Cornetto e de Scott Pilgrim Contra o Mundo, foi o suficiente para me fazer ignorar o filme durante sua breve passagem pelo circuito de cineplexes em Porto Alegre (ou ao menos parece-me que foi breve. Não tenho certeza pois não prestei atenção).
De qualquer sorte, pouco impressionado com a premissa do jovem boa-pinta que é piloto de fuga após Carga Explosiva e Drive, eu deixei o filme pra lá.
Até sexta, quando, ao passar pela locadora, na falta de algo mais para ver, acabei locando o filme, e percebendo o tamanho do meu erro em tê-lo ignorado no cinema.
Em Ritmo de Fuga conta a história de B-A-B-Y, Baby (Ansel Elgort), um jovem que é um capeta atrás de um volante e usa suas incríveis habilidades como motorista a serviço de Doc (Kevin Spacey).
Doc é um chefão do submundo, especialista em organizar assaltos. Ele jamais usa a mesma equipe duas vezes, embora trabalhe geralmente com as mesmas pessoas. A única coisa constante nos trabalhos organizados por Doc é Baby, o piloto de fuga que sempre escapa e que se tornou um tipo de amuleto para Doc com o passar dos anos.
O acordo de Doc com Baby é ligeiramente diferente do acordo dele com seus demais contratados. Ainda criança Baby roubou um carro de Doc. O veículo estava carregado com bens valiosos e, em troca do perdão por sua falta, Baby tem trabalhado para Doc desde então e devolvido a imensa maioria dos lucros do serviço ao seu empregador para saldar sua dívida.
Introspectivo Baby, que sofreu um acidente automobilístico na infância que o deixou com um zumbido no ouvido, está sempre com fones escutando música. Isso faz com que o mundo dance ao redor de Baby ao som do que quer que ele esteja ouvindo no momento.
O som, ele explica, o ajuda a se concentrar, e dirigir perigosamente é a sua única válvula de escape.
Dirigir e gravar fragmentos de conversas ao seu redor e os transforma em breves remixes musicais que o ajudam a manter-se conectado com seu dia após dia.
Mas o trabalho como piloto de fuga é apenas uma pequena parte da vida de Baby. E, embora seja uma com a qual ele tem que lidar, não é a mais importante.
A música é importante. Seu pai adotivo Joseph (C. J. Jones), que gosta de sanduíches com a pasta de amendoim espalhada até as beiradas do pão e de "ouvir" música através das vibrações das caixas de som de casa é importante, e, quando Baby acerta sua ´divida com Doc, a garçonete Debora (Lily James) também se torna uma parte importante da vida de Baby, que se prepara para se endireitar e deixar o passado de crime pra trás.
Ao menos até Doc ressurgir à sua porta com uma oferta que Baby, literalmente, não pode negar, colocando o jovem piloto e todos a quem ele ama em risco.
Em Ritmo de Fuga é ótimo.
O longa dá uma respirada em meio a super-heróis, robôs gigantes, remakes e sequências para ser apenas um bom filme de assalto à moda antiga. Mesmo se fosse apenas isso, Em Ritmo de Fuga já mereceria um aplauso ou a deferência de uma espiada, mas Edgar Wright tem muito mais a oferecer.
Vários diretores são capazes de escolher grandes trilhas sonoras, alguns conseguem transformar a trilha em personagens, mas Wright vai além, ele torna a trilha um personagem imprescindível, trabalhando sempre em uníssono com a ação na tela desde a primeira ótima sequência de perseguição do longa após Darling (Eiza Gonzáles), Buddy (Jon Hamm) e Griff (Jon Bernthal) assaltarem um banco no centro de Atlanta.
Dali pra frente, nós passamos o tempo inteiro esperando pela próxima canção, e como ela irá se encaixar para embalar o mundo quando sair de um dos inúmeros I-Pods de Baby.
As ótimas sequências de ação e uma trilha inspirada, porém, são apenas parte do cardápio.
Wright manja demais de escolher elencos, e não faz diferente aqui.
Ansel Elgort, Lily James e C.J. Jones são adoráveis, cada um a seu modo. Não estamos apenas torcendo por eles, estamos REALMENTE torcendo por eles. Nos importamos com esses personagens e queremos que eles fiquem bem.
Seria muito fácil contrapor esse trio de gente-boas a um bando de vilões escrotos uma barbaridade, mas não é o que ocorre aqui.
Mesmo vilões óbvios como o Doc de Kevin Spacey e o Bats de Jamie Foxx têm profundidade, e conseguem ser tão divertidos ou ternos quanto perigosos quando o momento se apresenta.
Não há personagem que não tenha sido cuidadosamente imaginado por Wright, que além de diretor é o roteirista do filme, como uma pessoa real, com dimensões e profundidade, da balconista dos correios ao sobrinho de Doc, passando pelo assaltante que trocou a tatuagem da palavra Hate (ódio) em seu pescoço por Hat (chapéu) e o desenho de um chapéu para melhorar suas chances de conseguir um emprego porque, afinal, quem não gosta de chapéus?
A mão privilegiada de Wright para equilibrar ação, tensão e comédia não é novidade para quem acompanha seus outros trabalhos, e esse balanceamento beira tanto a perfeição neste filme que eu me peguei realmente lamentando que o cineasta tenha saltado fora de Homem Formiga.
Em pouco menos de duas horas de ação, adrenalina, comédia e música, Edgar Wright e companhia fizeram, senão um dos melhores filmes, certamente uma das mais divertidas sessões de cinema do ano, seja num cinema de verdade, ou no sofá de casa.
Certamente vale a locação.


"-Quer dizer, ele é retardado?
-'Retardado' significa 'lento', ele foi lento?"

Um comentário:

  1. Sempre gostei da filmes. São muito interessantes, podemos encontrar de diferentes gêneros. De forma interessante, o criador optou por inserir uma cena de abertura com personagens novos, o que acaba sendo um choque para o espectador. Desde que vi o elenco de Em Ritmo de Fuga imaginei que seria uma grande produção, já que tem a participação de atores muito reconhecidos, pessoalmente eu irei ver por causo do ator Ansel Elgort, um ator muito comprometido. Em Ritmo de Fuga é uma historia que vale a pena ver. Para uma tarde de lazer é uma boa opção. A direção de arte consegue criar cenas de ação visualmente lindas.

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