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quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Rapidinhas do Capita


-Cuidado... - Ela avisou, enigmática. - ...Por mais que tu tente não demonstrar, tu vai acabar te apaixonando por mim, guri.
Ele riu, olhando-a enquanto ela entrava no Orient Express logo atrás de Hercule Poirot e do capitão Arthur Hastings. Só depois que o apito do trem soou e ela acenou da janela com um lenço vermelho e púrpura horroroso foi que ele se deu conta, de que, se Poirot estava no Orient Express, é por que iria ocorrer um crime! Desesperado correu pela linha férrea atrás da composição, mas não foi capaz de alcançá-la. Tentou contato pelo celular, mas não havia área de cobertura, amaldiçoou a Claro.
Acordou suado na cama, e sentiu um breve alívio ao perceber que fora um sonho. Ela não viajara no Orient Express, e, quando ocorreu o assassinato no famoso trem, Hastings não estava junto com Poirot, ele sabia disso, já lera aquele livro inúmeras vezes. Tentou voltar a dormir mas não conseguiu.
Achou melhor mandar uma mensagem de uma forma ou de outra, afinal, estava, de fato, apaixonado por ela, era melhor ter certeza.

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Estavam sentados lado a lado a Jessica e o Rubens, no banco de um shopping qualquer. Ela parecia emburrada, ele não parecia emburrado, mas dava pra ver, pelo modo como balançava insistentemente o pé da perna que pendia cruzada no ar, que ele estava, também, fulo.
Ela mexia na bolsa, casualmente, com fingido desinteresse, mas bufava. Chegou um momento em que não aguentou:
-Sabe qual é o maior problema? Não vou nem dizer todos, vou ficar só no maior, o maior problema é tu ser incapaz de acenar com um sinal, mínimo que seja de reciprocidade, um feedback, unzinho que fosse, já seria bom, mas até isso é pedir demais pra ti, aí fico eu, boiando, sem saber de nada, sem saber o que esperar, e tu aí, com essa cara de paisagem.
-E o que tu queria? - Ele perguntou, olhando pro outro lado. - Que eu passasse o tempo todinho te dizendo coisas românticas? Recitando Pablo Neruda? Cantando canções da Sade, e entalhando corações em todas as árvores do mundo com teu nome junto ao meu?
Sua voz respingava sarcasmo. Ela bufou se levantando.
-Não. Eu nunca esperaria tanto de um retardado emocional que nem tu. Mas, se ao menos a gente combinasse um sinal, pra que quando eu perguntasse "Tu gosta de mim?", eu ouvisse alguma resposta, ou visse uma resposta, nem que fosse um mindinho balançando.
Ela se levantou e saiu caminhando. Ele ficou sentado olhando ela ir embora de cara amarrada, mas depois que ela virou a esquina, ele balançou, quase casualmente o dedo mínimo.

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