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sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Pensando um pouco


Era homem de nãos o Alberico. Não que fosse uma pessoa negativa, não o era, quando muito realista. Mas tinha uma facilidade tremenda para dizer "não". Dizia "não" a tantas coisas, que quem lhe era caro estranhava ao ouví-lo enunciar um "sim", por insignificante que fosse. Aliás, eram tão raros os sins de Alberico, que todos tinham significado. Quando Alberico dizia "sim" a alguém, a pessoa em questão tinha certeza de que era importante para ele.
Os nãos de Alberico eram definitivos e incondicionais, por mascarados que eventualmente estivessem, travestidos de "vamos ver", ou "quem sabe na próxima", não eram, nunca, passíveis de negociação. Entretanto, eram seus raros sins igualmente definitivos, inapeláveis, inteiros.
Alberico jamais tinha o não ou o sim na ponta da língua. Jamais despejava um ou outro de sopetão. Não. Alberico sempre pensava após ouvir um pedido ou proposta, ficava em silêncio por algum tempo, e apenas então, é que dava sua resposta em tom de veredito.
Quem não conhecia Alberico corretamente, não entendia seus "não" e "sim", tampouco seus longos silêncios, mas Alberico tinha razão para tal.
Vira, durante toda a sua vida, pessoas serem massacradas por não terem pensado um pouco antes de tomar uma decisão. Antes de realizar algo. Antes de dar uma resposta.
Alberico aprendera através de exemplos a importância de jamais tomar uma decisão no calor do momento, guiado por emoções. Ele viu pessoas tomando decisões idiotas em momentos de raiva ou empolgação extremados e depois tendo que voltar atrás com o rabo entre as pernas, e jamais conseguiu ver essas pessoas com o respeito de antes. Alberico aprendeu que era importante manter a cabeça fria, e pensar, pensar muito e bem. Por isso Alberico pensava antes de falar, e por isso seus "sim" e "não" eram definitivos.
Alberico sabia que pensar um pouco jamais fizera mal a ninguém.

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