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quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Mãe Não Entende Nada


Você imagina a cena:
O moleque entra lépido pela porta da frente. Joga a mochila no chão, perto do cabide e brada a plenos pulmões:
-Mãe, cheguei!
A mãe, tranquila, lê uma Nova enquanto sorve uma xícara de café em frente à TV ligada com o volume no mínimo, diz alto:
-Limpa os pés.
O moleque entra na sala, está suado, seus calções estão empoeirados, a mãe nem ergue os olhos da Nova:
-Oi, meu filho. Como foi na escola? Que sujeira é essa?
O moleque não consegue conter o sorriso em seu rosto.
-Joguei bola na educação física.
A mãe, sem expressão, comenta monocórdica:
-Que legal.
-E meu time ganhou! - Diz o fedelho, transpirando entusiasmo. E continua:
-Eu joguei na defesa, de zagueiro central, né? E era contra os guris da oitava, tudo uns monstros de grandes! Tem um que até barba tem, mãe! E o Vitinho disse pra mim que eu não ia conseguir marcar o Pereira, mas eu marquei, mãe, ele fez só dois gols, parece um monte, eu sei, mas ele sempre faz quatro, cinco! Eu marquei ele o tempo todo, fiquei todo sujo de me jogar no chão na frente da bola quando ele chutava, mas consegui, eu marquei ele o tempo inteiro, e ele só fez dois gols, e um foi de cabeça, por que ele, tipo, é muito mais alto que eu, né? Aí não deu pra marcar ele por cima. No final do jogo, tava seis a cinco pra nós, o Luciano fez quatro gols, mas também, só ficava parado lá na frente, tava todo mundo de cara com ele por que, tipo, ele nem ajudou na marcação, só ficava lá pescando, e aí qualquer um faz quatro gols. Mas então, tava seis a cinco pra nós, e o Pereira dominou a bola na entrada da área assim, tipo, dois passos fora da área, e ele chuta tri forte! Nossa, a bola assobia quando ele chuta, se ele chutasse, o nosso goleiro, o Marcelo Zurrilho, não ia nem ver a cor da bola, sabe? Então, quando ele levantou o pé pra chutar, eu me atirei no chão deslizando na areia, assim, e a bola pegou bem no meio das minhas costas, e subiu, subiu, subiu e saiu por cima do gol bem na hora em que a campainha da saída tocou. Eles ainda ficaram dizendo que tinha que bater o escanteio e não sei o quê, mas a professora Vera veio e recolheu a bola, aí, quando eu tava me levantando, o Pereira me deu a mão e disse "Que bola.". E o Zurrilho me deu um abraço e falou que se eu não fosse tão feio me dava um beijo!
O guri fala tudo isso sem lá muitas vírgulas, e termina seu orgulhoso relato levantando a camiseta e mostrando o vergão vermelho que a bola deixou nas suas costas como se fosse o Mel Gibson no Máquina Mortífera 3.
A mãe, ainda sem erguer os olhos da Nova bebe mais um gole de café e diz:
-Mas meu filhinho, tu não é feio.
-Pô, mãe, tu não entende nada, mesmo...

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