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segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Sombrio, só, não basta


Não me lembro ao certo da ordem dos fatos, se foi antes, ou depois de ver a primeira foto de Henry Cavill vestido de Superman (o ex-super-homem, cujo nome a DC não quer mais que se traduza pra fortalecer a marca, como se aquele S estilizado vermelho sobre o fundo amarelo não fosse uma marca mais forte que as fundações da terra...), que li a declaração de Jeff Robinov, o presidente da divisão de cinema da Warner, conglomerado empresarial do entretenimento que é proprietário da DC Comics, editora de quadrinhos do Lanterna, do Batman, do Superman e etc., dizendo que, apesar do fiasco do Lanterna-Verde nas bilheterias estadunidenses, a empresa mantinha a convicção de fazer do longa uma franquia.
Até aí, beleza. Sou nerd, fã de cinema e de quadrinhos, e partidário do pensamento de que todo o super-herói e todo o gibi merece seu dia de tapete vermelho nos cinemas (minha adaptação de Planetary estrelada por Russel Crowe, Salma Hayeck e Ben Foster ainda procura por financiadores, alô, Hollywood!). Então, que bom que o resultado fraco nas bilheterias não assustou a Demoníaca Companhia, e que bom que eles seguem interessados em traduzir seus heróis ao celulóide, certo?
X-Men - Primeira Classe foi o melhor filme de super-heróis desse ano e não foi estupendo no box office gringo e eu espero que a Fox mantenha a ideia de fazer uma sequência, por que desejaria destino diferente a Hal Jordan?
Bom, a minha preocupação, na verdade, veio na declaração seguinte do executivo, que disse que o argumento que a empresa já tinha em mãos para a sequência dofilme do Lanterna sofreria mudanças de tom, para se tornar mais "ousado, sombrio e focado na ação".
OK... Eu não vi Lanterna Verde, que estréia esse mês aqui no Brasil. Eu não sei que tipo de tom o filme tem, e embora tenha ouvido quase todo mundo que já assistiu dizendo que o filme é ruim, não sei se é ruim como Quarteto Fantástico & o Surfista Prateado, que quase todo mundo concorda que é horrível, se é ruim como O Incrível Hulk, que o públco em geral não curtiu mas oito em dez fãs de quadrinhos adoraram, ou se é ruim como Watchmen, que deixou oito em dez fãs da HQ fulos, mas agradou ao público em geral. Eu não sei, não faço nem a mais remota ideia. Tendo Ryan Reynolds em mente, eu diria que é o primeiro caso. Mantenho minha suspeita, nascida do primeiro trailer do filme, que Lanterna Verde foi gerado querendo ser o Homem-de-Ferro, mas nasceu Quarteto Fantástico. Posso, claro, estar enganado. Achava que Chris Evans seria um Capitão-América bocó em um filme murrinha, e Capitão-América é muito divertido e tem uma atuação respeitosa de um Evans sob controle.
De uma forma ou de outra, enquanto Robinov declarava que queria um Lanterna mais sombrio, a própria Warner e sua parceira Legendary Pictures mostravam a primeira imagem de Superman - O Homem-de-Aço, filme que recauchuta o primeiro dos Super-heróis, com um Henry Cavill vestindo um traje azul-escuro/quase preto, com uma capa que vai até os tornozelos, e que encara a câmera com uma expressão que, de tão furiosa, deixava o herói com pinta de vilão.
Enquanto isso, via nos fóruns da internet, as pessoas elogiando o trailer do reboot das aventuras do Homem-Aranha no cinema, O Espetacular Homem-Aranha, por ser "mais sombrio e realista" do que a incursão prévia do herói nas três fitas de Sam Raimi, ao mesmo tempo em que Batman - O Cavaleiro das Trevas Ressurge (título medonho pro terceiro longa do morcego sob o comando de Christopher Nolan) era alçado a píncaros de glória por ser "sinistro", "pé-no-chão", "realista" e "cru".
Em que se pese que os Batmen de Nolan vá lá, são mesmo, tudo isso, além de serem ótimos filmes, há que se ter em mente que nem todo o super-herói casa com esse tipo de caracterização e atmosfera.
O Batman pode se dar ao luxo de ser "realista" extrapolando um pouquinho as regras e flutuando no limite do possível, embora bem além do provável ou do plausível. O personagem Batman é sombrio. É um herói nascido da tragédia, do medo, e da revolta, que abraça uma persona sinistra para mostrar aos criminosos que eles não são as criaturas mais assustadoras da noite.
Esse herói pode transitar em um espaço obscuro e cru, e aí encontrar sua melhor encarnação até aqui. Beleza. É o Batman.
Isso não vai, necessariamente funcionar com o Homem-Aranha. E nem precisa. O Homem-Aranha já mostrou em três longas metragens, sendo um ótimo, outro quase perfeito, e um terceiro meia-boca, vá, que não precisa ser sombrio. Aliás, se faltou alguma coisa aos filmes anteriores do Aranha, jamais foi sombra, jamais foi crueza, ou pés-no-chão. O Aranha de Tobey Maguire ressentia-se, sim, de um pouco mais de profundidade sem a máscara, e de tagarelice e galhofa quando trajando seu uniforme. Afora isso, e meia dúzia de detalhes técnicos que só os fãs mais chatos e exigentes cobrariam (Gwen Stacy antes de Mary Jane, lançadores de teia-mecânicos), os filmes de Raimi fncionavam sendo luminosos e carregando uma ponta de melancolia otimista. Essa atmosfera pode continuar nos filmes. O Aranha pode e deve ser uma pessoa de verdade sob a máscara, e, como uma pessoa de verdade, pode ter momentos sombrios, mas não é um personagem sombrio, muito pelo contrário.
Quem conhece sabe.
Por outro lado, esperar que o Superman seja realista é dose, um personagem que nasce em um planeta fisicamente impossível (o campo gravitacional de Krypton, uma das explicações para a gama de prodígios físicos do herói, seria de 10000 metros por segundo ao quadrado em um planeta mil vezes maior do que a terra. A gravidade, mil vezes maior que a da terra torna o planeta fisicamente impossível...), é lançado à Terra por seu pai biológico para se salvar, aqui, é adotado por um casal de fazendeiros de bom-coração que o tratam como um filho, ensinando-o o valor do sacrifício, da moral, e dos bons costumes e cresce para se tornar o inspirador guardião super-poderoso do planeta que o acolheu, defendendo-o de toda a ameaça, doméstica ou externa não tem como nem porquê ser "realista".
Impossível, todos sabemos. Não existe por quê tentar deixar isso mais realista do que já havia feito Richard Donner em Superman - O Filme, no distante ano de 1978. O Superman não precisa de mais do que aquilo exceto em excelência técnica e eventuais modernizações.
Aquele é o tom correto, é o máximo de verossimilhança (pra usar um termo cunhado por Donner) que o Superman precisa. Coisas como Lois & Clark, Superman - O Retorno e Smallville serviram apenas pra mostrar que ainda hoje, não há nada de errado com o filme de Donner. O Superman não precisa de outra origem, em Grandes Astros - Superman, Grant Morrison contou a origem de Superman em quatro quadrinhos.
Quatro!
E seguiu isso com uma das melhores histórias do personagem em todos os tempos.
O Superman também não precisa ser "mais sombrio". Ele é um personagem diferente do Batman, que funciona em uma sintonia distinta. Ele se veste com cores primárias, é azul, vermelho e amarelo, opera de dia e de noite, esconde sua identidade secreta com um par de óculos e impede que mísseis atinjam a costa oeste e salva gatos em árvores sem se despentear.
Querem mais ação em um filme do Superman? Beleza, eu também quero.
Coloquem Darkseid ou Mongul a invadir a terra. Um Metallo movido a Kryptonita em seu caminho, ressucitem Zod, Ursa e Non, ou transformem um engenheiro incauto no Parasita. Mas não queiram que o Superman seja outro personagem. Ele passou setenta anos nas HQs sem precisar disso.
O êxito do Batman parece ter criado, na mente estreita dos executivos dos estúdios, a ideia de que ser "sombrio", é ser realista e qualificado. Não é. Não necessariamente. Que o digam as trocentas encarnações de O Corvo, todas extremamente sombrias e de onde se salva apenas o primeiro filme, de Alex Proyas com Brendon Lee.
Ser sombrio, só, não basta. Um filme, pra conquistar público, e sucesso além do financeiro, precisa de coração e cérebro, e lembrar que, antes de mostrar sequências de ação ou apresentar personagens, precisa contar uma história. Se não houver uma história a ser contada, pra quê ir ao cinema, ler um livro, um quadrinho ou o quê quer que seja?
Mas, claro, não sou eu que vou enfiar isso na cabeça desses tacanhos. Quem vai fazer isso é a bilheteria dos cinemas, quando algo como uma versão mais sombria de Lanterna-Verde fizer um fiasco ainda mais retumbante que o modelo sessão da tarde.
Como diria Stan "The Man" Lee, um tremendo contador de histórias:
Nuff said.

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