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segunda-feira, 15 de agosto de 2011

O sorriso, sempre ele.



Não foi, de modo algum, uma surpresa para o Thales quando a Janaína o encontrou na rua após longos dias sem se falarem e, após uma breve conversa, despediu-se dizendo um "Tudo de bom.".
Tudo de bom, como todos sabem, é despedida de bêbado, que bêbados têm sua própria língua, que inclui particularidades como se despedir com "Tudo de bom", iniciar reminiscências e confissões com "Eu sou um merda", e dizer "Aê", ao invés de "ai", quando se machucam...
Afora isso, "tudo de bom.", assim, com ponto final, é algo que se diz quando se está fazendo uma despedida definitiva de alguém.
É quando a pessoa te diz, com todas as letras, inapelavelmente, que te quer bem, mas que não te quer por perto, da forma mais educada, polida, delicada e gentil possível.
Foi apenas alguns segundos após a Jana se despedir com o "tudo de bom.", quando o Thales olhou pra trás com a apreensão de um adolescente, querendo saber se ela estaria, também, olhando pra trás, que ele se deu conta do "tudo de bom." e de seu peso.
Foi quase vergando sob o peso daquela despedida que ele alcançou sua casa pensando, honestamente, se ouvira certo.
Não chegava a ser chocante, porém. Nunca fora, afinal de contas, um relacionamento fácil aquele entre a Jana e ele.
Haviam tantas e tão substanciais barreiras entre os dois, físicas ou não, que ele muitas vezes se perguntou se era justo para com ela insistir naquilo.
Acabava sempre afastando tais pensamentos ao lembrar do que sentia por Janaína. De como a possibilidade da presença dela fazia-o sentir. E do que a presença dela, de fato, fazia com ele.
Thales gostava demais de Janaína. E supunha ser correspondido. Tinha, ás vezes, quase certeza de sê-lo, em outros momentos, não conseguia imaginar o que uma mulher como ela veria um um arremedo de pessoa como ele. Mas não sabia se afastar. Não totalmente. Não de alguém que tinha o dom mágico de derrubar-lhe os mecanismos de defesa e de amainar-lhe o niilismo e a misantropia quase patológicos que o corroíam desde sempre.
Entretanto, seus defeitos, amainados que estivessem, ainda eram defeitos e, como tal, ainda gerariam desconforto a quem quer que tentasse se aproximar de Thales.
Mesmo alguém especial como Janaína eventualmente acabaria encontrando seu limite.
E ela encontrou.
Thales não sentiu susrpresa. Não se sentiu traído ou enraivecido. Sentiu pesar, sim. Sentiria ainda por muito tempo enquanto juntasse seus cacos. De toda a sorte, sobreviveria. Viveria um dia de cada vez como fazia sempre. E lembraria dela em todos. De suas sombrancelhas. De seus olhos. Dos cabelos, da voz e mesmo das lágrimas, sim. Mas especialmente do sorriso.
Aquele sorriso. Sempre ele.
Sorrisos como o dela iluminavam até o mais sombrio dos pesares. E traziam reticências até ao mais duro dos pontos finais.

2 comentários:

  1. Não tem como explicar o que senti quando li seus textos , são perfeitos . Juro . Tem algo em você que nunca encontrei em mais ninguém. Parabéns cara , sou sua fã ! (:

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  2. Puxa, obrigado. Venha sempre que quiser, a casa do Capita é sua :)

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