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segunda-feira, 16 de outubro de 2017

Resenha DVD: Velozes e Furiosos 8


Quando assisti ao sétimo filme da franquia Velozes & Furiosos eu disse que aquele filme não entraria para a história do cinema de nenhuma outra maneira que não fosse como "o filme divertido mais triste de todos os tempos".
Eu estava enganado.
Velozes & Furiosos 7 também entrou para a história como um dos filmes a arrecadar mais de um bilhão de dólares em bilheteria, o que, eu sei, não chega a ser impressionante hoje em dia como foi na época de Titanic, mas ainda é um marco financeiro que, por exemplo, Batman vs Superman: A Origem da Justiça, não conseguiu alcançar, e que é profundamente celebrado por qualquer filme.
Enfim, V&F7 fez mais de um bilhão e meio de dólares, muito (acho que todo mundo concorda) por conta da comoção em torno da morte prematura de Paul Walker, e tornou o lançamento de um oitavo filme tão financeiramente obrigatório na visão do estúdio quanto dispensável do ponto de vista narrativo, já que o final do sétimo filme seria o fecho perfeito para a "septalogia".
De qualquer forma, se uma coisa ficou clara ao longo de todos esses anos, foi que a narrativa jamais foi o foco central da construção desses filmes, de modo que Velozes e Furiosos 8 estreou em abril desse ano, e, a despeito das brigas públicas entre os membros do elenco, notadamente Vin Diesel e The Rock, o oitavo longa da série arrebanhou mais de um bilhão e duzentos milhões de dólares em bilheteria, e pavimentou o caminho para Velozes 9, 10, e para um spin-off que deverá ser lançado em breve, estrelado por Jason Statham e Dwayne Johnson.
Mesmo assim, eu não fui uma das pessoas a ir ao cinema ver Velozes e Furiosos 8, e, francamente, já tinha visto o filme pendurado na estante da locadora mais de uma vez e não tinha dado muita bola. Mas no sábado a curiosidade e a preguiça venceram o senso crítico, e eu catei o DVD pra tentar assistir no domingo à noite, e, conforme eu esperava, Velozes & Furiosos segue apostando pesado no absurdo em nome da diversão, mas, pra ser bem franco, esse longa é bem mais absurdo do que divertido.
Na trama Dom Toretto (Diesel) e Letty (Michelle Rodriguez) estão curtindo lua de mel em Havana quando o brucutu é abordado por Cipher (Charlize Theron). A loura é uma versão de dreadlocks de um autêntico vilão de filme de James Bond, com recursos, planejamento e ilusões de domínio global que conta com um ás tão poderoso na manga que cata Toretto pelas bolas, colocando-o no cabresto, e o jogando contra a sua família.
Na próxima missão de Dom e Letty com Luke Hobbs (Dwayne "The Rock" Johnson), Tej Parker (Chris Ludacris Bridges), Roman Pearce (Tyrese Gibson) e Ramsey (Natalie Emmanuel), recuperando um protótipo de arma de pulso eletro-magnético de uma fábrica em Berlim, Toretto se volta contra Luke, roubando o dispositivo, e abandonando sua equipe para se juntar à Cipher.
A loira planeja roubar um submarino nuclear russo totalmente armado e operacional, e o dispositivo de PEM é a primeira peça do quebra-cabeça, e com Toretto a seu lado, a única coisa impedindo a hacker de começar a terceira guerra mundial, é a equipe de Dom, que é recrutada pelo Sr. Ninguém (Kurt Russell) e seu ajudante júnior "Ninguémzinho" (Scott Eastwood) para trabalhar ao lado de Hobbs e do criminoso Deckard Shaw (Jason Statham) para realizar sua tarefa mais complicada até hoje.
O diretor F. Gary Gray, de Uma Saída de Mestre e Straight Outta Compton: A História do N.W.A. pouco acrescenta à série, que já deixou claro que independe de cineasta para entregar o que a audiência aprendeu a esperar dos filmes da franquia, e, nesse ponto, o roteirista Chris Morgan não se faz de rogado, e entrecorta uma sequência de ação ridiculamente exagerada à outra com discursos breves a respeito da importância da família, o mantra máximo da série já há bastante tempo.
O resultado, porém, está muito mais próximo do morno Velozes & Furiosos 4, pior filme da franquia exceto por +Velozes, + Furiosos, do que de Velozes & Furiosos: Desafio e Tóquio, e Velozes & Furiosos 5: Operação Rio, certamente os momentos mais divertidos da série.
Não me entenda mal, VeF8 ainda é um programa bastante aproveitável quando comparado com horrores que vemos na temporada dos blockbusters, como os Anjos da Noite, Resident Evil e Transformers da vida, mas a verdade é que a queda de qualidade é tão flagrante quanto o potencial desperdiçado.
Em cento e trinta e seis minutos de filme poderia-se usar um pouco desse tempo para engrossar sua trama além de bravado macho e explosões. Não me entenda errado, eu curto bravado macho e explosões tanto quanto qualquer outro marmanjo criado com heróis oitentistas, mas hoje Velozes & Furiosos é uma franquia que poderia se dar ao luxo de ir além do óbvio já que angariou uma fiel base de fãs e tem recebido mais e mais investimento da Universal, já que virou a galinha dos ovos de ouro do estúdio.
Outra questão que incomoda é o desperdício.
Usar o talentoso Kristofer Hivju como um capanga e nem mesmo torná-lo fisicamente ameaçador é um tiro no pé, escolher Charlize Theron para ser a vilã do longa depois de Mad Max: Estrada da Fúria, e não colocá-la atrás de um volante ou trocando bordoadas com alguém, para tê-la trancada em um avião invisível gritando ordens para uma tela é simplesmente ridículo, e o mesmo se aplica a quase todo o gigantesco elenco de apoio que, na maior parte do tempo, não tem o que fazer exceto lembrar à audiência como Dom é fodão.
Por mais que nós saibamos como esses filmes funcionam, dentro de qual conjunto de regras eles operam, eles não se tornam impermeáveis à crítica. Tome James Bond por exemplo.
A estrutura está sempre lá, mas não faz mal nenhum ter um roteirista capaz de escrever diálogos e um diretor capaz de fazer a audiência prestar atenção à tela quando não há carros explodindo.
Por mais que se fale que a franquia vá se encerrar em seu décimo lançamento, não faria mal nenhum aproveitar os próximos dois longas para oferecer algo além do que temos visto até aqui.
Todo mundo sabe que o destino de Velozes & Furiosos é o sucesso nas bilheterias, não há razão para não tornar o trajeto até lá um pouco mais aprazível.
Apesar dos defeitos, o longa distrai por duas horas e quinze minutos, basta saber que se está entrando numa montanha-russa.
Vale a locação.

"-Tô apaixonado...
-De novo: Não. Não. Esse é um carro de exposição de um milhão de dólares. O ponto aqui é não chamar atenção.
-É psicologia reversa. Dom nunca vai ver isso se aproximando.
-É laranja néon. A Estação Espacial Internacional vai ver isso se aproximando."

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