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terça-feira, 24 de abril de 2018

Resenha DVD: Viva: A Vida é uma Festa


Os caras da Pixar só podem ter um pacto com o demônio...
Não há outra explicação para o sucesso de todas as empreitadas do estúdio, exceto, claro, talento puro. É, afinal de contas, o mesmo pessoal por trás de Procurando Nemo, Wall-E, UP! e DivertidaMente. As pessoas que nos fazem torcer pro filme ser em 3D, para ninguém nos ver fazer fiasco chorando no cinema.
A exemplo do que geralmente acontece com animações no Brasil, foi difícil (pra não dizer virtualmente impossível) encontrar uma cópia de Viva: A Vida é uma Festa em seu idioma original nos cinemas de Porto Alegre, e, com a qualidade duvidosa das dublagens de hoje em dia, eu me abstive de ver o longa em tela grande, aguardando pacientemente até o lançamento em home-video, o que aconteceu na semana passada.
E, na madrugada de sábado, me sentei no sofá de casa pra conferir a história do menino Miguel Rivera (voz de Anthony Gonzalez).
Aos doze anos de idade, Miguel tem como maior sonho se tornar um músico. Ele idolatra Ernesto de la Cruz (Benjamin Bratt), o mais notável filho do vilarejo onde mora.
Ernesto fez grande sucesso nas décadas de 1920 e 30, até morrer atingido por um sino durante um show, mais ainda é lembrado e reverenciado por toda a vila de Santa Cecília. Bem... Quase toda.
A verdade é que a família de Miguel odeia música.
Muitos anos atrás Imelda, tataravó de Miguel foi abandonada por seu marido, que deixou família para perseguir seu sonho de se tornar um músico e jamais voltou. Sozinha com a filha, Imelda precisou se sustentar, e descobriu-se uma sapateira de mão cheia. A música havia destruído sua família, mas os sapatos a salvaram.
Imelda viveu de sapatos, assim como sua filha, sua neta, seu bisneto, e assim seria para sempre. Os Rivera seriam sapateiros, e a música estava banida do seio daquela família para nunca mais voltar.
É por isso que Miguel não conta a seus pais ou sua avó a respeito de suas aspirações musicais. O menino mantém sua paixão oculta de todos, até que, às vésperas do Dia dos Mortos, Miguel casualmente faz uma acachapantes descoberta: O seu tataravô, o homem que abandonou vovó Imelda anos e anos atrás, foi ninguém menos que Ernesto de la Cruz!
A foto de sua tataravó no altar da família não deixa dúvidas. Ao lado de Imelda no retrato, o homem cujo rosto foi cortado do quadro carrega o glorioso violão branco do cantor, veste roupas de mariachi... De repente tudo faz sentido. É claro que Miguel tem gosto pela música. Ele é descendente do maior cantor de todos os tempos. Sua própria herança é a música.
Mas sua família discorda. Música não tem lugar entre os Rivera.
Frustrado, Miguel foge de casa preparado para desafiar sua avó e participar de um show de talentos. Para isso, ele invade o mausoléu de Ernesto de la Cruz para pegar emprestado o violão de seu ídolo e tataravô e é neste momento que algo fantástico acontece, e Miguel é transportado para o mundo dos mortos.
Ele encontra os membros falecidos de sua família, que, no dia dos mortos, podem vir ao nosso mundo para rever os parentes e receber suas oferendas, incluindo a vovó Imelda, que se dispõe a mandá-lo de volta ao mundo dos vivos sob a condição de que ele nunca mais pense em se dedicar à música. Obviamente Miguel não aceita essa condição, e resolve procurar Ernesto de la Cruz, que é seu parente de sangue, com o poder de enviá-lo de volta ao mundo dos vivos com uma benção, e um músico, capaz de entender e partilhar sua paixão. O problema é que Miguel tem apenas até o nascer do sol para retornar, ou então ficará preso para sempre no mundo dos mortos, e não faz nem ideia de onde encontrar seu ídolo. Para sua sorte, ele encontra Hector (Gael Garcia-Bernal), um pândego que precisa urgentemente ter sua foto em algum altar para ser lembrado, ou então desaparecerá para sempre, e se dispõe a ajudar Miguel a encontrar de la Cruz em troca de espaço e oferendas em algum altar.
Juntos os dois empreendem uma mágica viagem pelo mundo dos mortos, correndo contra o tempo para garantir que Miguel possa retornar ao seu lar sem precisar abandonar o seu sonho, em uma jornada que desvelará os segredos da família Riviera expondo a verdadeira herança de Miguel.
Sim.
Viva: A Vida é uma Festa está no mesmo patamar de Wall-E, Procurando Nemo e DivertidaMente, logo abaixo de UP! - Altas Aventuras, que, ao menos pra mim, segue insuperável. A fábula sobre família e arte embalada por uma verdadeira homenagem à cultura mexicana (estou surpreso por não ter ouvido ninguém bradar contra apropriação cultural, mas talvez eu esteja apenas desinformado...) é mais um dos clássicos instantâneos do estúdio fundado por Steve Jobs.
A odisseia de Miguel pelo mundo dos mortos consegue ser obcecada pela morte e uma afirmação da vida ao mesmo tempo, é cheio de piadinhas realmente engraçadas e pequenos momentos de aquecer o coração, e em seu terceiro ato, despeja toda a sua mensagem a respeito de mortalidade e memória dando aquele proverbial nó na garganta da audiência e obrigando os mais sensíveis a ter um lenço (ou vários) à mão no que é provavelmente o momento mais "arranque o coração do peito e chute ele pela janela" em um longa do estúdio desde a montagem de abertura de UP!.
O roteiro de Adrian Molina e Matthew Aldrich com participação de Jason Katz e Lee Unkrich é certeiro em praticamente todos os aspectos, a construção dos personagens, a ambientação, a mitologia fortemente enraizada nas tradições fúnebres mexicanas, tudo funciona em Viva: A Vida é uma Festa (que recebeu um longo e genérico título nacional porque o original, Coco, poderia ser lido como "cocô" em português e a Disney não queria memes avacalhando o filme...), até mesmo as pequenas reviravoltas que são, em sua maioria, bastante óbvias, servem à história de maneira honesta e, em perspectiva, são inevitáveis. O trabalho de dublagem é excelente, e o elenco é praticamente um "quem é quem" dos talentos latinos de Hollywood, de Edward James Olmos a Cheech Marin, a trilha sonora é acima da média, incluindo a canção vencedora do Oscar Remember Me, e o trabalho de animação carrega o certificado de excelência da Disney/Pixar.
É obrigatório para qualquer amante de cinema, de histórias bem contadas, de seres vivos capazes de emular sentimentos.
É da Pixar...

"-Você não precisa perdoá-lo, mas não devemos esquecê-lo."

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