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segunda-feira, 7 de dezembro de 2020

Resenha Game: Spider-Man: Miles Morales

 


Fã de longa data do Homem-Aranha que eu sou, preciso admitir que vivo uma relação conflituosa com Miles Morales, o personagem que assumiu a identidade de Homem-Aranha na linha Marvel Ultimate após a morte de Peter Parker, e, que de tão popular, sobreviveu ao fim do Ultiverso sendo incorporado à narrativa 616 que passou a contar com mais uma pessoa-aranha em suas fileiras.
Eu abandonei os quadrinhos da série Ultimate antes de eventos catastróficos destruírem aquele universo, antes, até, de Peter Parker morrer defendendo sua família após levar um tiro pelo Capitão América, eventos dos quais apenas tomei conhecimento porque, nerd que sou, gosto de me manter informado sobre o que está acontecendo no mundo dos gibis para o caso de, de repente, eu querer voltar a ler os quadrinhos (algo que anda cada vez mais improvável dada a má qualidade das histórias), então pouco, muito pouco li de Miles Morales nos quadrinhos. Na verdade, acho que apenas uma história, do especial Homens-Aranha que até devo ter resenhado nesse espaço anos atrás.
Mas tive contato com Miles em outras mídias.
Na excepcional animação Homem-Aranha no Aranhaverso, do ano passado, e, antes disso, no brilhante game de Playstation 4 Marvel's Spider-Man, que em 2018 deu ao cabeça de teia a adaptação gamística que o personagem sempre mereceu.
E é justamente a sequência desse game que ontem se tornou meu mais duradouro contato com Miles Morales desde sempre.
No game após os eventos de Marvel's Spider-Man, Miles e sua mãe Rio Morales trocaram o Brooklyn pelo Harlem, Rio trocou o ensino de ciência pela política, concorrendo ao cargo de vereadora, e Miles trocou a tranquilidade relativa do ensino médio pela vida de super-herói após ser picado por uma aranha geneticamente alterada.
Tutoreado pelo Homem-Aranha original, Peter Parker, Miles tem aprendido a usar seus novos poderes durante o ano que passou enquanto se adapta à nova vizinhança que precisa de um amigão conforme o conglomerado tecnológico militar da Roxxon se instala na região trazendo consigo a ameaça da gangue conhecida como Underground, que sob a liderança da misteriosa Consertadora, estão dispostos a começar uma guerra que ameaça o bairro e toda a ilha de Manhattan.
Com Peter fora dos Estados Unidos a trabalho, Miles é o único Homem-Aranha da cidade, e cabe a ele e seu amigo Ganke Lee, encontrar uma forma de estar à altura da responsabilidade de ser o defensor de Nova York.
Spider-Man: Miles Morales é, basicamente, um add-on bem caprichado do game de 2018 que se dá ao trabalho de garantir que Miles não seja apenas uma skin nova para o personagem titular. Apesar de usar largamente as animações a ambientação e a sólida jogabilidade do game original, os desenvolvedores garantiram que Miles tenha sua própria personalidade, seja se balançando pela cidade, caindo em queda livre, ou fazendo acrobacias pelo céu. No tocante ao combate, os poderes extras de Miles, a habilidade de se tornar invisível e as descargas de bio-eletricidade que ele é capaz de disparar (os "poderes veneno"), garantem que um tempero especial aos cenários de furtividade e às brigas entre múltiplos inimigos de facções rivais que, conforme no game anterior, vão se tornando melhor equipados e mais desafiadores conforme a trama avança, obrigando o jogador a dominar todo o arsenal para ser bem sucedido, especialmente nos cenários mais cabeludos, como as bases inimigas.
Em termos de tecnologia, Miles tem um arsenal de engenhocas bem mais modesto do que Peter, mas elas são bem pensadas o suficiente para que todas sejam úteis, até mesmo as que não parecem, como a habilidade de criar hologramas para participar de combates junto com o protagonista.
A variedade de poderes e tecnologia de Miles também se fazem valer na série de quebra-cabeças ambientais do game, que, novamente, fazem uso de todas as habilidades disponíveis.
No tocante ao colecionismo, novamente a Insomniac dá uma bola dentro, e capricha na variedade e na profundidade dos itens espalhados pela sua Manhattan digital, com cápsulas do tempo que nos dão um vislumbre do passado de Miles antes dos poderes, cartões postais que nos mostram mais de sua relação com seu pai, Jefferson Davis, e arquivos de áudio que revelam as relações familiares entre Jeff e o tio de Miles, Aaron Davis, também conhecido como O Gatuno.
Quanto a escopo de duração, Spider-Man: Miles Morales é menor do que o antecessor por uma boa margem. A campanha do game original girava em torno das vinte horas, enquanto a de Miles corre ao redor de nove. Peter salvou a ilha de Manhattan, Miles está basicamente contido no Harlem, mas nada disso é um problema.
Na verdade, é até refrescante que algumas das missões secundárias de Miles sejam menos repetitivas e extremamente distantes umas das outras como era o caso de Peter. As interações dele com os vizinhos são mais significativas, e a variedade de tarefas é bem-vinda, mesmo quando é algo idiota como procurar um gato fujão (ou dois, nesse caso), ou mundano como ajudar um lavador de janelas a ligar o gerador do seu elevador.
Visualmente falando, mesmo em um Playstation 4 standart, o game não faz feio. Na verdade, tirando o cabelo de alguns personagens (ou a gola da jaqueta de Miles), o jogo é muito bonito, com bons efeitos de luz e sombra, partículas por todos os lados no nevado inverno nova iorquino, e uma Manhattan virtual decorada para o natal de encher os olhos.
O som e a música são ótimos, e o trabalho de dublagem, excepcional, com os retornos de Nadji Jeter, Yuri Lowenthal (que rouba a cena contando causos heroicos durante os treinamentos holográficos de Miles) e quase todo o cast original e adicionando algumas boas caras e vozes novas (Incluindo Jasmin Savoy Brown, Ike Amadi e Troy Baker).
Sem ser tão surpreendente, completo ou repleto de contento quanto seu predecessor, Spider-Man: Miles Morales consegue se destacar como um subproduto honesto e cheio de coração do game original que encontra sua própria voz e conta sua própria história que, mesmo sem o peso e o tamanho do Homem-Aranha original, toca e diverte por toda a sua duração, mostrando que o aranhaverso gamístico da Insomniac/Sony tem muita lenha para queimar nos anos vindouros.

"-Um herói é apenas um cara que não desiste..."

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