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segunda-feira, 11 de novembro de 2013

Resenha Cinema: Capitão Phillips


Paul Greengrass, é muito bom cineasta. O britânico que botou a cara no mainstream com A Supremacia Bourne, de 2004, e de lá pra cá, fez Voo United 93, O Ultimato Bourne e Zona Verde andava parado desde o lançamento desse último, em 2010.
Confesso que andava com saudade da câmera tremida que nunca perde a ação do inglês de 58 anos, de modo que assim que estreou Capitão Phillips, na sexta-feira, eu já estava na ponta dos cascos pra ver o filme.
Dei um tempo no meu Call of Duty - Ghosts, e no meu Calvin & Haroldo e toquei pro cinema pra conferir o filme, adaptação do livro "A Captain's Duty - Somali Pirates, Navy SEALS, and Dangerous Days at Sea", de Richard Phillips, que, em 2009, teve seu navio cargueiro, o Maersk Alabama, sequestrado por piratas somalis na costa da África.
Capitão Phillips começa estabelecendo paradoxos entre seus protagonistas.
Richard Phillips (Tom Hanks) aparece em uma casa confortável nos subúrbios de uma cidade nos Estados Unidos preparando-se para sua viagem. O capitão responde e-mails, apanha a foto da família, dá uma olhada em mapas, guarda tudo na sua mochila e dirige com sua esposa até o aeroporto enquanto fala sobre as incertezas profissionais que o futuro reserva a seu filho mais novo se ele não começar a levar os estudos a sério.
Enquanto isso, em um barraco de papelão e telhas numa praia da Somália, Muse (Barkhad Abdi) é acordado por um moleque pois está começando a convocação de quem vai ao mar naquele dia. Muse apanha seu AK-47 e vai para a beira d'água escolher uma tripulação entre as dezenas de homens subnutridos dispostos a sequestrar um navio naquele dia.
Essas duas sequências de apresentação do início do longa, que estabelecem as personas de Phillips e Muse, e as diferenças entre as realidades distintas em que ambos existem dão a tônica do filme.
Enquanto Phillips transita em um mundo de controle, normas e paciência em que regula até a pausa do café de sua tripulação, Muse tenta conseguir um motor para seu bote de abordagem usando como argumento uma chave inglesa. Esses dois mundos tão diversos colidem quando Muse e outros três piratas estabelecem o Maersk Alabama como alvo e investem contra o navio subindo a bordo. Desse momento em diante, todo o libelo contra a globalização e o capitalismo caem para o segundo plano conforme a tensão domina o filme, que se torna um jogo de xadrez entre Phillips e Muse, que se veem como dois meros peões em um tabuleiro de proporções abissais quando o efeito dominó do sequestro coloca as forças armadas dos EUA em movimento.
É excelente.
Greengrass está em seu habitat natural quando conta histórias repletas de tensão e ação usando o cunho político como plano de fundo, e acerta a mão em Capitão Phillips ao contar uma história repleta de ameaça e violência sem esquecer do fator humano e das circunstâncias que levam as pessoas a determinados cursos de ação.
Quando Phillips diz que deve haver algo que um homem possa fazer além de ser pirata e pescar, e Muse responde que talvez seja o caso na América, mas não na Somália, nós acreditamos.
Muito dessa credibilidade vem do elenco, que poderia ser reduzido a dois nomes, Barkhad Abdi e Tom Hanks.
O ator somali que trabalhava como chofer e não tinha nenhuma experiência como ator até ganhar o papel no filme dá show. Com sua silhueta esquelética, dentes proeminentes e expressão amortecida o africano se estabelece com naturalidade como antítese dos gorduchos americanos da tripulação do Maersk, e uma surpreendente nêmese de Phillips, ao atuar de igual pra igual com um Tom Hanks na sua melhor forma em anos.
Hanks, aliás, deveria se envergonhar de fazer bobagens como Larry Crowne e O Código Da Vinci e se concentrar em ser o ator que ele pode ser, exatamente como faz ao longo de Capitão Phillips, em especial nos quinze minutos finais, quando literalmente some dentro do desespero da situação em que seu personagem se encontra.
Em suma, puta filme, assista no cinema.

"-Ouçam todos. Nós fomos abordados por piratas armados. Se eles os encontrarem, lembrem-se, vocês conhecem esse navio, eles, não. Fiquem juntos e tudo dará certo. Boa sorte."

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