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quarta-feira, 6 de maio de 2015

Articulações Básicas


Se descobre muito a respeito de uma pessoa, de sua visão de mundo e da forma como as outras pessoas as afetam através de bobagens que a gente nem imaginava que fossem tão significativas.
Tome o Diego, por exemplo.
O Diego, que não era um humanista, mas de modo geral era considerado um sujeito bem quisto e até generoso por aqueles que o conheciam de soslaio, quando não entendia o que as pessoas falavam, tinha duas reações básicas:
Ou ele ria, ou se irritava.
Não havia meio termo, com o Diego, nem variação.
Quando alguém lhe dirigia a palavra, e ele não entendia de pronto o que havia sido dito, ou abrandava a feição num sorriso contido, mas claro, ou fechava a cara numa carranca que não deixava espaço para interpretações que não fossem a óbvia.
Se perguntassem ao Diego o porquê daquilo, ele possivelmente não saberia explicar.
Muito provavelmente tergiversaria dizendo que sua reação estava relacionada ao tom de quem lhe falasse, pois, se as palavras nem sempre eram inteligíveis, o tom dificilmente mentia, de forma que ele respondia sendo amigável ou fechado como um espelho do que lhe era oferecido...
Mas seria mera especulação de parte dele.
O próprio Diego não saberia dizer por que reagia sempre de uma dessas duas formas ao não entender o que lhe era dito.
A verdade era simples, mas ia um pouco além do tom que lhe era dirigido:
Diego não gostava de gente.
Pra ser cem por cento honesto, o Diego odiava quase todo mundo, salvo raras exceções.
Suas reações básicas de rir ou fechar a cara quando não era capaz de compreender o que lhe fora dito, era reflexo disso. Diego dividia sua relação com o mundo entre condescendente, e hostil, pois eram as reações básicas que as pessoas lhe causavam.
Em um mundo habitado por gente sem educação, sem conhecimento, sem compaixão e sem semancol, hostilidade e condescendência eram tudo o que ele sabia articular.

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