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sábado, 26 de setembro de 2015

Resenha Cinema: Evereste


Ponto culminante da Terra, o monte Everest, localizado na cordilheira do Himalaia, entre a China e o Nepal, se ergue a impressionantes 8848 metros.
Ainda que seja a mais alta montanha da Terra, com um pico que encontra-se na altitude de cruzeiro do voo comercial de um Boeing 747, em um ambiente onde a temperatura é de quase vinte graus abaixo de zero, o vento alcança velocidades de quase treze metros por segundo, e a pressão do ar é de apenas um terço da encontrada ao nível do mar, o Evereste não é a montanha mais mortal do planeta.
Enquanto o famigerado monte K2, com seus 8611 metros já ceifou a vida de 49 escaladores em 164 ascensões, e o Nanga Parbat matou mais de um terço dos alpinistas que tentaram subir até o seu pico a 8125 metros, o Annapurna, de "meros" 8091 metros é a montanha mais letal do planeta, com um assustador índice que chegou a 50,5% de fatalidades.
Na lista das montanhas mais mortais da Terra, o majestoso Everest ocupa uma colocação modesta, com um índice de fatalidades de menos de 2,05%.
Não parece muito até percebermos a quantidade de ascensões:
Mais de 10 mil expedições já tentaram alcançar o cume do mundo. Dessas, quase três mil foram bem sucedidas, e o número de mortes é de 207.
A quantidade absurda de ascensões desde 1985, quando começou a comercialização da montanha através de uma expedição de David Brashears que incluía o milionário Richard Bass, um escalador amador que tinha pouco mais de quatro anos de experiência em montanhismo explica o "baixo" índice de fatalidades do Everest.
No início dos anos noventa, inúmeras companhias ofereciam expedições guiadas ao ponto culminante do planeta, uma dessas empresas, a Adventure Consultants, era chefiada pelo experiente Rob Hall, que ao longo de seus anos de experiência levou mais de 40 pessoas ao cume do Everest.
O filme Evereste, do diretor escandinavo Baltasar Kormákur, é justamente sobre Rob Hall, e a trágica expedição que ele liderou ao topo do Everest em 10 de maio de 1996.
Na fita acompanhamos Hall (Jason Clarke) desde a despedida de sua esposa Jan (Keira Knightley), até sua chegada ao Nepal onde encontraria o grupo de escaladores que incluía a montanhista japonesa Yasuko Namba (Naoko Mori), o médico texano Beck Weathers (Josh Brolin), o carpinteiro/carteiro/escalador Doug Hansen (John Hawkes), e o jornalista Jon Krakauer (Michael Kelly), passando pela aclimatação do grupo ao ambiente inóspito, até o ataque ao cume em si, quando o grupo é dividido pela condição climática incrivelmente hostil e açoitado por uma violenta tempestade que deixa membros da equipe isolados além de qualquer chance de resgate.
Kormákur, dirigindo o roteiro de William Nicholson e Stephen Beaufoy segue a cartilha do filme catástrofe de grupo, apresentando os personagens por etapas, dando à audiência razões para se importar com eles ou achá-los antipáticos e preparando o terreno para a hora em que tudo inevitavelmente vai para o inferno.
Não fosse uma história real, baseada nos livros No Ar Rarefeito, de Krakauer, e A Escalada, de Anatoly Boukreev, poder-se-ia considerar Evereste excessivamente formuláico, abusando de bom-mocismo dos heróis, e jogando sujeira nos "vilões". Mas essa impressão se desvanece à medida em que entendemos que o verdadeiro vilão do longa é a montanha, e ela não dá espaço a atos de heroísmo.
A forma como o diretor a filma, com as rochas negras no contraste com o branco da neve e do gelo, a torna quase malvada. O mesmo vale para as nuvens escuras de tempestade vomitando relâmpagos.
O diretor usa com sabedoria o recurso visual, fazendo a audiência sentir frio e falta de ar junto com os personagens na tela, amparado por uma espetacular coleção de imagens grandiosas em um 3-D usado com parcimônia e elegância que deve funcionar muito bem em uma tela I-MAX gigante (e não nessa nanica de Porto Alegre).
Infelizmente, isso não chega a ser inovador, e nem tampouco diferencia Evereste de outros longas de tragédia.
Os personagens interpretados por um belo elenco, que ainda inclui Jake Gyllenhaal, Robin Wright, Emily Watson, a linda Elizabeth Debicki, Martin Henderson e Sam Worthington não é mais senão acessório para a desgraça, verdadeira estrela do longa.
O filme cuja tagline é "Jamais solte" deveria ser "jamais escale o Everest".
Ainda assim, como entretenimento, o longa se sustenta, e garante um par de horas bastante tensas na sala escura.
Vale o ingresso em 3-D.

"-A última palavra, sempre pertence à montanha."

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