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sexta-feira, 18 de setembro de 2015

Resenha Cinema: Homem Irracional


Eu gosto de Woody Allen. Gosto mesmo. Sempre gostei. Me lembro de, criança, estar feliz da vida assistindo filmes como A Era do Rádio, e ser repreendido por minha mãe, que detestava os filmes de Allen, que me dizia "Vai ver um desenho, tira desse filme chato".
Mas eu gostava. Achava as comédias dele engraçadas, seus maneirismos divertidos, e até a clássica dublagem que Allen recebia no Brasil me entretinha.
Crescendo aprendi a admirar o cinismo e o escárnio embutido em seus filmes agridoces, e a curtir também os dramas de Woody Allen, e até defendê-lo quando o acusam em rodas de amigos, de ser chato, intelectualóide e maçante.
Cito filmes como o ótimo Tudo Pode Dar Certo, Meia-Noite em Paris, o divertido Magia ao Luar, o clássico absoluto Noivo Neurótico, Noiva Nervosa (ainda odeio esse título estúpido), Hannah e Suas Irmãs, Crimes e Pecados, A Era do Rádio, o pungente Blue Jasmine, o ótimo Match Point, e o melhor filme que Pedro Almodóvar não fez, Vicky Cristina Barcelona, e mais uma porção de seus bons e ótimos filmes... Sendo bem honesto, até seus filmes não tão bons me divertem.
Eu achei Scoop engraçado, me julguem.
Ontem mesmo, fui ao cinema, onde havia outras cinco testemunhas, pra ver o último filme do diretor, Homem Irracional, e, olha... Ainda que não vá me fazer mudar minha opinião sobre a filmografia de Allen, certamente me fez sair do cinema com a impressão de que acabara de ver o pior filme da carreira do diretor.
Homem Irracional apresenta o professor de filosofia Abe Lucas (Joaquin Phoenix), um homem amargurado, deprimido, um alcoólatra quase suicida que está chegando à uma universidade em Rhode Island para assumir uma cadeira de professor.
Abe é precedido pela sua reputação de ser... Bom, um sujeito amargurado e deprimido, e também de ter (e ser) um gênio difícil, se envolver com alunas, ter entrado em depressão quando um amigo foi decapitado no Iraque e ter tentado o suicídio quando sua esposa o trocou por outro homem, enfim, todos os clichês do gênio atormentado que se pode imaginar.
Assim que chega à universidade, Abe passa a atrair olhares de outros professores que o observam à distância falando sobre sua genialidade e alma atormentada. Uma professora que não o observa de tão longe é Rita (Parker Posey), que vê o homem soturno que parece movido a uísque como uma válvula de escape para seu casamento infeliz.
Outra pessoa que logo tem sua atenção atraída por Abe é Jill (Emma Stone). Jovem estudante, filha de um casal de professores do departamento de música, namorada de Roy (Jamie Blackley), um rapaz boa-pinta e apaixonado, Jill por alguma razão, também é fascinada pelo professor taciturno e brilhante que viajou por todas as zonas de conflito do mundo tentando fazer algum bem, e se não tarda para que ele e Rita engatem um caso, também não tarda para que ele e Jill se tornem bons amigos, ainda que, à medida em que se tornam mais próximos, os sentimentos da jovem se tornem mais profundos.
Abe, porém, resiste às investidas de Jill, fazendo todo o possível para se manter íntegro, ao menos até o dia em que, em um restaurante, ele e Jill ouvem a história partilhada pelos fregueses da mesa ao lado, a respeito de uma mãe amorosa que está na iminência de perder a guarda dos filhos para o marido escroto unicamente porque o advogado do sujeito é amigo do corrupto juiz da vara de família encarregado do caso.
Assim que ouve a história, Abe se torna obcecado com a ideia de matar o juiz, e assim, realizar um ato prático para o bem do mundo.
Conforme rumina o que seria um crime perfeito, Abe recupera a vontade de viver, a criatividade, e até a potência sexual, levando-o a crer de maneira irredutível, que a morte do tal juiz, é um bem que ele fará ao mundo, não importam as consequências.
O que poderia ser uma premissa Dostoyévskiana à exemplo de Crimes e Pecados e Match Point, esbarra em um dos piores roteiros de Allen em todos os tempos, com personagens rasos e caricatos que são impossíveis de se relacionar, e personagens com potencial para roubar a cena escanteados sem nenhuma cerimônia.
Joaquin Phoenix sua a camisa (apertada na barrigona) para tornar seu personagem alguma coisa mais do que uma caricatura, mas é impossível. A única coisa em que eu conseguia pensar, enquanto ele vomitava citações de Kierkegaard, Kant e Simone de Beauvoir, no insuportável personagem de Michael Sheen, em Meia-Noite em Paris, sendo elevado à condição de protagonista.
Mesmo com o talento de Phoenix e seu carisma, o personagem é
simplesmente aborrecido a maior parte do tempo, e o interesse de Jill por ele, é absolutamente infundado.
Porque uma moça jovem e bonita, por mais atraente que seja a ruína de um "gênio", se interessaria por um camarada depressivo de quase cinquenta anos, inchado feito um balão, constantemente bêbado e capaz de comportamento suicida e posteriormente de delírios homicidas, quando tem um namorado apaixonado e que foi galã de Se Eu Ficar?
Não é exatamente um romance crível. Emma Stone é outra que rebola dentro dos vestidinhos de Jill pra tornar a personagem algo mais que uma pateta de afeições deslocadas, mas tendo essa qualidade de missão impossível pela frente, nem Tom Cruise conseguiria.
Muito mais interessante era o caso de Abe com a subaproveitada Rita Richards de Parker Posey, apresentada como uma daquelas personagens coadjuvantes cheias de possibilidades, mas utilizada como um mero acessório na econômica trama.
É estranho ver Allen tropeçar tanto em um script, Homem Irracional é uma coleção tão grande de tropeços que dá a impressão de ter sido escrito por alguém querendo reproduzir Allen, mas esbanjando intelectualismos vazios e incapaz de humanizar seus personagens. Nem mesmo a bela fotografia de Daris Khondji e a trilha sonora embaladinha do The Ramsey Lewis Trio sustentam um filme embalado e naufragado no próprio pedantismo.
Melhor sorte na próxima vez, Woody.

"-Muito de filosofia é apenas masturbação verbal."

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