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terça-feira, 15 de março de 2016

Resenha Cinema: Deadpool


Pra ser cem por cento honesto, inicialmente eu não tinha as melhores expectativas com relação ao filme do Deadpool.
Não tenho restrições com relação ao personagem, embora não seja um leitor entusiasmado do mercenário falastrão. Tampouco para com Ryan Reynolds, um ator sem grandes luzes dramáticas, mas que francamente, jamais me incomodou, e tem o mérito de tentar coisas diferentes. Meu grande senão para com o longa do personagem criado por Rob Liefeld e Fabian Nicieza era a forma como a Fox trata seus filmes de super-herói (quando Bryan Singer não está envolvido).
Os dois filmes do Quarteto Fantástico eram comédinhas leves pra toda a família e não vingaram, Demolidor era um produto bem intencionado, mas atabalhoado, Elektra era imperdoável. O novo Quarteto, de Josh Trank, era um produto aparentemente destruído pela interferência do estúdio. X-Men 3 - O Confronto Final, era lixo puro, e os filmes solo do Wolverine, onde, diga-se de passagem, o Deadpool de Ryan Reynolds deu as caras pela primeira vez em 2008, são ruins demais.
O que esperar então, de um longa que a Fox não queria fazer, estrelado por um ator que nunca tinha segurado um filme nas costas (lembram de Lanterna Verde?), com um diretor sem experiência em longas metragens e escrito por roteiristas que, sim, tinham o excelente Zumbilândia no currículo, mas também o sofrível G.I. Joe 2 e feito a toque de caixa porque nenhum estúdio em sã consciência investiria pesado em um longa de super-herói com censura 18, ou R, nos Estados Unidos a censura mais alta que um filme de cinema costuma pegar (Watchmen custou 130 milhões e naufragou nas bilheterias dos EUA, onde chegou a meros 107 milhões)?
Eu não esperava muito. Mesmo após a ótima recepção do longa nas bilheterias norte-americanas, mas nerd que sou, fui pro cinema tentar ver na estréia.
Noa consegui. Entre sessões lotadas e dubladas (que eu não vejo nem amarrado), passei uma semana tentando ver o filme sem sucesso antes e durante minhas férias. Então, viajei, e fiquei longe de cinemas por três semanas.
Ontem, finalmente consegui assistir Deadpool (e comprar meu ingresso para Batman vs. Superman - A Origem da Justiça), e entendi o porque de tanto hype, e da bilheteria mundial que, no final de semana, ultrapassou os setecentos milhões de dólares sem nem mesmo ter sido permitido na China, mercado que vem salvando filmes duvidosos do fracasso nos últimos anos, um feito e tanto para um filme de censura dezoito anos realizado com meros 58 milhões de dólares, praticamente uma esmola no mundo dos filmes de heróis.
Deadpool conta a história de Wade Wilson (Reynolds), ex-operativos das forças especiais que, após uma baixa desonrosa, passou a trabalhar como mercenário.
Apesar de ser falastrão e porra-louca, Wilson tem fagulhas de bom-coração, chegando a cogitar trabalhar de graça para clientes que realmente precisem de sua ajuda.
Quando conhece Vanessa Carlysle (a gatona Morena Baccarin), Wade acredita que tirou a sorte grande, mas isso dura apenas até a noite em que ele a pede em casamento, e, após um desmaio, descobre que tem um agressivo câncer em estado avançado, espalhando-se por sua próstata, pulmões e cérebro.
Desenganado, Wade é procurado por uma organização que lhe promete, não apenas uma cura, mas melhoramentos que o transformarão em um verdadeiro super-herói, possibilitando-o não apenas se livrar da doença, mas também fazer algum bem por quem precisa de ajuda.
Inicialmente reticente, Wade acaba concordando em tomar parte no programa, sem saber o que o esperava.
Nas instalações de Ajax (Ed Skrein, o primeiro Daario Naharis de Game of Thrones) e Angel Dust (Gina Carano), Wade é submetido a um cruel tratamento que consiste em aplicações de medicamentes que, sob grande dor e tensão, irão despertar eventuais genes mutantes, ou matá-lo.
Após um extenso período de torturas, eventualmente os genes mutantes de Wade despertam, mas não sem que, antes, ele fique desfigurado. Após lutar contra Ajax, Wade é deixado para morrer, mas descobre que seu novo super-poder é exatamente um fator de cura mutante.
Wade, então, passa a caçar Ajax, o único homem capaz de restaurar sua aparência, e garantir que ele possa reencontrar Vanessa.
Quando nós colocamos dessa forma, Deadpool parece um filme de super-herói bastante típico, repleto de todos os clichês do gênero.
Por sorte, a veia destrambelhada do personagem nos quadrinhos é usada à vontade pelo roteiro, o que garanta que o longa se eleve muito além da premissa.
Além da piadinhas incessantes do personagem, das quais já havíamos tido um breve aperitivo em X-Men Origens: Wolverine, o recurso da quebra da quarta parede, os momentos em que Deadpool fala com a audiência, são muito bem empregados. O filme parece se recusar a se levar ou ser levado a sério, abusando, no bom sentido, da auto-referência e da referência geral aos filmes de super-herói, dos quais absolutamente nenhum é levado livre.
Dos pousos de super-herói estilo Homem de Ferro à relação homo afetiva entre Batman e Robin, passando por Wolverine, Homem-Aranha e Nick Fury, nada passa incólume ao humor irritante do mercenário.
Deadpool também vai fundo no quesito violência extremamente gráfica, com desmembramentos, esmagamentos e um banho de sangue, além de nudez frontal e grande conteúdo sexual (o desenvolvimento do romance entre Wade e Vanessa é tão divertido quanto é profundamente safado e extremamente sugestivo), o que dá ao elenco (que ainda tem T. J. Miller, Brianna Hildebrand, Karan Soni e Leslie Uggams) liberdade total para se soltar.
E isso é ótimo.
Assistir Deadpool é como ver o filme com uma faixa de comentários ao vivo feita por um nerd onisciente. A salada de abobrinhas do anti-herói vai além do universo de super-heróis, passando por cultura pop, música e até mesmo tirações de sarro com a própria Fox, cujo pão-durismo para com o orçamento do longa, enxugado em 8 milhões de dólares ás vésperas do início da produção, não é perdoado.
Ponto para Ryan Reynolds, que perseverou após uma série de percalços na sua tentativa de fazer um ótimo filme de super-herói, e conseguiu, com Deadpool, entregar exatamente o que a audiência queria:
Um produto divertido e esperto, acessível para uma geração de espectadores que assiste filmes de quadrinhos desde o primeiro X-Men e já viu tudo o que o gênero tem a oferecer, e um deleite para os fãs que podem caçar as referências espalhadas por todo o filmes que, mesmo com a contenção de gastos, consegue ser tão competente na hora da ação quanto nas tiradas engraçadinhas.
Parabéns a Reynolds, ao diretor Tim Miller, e aos roteiristas Rhett Reese e Paul Wernick, e que fique o aviso para a Fox:
Não há nada de errado em entregar aos fãs exatamente o que eles querem. Na verdade, é uma aposta certa. Deadpool não é apenas o maior sucesso de bilheteria (na ponta do lápis) de quadrinhos no cinema, mas é, sem a menor sombra de dúvidas, um dos mais divertidos longas saídos das páginas de um gibi.
Que venha Deadpool 2.

"hashtagpeideiesaí."

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