Não Foi...

Não foi o cabelo loirinho da Maria Eduarda.
Não foi o cheiro de baunilha no pescoço comprido dela.
Não foram os olhos verde-caribe, que dominavam o rosto da Maria Eduarda.
Não foi o sorriso luminoso da Maria Eduarda.
Nem tampouco sua rosada boquinha com lábios em forma de coração.
Não foi o fato de que ela, de fato, media 1,72 m e pesava 52 Kg.
Nem os pezinhos 35, delicados, cheirosos e com os dedinhos parelhos.
Olhando em perspectiva, não foi nem a bunda redondinha e tonificada, ou os seios pequenos e firmes, como não havia sido por causa das pernas compridas e bem torneadas, dos ombros tenros ou dos braços rijos, mas não musculosos.
Não foi a fina depilação em forma de retângulo bem aparado no púbis.
Não foi a tatuagem do Legolas na escápula esquerda.
Não foi o gosto musical que combinava Beatles, Foo Fighters, Bauhaus, AC/DC, Stones e Johnny Cash, e nem o gosto pra filmes que combinava Michael Mann, Steven Spielberg, Christopher Nolan e Jean-Jacques Annaud e Luiz Buñuel.
Não foi nem a forma apaixonada e apaixonante como a Maria Eduarda fazia sexo, suspirando, gemendo, cravando as unhas e abraçando com as pernas, beijando, arfando de boca aberta, sem melindres ou pudores.
Não foi nada disso.
O que fez o Armando se apaixonar perdida, completa, inapelável e inalienavelmente pela Maria Eduarda foi o fato de, na primeira vez em que saíram juntos, terem sentado em uma lanchonete, lado a lado.
Lá, enquanto comiam um lanche e conversavam muito, mesmo pra tentar se conhecer, a Maria Eduarda chamou o garçom que passava, e pediu, espontaneamente, pra ele mudar pro jogo do Inter pelo Gauchão. Enquanto ela e Armando assuntavam, ela, vez que outra, olhava de esguelha pra TV. Em um determinado momento, o árbitro sonegou uma falta clara pro Inter, e Maria Eduarda, de maneira totalmente autômata, deu um violento soco no braço do Armando enquanto gritava "Safado!".
Se àquela altura o Armando já sabia que gostava da Maria Eduarda, dali pra frente teve certeza absoluta de que só seria feliz com ela.