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segunda-feira, 9 de janeiro de 2017

Resenha Filme: O Invasor Americano


Provavelmente meu documentarista favorito, Michael Moore andou meio sumido durante a administração Obama. Seu prolífico período de produção durante a administração do presidente norte-americano George W. Bush, que rendeu o sensacional Tiros em Columbine, e os ótimos Farenheit 9/11 e Sicko: SOS Saúde parece ter cansado o homem, que não lançou um filme entre 2009, ano de lançamento do também ótimo Capitalismo: Uma História de Amor e 2015, quando esse O Invasor Americano (no título original Where to Invade Next, ou Onde Invadir a Seguir?) foi lançado nos EUA em festivais, ganhando lançamentos em circuitos reduzidos ao redor do mundo ao longo de 2016.
O Brasil, como era de se esperar, ficou de fora do circuito de lançamento.
Não me lembro do último documentário a aparecer em salas de cinema do Brasil em geral, afinal, os cineplexes têm que ter espaço para os filmes nacionais que a Globo vai transformar em mini-série depois de dois meses, comédias com Adam Sandler e os irmãos Wayans, e filmes de terror estilo "filmagem encontrada".
Por sorte, existe a Netflix, baby.
E no sábado, por mero acaso, esbarrei com O Invasor Americano, do qual já ouvira falar, na lista de adições recentes do serviço de streaming.
No documentário Moore nos conta que foi chamado ao Pentágono pelo Departamento de Defesa dos EUA. Lá, ele se encontrou com representantes das Forças Armadas norte-americanas que, humildemente reconheceram que todas as guerras nas quais os EUA se envolveram depois da Segunda Guerra Mundial foram um fiasco sem serventia, e lhe pedem por conselhos.
Moore, então, se oferece para realizar uma operação de invasão de um homem só, indo à países "populados por caucasianos dos quais ele consegue pronunciar a maioria dos nomes", e pegar as coisas que tais países possuem e levar para os Estados Unidos.
Viajando para a Europa e o norte da África de carona a bordo do U.S.S. Ronald Reagan, Moore começa sua operação na Itália, onde investiga as razões para que os italianos sempre pareçam ter acabado de fazer sexo.
Ao constatar que muito da aparência sorridente e bronzeada dos habitantes da península itálica se devem ás quatro semanas de férias remuneradas (para nós é praxe, para os americanos, um luxo inexplicável), duas horas diárias de almoço que permitem que os trabalhadores vão pra casa comer refeições caseiras, mais uma quantidade enorme de feriados nacionais, além da licença maternidade remunerada, e após conversar com um casal de trinta e poucos formado por um policial e uma vendedora de roupas que passam férias em lugares como Miami e Zanzibar, os donos de uma confecção e o CEO da Ducati, que defendem que funcionários felizes e bem tratados são bons para a cadeia produtiva, Moore finca a bandeira dos EUA no chão da fábrica reclamando tais ideias para seu país.
A mesma coisa se repete na França, onde Moore é confrontado pelo cardápio de iguarias preparadas para o almoço das crianças nas escolas públicas da Normandia, ou nas escolas finlandesas, onde a diminuição das lições de casa e a erradicação das provas padronizadas (tais como o ENEM) aliadas ao aumento da autonomia e do tempo livre dos alunos fez o país saltar do vigésimo nono para o primeiro lugar no ranking mundial de qualidade da educação, ou ainda na Eslovênia, onde, não apenas há ensino superior gratuito, mas também é ilegal cobrar por educação nas universidades.
Moore vai aprender, também nas prisões da Noruega, praticamente colônias de férias onde a reabilitação é mais importante do que a punição dos detentos (e onde o índice de homicídios é um dos mais baixos do planeta).
Também na seara da segurança está Portugal, onde a questão das drogas deixou de ser tratada como um assunto de polícia, passando a ser vista como saúde pública, reduzindo o número, não apenas de prisões relacionadas a drogas, mas também de usuários.
O cineasta também investiga o sistema de saúde pública pela ótica dos operários da Alemanha, onde ainda se fala a respeito da educação, e de como os alemães, ainda na escola, falam sobre o Holocausto, reconhecendo a tragédia, e a entendendo.
Na Tunísia, Moore descobre como a revolução que ocorreu no país em 2011 colocando um partido islâmico no poder quase barrou a garantia de direitos igualitários para homens e mulheres da nova constituição, algo que não ocorreu graças às grandes manifestações populares que forçaram os clérigos a abrir mão da intrusão religiosa no Estado, enquanto na Islândia nós ficamos sabendo que as únicas empresas que escaparam da falência na crise de 2008 eram geridas por mulheres que, de lá pra cá, ganharam cada vez mais voz na política e na economia, enquanto os czares financeiros que, nos EUA, foram salvos da destruição da economia com dinheiro público, no país escandinavo, foram presos.
Em cada um desses países, Moore aprende algo, uma nova ideia que ele gostaria de levar de volta ao seu país e vê-la posta em prática.
Assim como os trabalhos anteriores de Moore, O Invasor Americano é um filme divertidíssimo. Moore é um tremendo contador de histórias, e sabe dosar o humor em seus filmes de modo a garantir que a experiência sempre seja prazerosa.
É muito fácil acusá-lo de fazer espetáculo, tomar partido e dourar a pílula dos pontos de vista que considera mais válido.
O próprio Moore reconhece isso, conforme avisa, no início do filme que cada um dos países visitados tem sua cota de problemas, mas que ele está lá para "colher as flores, e não as ervas daninhas", ou quando o filme é rotulado, não como um documentário, mas sim como uma comédia.
O filtro deve ser responsabilidade do espectador, e não do cineasta, Moore apenas expões seus pontos de vista de maneira extremamente divertida, criando duas horas de entretenimento que, na pior das hipóteses, ao menos vão mostrar um ponto de vista diferente do teu.
O Invasor Americano é uma janela que Michael Moore abre para que seus compatriotas (e não apenas eles) vejam o mundo e seu próprio país por outro prisma.
Um filme provocativo, otimista cheio de ideias, e que convida à discussão, ao aprendizado e afirma que sim, nós podemos fazer melhor.
Altamente recomendado.

"Eu sou americano. Venho de um grande país que nasceu do genocídio e foi construído nas costas de escravos."

3 comentários:

  1. Chega a dar náuseas!! Lixo de filme propagandeando agenda da ONU esquerdista. Não percam tempo!

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  2. Por que isto é possível na França, mas não é possível nos EUA?

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  3. Por que a taxa de gravidez na adolescência nos EUA chega a ser o dobro da taxa da que ocorre na França?

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