Pesquisar este blog

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2017

Resenha DVD: Cães de Guerra


Durante os anos que se seguiram ao começo da Guerra ao Terror de George W. Bush, que culminou com invasões norte-americanas ao Iraque e ao Afeganistão, brechas surgiram na legislação dos EUA para permitir que os lucros provenientes do conflito não ficassem apenas nas mãos dos grandes capitães da indústria bélica.
Claro, o grosso do bolo ficaria com as grandes empresas e com os grandes fornecedores, mas todo mundo teria a possibilidade de tentar suprir um contrato de licitação com as Forças Armadas dos Estados Unidos se achasse que fosse capaz de vencer a concorrência pública e colocar as mãos nas migalhas do bolo.
Em se tratando de um negócio multi-bilionário como a guerra, essas migalhas eram cifras nada desprezíveis.
Cães de Guerra conta a história de dois amigos de infância, David Packouz (Miles Teller) e Efraim Diveroli (Jonah Hill), dois rapazes de Miami que, aos vinte e poucos anos, resolveram aproveitar esse momento da administração Bush e fazer seu caminho rumo ao sonho americano, nem que o fizessem de maneira pouco-ortodoxa, moralmente reprovável, ou até ilegal.
O longa é contado do ponto de vista de David, que passava por maus bocados quando Efraim ressurgiu em sua vida.
Recém casado com Iz (a delicinha Ana de Armas) ele trabalhava como massoterapeuta cobrando 75 dólares a hora de ricaços de meia-idade nos condomínios suburbanos de Miami enquanto tentava emplacar um negócio vendendo lençóis de algodão egípcio para asilos da região, um negócio que não apenas não dava dinheiro, como havia consumido todas as suas economias e o deixado com dezenas de caixas de lençóis na sala do seu acanhado apartamento.
Ao descobrir que Iz está grávida, David fica desesperado tentando descobrir como sustentar um bebê com massagens.
As coisas mudam quando seu amigo de infância Efraim retorna à Miami e o convida para ajudá-lo em seu novo negócio:
Suprir armas para o exército dos EUA.
Se inicialmente David se mostra relutante com a ideia (ele e Iz são opositores do conflito), ele, de fato, não tem muita alternativa, e não tarda para que ele e Efraim estejam viajando de caminhão pelo triângulo da morte Iraquiano para fazer uma entrega de pistolas para o exército dos EUA equipar a polícia iraquiana.
A adrenalina e a fortuna fazem a cabeça da dupla, que mergulha de cabeça no mundo do tráfico de armas fazendo dinheiro, fama e sucesso no mundo dos negociadores de armas.
As coisas vão bem, mas ambos querem mais, e o pulo do gato pode ser o Contrato Afegão, uma licitação para a compra de cem milhões de balas para fuzis AK-47, uma licitação que pode ser tanto o sucesso definitivo quanto o fracasso derradeiro para a dupla.
É difícil assistir Cães de Guerra e não perceber que Todd Phillips, co-roteirista ao lado de Stephen Chin e Jason Smilovic se inspirou em longas como Os Bons Companheiros e Scarface, usando muito da estrutura narrativa do primeiro, com a narração em off de David, a estrutura em capítulos, a história de companheirismo no crime, enquanto do segundo há a ambientação, a ostentação, e frequentes menções, mas acabou criando um híbrido de O Lobo de Wall Street e O Senhor das Armas sem alcançar a qualidade de nenhum dos quatro filmes.
Os problemas de Cães de Guerra são muitos.
O filme jamais escolhe seu gênero, jamais decide seu enfoque, não aprofunda os personagens centrais e usa os coadjuvantes como acessórios de maneira descarada.
O filme passa o tempo todo se comportando como uma buddy comedy típica, praticamente com um letreiro na tela tentando mostrar à audiência que David e Efraim são melhores amigos, "Olhe como eles são engraçados", "veja como se dão bem", "bros before hoes', cara", e negligencia o desenvolvimento de ambos.
David é apenas um cara legal que se deixa levar, Efraim é um gordão escamoso, Iz apóia ou se opõe ao modo de vida de David de acordo com a necessidade do roteiro para aquele momento da narrativa...
É uma pena. Teller e Hill têm uma boa química e convencem como bons amigos, conseguindo, de fato, algumas risadas nessa quase comédia.
Hill, por sinal, faz milagre com seu Efraim Diveroli.
O ator (gordo como não o víamos há um bom tempo) cria um sujeito instável, sarcástico de temperamento volátil com olhos nebulosos e uma risada aguda que pontua suas frases como um emoticon sonoro.
Um filme centrado nele, com a história de seu ponto de vista, talvez fosse muito mais interessante do que a versão "bom sujeito arrastado para o lado do mal" que efetivamente assistimos, e é uma pena, porque David e sua história são rasos demais, e ao centrar foco nisso, Phillips reduz Efraim, que era um personagem muito mais promissor ao papel de palhaço gordo e ganancioso.
O longa não chega a ser perda total.
Tem seus bons momentos, e certamente distrai numa tarde calorenta de domingo, o elenco, que ainda conta com Kevin Pollak, Shaun Toub e Bradley Cooper (também produtor do longa) faz um trabalho decente, e mereciam um roteiro melhor ajambrado.
Melhor sorte na próxima vez.

"Eles chamavam caras como nós de cães de guerra. Negociadores pequenos que faziam dinheiro com a guerra sem nunca botar o pé no campo de batalha. Era pra ser pejorativo, mas... Nós meio que gostávamos."

Nenhum comentário:

Postar um comentário