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segunda-feira, 22 de maio de 2017

Resenha DVD: La La Land: Cantando Estações


É bem provável que, da mesma forma que eu, tu não seja afeito a musicais. Não curta esses filmes onde, do nada, as pessoas começam a cantar a dançar espontaneamente em intrincadas coreografias com vozes afinadas depois de a iluminação mudar e o cenário se abrir para o que parece a idealização de um palco da Broadway e bailarinos e bailarinas surgirem de algum lugar usando roupas coloridas... Eu me lembro de, quando criança, odiar esses momentos, que simplesmente desmontavam o filme pra mim. Quebravam a linha narrativa, desconcentravam o prosseguimento da história, minha nossa, eu não assistia nem os filmes da Disney porque, em algum ponto, inevitavelmente, haveria alguma cantoria.
A única exceção que eu fazia era A Fantástica Fábrica de Chocolate, a versão setentista estrelada pelo saudoso Gene Wilder, da qual eu provavelmente sou capaz, ainda hoje, de cantarolar as canções que permeavam toda a película.
Conforme eu fui crescendo, desenvolvi alguma tolerância a musicais. E me descobri chegando a gostar de comédias musicais, como Os Produtores, por exemplo, e tolerando os números musicais das animações da Disney, mas jamais peguei gosto pelos grandes musicais de antigamente, de Astaire, Kelly e outros pés-de-valsa, donde a minha antipatia absolutamente injustificada por La La Land, que estreou por aqui no começo desse ano, ou final do ano passado, francamente, nem lembro.
Eu, de fato, impliquei com o filme, aclamado como uma "volta à Hollywood de antigamente", e abraçado e acalentado pela maioria da crítica especializada, tanto que foi um dos poucos filmes a disputarem a temporada de premiações que eu jamais cogitei assistir no cinema, e no sábado, quando passei pela locadora, e o único filme recente que eu ainda não havia assistido era La La Land, eu cheguei a pensar em pescar alguma coisa na Netflix, Amazon, ou no Now da NET, mas acabei resolvendo dar uma olhada no filme, nem que fosse para detoná-lo na resenha de segunda-feira.
Ontem à tarde, quado sentei na sala pra assistir ao longa, e ele abriu com uma sequência musical com a cara, forma e conteúdo dos musicais de outrora, tive ganas de assistir ao filme com o controle remoto do blu-ray player na mão para avançar as partes cantadas, mas me contive, respirei fundo, e assisti ao filme.
O longa do diretor Damien Chazelle, o mesmo do excelente Wiplash: Em Busca da Perfeição, conta a história de dois sonhadores que largaram tudo e foram pra Los Angeles perseguir suas aspirações. A atriz Mia (a adorável Emma Stone), que trabalha como barista em uma cafeteria no lado de fora dos estúdios da Warner, e o pianista Sebastian (Ryan Goslin), que que ganha a vida tocando em restaurantes e festinhas. Ela vem de uma sequência torturante de audições onde, por vezes sequer é olhada pelos produtores e diretores de elenco, ele toca jingle bells em restaurantes e não consegue nem mesmo pagar suas contas.
Eventualmente esses dois se esbarram, no trânsito, num restaurante, até que, numa festa qualquer, finalmente se falam, e, apesar dos percalços iniciais, se conectam, e passam a empurrar um ao outro em direção aos sonhos que já começavam a deixar pra trás, mas quando alcançarem esses sonhos, será que o que sentem um pelo outro será suficiente para mantê-los juntos?
Pois então... Eu tive que dar o braço a torcer.
La La Land, de fato, é um bom filme.
Eu não sei se material para Oscar de melhor atriz e diretor, mas certamente trilha, design de produção, fotografia e canção, vencido pela bela City of Stars.
Ah, sim, quanto à música e aos números musicais, o filme abre com a excessiva Another Day of Sun (que quase me fez pular os segmentos musicais do musical), onde pessoas presas no tráfego, de repente, começam a sair de seus carros, cantar e dançar, e é bem ruim, as coisas melhoram, porém, no decorrer do filme, se Someone in The Crowd, com Mia e suas colegas de quarto é enjoadinha e Planetarium é OK (bela sequência de dança, magicamente ambientada e lindamente executada, mas com uma música que fica devendo), City of Stars é muito bonita, e Lovely Night, com o número de dança de Stone e Gosling é a melhor do filme sem sustos, ainda que o belo tema de piano do casal, que permeia todo o longa, seja lindo.
Obviamente muito das láureas que La La Land recebeu advenham do fato de que Hollywood adora homenagens à Hollywood e La La Land é uma masturbação Hollywoodiana sem tirar nem pôr. Mas é uma boa masturbação. Daquelas que a gente recebe de alguém que nos ama.
Eu não me arrependi de não ter assistido no cinema, mas pra quem gosta de histórias de amor fofas e algo melancólicas, certamente vale a locação.

"Um brinde àqueles que sonham/ Por mais tolos que possam parecer/ Um brinde aos corações doloridos/ Um brinde à bagunça que fazemos."

Um comentário:

  1. Ótimo trabalho, ponto de vista muito bem sucedido! O filme abre com uma impressionante sequência em uma rodovia em direção a Los Angeles. La La Land é um filme essencialmente sensorial. A história é quase uma desculpa para reconstruir a magia dos musicais. Ryan Gosling (Ryan do óptimo Blade Runner 2049 ) e Emma Stone tornam toda essa construção fluida, ambos desempenhando um dos melhores papeis de suas carreiras. Não só através de suas movimentações nas quais cada passada parece ter sido milimetricamente estudada, tornando até o flutuar algo orgânico, como na forma que se entregam a seus personagens. Mesmo nos silêncios conseguimos sentir ambos, de tal maneira que ganham vida diante de nossos olhos, nos fazendo sentir suas dores, alegrias, tornando seus sonhos os nossos. Acompanhar esse casal é se deixar entregar a uma espiral de emoções, que nos remetem aquele grande amor que todos vivemos. A música ainda faz o máximo para aproveitar a voz de ambos, levando em conta suas limitações, sem exagerar ao ponto de pedir mais do que eles poderiam realizar.

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