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terça-feira, 30 de maio de 2017

Resenha Série: Deuses Americanos. Temporada 1 Episódio 5: Lemon Scented You


Atenção! Há spoilers do episódio!
Após uma bela vinheta animada de "Chegando à América" que contou a história de Nunyunnini, um deus que acabou esquecido após perder seus seguidores, Deuses Americanos finalmente saiu do cliffhanger onde nos deixara pendurados por dois capítulos, com Shadow encontrando Laura no seu quarto de hotel, a cena que havia encerrado tanto Head Full of Snow quanto Git Gone.
Foi interessante ver que Laura, que em vida era uma vaca fria que não dava bola alguma pro Shadow, agora é uma criatura que não tem propósito na existência exceto seu amor pela "luz de sua vida". A interação entre os dois foi bem interessante, especialmente conforme Shadow, que andou vendo coisas bem sinistras nas últimas semanas, não ficou tão abismado com o retorno de Laura quanto poderia se supôr, e certamente não o suficiente para esquecer da traição dela, e da circunstância de sua morte.
Laura, por sua vez, parece estar lutando para se importar com Shadow, mas por jamais ter se importado com nada na vida, tem uma atitude artificial que a faz parecer ainda mais vaca do que o habitual, e fica absolutamente desconcertada quando seu "puppy" a rejeita.
A despeito de jamais ter amado Shadow em vida, na morte, a única razão para Laura andar pelo mundo é a presença de Shadow, e o presente que ele lhe deu.
Aliás, o presente de Shadow, a moeda que, segundo Zoraya Polunochnaya era o Sol, leva ao encontro entre Laura e Mad Sweeney.
O leprechau segue tentando recuperar seu amuleto da sorte (quisera eu poder usar esse espaço para dizer "lucky charm" com sotaque irlandês), mas esbarra nas habilidades que a moeda deu à senhora Moon.
As interações entre Sweeney e Laura podem não ter tão pungentes quanto as interações entre Shadow e ela, mas certamente são muito engraçadas, sem contar que, em um programa que parece não ligar nem um pouco para se a audiência está acompanhando a história, ou não, qualquer lugar de onde se possa tirar uma pista das motivações e sentimentos dos personagens com mais poker face é bem vindo.
No caso, toda a conversa de Sweeney com Laura, especialmente suas insinuações de que Shadow não liga mais pra "Esposa Morta" foram o grande indicativo de o quanto Shadow é importante para o pós-vida de Laura, e de o quanto a ausência do viúvo mexeu com ela.
E enquanto Laura e Sweeney resolviam suas desavenças, Quarta-Feira e Shadow tinham seus próprios problemas para lidar.
A despeito de todas as precauções tomadas pela dupla, eles são encontrados pela polícia e presos pelo assalto a banco após cruzarem duas divisas estaduais após uma dica anônima colocar os tiras na porta do motel onde a dupla se escondia.
Óbvio trabalho de inimigos poderosos e com vasto acesso à informação.
E aí chegamos ao que certamente foi o ponto alto do episódio, quando os novos deuses, Technical Boy e Media trouxeram à presença de Shadow e Quarta-Feira Mr. World (o George McFly Crispin Glover).
A despeito de ter mostrado sua cota de forças sinistras ao longo dos últimos quatro capítulos, Deuses Americanos ainda não tinha um antagonista de fato, e Mr. World certamente pode ocupar esse posto com tranquilidade.
Sua visão dos novos deuses combinada com seu tratamento sinistro ao Technical Boy e seu comportamento polido e desarticulado criaram um vilão de estirpe para a série.
Sua proposta de fusão à Quarta-Feira, que, se os espectadores ainda não haviam notado pelo olho de vidro e pelos corvos, é Odin, ilustrada pelo Valhalla cartunesco habitado por unicórnios coloridos criado por Media (que apareceu brilhantemente em forma de David Bowie e Marilyn Monroe no episódio) foi o abraço definitivo de Deuses Americanos à esquisitice, sim, mas também foi a derradeira explanação para a questão de qual o grande conflito do seriado.
Mr. World e os novos deuses substituindo os deuses antigos através de uma visão corporativa e pasteurizada de mundo sem identidade.
O individualismo robusto não tem mais espaço, avisa Mr. World.
Esse é um mundo social e comunitário, onde ninguém existe individualmente, a mídia social, os gadgets, franquias e corporações são a única identidade à qual a humanidade se presta em sua maioria.
Mais do que isso, o encontro com Technical Boy, Media e Mr. World reforçou o papel de Shadow na trama, já que Media deixa bem claro que, nem todo mundo precisa acreditar, apenas pessoas o suficiente, talvez, apenas uma.
O respeito de Mr. World por Quarta-Feira me fez questionar o que aconteceria se o antigo deus dos deuses de Asgard recebesse adoração o suficiente, e, no caso, será que unicamente uma crença, a crença de um incréu como Shadow, poderia fazer toda a diferença?
Outro baita episódio de Deuses Americanos, Lemon Scented You também teve seus percalços.
O pior deles provavelmente foi a cena do interrogatório, que pareceu algo deslocada. Interessante como Audrey serviu, no episódio passado, como um lembrete saboroso da presença de gente normal no mundo de Deuses Americanos, e no episódio seguinte a presença dos detetives fez exatamente o oposto.
E, claro, após lançar uma luz sobre alguns dos mistérios da série, o episódio tinha que enfiar um novo e sinistro elemento na trama, o que diabos (ou deuses) era aquela criatura que agarra Shadow ao fim do capítulo?
A despeito de alguns elementos fora de lugar, o episódio foi bom, e ainda que não tenha alcançado o nível de seus melhores capítulos, manteve Deuses Americanos como aquela série pela qual vale a pena roer as unhas até a semana que vem.

"-Você se meteu em umas merdas bem estranhas, mesmo, Shadow..."

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