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sexta-feira, 17 de maio de 2019

Resenha Cinema: John Wick 3: Parabellum


Quando o anacrônico De Volta ao Jogo (porque Odin proíba um filme ter, no Brasil, um nome próprio no título) foi lançado em 2014 não era difícil imaginar que, sozinha, a mitologia do Wickverso com seus medalhões, emblemas e regras pétreas de conduta, já valeria uma franquia. Somada à esperta direção do ex-dublê Chad Stahelski e à disposição de Keanu Reeves de abraçar a fisicalidade de um papel definitivo, o longa deu origem a uma segunda parte em 2017 e a um terceiro capítulo que estreou ontem nos cinemas brasileiros, e que eu corri pra ver no cinema, algo que não tivera a decência de fazer com os dois filmes anteriores.
John Wick 3: Parabellum abre imediatamente após os eventos do segundo longa, Um Novo Dia Para Matar (é... Vai longe o tempo dos títulos bem sacados no Brasil), John Wick (Reeves) foi banido do círculo de assassinos do qual fazia parte, após matar um membro da Alta Cúpula nas instalações do Hotel Continental, perdendo os benefícios e vantagens da inacreditavelmente extensa e bem montada rede de estabelecimentos e profissionais que operam em nome dos portadores dos estilosos dobrões de ouro trocados entre esses matadores. Após ganhar de Winston (Ian McShane) um prazo de uma hora antes de sua excomunhão entrar em efeito, John corre contra o tempo para se preparar para a tempestade que uma recompensa de 14 milhões de dólares por sua cabeça jogará em seu caminho.
A única alternativa de John para sobreviver às investidas de infinitas hordas de matadores gananciosos é usar o que ainda restou de suas conexões, da diretora da sinistra escola de balé bielorrussa (Angelica Houston) que foi sua mentora e protetora no passado, à gerente do Continental de Casablanca, no Marrocos, Sofia (Halle Berry), de quem John possui uma promissória para tentar alcançar O Ancião da Alta Cúpula dos assassinos (o nada ancião Saïd Taghmaoui) e reverter sua excomunhão através de uma oferta pessoal de penitência, uma dádiva que pode não vir sem um altíssimo preço a ser pago conforme vão descobrindo todos aqueles que ajudaram John quando uma Juíza da organização (Asia Kate Dillon) surge para puni-los pelo auxílio prestado ao excomungado usando as habilidades de Zero (um ótimo Marc Dacascos, que se junta a Kristin Kreuck como uma dessas pessoas de etnia indefinida que podem fazer papel de índio, oriental ou caucasiano conforme a necessidade do roteiro) e seus alunos, uma facção de assassinos dentro do mundo dos assassinos, que aparecem para colocar Winston e o Rei do Bowery (Laurence Fishburn) em posições delicadas, e que colocarão as habilidades de John à prova conforme ele precisa decidir onde reside, de fato, sua lealdade, e até onde ele está disposto a ir para recuperar o que sobrou de sua vida após a morte da esposa.
Sim, John Wick 3: Parabellum é genial.
O longa tem seus tropeços, a expansão do Wickverso não é tão inspirada quanto nos dois longas anteriores (o Ancião no Sahara, por exemplo, é meio sem-sentido mesmo nesse universo, a Juíza tinha um potencial sensacional após Ares e Srta Perkins terem sido personagens tão bacanas no segundo e primeiro filme, respectivamente, mas não alcança o mesmo patamar...), mas mesmo os excessos e pernas curtas do roteiro de Derek Kolstad, Shay Hatten, Chris Collins e Mark Abrams (Aumentou o número de roteiristas, o script começou a ficar problemático. Coincidência?) empalidecem frente aos acertos do filme.
Da sequência de ação inicial, com John enfrentando Ernest, um enorme assassino eslavo (vivido pelo jogador sérvio da NBA Boban Marjanovic) usando um livro na biblioteca pública de Nova York, aos seus desdobramentos onde ele usa de revólveres do Velho Oeste a facas, machados e cavalos como arma para enfrentar matadores chineses e italianos em sua tentativa de chegar ao teatro bielorrusso passando pela genial sequência de luta de John, Sofia e seus cachorros contra a rapa na casa de Barrada (o Bronn de Game of Thrones Jerome Flynn) em Casablanca, até a luta de John contra os shinobis de Zero (que incluem Yayan Ruhian, dos dois Operação Invasão) em Nova York, o filme usa as coreografias de luta de novo e de novo para presentear a audiência com construções visuais tão belas quanto excitantes, os momentos de humor inesperados, a qualidade algo excessiva de todas as atuações que se dividem entre teatrais e assumidamente canastronas e situações do filme, que fazem absolutamente parte da diversão, e, claro, Keanu Reeves se tornando um action hero de pouquíssimas palavras de fazer o mais mudo brucutu oitentista engasgar de inveja com sua habilidade de dizer tudo com seus punhos, armas, facas e chaves de perna.
A ação de John Wick, sozinha, tem mais personalidade que toda a franquia Velozes e Furiosos, e quando somada ao carisma abissal de Reeves e à competência de Stahelski e equipe em criar narrativa através de pancadaria, nós só podemos nos perguntar por que é que não há mais filmes assim estreando toda a semana.
Assista no cinema.

"-Você está puto da vida, John?
-É..."

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