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segunda-feira, 13 de maio de 2019

Resenha Série: Game of Thrones, Temporada 8, Episódio 5: The Bells


Atenção! Há spoilers abaixo!
A hora chegou. Daenerys colou seus exércitos nas muralhas de Porto Real, montou em Drogon e está pronta para tomar a cidade de assalto e finalmente sentar na cadeira mais cobiçada dos sete reinos com fogo e sangue em outro episódio divisivo da temporada final do programa.
Se Game of Thrones tivesse mantido a duração de suas temporadas em dez episódios, é bem possível que muito do que soa gratuito e forçado nos últimos anos tivesse sido merecido e desenvolvido...
Na inexplicável ânsia de encurtar um programa que angariou uma legião de fãs e é campeão de audiência, David Benioff e D. B. Weiss colocaram sua grande realização televisiva em uma posição complicada entre os espectadores que têm acompanhado a saga desde seu início nove anos atrás. Se eu ouvi muita gente se queixar da forma questionável como as passagens de tempo funcionavam em Westeros na temporada passada, um deslize que eu estive pronto para perdoar, diga-se de passagem, esse ano final se notabiliza por usar atalhos narrativos duvidosos tanto nos treslados dos personagens (que ainda parecem viajar de concorde pelo continente inventado por George R. R. Martin), quanto em sua evolução.
Claro, todos nós estávamos vendo que Daenerys não estava muito bem da cabeça desde o começo da temporada conforme suas interações com Sansa deixavam claro. Nós a vimos pagar um altíssimo preço pela vitória sobre o Rei da Noite e vimos o seu ódio por Cersei ser turbinado pela execução de Missandei, o grande ponto, aqui, é que Daenerys vem perdendo coisas e pessoas há oito temporadas sem que isso a tivesse afetado de maneira decisiva, e nos últimos cinco episódios nós jamais tivemos nada, nem um insight verdadeiro da personagem que mostrasse porque ela estava indo de quebradora de correntes a churrasqueira maluca, apenas pessoas falando nos bastidores que ela estava agindo feito louca.
Não me entenda errado, eu sei que muita gente estava antevendo a possibilidade da rainha dragão despirocar já há muito tempo (havia até quem estivesse ansioso por isso) já que pistas vinham sendo deixadas pelo caminho nos últimos quatro episódios conforme o comportamento de Dany se deteriorava, a questão é que a transição foi tratada de forma tão tosca e apressada que é difícil não ver a coisa toda como uma tentativa de simplesmente dar uma rasteira na parte da audiência que tinha comprado a ideia de que a mais jovem Targaryen era boa e gentil. Ideia, diga-se de passagem, que vem sendo semeada de maneira muito mais convincente pelos produtores desde o começo da série. E quando nos lembramos de Daenerys reconhecendo a maldade de seu pai, o Rei Louco, e prometendo que deixaria o mundo melhor, ou prometendo que não navegara a Westeros para ser rainha das cinzas, fica ainda mais indigesto vê-la montada em um dragão mandando mulheres e crianças aos berros pro inferno em nuvens de fogo sem pensar que isso é menos uma transição natural do que uma necessidade da trama levada a cabo meio de qualquer jeito.
Surpreendentemente, Daenerys resolvendo ativar o modo Rainha Louca nem foi o pior desenvolvimento de personagem de The Bells.
Cersei Lannister, que galgara degrau por degrau desde a primeira temporada da série a posição de personagem que todos nós aprendemos a amar odiar graças a interpretação de Lena Headey, que não deve ter tido cinco páginas de roteiro pra ler nessa temporada e ficou relegada a fazer caras de nojo quando era tocada por Euron Greyjoy, estreitar os olhos quando maquinava contra Daenerys e resmungar que a Companhia Dourada veio sem elefantes. Após tantos anos posando de fodona, a rainha mãe que sempre fora uma ameaça velada a todos os disputantes do jogo dos tronos encontrou seu fim chorando e dizendo que não queria morrer, abraçada por Jaime, este sim, o personagem que mais foi sacaneado pelo roteiro.
Todo o seu arco de redenção e descoberta foi jogado no lixo ao levarem-no de volta a Porto Real para, primeiro ser "morto" por Euron, provavelmente o pior (no mau sentido) vilão da série, e acabar agarrado na Cersei, que, por sinal, não precisava ter medo de Valonqar nenhum, deixando claro que todas as profecias de Game of Thrones são balela (e reforçando minha aversão por profecias e escolhidos...). Por mais que faça sentido que os personagens terminem ali, considerando onde eles começaram, e a importância de haver uma punição para Jaime, que após tudo o que aprontou não merecia um final feliz vivendo em Winterfell com Brienne, este final especificamente, é simplesmente injusto para com a trajetória do personagem ao longo do programa.
Mas vá lá, nem tudo em The Bells foi horrível. A investida de Daenerys contra a Frota de Ferro (que ela tinha "meio que esquecido" no episódio anterior, segundo os produtores) e contra as muralhas de Porto Real foi muito boa, a sequência do massacre liderado por Verme Cinzento também foi brutal, mostrando que Miguel Sapochnick é muito mais o diretor de Hardhome e The Battle of the Bastards do que o de The Long Night, o Cleganebowl pode não ter sido exatamente o que eu esperava, mas teve seus momentos, especialmente ao ser intercalado com a claustrofóbica tentativa de fuga de Arya, e ainda mais após a bela cena que a jovem Stark compartilha com o Cão de Caça (a despedida entre Tyrion e Jaime, aliás, também foi um belo momento), e a expressão de Jon ao perceber que Daenerys não aceitou a rendição de Porto Real também é digna de nota.
Agora resta ver como as coisas vão tocar no final da série na semana que vem, pra mim, parece que Daenerys alcançou um ponto sem retorno ou redenção possíveis após os eventos de ontem, e a grande pergunta não é mais quem vai terminar sentado no Trono de Ferro, mas quem irá matá-la (meus palpites são Jon ou Arya, com Tyrion correndo por fora), e se Benioff e Weiss serão capazes de tirar da cartola algum coelho que faça com que a última temporada do que poderia ter sido a grande produção de fantasia da história da televisão fique marcada pelo que foi, e não pelo que poderia ter sido.

"-Você não que acordar o dragão, quer?"

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