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terça-feira, 21 de maio de 2019

Resenha Série: Game of Thrones, Temporada 8, Episódio 6: The Iron Throne


Atenção! Spoilers abaixo!
Há alguns anos, quando seu desprendimento sobre matar protagonistas tornara-se de conhecimento do grande público após o Casamento Vermelho chocar os espectadores de Game of Thrones, George R. R. Martin, autor dos livros que inspiraram o seriado, começou a ser bombardeado com perguntas sobre quem ainda estaria vivo no final da série e que tipo de cataclismo de proporções bíblicas todos poderiam esperar no desfecho da história.
Martin respondeu sempre que o final que tinha em mente para As Crônicas de Gelo e Fogo era agridoce. E citava o final de O Senhor dos Anéis como uma óbvia inspiração, e eu entendia.
O final de O Senhor dos Anéis, ao menos um deles, sempre me pareceu, se não triste, melancólico, com a Sociedade do Anel se separando, Frodo indo para Valinor com Gandalf e tudo o mais...
Dito isso, The Iron Throne, episódio final de Game of Thrones na divisiva temporada final do programa encontrou, me parece, esse mesmo tom.
Os Eventos de The Bells deixaram marcas. A sanha assassina de Daenerys Nascida da Tormenta não passou despercebida de seus mais novos aliados.
Se dothraki e Imaculados estão perfeitamente confortáveis com a ideia de reduzir uma cidade e sua população a cinzas em nome de uma vitória, Tyrion Lannister, Jon Snow e sor Davos Seaworth não podem dizer o mesmo.
O massacre de Porto Real abala as estruturas de comando de Daenerys e a confiança de seus seguidores na habilidade de liderar da rainha louca mirim.
Após Tyrion encontrar os cadáveres de Jaime e Cersei soterrados (parcialmente soterrados, de uma maneira que faz parecer que se eles tivessem corrido mais pra esquerda poderiam ter sobrevivido...) nas catacumbas e ouvir o alucinado discurso de Daenerys prometendo que ela e seus exércitos viajariam pelo mundo libertando mais e mais cidades como fizeram com Porto Real, ele abdica do cargo de Mão da Rainha apenas para ser aprisionado e levado para aguardar sua sentença de morte queimado vivo pelo fogo de Drogon por traição à sua rainha ao ter libertado Jaime, e após uma conversa com o Duende, Jon Snow descobre que tem o futuro de Westeros em suas mãos e precisa tomar uma atitude.
O fato de ser Jon a matar Daenerys não me surpreendeu.
Era uma pedra que eu vinha cantando desde antes de Dany despirocar, embora, na época, eu achasse que haveria alguma coisa mais mágica envolvida e que seria na luta contra o Rei da Noite, que eu pensava que era o grande inimigo na série por causa da maldita profecia de Azor Ahai, seja como for, se a morte de Daenerys não era mais surpresa após o episódio passado, sua mudança absolutamente brusca de personalidade segue sendo a maior forçada de barra da série em uma temporada repleta de problemas.
Ainda que os roteiristas tenham tentado dar uma desdobrada na audiência com a conversa entre Tyrion e Jon, quando o Duende relembra todas as vezes em que Daenerys massacrou inimigos e os queimou vivos, há um elemento que não se encaixa:
Dany sempre matou tiranos e assassinos, sem jamais levar sua sede de fogo e sangue aos indefesos.
E essa é uma ponta solta que o discurso da jovem rainha ao se justificar para Jon, nem mesmo tenta amarrar. Ela abandona todo e qualquer sentido quando ela diz que Cersei estava usando a inocência do povo contra ela.
Mesmo das costas de um dragão era perfeitamente possível para Dany perceber que seus verdadeiros inimigos estavam na Fortaleza Vermelha, e uma vez que ela estava disposta a derrubar a porra toda, ela podia ter simplesmente parado com Drogon junto da torre e mandando Cersei, Quyburn e Gregor pro inferno e tomado a cidade como uma heroína da maneira que ela fizera em Meereen, Astapor, Yunkai, etc, etc... Mas era mais rápido simplesmente virar a chave e fazer com que Jon e Tyrion tivessem justificativas para traí-la do que desenvolver um comportamento psicopata gradual na personagem em seis episódios, então...
Ao simplesmente virar a chave e fazer Denerys ir do lado do bem ao lado do mal na forma mais Anakin Skywalkeresca possível, os produtores/roteiristas roubaram da audiência a capacidade de saber o que Dany estava sentindo ou pensando, e quando nos foi tomada a capacidade de sentir empatia pela khaleesi, algo que vínhamos fazendo desde o primeiro episódio, quando ela estava sendo vendida por Viserys a Drogo, a série tornou a morte da personagem inócua.
Esse, por sinal, talvez tenha sido o grande defeito do final da série.
Os sacrifícios, as mortes, as reminiscências, tudo foi um pouco vazio de significado e emoção. Por mais que o episódio final não tenha sido a desgraça que chegou a se imaginar (eu certamente cheguei) por conta da completa irregularidade da temporada, ele foi achatado nesse sentido.
Mesmo o que deveria ter sido a grande cena do episódio, com Drogon destruindo o Trono de Ferro, uma cena, por sinal, muito bonita e bem filmada, sobraram as dúvidas de porque Drogon não matou Jon, e de onde o dragão encontrou insight para o simbolismo de "Minha mãe morreu por causa desta cadeira idiota", e sim, eu sei que estou sendo tenebrosamente cri-cri com esse comentário, mas Benioff e Weiss meio que mereceram.
Ademais, o final, com aleijados, bastardos e coisas quebradas foi mais feliz do que poderíamos ter imaginado, mesmo com novas idiossincrasias.
Conforme uma morena muito cheirosa pontuou, Tyrion acabara de escolher o novo rei de Westeros para os lordes remanescentes, e depois disse que não servia para ser conselheiro?
Ele provavelmente era a pessoa viva no continente com mais experiência como Mão, ele era a óbvia escolha.
Bran, com sua humanidade parcialmente removida de si após se tornar o Corvo de Três Olhos era, de fato, a escolha óbvia para ser rei (como Adam Warlock, que remove de si o bem e o mal para ser um portador confiável da Manopla do Infinito...), e formou um pequeno conselho repleto de pessoas astutas e/ou inteligentes, mas sem ninguém cruel ou mau.
Brienne como comandante da Guarda Real foi uma boa sacada, e a cena onde ela terminou de preencher a página de Jaime no Grande Livro Branco só não foi mais tocante porque o arco de personagem de Jaime foi uma puta mentira. Sansa Stark, por outro lado, acabou tendo o arco de personagem mais bacana (teria sido Jaime sem os eventos dos dois últimos capítulos), indo de fedelha enjoada a líder política lutando pelo seu povo e por Jon, e obtendo a independência do Norte tornando-se sua rainha, enquanto Arya praticamente ganhou uma ideia para um Spin-Off sobre as aventuras de Arya Stark do Caribe, enquanto Jon é mandado de volta para a Patrulha da Noite, que, francamente, parece não ter mais razão de existir, mais ainda, Jon é exilado para agradar um exército de escravos genocidas que foi embora de uma cidade em ruínas onde estavam aquartelados?
Por outro lado, foi bom que após passar tanto tempo dizendo que não queria ser rei, Jon não tenha sido forçado a fazê-lo fosse em Porto Real, fosse em Winterfell (ainda que essa decisão tenha meio que feito toda a longamente debatida linhagem do personagem ser absolutamente inútil). Me pareceu que depois dos anos desgraçados que o personagem que, no fim das contas é o herói de Game of Thrones viveu, ele encontraria alguma paz verdadeira vivendo entre o Povo Livre com Tormund e Fantasma, com quem, aliás, Jon compartilhou um dos melhores momentos do episódio, provavelmente o único em que alguém pareceu, não satisfeito, ou tendo a certeza do dever cumprido, mas verdadeiramente feliz.
A nossa vigília de oito anos chega ao fim com mais cara de Um Sonho de Primavera do que de Ventos do Inverno (aliás, chegamos, de fato, a ter um inverno na série...?), a despeito da maneira truncada, quase corrida como a temporada final foi tratada pelos inexplicavelmente apressados produtores do programa.
Algumas tramas tiveram fins insatisfatórios, outras foram simplesmente deixadas de lado, e a transição de Dany de mocinha a vilã foi particularmente amarga em sua má execução, verdade, a despeito disso, este episódio final, sem tirar nem pôr, poderia ter sido tão grandioso, se a temporada tivesse sido melhor administrada, e isso é tanto um feito quanto uma pena.
Espero, francamente, que não seja isso que Martin tenha imaginado quando falou em final agridoce.

"-O amor é a morte do dever."

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