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segunda-feira, 10 de fevereiro de 2020

Resenha Série: Star Trek: Picard, Temporada 1, Episódio 3: The End is the Beginning


Após dois episódios de preparação de terreno franca e simples, o terceiro capítulo de Star Trek: Picard gasta seus quarenta e dois minutos em... Mais preparação de terreno.
The End is the Beginning começa com mais um flashback, dessa vez nos levando quatorze anos no passado logo após o ataque ao Estaleiro Utopia em Marte acabar com a missão de resgate dos Romulanos ameaçados pela iminente explosão da supernova que seu mundo orbitava. Ali nós vemos a então primeira oficial de Picard, Raffi (Michelle Hurd), a quem ele foi procurar no final do episódio passado, ansiosa por descobrir se os planos alternativos e revisados de evacuação no qual ela e Jean-Luc se debruçaram haviam sido aceitos pela Frota Estelar quando os dois se encontram em um jardim do quartel-general da organização, mas as notícias que o almirante traz consigo não são animadoras:
A Frota Estelar não apenas não aceita os planos da dupla, como também deixa claro que não tem nenhum interesse em realizar um resgate dos Romulanos condenados. E, quando Picard lhes deu um ultimato, declarando que ou uma missão de resgate era levada a cabo, ou ele renunciaria a seu posto, o alto-comando ficou com a segunda opção.
A maneira como Jean-Luc ensaia antes de admitir essa verdade amarga, e a maneira como ele admite que não imaginava que seu pedido de demissão fossem ser aceitos apenas torna a cena toda mais triste, mas quando voltamos ao presente Raffi não parece estar penalizada com Jean-Luc. Muito antes pelo contrário. Sua disposição para com o almirante reformado é a mesma do fim do capítulo passado quando ela deixou claro que não gosta dele. Na verdade, o despreza.
A ex-primeira oficial passou os últimos quatorze anos culpando Jean-Luc pelo fim de sua carreira. Para Raffi, ao resignar de seu posto na Frota, ele sepultou a posição dela na Frota Estelar. Não bastasse isso, ela guarda uma grande mágoa do fato de JL, como ela o chama, jamais tê-la procurado nos últimos anos, não por precisar de ajuda com alguma conspiração mirabolante, mas para ao menos saber como ela estava.
A despeito de seus rancores, porém, Raffi parece ainda ter uma fagulha de respeito por Picard, ao menos o suficiente para ajudá-lo a encontrar uma nave e um piloto que possam levá-lo onde ele quer ir após ele explicar para ela tudo o que está em jogo.
O piloto em questão é Rios (Santiago Cabrera).
Rios tem um ato meio Han Solo, blasé e descolado, não se importa com um estilhaço de metal cravado em seu ombro e lê filosofia espanhola. Picard, porém, não fica impressionado com a pose de Rios, e de cara saca que, a despeito dela, o sujeito é Frota Estelar até a medula, mais do que isso, quando vemos Rios conversando com seu Holograma Médico de Emergência, nós descobrimos que ele é, na verdade, um fá de carteirinha de Jean-Luc Picard (e não somos todos?).
Se Rios está se fazendo de gostoso, a doutora Jurarti não está. A maior autoridade em vida sintética do planeta não é boa em resistir a pressão, e quando a comodoro Oh aparece para obter informações acerca das pretensões de Picard, ela própria vai até o chateau de Jean-Luc para alertá-lo de que o alto-comando da Frota está em seus calcanhares e também para deixar claro que, se o almirante reformado irá partir em busca da outra sintética senciente, ela irá com ele.
Fechando a tripulação, surge Raffi. Apesar de todos os seus discursos sobre querer distância de Jean-Luc a qualquer custo, ela resolve se juntar à turma ao menos temporariamente, para obter uma carona até um lugar chamado Freecloud, que parece o nome de uma rave. As razões da ex-oficial da Frota para querer chegar ao tal local são desconhecidas tanto para Picard quanto para a audiência, mas devem ser importantes já que, aparentemente, o nome do lugar surge em meio aos arquivos do caso de Dahj que ela recebeu do almirante reformado.
Enquanto isso, n'O Artefato, Soji segue com sua pesquisa.
Que pesquisa é essa? Bom, parece que nem ela própria saberia dizer. Teoricamente ela deveria estar trabalhando em maneiras de ajudar ex-Borgs a se recuperarem do trauma da assimilação, mas quando ela tem a oportunidade de entrevistar uma ex-Borg Romulana, ela começa a perguntar a respeito da espaçonave onde a mulher estava lotada antes de ser assimilada ao invés de qualquer terapia envolvendo mitologia Romulana. A própria Soji admite não saber de onde vieram aquelas perguntas, dando a entender que ela foi criada com propósitos específicos que nem ela conhece.
Falando em coisas que Soji não conhece, ela segue sem saber que sua irmã explodiu para a morte, e que seu namorado Romulano Narek tem uma agenda pérfida por trás do envolvimento com ela.
Ou seja, Soji não sabe porra nenhuma.
Em geral, The End is the Beginning é o episódio mais fraco de Picard até aqui. O capítulo tem alguns momentos razoáveis, como a apresentação de Rios e a maneira como os eventos que levaram à aposentadoria de Picard são conduzidos, entretanto as motivações e a caracterização de Raffi são finas que nem papel. A personagem culpar Picard pelo fim da própria carreira após a evacuação fracassada dos Romulanos é absolutamente idiota.
Jean-Luc não tem culpa pela corrupção que tomou conta da Frota Estelar, e tampouco é responsável pelo que sua ex-primeira oficial fez da vida após ele abdicar de seu posto. Além do mais ela não acreditava na importância da missão, também? Se todo o amigo com quem perdemos contato fosse culpado por todos os aspectos frustrantes de nossas vidas ninguém precisaria assumir a responsabilidade por coisa alguma, e, nesse momento, Raffi surge como uma personagem que não quer admitir que se entregou, e isso torna a personagem mais antipática e o episódio em geral, mais fraco.
Não ajuda o fato de que a a linha narrativa de Soji no Cubo Borg continue cheia de clichês ou que The End is the Beginning seja mais um episódio que parece preparar o terreno quando após mais de duas horas de série Star Trek: Picard já deveria ter começado sua jornada.
Picard, porém, se mantém em sua melhor forma ao centrar o foco de sua narrativa no protagonista como acontece nos minutos finais do episódio, repletos de um impacto emocional que, eu juro, me arrepiou.
Vamos esperar que nos próximos capítulos, com Jean-Luc Picard de volta a seu ambiente natural, a série finalmente possa decolar.

"-Acionar."

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