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segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Elevador


Entraram no elevador juntos. Ela linda. Cabelo vermelho, curvas em todos os lugares certos, tatuagens inspiradoras, olhos encantadores. Ele alto, cabelo preto, barba de alguns dias.
Ele segurou a porta para que ela entrasse. Ela perguntou qual era o andar dele.
-Sete, por favor.
Ela pressionou o botão sete, e o nove. Ficou parada à esquerda dele, um passo à frente. Estava quente naquele dia, por Deus como estava quente. Ele suava em bicas, e oscilava o corpo acompanhando o pequeno ventilador preso à parede do elevador acima do painel. Ela tinha na mão um lenço de papel, e com ele limpava as gotículas de suor que espertamente lhe surgiam acima dos lábios apetitosos.
Ele a olhava com olhos gulosos, fixamente. Foi quando se repreendeu em pensamento.
"Te liga, rapaz. Secando a guria com essa cara de Willem Dafoe. Imagina se ela vira? Uma moça bonita dessas, periga apertar o primeiro botão e descer em qualquer andar. Vai pedir socorro, chamar a segurança. 'Um tarado ficou me assediando no elevador, me ajude!', e eu ia ter que escapar do prédio rapelando um fio telefônico, e ia cair, por que nenhum fio telefônico suporta o peso de um homem adulto. E eu ia quebrar todos os meus ossos por que não fui capaz de me contolar e não encarar uma moça bonita no elevador.".
Olhou pra cima, oscilou o corpo olhando pro teto e acompanhando o bailado do ventilador. A moça olhou pra trás. O olhar dela cruzou com o dele. Ele sorriu casualmente e deu uma piscada. Ela voltou a olhar pra frente. Ele fez cara de quem não acreditou.
"Meu Deus do céu. O que que eu tenho na cabeça? Parado dentro do elevador, atrás da guria, ela se vira, dá de cara comigo me esfregando na parede do elevador feito um tarado, e o que eu faço? Pisco um olho. Pisco feito um Ron Jeremy da vida. PelamordeDeus, viu? Se ela descer do elevador antes do nono andar e pedir socorro eu fico e me entrego. Mereço ser preso depois dessa. Uma mulher bonita dessas, com essa cara de séria, me olha e tô eu, encarando o teto, rindo sozinho e piscando. Não dá pra acreditar..."
A moça deu dois passos pra trás e se encostou na parede do elevador também. Era reflexo natural, estava calor, e buscar a área de ação do ventilador era uma ação instintiva.
Ele notou as tatuagens nos ombros dela, viu a maquiagem escura em seus olhos, além de bonita, pensou, era descolada. Maneira.
Ela ergueu os olhos e o encarou, ele ainda a estava olhando. Ele o mirava sem dizer nada, as goículas de suor sobre o seu lábio superior se tornavam mais e mais convidativas, ela era linda. Ele queria beijá-la, queria as gotículas de suor sobre o lábio dela coladas acima de seu lábio, queria sentir o sabor de seu hálito, ela o estava olhando sem parecer escandalizada ou ofendida. O que ele devia fazer? Se abaixar, já que era bem mais alto, e beijá-la de surpresa? Sem dizer palava, como se fosse um tipo sedutor? Nem sabia se era isso que um tipo sedutor fazia, nunca fora um tipo sedutor. Estava olhando pra ela sem parar já a vários segundos, foi quando ela inspirou com os lábios entreabertos, e disse:
-É teu andar.
E indicou com o queixo a porta aberta do elevador no sétimo andar. Ele balbuciou um "Ah, é." e sorriu constrangido enquanto agradecia. Quando a porta do elevador se fechou atrás de si, ele bateu com a mão espalmada na testa e suspirou amaldiçoando a própria estupidez.
"Claro. Quando que uma mulher daquelas ia estar me dando bola? Quando que ela ia me olhar de um jeito que não fosse curiosidade mórbida? Mulher que nem essa anda com uns caras maneiros, fortões e cabeludos cheios de tatuagens de caveira, dragão, kanji e tribal, anda com nêgo de jaqueta de couro, que toca guitarra e que escuta megadeath. Mulher que nem aquela nem percebe a existência e sujeito de óculos, e blazer de veludo, que escuta Beatles e lê Homem-Aranha e Calvin. Essetipinho de nerd nem merece encontrar o amor, mesmo, viu?". E foi tratar de seus afazeres no sétimo andar.
A moça fez o que havia ido fazer no nono andar. Depois foi pra casa, onde conversou brevemente com uma amiga ao telefone. Falou do seu dia quando a amiga perguntou como fora, mas não mencionou que teve vontade de beijar um sujeito algo nerd dentro de um elevador, nem que ele pareceu querer beijá-la, também. Jantou e viu um pouco de TV antes de dormir sentindo um vazio no peito, sem saber, que em algum lugar num bairro não muito distante, um nerd fazia a mesma coisa.

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