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sábado, 12 de fevereiro de 2011

Sonho mundano...


-Se tu pudesse realizar um sonho na vida, amor, qual seria?
-Na vida...? Puxa, não sei...
-Tipo, se te oferecessem e tu pudesse escolher, o que seria a coisa que tu mais iria querer?
-Ah... Sei lá, onisciência talvez... Paz na terra? Isso era bom, certamente demandaria o fim da humanidade...
-Não... Não é tipo gênio da lâmpada. É uma coisa mais palpável. Um lance mais mundano...
-Ah... Putz, sei lá... Não sei, mesmo. O que eu iria querer... Ah, já sei. Eu ia querer saber dançar!
-Quê?
-É, dançar, sabe? Queria ser um baita dançarino.
-Dançarino?
-Isso.
-Se tu pudesse escolher, tu iria querer ser um Fred Astaire?
-Não... Não o Astaire...
-Se tu pudesse escolher qualquer coisa, tu iria querer ser um Gene Kelly?
-Não, não, não, primeiro, eu não pensei no Gene Kelly, segundo, não era qualquer coisa, por que alguém me disse que as regras demandavam alguma coisa palpável.
-E a tua ideia de palpável é dançar feito o Michael Jackson?
-Eu... Eu falei em Michael Jackson? Por acaso eu mencionei o Michael Jackson?
-Não, mas tu fala em dançar, eu penso no Astaire, no Kelly, no Jackson, no Barishnikov...
-Não, eu não queria... Segundo as tuas regras, eu tinha que escolher algo palpável, eu jamais iria conseguir dançar que nem esses caras aí. Eu pensei em algo, conforme me orientaram, mais acessível. Eu queria saber dançar como o Napoleon Dynamite.
-Quem?
-O Napoleon Dynamite, do filme, aquele...
-Que filme?
-Hã.... Napoleon Dynamite?
-O nome do filme é esse?
-É.
-E o nome do personagem é esse?
-Sim!
-Com quem é esse filme, meu Deus?
-Com o Jon Heder e o Efren Ramirez.
-Não conheço... Quem é que dança?
-O John Heder.
-Ele é bailarino?
-Não, aí é que tá a beleza da coisa. Ele dança só uma vez, ao som de Jamiroquai que é uma bandinha bem meia boc...
-Adoro essa banda!
-Tem umas músicas bem boas. Enfim, o Napoleon dança esse número ao som de Just Dance, e é catársico. Eu queria dançar que nem ele, é o que eu iria querer.
-Hm...
-E tu, meu anjo? O que tu iria querer?
-Nada não...
Ela não disse mais muita coisa. Não ficou de cara amarrada por que não era do feitio dela, ela era doce demais pra esse tipo de coisa, mas alguma coisa claramente a deixara chateada. Quando se despediram em frente à casa dela, ele a abraçou com força como fazia sempre até quase levantá-la do chão, e deu-lhe dois beijos estalados na bochecha e um beijo nos lábios. Ela correspondeu e esboçou um sorriso. Segurou-lhe a mão e entrou em casa. Ele ficou observando ela sumir quando a porta do prédio se fechou. E refletiu, envergonhado, que talvez houvesse sonegado a verdade. Se pudesse escolher qualquer coisa no mundo, não iria querer onisciência, a extinção da raça humana ou as habilidades de dança de Napoleon Dynamite. Iria querer passar o resto da vida com alguém como ela. Alguém que tivesse aquele humor bobo de fazer gargalhar com uma trapalhada, que chorasse ao ver um filme, ou ler uma crônica, que tivesse mãos cúmplices, olhares cálidos, tatuagens de mulher, pernas de menina e lábios acolhedores... Aquele conjunto de idiossincrasias apaixonante em uma adorável embalagem de um metro e cinquenta e poucos.
Ele não disse isso por duas razões: Primeiro, por que sempre teve uma dificuldade abissal de dizer como se sentia. Segundo, por que ela mencionou que o sonho devia ser plausível, e onde estava a plausibilidade e a mundanidade em alguém como ela querer passar a vida com alguém como ele?
Parecia infinitamente mais fácil, ele pensou, um sujeito de cadeira dura como ele dançar com a desenvoltura de um Napoleon.

Um comentário:

  1. Acho que falhamos com nós mesmos quando não falamos o que o coração manda. Algumas vezes seria melhor, bem melhor, mandar a razão lá pra casa do capita...

    O sonho de passar o resto da vida com alguém não é pecado nenhum... pecado é deixar passar a oporunidade de declarar o que se sente!!!

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