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segunda-feira, 29 de abril de 2013

Luzes de Mercúrio



Sempre houvera, ao menos para ele, um elemento de melancolia nas luzes de mercúrio de Porto Alegre, especialmente quando elas são acesas de dia.
Hoje, por exemplo, enquanto andava para o trabalho, sob uma chuva insistente que ensopava seus tênis e a barra de suas calças fazendo-o pensar que ainda não ia ser agora que eu ia se livrar do resfriado que o acompanhava já tinha uma semana, viu aqueles postes altos da perimetral emanando aquela luz quase cor-de-laranja de tão amarela, e não pôde deixar de experimentar uma sensação de perda muito palpável. Como se algo estivesse chegando ao fim.
Não que essa sensação fosse nova... Muitas vezes a luz triste, opaca e amarelada dos postes da iluminação pública da capital gaúcha fizeram com que se sentisse sorumbático em dias quando sua vida não podia estar melhor, mas hoje... Com tudo o que vinha acontecendo, por alguma razão, essa sensação parecia ampliada.
Ao cruzar a Loureiro da Silva, vislumbrou colado à uma parede um poster grande, de cinquenta por setenta centímetros, em um degradé verde no topo, ficando azul na base, e onde lia-se, em negras letras garrafais "Eu Amo Você".
Pensou nela. Na forma como ela dizia isso. Na forma como ele dizia isso pra ela. Em como era verdadeiro.
Pensou na voz falseteada dela, no seu cabelo longo, no cheiro dela. Nos cheiros, pois eram mais de um, diferentes dependendo da situação. Pensou nos pelos descoloridos do seu braço. No tamanho do seu pé. Na miudeza das suas mãos. Na suavidade de suas coxas, no tamanho luminoso do seu sorriso, e de como ele seria suficiente para afugentar a amarelidão do mundo mesmo num dia nublado daqueles.
Então pensou que não recebia mais aqueles sorrisos. Que em algum momento, as escolhas erradas que fizera, o tornaram alvo de desconfianças, e o fizeram indigno de merecê-los.
E sentiu a melancolia, a sensação de perda e a roupa molhada tornarem-se mais pesados a cada passo dali em diante.

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