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sábado, 15 de fevereiro de 2014

Resenha Cinema: Philomena


O talento, de vez em quando, se esconde nos lugares mais improváveis. Não é o caso de Steve Coogan. O ator britânico já havia provado em diversas comédias que é um sujeito talentoso na arte de fazer rir. Se não esteve brilhante em nenhuma delas, certamente esteve suficientemente engraçado em todas elas, ao menos o suficiente para ser lembrado.
Insuspeito, mesmo, era seu talento dramático, assim como sua veia de roteirista.
Ambas são reveladas nesse Philomena, produzido e co-escrito por Coogan (com Jeff Pope) sobre o livro do jornalista Martin Sixsmith, "The Lost Child of Philomena Lee".
Na trama de Philomena, acompanhamos o jornalista Martin Sixsmith (Steve Coogan), que caiu em desgraça. Após ser um bem-sucedido correspondente da BBC em Washington e em Moscou por anos e se tornar um membro do staff do partido trabalhista britânico em Londres, um escândalo culminou com a sua demissão e o fim de sua carreira política.
Enquanto se prepara para dar novo rumo à sua carreira, Sixsmith planeja escrever um livro sobre a História da Rússia, faz check-ups e se exercita correndo, aconselhado por seu médico.
Ao mesmo tempo, Philomena Lee (Judi Dench), percebe que não pode mais guardar um segredo que pesa em sua consciência por cinquenta anos.
Quando era pouco mais que uma adolescente irlandesa, Philomena se deixou levar pelos gracejos de um rapaz, e de uma noite de insensatez, surgiu uma gravidez. Sem ter a quem recorrer, Philomena buscou o auxílio das irmãs do sagrado coração da abadia de Roscrea. Lá, após ser assistida e ter seu parto realizado pelas freiras, precisou trabalhar por quatro anos de modo a pagar pela ajuda que recebeu, convivendo com o fantasma de que, a qualquer momento, seu filho Anthony pudesse ser adotado sem que ela pudesse fazer nada a respeito, o que, eventualmente, ocorreu.
Os caminhos de Sixsmith e Philomena acabam por se cruzar, e o ex-jornalista, embora reticente, finalmente aceita ajudar a velha enfermeira aposentada a procurar por seu filho perdido para contar sua história.
É excelente.
O filme dirigido pelo ótimo Stephen Frears (de Alta Fidelidade, e A Rainha) acompanha a jornada desses dois companheiros improváveis sem apressar as coisas ou forçar situações. A dinâmica da relação entre Philomena, uma ingênua aposentada irlandesa católica e Sixsmith, um repórter político cínico e predador é ótima e funcional em parte graças à sensibilidade do diretor em manter o ritmo lento da produção.
Claro, ainda há o bê-a-bá dos road-movies sobre companheiros improváveis, e ele funciona, arrancando risos da audiência nos momentos mais leves, e, justamente pelo respeito de Frears ao ritmo do longa, quando chegam os momentos mais pesados e dramáticos, eles não soam forçados.
Claro, a história da mãe separada do filho bebê é, por si só, poderosa o suficiente pra carregar as tintas dramáticas de um longa-metragem, isso somado à boa mão do diretor, ao roteiro seguro e ao talento do elenco, só torna Philomena um programa mais completo.
Judi Dench é monstruosa, a atriz de 79 anos destrói na pele de Philomena Lee, enchendo a personagem de nuances, jamais deixando que ela seja apenas a velhinha ingênua e sem-noção mostrada à exaustão nos trailers do longa. Sua Philomena é uma verdadeira cebola, de tantas camadas que tem, cheia de fibra moral e decisão. A indicação ao Oscar da dame é mais que justificada, e se ela ganhasse o prêmio (ao qual Cate Blanchett é franca favorita), não seria nenhuma injustiça.
Quem surpreende ao entregar um bom trabalho dramático é Coogan. O ator encontra o tom certinho entre o sarcasmo profissional e a ternura eventual para criar um Sixsmith tão crível quanto a Philomena a quem pajeia.
Grata surpresa do calendário de estreias do início do ano, Philomena é um filme que merece ser visto, trabalho de primeira de todos os envolvidos, laureado com prêmios nada gratuitos, o longa transpira sinceridade e sensibilidade, entretém e emociona.
Assista.

"-Eu te perdoo porque não quero continuar com raiva."

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