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quinta-feira, 21 de agosto de 2014

Resenha DVD: O Grande Mestre


Eu sou um admirador confesso de filmes de artes marciais chineses. Sou fã declarado do cinema de Jackie Chan e Jet Li antes de serem descobertos por Hollywood, inclusive tenho, em casa, alguns DVDs de filmes de Hong Kong de ambos, e, volta e meia, pesco nas madrugadas da TV a cabo, filmes antigos de Bruce Lee, e os filmes em que Donnie Yen interpreta o mestre Ip Man, legendário herói das artes marciais chinesas que foi retratado em pelo menos outros quatro filmes antes de Wong Kar Wai dar sua visão da biografia do homem que treinou Bruce Lee.
No longa, Ip Man (Tony Leung) vive pacificamente na província de Foshan, no sul da China. Um respeitado mestre de kung-fu do estilo Wing Chun, Ip Man diz que, se a vida fosse dividida em estações, seus primeiros quarenta anos, teriam sido a primavera.
Tudo muda, porém, quando, durante uma visita do grande mestre Gong Yutian (Qingxiang Wang), Ip Man se oferece para representar o sul em um desafio.
Vencedor, Ip Man precisa lidar com os desafios frequentes de lutadores de todas as partes, bem como lidar com o desejo de vingança da filha de Gong Yutian, Gong Er (Zhang Ziyi), inconformada com a derrota do pai.
Paralelo a tudo isso, começa a segunda guerra sino-japonesa, obrigando Ip Man a viajar a Hong Kong, e lutar pelo sustento de sua família com seu caminho seguindo paralelo ao de Gong Er e sua busca por vingança pela morte do pai.
Devo confessar que estranhei a forma de Kar Wai abordar a vida de Ip Man.
Após os filmes recheados de pancadaria estrelados por Donnie Yen, O Grande Mestre soa lento e reflexivo, e de fato o é.
A figura de Ip Man no longa de Wong Kar Wai, com seu casaco/batina estilo Neo em Matrix Revolutions e seu estiloso chapéu branco é a impassividade em pessoa, e tem na sanguínea Gong Er de Zhang Ziyi seu contraponto perfeito, pois, de fato, O Grande Mestre de Wong Kar Wai é um filme sobre a filosofia das artes marciais, muito mais do que artes marciais em si.
Ainda que tenha uma série de boas sequências de luta (todas coreografadas pelo papa do wire work Yuen Woo Ping), a verdade é que o longa empolga muito mais pela casta sugestão de romance entre Ip Man e Gong Er, pela belíssima fotografia de Philippe Le Sourd e pela reverência pela experiência e pela longevidade em detrimento da força pura e simples que o roteiro de Jingzhi Zou e Haofeng Xu (e do próprio Wong Kar Wai) ilustra em um delicado espetáculo que demanda certo nível de concentração e paciência da audiência em seus 130 minutos.
Não é filme pra qualquer platéia, mas é certamente um belíssimo esforço de realização cinematográfica.
Vale a locação.

"-Eu tenho acompanhado sua performance na grande ópera da vida. Você demonstrou grande senso de momento e habilidade; entretanto, você jamais foi além do papel que interpreta.
-Eu não fazia ideia que que possuía tão ardente espectador."

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