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sexta-feira, 22 de julho de 2016

Resenha Blu-Ray: Batman vs Superman: A Origem da Justiça - Versão Definitiva


Zack Snyder pode ser definido como um cineasta com excepcional mão pra ação, boas noções de visual, e severos problemas de narrativa.
Uma prova cabal disso é que seus filmes, de modo geral, têm sempre o mesmo calcanhar de aquiles: Contar sua história.
Seus melhores trabalhos foram realizados sobre roteiros redondinhos, geralmente adaptados, onde ele pôde dar um toque pessoal à uma história que, em suma, já funcionava.
Madrugada dos Mortos era um ótimo filme de zumbis do papa dos filmes de zumbis George Romero antes de ser temperado com correria e porradaria por Snyder. Da mesma forma, 300 era uma graphic novel excelente, que enchia de ação e sangue um filme de 1962 e Zack Snyder praticamente fez com o quadrinho o que Robert Rodriguez fez com Sin City.
Seu melhor trabalho na carreira, a adaptação de Watchmen, um dos livros sagrados dos quadrinhos e trabalho seminal de Allan Moore, consegue a proeza de ser um filme arrastado e apressado em mesma medida, e ainda que o longa tenha inúmeras qualidades e a versão do diretor seja consideravelmente melhor do que a de cinema, isso já deixa claro a dificuldade de Snyder de acomodar uma narrativa coesa em uma metragem razoável.
Seu grande filme original, Sucker Punch: Mundo Surreal, é, a bem da verdade, pouquíssimo original. Uma mistura de longa de fuga de prisão com videoclipe fetichista e um recorte de referências que iam do Steampunk à O Senhor dos Anéis e Eu, Robô, e naufragou bonito nas bilheterias quase falhando em pagar seu orçamento de modestos (em se falando de cinemão) 82 milhões de dólares.
Foi com isso em mente que ontem peguei a versão estendida de Batman v. Superman: A Origem da Justiça. Para descobrir se, com meia hora a mais de duração, o longa dirigido por Snyder com o encontro de dois dos maiores ícones dos quadrinhos, se tornava uma experiência mais equilibrada e menos atropelada em termos de trama.
E sob certos aspectos, sim.
Alguns pontos do roteiro realmente recebem uma atenção maior nos trinta minutos que o cinema não viu. Notadamente a investigação jornalística de Clark Kent acerca das ações do Batman, um ponto importante na construção da rivalidade do Homem de Aço em relação ao Homem Morcego.
Outra investigação jornalística que ganha mais espaço é a conspiração engendrada por Lex Luthor para culpar o Superman pelas mortes na África durante a entrevista de Lois Lane no início do filme, linha narrativa, aliás, onde surge a personagem de Jena Malone, Jenet Klyburn, cortada do longa na versão de cinema.
Essas duas histórias paralelas são, de fato, a grande diferença da "versão do diretor" pra versão de cinema, e, excetuando-se elas, o filme é basicamente o mesmo visto nas salas escuras em março. Existem algumas cenas inéditas com Alfred e a revelação de que o agente da CIA assassinado no início do filme é mesmo Jimmy Olsen (provando que ninguém está a salvo da sanha assassina de Zack Snyder).
O grande senão da versão espichada é que, ao lançar uma luz sobre o plano de Luthor, o que a investigação de Lois Lane faz, tudo se torna mais excessivo.
A maquinação de Lex é simplesmente impraticável, absurda, boba, até. Suas motivações seguem tremendamente rasas (o que não chega a ser um problema, a melhor versão de Luthor odeia o Superman por inveja...) e mal exploradas (esse, sim, um pecado imperdoável). Jesse Eisenberg é, de fato, uma das escolhas menos inspiradas da história do cinema para um papel, e sua abordagem do personagem é simplesmente sofrível, não é sua culpa, porém, e sim de quem o escalou para o papel e o dirigiu.
Outro senão da versão estendida é que, quando Lois e Superman são capazes de desvelar todo o plano de Luthor, o Batman de Ben Affleck parece um pouco burro.
Todos sabemos que o Homem Morcego é um personagem obstinado e obsessivo, mas por mais cheio de rancor e ódio que ele estivesse, Batman jamais poderia ser obtuso a ponto de deixar seu ódio pelo Superman cegá-lo o suficiente para torná-lo um peão de Lex Luthor.
A propósito... O ódio do Batman pelo Superman...
No filme é sugerido que essa furiosa ojeriza de Wayne pelo último filho de Krypton é por conta das mortes causadas na luta entre Superman e Zod em O Homem de Aço.
OK... Eu compreendo que o personagem de Scoot McNairy, que perdeu as pernas na luta, encare as coisas dessa forma.
Mas o Batman?
O Batman de Ben Affleck tem feito todas as escolhas difíceis. Ele é um homicida confesso que perdeu um Robin por causa de sua luta contra o crime. Não seria exatamente esse o sujeito que entenderia o significado de dano colateral?
Por mais que se sentisse condoído pelo resultado, ele não deveria ser o cara capaz de se colocar no lugar do Superman e perceber que naquele cenário, o Homem de Aço deu seu melhor e os responsáveis pelas mortes foram Zod e seus asseclas?
Se não, e OK, é uma alternativa: Não. O Batman não entenderia isso. Ele é um sujeito feroz e calejado, incapaz de ver o bem em qualquer um...
Então porque diabos suas disposições mudam absolutamente após ouvir o nome Martha?
A meia hora extra de Batman vs Superman não consegue consertar isso.
Tampouco torna a exaustiva luta entre Superman, Batman, Mulher-Maravilha e Apocalipse menos deslocada, excessiva e chata, ou explica a inserção do Flash do futuro conversando com Wayne em sonho para lançar um embrião de Injustice: Gods Among Us no meio do filme de maneira completamente gratuita.
Assistindo novamente ao longa ontem, cheguei à conclusão de que há um ótimo filme de super-herói em Batman vs Superman: A Origem da Justiça, mas que ele não está escondido porque faltou alguma coisa na versão de cinema, mas sim porque sobraram muitas coisas.
Um filme que opusesse Batman e Superman, dois heróis com visões e métodos absolutamente distintos de justiça exatamente nos mesmos moldes seria épico.
Um filme que explorasse o fato de o escoteiro Superman ter matado seu inimigo enquanto o vigilante cruel e brutal Batman jamais o faria teria sido sensacional.
Um filme que dispensasse Luthor, Lobo da Estepe, Mulher-Maravilha, a pasta de vídeos da Liga da Justiça e se concentrasse nas diferenças entre Superman e Batman, e no inevitável confronto que surgiria de um encontro entre esses dois personagens teria sido incrível.
Entretanto, acredito que seria demandar sutileza demais de Zack Snyder.
Uma pena.
Há um grande filme de super-herói em Batman vs Superman: A Origem da Justiça, mas ter que garimpá-lo em duas horas e meia ou três horas de filme é muito cansativo.

"Ninguém permanece bom neste mundo."

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