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quinta-feira, 4 de agosto de 2016

Resenha Cinema: Esquadrão Suicida


Nos quadrinhos, o Esquadrão Suicida é uma iniciativa do governo dos EUA que consiste em utilizar os inúmeros supervilões encarcerados da DC e usá-los em missões com mínima chance de sucesso em troca de perdão de parte de suas extensas penas.
O Esquadrão não tem formação fixa, podendo ser formado por membros diferentes cada vez que é unido de acordo com as necessidades da missão que irão cumprir.
Em suma, é uma grande sacada da DC que permite que escritores e desenhistas se divirtam explorando os vilões do universo da editora em histórias sem os heróis.
Não era de se espantar que tanta gente tivesse ficado empolgada quando a Warner anunciou que o terceiro longa do universo cinematográfico compartilhado da DC Comics seria o Esquadrão.
Não tardou para que David Ayer, roteirista de Dia de Treinamento e diretor de Os Reis da Rua, e Corações de Ferro fosse anunciado como diretor e roteirista do filme, e o elenco fosse tomando forma com Will Smith, Viola Davis, Margot Robbie e o oscarizado Jared Leto no papel do Coringa.
A primeira foto da equipe reunida deu a dica de que, ao menos visualmente, o filme tinha acertado.
Smith apareceu com o traje do Pistoleiro até usando a máscara com monóculo de alça de mira tradicional dos quadrinhos, Margot Robbie estava simplesmente deliciosa como a Arlequina, e se algum personagem dividiu opiniões foi o Coringa de Leto, com um visual bastante estranho, cheio de tatuagens, usando grill nos dentes, e vestindo roupas chamativas.
O lançamento do primeiro trailer prometeu um filme subversivo e divertido, capaz de romper com a pasmaceira dos filmes de super-herói. O segundo, com o grupo disparando frases de efeito ao som de Bohemian Rhapsody do Queen explodiu crânios por toda a parte, somado a isso, as notícias incessantes a respeito do método utilizado por Jared Leto durante as filmagens, jamais saindo do personagem, exigindo ser chamado de "Mr. J" pela equipe de produção e mandando "presentes" aos colegas de elenco que iam de camisinhas usadas a carcaças de porco e ratos vivos e pronto, até o mais marveco dos fãs de Robert Downey Jr. já dava o braço a torcer dizendo "Ah, o Esquadrão vai ser bacana...".
Ontem, como bom nerd que sou, estava com ingresso comprado há mais de semana para a pré-estréia de Esquadrão Suicida e finalmente pude conferir o filme.
No longa, conhecemos Amanda Waller (Viola Davis), uma mulher poderosa que interpretou o advento do Superman como um sinal dos tempos:
A próxima guerra será travada com meta humanos.
Waller usa sua influência e o medo que sua posição (jamais especificada) no governo inspira em outras autoridades para formar a Força-Tarefa X, um grupo formado pelos vilões mais habilidosos cumprindo pena no sistema carcerário norte-americano, e usá-los em missões com mínima chance de sucesso contra ameaças que as autoridades não estão equipadas para enfrentar, em troca da redução de suas penas.
Não tarda para que conheçamos os escolhidos de Waller para o grupo:
Floyd Lawton (Will Smith), o Pistoleiro, um assassino de aluguel cuja mira impecável lhe permite cobrar até dois milhões de dólares por uma morte.
Doutora Harleen Quinzel (Margot Robbie), ex psiquiatra do asilo Arkham cuja obsessão pelo Coringa a tornou uma marionete em uma relação abusiva com o príncipe palhaço do crime, a Arlequina.
O pirocinético de grande poder Chato Santana (Jay Hernandez), conhecido como El Diablo, o Crocodilo humano Waylon Jones (Addewale Akkynuoie-Agbaje), a arqueóloga June Moone (Cara Delevigne) que é possuída por uma bruxa de seis mil anos de idade chamada Magia, o ladrão de bancos e assassino George Harkness (Jai Courtney), chamado Capitão Bumerangue, e Christopher Weiss (Adam Beach), o Amarra, que pode escalar qualquer coisa.
Quando uma ameaça surge na cidade de Midway City rapidamente devastando a metrópole, não tarda para que esse grupo de rejeitados seja arrancado de suas celas, tenham uma micro-bomba plantada no coração, e recebem o aviso de que estão sendo alistados para uma missão.
Juntam-se a eles o condecorado militar Rick Flag (Joel Kinnaman) e a assassina oriental Katana (Karen Fukuhara), para uma missão de extração no meio de uma cidade dominada por um ente superpoderoso que controla um exército. Se a situação já não fosse complicada o suficiente, o criminoso psicopata conhecido como Coringa (Jared Leto) descobre o paradeiro da Arlequina e tem seus próprios planos que nada tem a ver com a missão do Esquadrão.
Conseguirá esse improvável grupo de vilões travestidos de heróis colocar suas diferenças de lado e salvar o nosso planeta?
Então...
O primeiro ato de Esquadrão Suicida é até interessante. A apresentação do conceito do grupo e dos personagens é esperta e ágil (Contando com participações do Batman Ben Affleck e do Flash Ezra Miller), infelizmente, daí pra frente o filme simplesmente descamba.
A missão dos vilões, além de absolutamente genérica, jamais justifica a formação daquele grupo específico de pessoas para enfrentar a ameaça em questão.
Quer dizer... Eu entendo a presença de El Diablo e Crocodilo, mas porque a Arlequina, o Capitão Bumerangue, o Amarra até mesmo o Pistoleiro são convocados para enfrentar uma criatura mística?
Aliás, pra que levar esses vilões armados com bastões, cordas e bumerangues se Flag levou um tremendo pelotão de elite formado por militares de verdade que, basicamente, fazem a mesma coisa com armas de fogo?
Depois de cerca de vinte minutos de apresentação, o filme passa a ser uma série de sequências de ação aborrecidas onde o grupo patrola um monte de capangas que não representa ameaça real após o outro durante a vaga missão ao qual os bandidos são forçados.
Pra piorar, David Ayer erra a mão na hora de escrever seus personagens, e Kinnaman não tem a presença que o líder da equipe deveria ter além de seu romance com June, a hospedeira humana de Magia, ser sonolento e sem graça.
Magia, aliás, é erro em cima de erro.
A personagem é reduzida a uma serpenteante gostosa de biquíni quando transformada e em uma guria choramingona e irritante quando na forma humana, o Crocodilo não tem meia dúzia de falas no filme e ainda assim, aparece e fala muito mais do que Katana.
El Diablo, que parecia um personagem capaz de ganhar simpatia com seu arco de poder contido e voto pacifista é desperdiçado, e sua trágica história pessoal parece forçada no meio do filme.
O Capitão Bumerangue é, de fato, o alívio cômico do filme, mas a verdade é que ele não é tão engraçado assim com suas cervejas e seu pônei de pelúcia, e o Amarra, então... Pobre Amarra.
Margot Robbie, por sua vez, é mesmo um dos destaques do filme. Ela é uma presença constante e a atriz australiana certamente pegou a manha de como interpretar a personagem, inclusive roubando algumas cenas, se há algum problema com a Arlequina é, por vezes, o texto que lhe foi dado.
Se Will Smith aceitou fazer o filme, então ele é obviamente o astro, o mais fodão e o líder de fato do grupo.
E o Coringa de Jared Leto...
Bom, o Coringa de Jared Leto não me agradou. Como um antigo fã do príncipe palhaço do crime, eu tenho níveis altos de exigência, e não achei que Leto acrescentou nada ao personagem que causasse impacto.
Esse Coringa é um gangster sádico e psicopata, mas... Não é o Coringa, entende?
Não há nenhuma explicação para o visual, as tatuagens, os dentes nem nada do tipo, então devemos supor que esse simplesmente é o Coringa do DCU no cinema. Um Coringa consideravelmente mais sexual do que qualquer outra das versões e que parece nutrir algum tipo de afeto por Harley...
O personagem até tem uma quantidade de tempo considerável em cena, levando-se em conta a quantidade de personagens, mas a verdade é que, apesar das queixas de Leto de quê muito do seu trabalho teria sido cortado na edição final, seu Coringa não empolga.
A Amanda Waller de Viola Davis, por outro lado, detona.
A atriz agarra com firmeza a personagem e bota todo mundo que contracena com ela no bolso sem dó nem piedade.
Mas e aí? Tudo o que DC faz no cinema é uma porcaria?
Não...
Eu gostei de O Homem de Aço e a trilogia das Trevas é simplesmente sensacional, mas de fato, até aqui, a DC está falhando miseravelmente em edificar um universo cinematográfico compartilhado nos moldes da Marvel.
Esquadrão Suicida falha como Batman v Superman falhou, mas por razões absolutamente distintas.
O filme parece ter sido feito pra abraçar a mesma vibe de filmes como Guardiões da Galáxia e Deadpool, mas não consegue porque isso parece estar além do que David Ayer é capaz de entregar, de modo que conforme uma canção pop surge na tela após a outra para apresentar os personagens (De House of Rising Sun a Simpathy for The Devil passando por Fortunate Son) com gráficos mostrando suas fichas técnicas, isso soa forçado. Parece simplesmente não ser algo com a qual o diretor se sentisse confortável em lidar.
Mesmo a grande qualidade de Ayer, mostrar laços de união que parecem verdadeiros entre seus protagonistas, falha em Esquadrão Suicida.
A união do grupo após algumas horas juntos em Midway City simplesmente não convence, especialmente quando é partilhada por Flag com os facínoras a quem ele desprezava no início.
Aliás, esses facínoras todos ganham um coração de ouro no filme.
Com o arco dramático mais completo do roteiro, O Pistoleiro está muito mais para um anti-herói do que para um vilão. El Diablo luta por redenção, Capitão Bumerangue fica chocado ao ouvir falar sobre a morte de crianças e até a Arlequina tem algumas palavras de sabedoria e aceitação para oferecer... Ora vamos...
Eu achava complicado fazer um filme com vilões porque, para fazê-los relacionáveis, seria necessário amainar suas piores características. Fazer isso sem descaracteriza-los era uma tarefa que demandava muito equilíbrio e o diretor de Sabotagem simplesmente não tem isso pra oferecer.
O que poderia ter sido um novo capítulo da DC nos cinemas após o fiasco de Batman vs Superman acaba sendo outra escorregada.
Agora é torcer para que Mulher-Maravilha e Liga da Justiça virem o placar.

"-Não esqueçam. Somos os vilões"

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