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sábado, 13 de agosto de 2016

Resenha Cinema: Negócio das Arábias


Eu sou um grande fã de Tom Hanks. Por sinal, conheço poucos fãs de cinema que não são.
Hanks estrela ao menos dois dos meus filmes favoritos, e uma infinidade de filmes que vão do muito bom ao excelente, além de uma porção de filminhos descartáveis que são simpáticos.
Devo confessar que fui assistir a esse Negócio das Arábias ciente de que o longa deveria se encaixar na última categoria. Descartável e simpático. Mais ou menos como Larry Crowne, por exemplo (que, diga-se de passagem, é até mais descartável do que é simpático).
A premissa, inclusive, é semelhante em certos aspectos. Negócio das Arábias, tal qual Larry Crowne, aborda questões pós-crise econômica americana de 2008. Um personagem que perdeu seu emprego e a estabilidade financeira e emocional que ele carregava consigo, e que precisa encarar um novo começo.
Por sorte, as semelhanças param por aí.
Negócio das Arábias abre com uma sequência de sonho onde o personagem de Hanks, Alan Clay, anda falando com a câmera sobre mazelas da vida conforme sua casa, carro e esposa de desvanecem em nuvens de fumaça, entrecortado com sua expressão atônita durante um passeio de montanha russa, e conforme Clay se pergunta "como eu cheguei até aqui?", nós sabemos que sua vida não seguiu o rumo que ele imaginava.
Clay desperta deste sonho em um avião rumo ao reino da Arábia Saudita.
Ele está indo ao país para tentar vender um sistema de teleconferência holográfico ao rei, que pretende construir, no meio do deserto, uma moderníssima cidade com um milhão e meio de habitantes nos próximos nove anos.
O negócio parece ser a última chance de Clay deixar pra trás seu passado desastroso nos negócios, quando transferiu a produção de bicicletas da Schwinn dos Estados Unidos para a China demitindo quase mil trabalhadores, uma iniciativa que obviamente não deu certo, e conseguir dinheiro para pagar pela faculdade de sua filha Kitty (Tracey Faraway).
Não deixa de ser irônico que, ao chegar à Arábia Saudita, Clay, que vende uma ferramenta para tornar possíveis reuniões entre pessoas que não estão no mesmo lugar, jamais encontre o rei saudita, porque ele nunca está na cidade que ainda não existe.
Alan viaja uma hora diariamente do seu hotel até a sede do projeto de cidade real apenas para ser informado pela recepcionista de que o rei não está, mas que talvez esteja amanhã... Ou depois... Ou depois...
A viagem se estende de maneira indefinida por conta da indiferença real, e com sua equipe técnica passando os dias em uma tenda no meio do deserto, sem Wi-Fi, comida ou ar-condicionado, sendo pressionado por seu chefe nos Estados Unidos a obter resultados, sofrendo de um interminável jetleg que jamais o deixa acordar na hora, forçando-o a utilizar repetidamente os serviços do motorista e guia Yusef (Alexander Black), Alan logo descobre um perturbador caroço em suas costas.
Não tarda para que o vendedor logo eleja aquele caroço como sua kryptonita pessoal, culpando-o por todas as suas mazelas enquanto escreve cartas para sua filha e tenta se ajustar à uma realidade surreal que lembra a interminável rotina de dias repetidos do Phil de Feitiço do Tempo.
É justamente quando resolve reagir que Alan percebe que, mesmo os menores gestos, podem render frutos.
Ao desobedecer a recepcionista e não esperar no saguão, ou ao desobedecer as leis sauditas e entrar em Meca com seu guia que teme ser assassinado pelo marido da amante, ou ao desobedecer o senso comum e explorar seu calombo com uma faca...
Os pequenos gestos de desafio rendem pequenas recompensas que, na narrativa do diretor e roteirista Tom Tykwer ganham ressonância na vida comezinha de Alan.
Conforme firma pequenos laços com Yusef, e posteriormente com sua médica, doutora Zahra (Sarita Choudhury), Alan vai percebendo novos horizontes se abrirem diante dele, e a possibilidade de, finalmente, encontrar um novo começo.
Muito da qualidade do longa repousa na presença de Tom Hanks, um ator muito acima da média com carisma de sobra pra carregar um filme nas costas e que tem uma qualidade de homem comum que o torna perfeito para determinados papéis.
Negócio das Arábias não tira Hanks de sua zona de conforto, nem demanda um grande trabalho de intérprete, ainda assim, o vencedor de dois Oscar é alguém a quem gostamos de assistir até quando atua meio no piloto automático, reproduzindo situações que já vimos antes (mais explicitamente Mensagem pra Você e Splash: Uma Sereia em Minha Vida).
No elenco, que conta com Tom Skerritt, Sidse Babett Knudsen e uma ponta de Ben Whishaw, destacam-se Alexander Black que, a despeito de ser menos árabe do que eu, faz um bom trabalho na "coadjuvância" de Hanks, com seu Yusef mantendo uma camaradagem crescente para com Alan que é crível e doce.
Sarita Choudhury também se destaca, emprestando sobriedade e vida à Zahra, pivô da subtrama romântica que movimenta o terceiro ato do filme, mas é o protagonista quem comanda a bagaça.
Hanks consegue nos fazer rir dele e lamentar sua sorte, e até mesmo nos preocupar com sua "maldita boa saúde", e ainda que a adaptação do livro de Dave Eggers seja um filme irregular, que perde muito de sua qualidade surreal ali pelo meio do segundo ato, é um feelgood movie bastante satisfatório.
Conforme eu disse lá em cima, descartável e simpático.
Não renderá novas láureas a Hanks, tampouco ficará na mente da audiência por muito, mas provém uma hora e meia de distração honesta.

"-O rei não vem aqui há algum tempo...
-Quanto é 'algum tempo?
-Bem, eu estou aqui há dezoito meses e ainda não o vi."

Um comentário:

  1. Tom é um das minhos atores preferidos, acho que ele é completamente talentoso, vi sua atuação em Sully e houve uma cenaque me comoveu. A história é impactante, sempre falei que a realidade supera a ficção.Conheço o trabalho de Clint Eastwood já faz um tempo, na verdade é um dos meus diretores preferidos, e faz pouco tempo que vi o filme a Sully e fiquei encantada.

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