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domingo, 17 de junho de 2018

O Escudo do Novo Star Wars



Fiz uma descoberta terrível essas últimas semanas.
Algo que não teria descoberto se a mídia não tivesse, encarecidamente, me avisado.
Descobri, essa semana, que sou um misógino sexista, racista, e homofóbico.
Coisas que, francamente, desprezei desde que sou capaz de compreender os conceitos. Valores que eu honestamente abomino e, os quais descobri, casualmente, que partilho.
E eu nem imaginava...
Sempre me julguei favorável à igualdade de gênero, raça e opção sexual... Sempre vi a todos como iguais, sempre me esforcei para ter certeza de defender valores humanistas (e seculares) que vissem além de rótulos rasos como gênero, cor da pele ou opção sexual, mas subitamente fui iluminado e ganhei consciência de que sou o tipo de verme preconceituoso que sempre me causou ojeriza, o tipo de pessoas torpes aos quais sempre me referi como "escrotos do caralho".
Foi em meio à celeuma que se formou entre a base de fãs de Star Wars e a Lucasfilm, agora parte do conglomerado da Disney.
Houve, pelo que entendi, um boicote organizado a Solo: Uma História Star Wars nos EUA, e, havendo relação, ou não, o filme tem feito uma carreira extremamente prejudicada nas bilheterias do mundo todo.
Solo estreou em um final de semana prolongado arrecadando abaixo das projeções, e ficou uma única semana na primeira colocação nas bilheterias tornando-se o Star Wars mais pobre da história da franquia em todos os tempos.
Enquanto o filme naufragava nas bilheterias, uma nova celeuma surgiu, com a atriz Kelly Marie Tran, a Rose de Os Últimos Jedi, tendo deletado sua conta no Instagram por conta do assédio dos fãs de Star Wars.
Isso foi suficiente para que uma enorme fatia da mídia assumisse o lado de Tran, e passasse a se referir a todos os fãs de Star Wars como homens brancos gordos e preconceituosos que se desesperam ante a visão de personagens femininas fortes e que são incapazes de aceitar que Star Wars agora é um produto multicultural muito maior do que sua base de fãs.
Deixe-me começar dizendo que, quem quer que tenha resolvido dedicar tempo a atormentar Kelly Marie Tran nas redes sociais é um imbecil.
Mais do que isso, qualquer pessoa que tenha odiado Kelly Marie Tran e Rose Tico, apenas por ser uma mulher asiática, também é um imbecil.
E eu digo isso nos sapatos de alguém que odiou Rose Tico por ser uma personagem mal escrita, irritante, sem nada a agregar ao pior filme da franquia Star Wars em todos os tempos, mas que sabe que Kelly Marie Tran estava ali apenas no exercício de seu ofício, interpretando um papel escrito por um roteirista que, mesmo sendo um péssimo escritor de Star Wars, também não merece ser alvo de ódio (no máximo de desprezo, que é o que sua vindoura trilogia original Star Wars receberá de minha parte).
Posto isso, gostaria de me dirigir às pessoas que acreditam que os fãs de Star Wars que não gostaram do momento da série a partir do episódio VII são caras brancos e gordos machistas, racistas e/ou preconceituosos... Eu sou um branco (Nos EUA eu seria considerado "latino"? É possível... Me chamo Rodrigo Garcia...) gordo.
Mas não sou machista, racista ou preconceituoso.
Se os novos Star Wars fossem estrelados por Rey, vivido por Chris Hemsworth, Finn, vivido por Chris Pine, e Poe Dameron, vivido por Chris Evans, esses filmes continuariam tendo os mesmos problemas narrativos que incomodam até mesmo aos fãs capazes de perdoar George Lucas por A Ameaça Fantasma.
Rey continuaria sendo um personagem subdesenvolvido e com um arsenal de talentos deus ex machina capaz de fazer Galen Marek corar de vergonha, a única diferença é que ele seria chamado de Gary Stu ao invés de Mary Sue.
Finn ainda seria um faxineiro glorificado e a audiência ainda estaria se perguntando como é que o zelador sabe desligar os escudos de proteção da Estrela da Morte III ou como ele consegue usar um sabre de luz com tamanha galhardia.
Poe ainda seria o melhor personagem da nova série e continuaria tendo razão na discussão com um eventual "almirante Aldo" interpretado por Bruce Dern que não contasse ao comandante de seus esquadrões aéreos qual era o plano de evacuação enquanto, condescendentemente, o taxava de "cabeça quente"...
A agenda ideológica de Kathleen Kennedy, obcecada por multiculturalismo e personagens femininas fortes, não é o principal problema dos novos Star Wars, mas essa agenda se tornou uma bandeira e um escudo para os filmes.
Independente da (falta de) qualidade dos longas, qualquer pessoa que ouse erguer a voz contra o novo momento da franquia agora, o faz por ser sexista e inseguro.
O problema não é a Rey ser uma personagem inexplicavelmente super-poderosa e unidimensional. O problema é ela ser mulher.
O problema não é a linha narrativa de Finn e Rose ser absolutamente tosca e inútil. O problema é essa linha narrativa ser estrelada por um negro e uma asiática.
O problema não é o plano de Holdo e Leia ser inacreditavelmente burro. O problema é os fãs não saberem lidar com mulheres em posições de poder...
Ou ao menos essa é a bandeira erguida pela Lucasfilm. "Os longas são perfeitos, e os fãs estão de má vontade porque são preconceituosos".
Eu não posso falar por todos os fãs de Star Wars no mundo. Não ousaria sequer tentar.
Eu não duvido que haja aí fora gente tão cretina que realmente desgoste desses filmes unicamente por termos um trio protagonista formado por uma mulher, um negro e um hispânico. Mas garanto que não é meu caso.
E nem é o caso de todos os fãs que conheço e não gostaram do filme.
Mesmo que eu me ressinta um pouco do fato de todos os homens brancos dos novos Star Wars serem vilões ou morrerem sem razão nenhuma durante a projeção, eu seria mais do que capaz de amar Rey, Finn e Poe se eles fossem personagens melhor desenvolvidos. Pra ser bem franco, gosto de Finn e gosto muito de Poe. Meu problema é com Rey e a completa falta de justificativa para a imensa extensão de seus poderes.
Eu jamais teria qualquer tipo de problema com a heroína se ela tivesse um arco de desenvolvimento. Se ela aprendesse alguma coisa ao longo de sua trajetória. Mas dois filmes se passaram e Rey é o retrato de Os Últimos Jedi: Ela é especial porque sim.
Porque "a firma" resolveu.
Ela não tem uma jornada, ela nunca está em perigo. Ela não aprende nada exceto que já sabe tudo. E quando eu não gosto dessa personagem preguiçosamente escrita, é porque eu sou sexista.
Se Luke tivesse destruído a Estrela da Morte sem ajuda em Uma Nova Esperança, derrotado Vader sem esforço em O Império Contra-Ataca e partido o imperador Palpatine ao meio em O Retorno de Jedi ninguém gostaria dele, também...
Personagem excessivamente poderosos não são gostáveis. São antipáticos.
E em sua ânsia por mulheres poderosas, Kathleen Kennedy criou uma heroína infalível cuja existência não suporta dois minutos de escrutínio critico de ninguém.
Personagens femininas fortes não são o problema. Nunca foram.
Todos amam a princesa Leia. Todos amam a Mulher-Maravilha, a Viúva Negra e a Imperator Furiosa. Nenhum nerd tem problemas com a posição de poder de Ripley, de Sarah Connor, Éowyn, ou Neytiri.
Talvez porque essas personagens não tenham sido empurradas goela abaixo na audiência. Porque seus conjuntos de habilidades tenham sido justificados ou construídos junto ao público e não fossem simplesmente pipocando conforme a trama pedisse.
Eu não sou machista, sexista, racista ou preconceituoso, nem acho que o grande público nerd seja (que o diga Pantera Negra).
Eu não sabia do boicote organizado nos EUA e não fui assistir Solo apenas porque era uma história de Star Wars que não me interessava e porque Os Últimos Jedi havia sido tão ruim que eu havia resolvido não assistir mais aos longas da série de qualquer forma.
A generalização do preconceito é nada além de um escudo para proteger um produto que não vende. E se essa for a regra para Star Wars daqui pra frente, serem filmes menores que se defendem atacando a sua base de fãs, então veremos muitos outros Solo nos anos vindouros.

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