Pesquisar este blog

sábado, 5 de janeiro de 2019

Questão de Fé


Não é fácil, pra mim, compreender a mente de um religioso. Não de um clérigo ou ministro de nenhuma estirpe, esses eu até consigo entender.
Dever de ofício não é algo que fuja da minha compreensão.
É a mente do fiel que me intriga.
A da pessoa que compra o objeto de crença de olhos fechados, sem questionar ou, tão ruim quanto, apesar de questionar.
É difícil pra mim acreditar em qualquer coisa sem uma boa dose de desconfiança e um período de convencimento que, pra ser bem franco, jamais termina totalmente.
Eu preciso ser constantemente re-convencido das coisas em que acredito, de preferência de forma tão empírica e ancorada na realidade quanto possível sem jamais aceitar cegamente nada.
Mesmo coisas nas quais acredito, eu aceito com o proverbial grão de sal, sem abraçar cegamente, seja porque não tenho todas as informações necessárias, seja porque não estou equipado para testar de forma empírica.
É um sistema funcional e que me parece mais seguro e honesto, me mantendo ao largo da credulidade que renego com toda a minha força.
Fé, afinal de contas, é a desculpa que as pessoas dão para acreditar em algo sem um bom motivo, e eu me recuso a fazê-lo. Venho me recusando desde que sou capaz de pensar a respeito, e por isso eu não consigo entender as pessoas que têm fé.
Porque elas aceitam cegamente. Sem poder testar. Sem poder comprovar.
Elas fazem uma aposta definitiva seja por medo, conveniência ou conforto. Elas acreditam porque sim, e nada me revolta mais do que "porque sim".
Talvez por isso meus debates e conversas a respeito de fé sejam acalorados.
Talvez por isso eu tenha, certa feita, afugentado um representante da igreja adventista da minha porta, não por não querer falar com ele, mas por querer falar demais.
E esse, talvez, seja o principal motivo para minha aversão à fé.
É um, digamos "dom", assim mesmo, entre aspas... Um "dom" que demanda crença inconteste, uma habilidade de interpretação da realidade quase deformadora que eu não sou capaz de oferecer.
Exceto contigo.
Me dei conta de que sou, contigo, como qualquer religioso é com seu deus.
Contigo eu ofereço qualquer crença cega.
Faço qualquer Aposta de Pascal.
Dou qualquer salto da Cabeça do Leão.
Vejo qualquer sinal como milagre e qualquer acaso como evidência.
É o que eu tenho feito desde que te conheço, e seguirei fazendo enquanto viver.
Abraço a Analogia da Poça d'água de Douglas Adams, e faço de conta que todos esses sorrisos pescados ao acaso são pra mim.
São meus.
E assim, encontro esperança pra seguir andando.

Nenhum comentário:

Postar um comentário