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quarta-feira, 23 de janeiro de 2019

Rapidinhas do Capita


"Tu escorre em minhas veias", ele escreveu. Releu... Pensou... Apagou o texto.
"Minha mente te orbita", digitou. Novamente parou, avaliou o que escrevera, e cutucou o botão de deletar vinte e uma vezes, apagando as palavras.
"Eu te respiro", "Me inebrias", "te quero a cada minuto do dia", "Tu és a Roma das minhas afeições, todos os caminhos levam a ti"... Escrevia e deletava, escrevia e deletava. Inclinou-se pra frente, apoiou o cotovelo na escrivaninha e o queixo sobre o punho. Olhava a tela branca, o cursor em forma de travessão vertical piscando no canto superior esquerdo do ecrã o julgando desafiadoramente.
Pousou os dedos sobre o teclado olhando a tela... Tentou procurar em sua mente como colocar em palavras como estava se sentindo, mas não conseguia elucubrar nada que não estivesse na ordem da pieguice em seu estado mais puro, a fina flor da cafonice.
São os males, pensou, de se estar perdidamente apaixonado:
A única forma de expressar honestamente o que se sente é com os mais melosos e constrangedores clichês.

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Sabe aquelas histórias que povoam a literatura de fantasia em doses cavalares, aqueles vídeos que volta e meia pululam pelas redes sociais, a quintessência do não julgar pelas aparências, de que não se declara vitória antes do embate, o proverbial Davi contra Golias, onde alguém muito pequeno enfrentando um antagonista muito grande contra todas as chances sai triunfante do embate?
Claro que sabe.
Não há mídia que já não tenha esgotado essa premissa.
O ponto é que nunca (digamos quase nunca, já que eu não consumi todo o conteúdo que se vale de tais parâmetros narrativos) nos mostram o ponto de vista do Golias. Do império derrubado pelos rebeldes. Do gigante derrotado pelo nanico.
E, sendo um sujeito grande, esse sempre foi o ponto de vista que mais me preocupou. Não porque não haja ninguém maior do que eu, eu não sou nenhum jogador da NBA, mas se alguém maior do que eu me desse uma surra, não haveria vergonha, apenas lógica, enquanto ser subjugado por alguém de menor estatura e volume, sempre me pareceu a mais completa e definitiva das humilhações. Uma bobagem, eu sei... Bruce Lee era um anão e certamente poderia limpar chão com dez caras do meu tamanho. Ainda assim, sempre houve essa questão do orgulho pra mim. Eu pensava nos sentimentos de Tong-Po, de Ivan Drago, Karl, e de Fezzik, porque era capaz de me colocar no lugar deles e imaginar o quão devastador seria ter sido derrotado por pessoas menores.
E a prova cabal de que o destino é o gozador definitivo, é que uma pessoa de pouco mais de metro e meio surgiu na minha vida me fazendo de gato e sapato.

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Pessoal pensou que estava elegendo o capitão nascimento, mas na verdade era o major Rocha...

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